Oito trechos de livros que judiaram do meu estômago

08 novembro 2020

Há livros que nos obrigam ter estômago forte para aguentar alguns trechos pesados. O pesado que me refiro está relacionado a repugnância, ou seja, algo que você lê para logo depois o seu estômago se transformar numa verdadeira montanha russa, literalmente embrulhado.

É importante frisar que essa emoção não tem nada a ver com medo ou terror. Fazendo uma comparação a grosso modo, enquanto o terror mexe com a parte de trás de seu corpo, provocando calafrios na espinha; os trechos pesados os quais me referi no início do post mexem com a parte da frente, ou seja, o seu estomago. Eles podem estar camuflados no enredo e quando o leitor menos espera, eles aparecem de surpresa ou ainda podem ter seus arautos que avisam aos leitores incautos que algo ‘denso’ irá acontecer nas próximas linhas ou páginas. Neste caso, temos a escolha de prosseguir a leitura por conta e risco do nosso estômago ou então pularmos aquele trecho ou capítulo.

Fui pego várias vezes de surpresa por esses trechos sinistros, mesmo porquê o enredo não tinha essas características, mas por outro lado, também já encarei verdadeiros trucões sabendo com o que iria “trombar”.

No post de hoje escolhi oito livros, cujos trechos me provocaram verdadeiros rebuliços na “parte da frente” do meu corpo. Não recomendo a postagem para as pessoas impressionáveis e de estômago, digamos... fraco.

Vamos a eles!

01 – A coruja devorada por Rambo

Livro: Primeiro Sangue

Autor: David Morrell

Este foi um dos piores; mesmo porque David Morrell fez questão de descrever em detalhes o preparo do animal, do início ao fim, incluindo a limpeza das vísceras. Cara, foi cruel demais. O meu estômago miou fino. Jamais esperava encontrar algo parecido num livro de aventuras. Tiros, socos, perseguições, tudo bem, mas isso?!! My God!

Confiram alguns trechos descritos pelo “sádico” autor: “Rambo segurou a coruja pelo dorso macio e flexível, agarrou um punhado de penas da barriga e puxou-as. Estas ao saírem produziram um ruído estranho e áspero. Cortou a cabeça, as asas e as garras. Enfiou a mão à procura das tripas mornas e úmidas e devagar...”

Respirou fundo? Então, vai mais: “Espetou a coruja velha e levou-a ao fogo. Os pedaços de penas e penugens que tinham ficado presos à carcaça começaram a fazer um barulho estranho, crepitando...”

Ahhhhhhh!!! Paro por aqui, prefiro omitir grande parte da descrição, incluindo o momento em que Rambo janta a ave quase crua, onde Morrell descreve novamente em detalhes as sensações do ex-combatente do Vietnã.

Cara, Primeiro Sangue judiou nesse trecho. Para algumas pessoas que leram a obra não havia a necessidade do autor ser tão... descritivo assim.

02 – O suplício de Sabola 

Livro: O Escravo de Capela

Autor: Marcos DeBrito

Já resenhei o livro de Marcos DeBrito no blog (ver aqui). O Escravo de Capela é muito bom. O autor faz a revisão de uma das lendas mais populares do povo brasileiro, a do Saci Pererê. O saci do livro é vingativo e sanguinário, mas antes de se transformar nesse ser assustador, ele era um escravo trabalhador e muito humilhado de numa grande fazenda de café no Brasil colonial do século XVIII. Quando esse escravo chamado Sabola tenta fugir de seus algozes ele é capturado e castigado da pior maneira possível.

DeBrito descreve detalhadamente o suplício que transformou Sabola no terrível Saci: o espancamento covarde e cruel que lhe desfigura todo o rosto, além da amputação, por seus algozes e a sangue frio, de uma de suas pernas. Ainda não consegui apagar da memória ou melhor, do meu estomago, o momento em que Sabola perde a perna de uma maneira medonha. Tudo está alí nas páginas de O Escravo de Capela.

Cruel, cruel demais.

03 – As sinistras linguiças do açougueiro Ramos

Livro: Canibais

Autor: David Coimbra

Quando comprei a obra do gaúcho David Coimbra já sabia que a leitura seria “indigesta”, mas Canibais tinha tantas críticas positivas que resolvi encarar.

O principal motivo que me instigou a ler o livro do escritor gaúcho, David Coimbra foi a curiosidade despertada por um fato real que aconteceu em 1864 na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e que ficou conhecido nos meios policiais da época como “Os Crimes da Rua do Arvoredo”.

O caso foi tão macabro, mas tão macabro que apesar de ter ocorrido no século 19, quando Porto Alegre ainda estava engatinhando – contando com menos de 20 mil habitantes – nem mesmo a aura de tecnologia ultra moderna do século 21 conseguiu apagar.

O crime que intrigou as autoridades policiais ocorreu em 18 de abril de 1864. Neste dia, a polícia de Porto Alegre deparou-se com uma cena horripilante: no porão da casa de José Ramos e Catharina Palse, na Rua do Arvoredo, onde também funcionava o açougue do casal, estavam enterrados os pedaços de um corpo humano, já em avançado estado de decomposição. O cadáver havia sido retalhado, com a cabeça e membros separados do tronco, e este, por sua vez, repartido em vários pedaços. A vítima identificada era um alemão chamado Carlos Claussner, 

Quer saber o que o que o açougueiro José Ramos ou simplesmente Ramos, para os íntimos, fazia com a carne das vítimas? OK, eu conto. Ele preparava linguiças! E quer saber mais? Os moradores de Porto Alegre - sem desconfiar nem um pouco que estavam praticando canibalismo – adoravam as famosas linguiças.

Para capturar as vítimas, Ramos usava a sua mulher como isca. Ela seduzia os homens e os levava para a cama em sua casa, onde o seu marido ficava escondido, pronto para abater as pobres vítimas.

O trecho em que uma amiga ou empregada do casal – não me lembro direito – descobre o porão onde Ramos abatia as suas “encomendas” e também fabricava as linguiças é de embrulhar o estomago e muito bem embrulhado.

04 – Uma perna perdida para um trem

Livro: VHS – Verdadeiras Histórias de Sangue

Autor: César Bravo

Sou fã de César Bravo. Ele escreve muito. Suas histórias metem medo em qualquer leitor. É um dos poucos autores da nova safra do gênero no Brasil que consegue mesclar humor e terror com perfeição. E, de fato, os enredos que saem de sua cabeça são tão horripilantes que se são tivessem uma pontinha de humor para amortecer o clima, a “coisa” se complicaria.

Torniquete que faz parte coletânea de contos VHS – Verdadeiras Histórias de Sangue me impressionou pra caráculas. A história me incomodou tanto que fiquei pensando, por um longo período, no suplício do personagem Millor Aleixo. Volta e meia, lá estava na minha cabeça a pobre vítima tendo a sua perna decepada por um trem. Arghhhhhhh!

Aleixo decide amputar, voluntariamente, a sua perna ao descobri que algo não vai bem com o importante membro inferior de seu corpo. Algo que se agrava a cada dia. Por isso, ele resolve decepá-la, mas da pior maneira: sentando ao lado de uma estrada de ferro com uma das pernas esticadas no trilho, esperando a locomotiva passar. Pode isso?!!

Só em escrever essas poucas linhas, já me sinto incomodado, imagine então, ler o conto inteiro onde o autor descreve, em detalhes, os preparativos para antes e depois da amputação.

No conto, o personagem que está internado num hospital relembra para um repórter toda a agonia enfrentada há poucos dias. Ele conta como se preparou para essa aventura macabra. “O sangue espirrou para todo o lado, fazendo de mim um Platoon urbano, sangue no chão, no rosto, mais sangue no ar do que oxigênio... A perna amputada foi arrastada e eu puxei o que sobrou de volta com o trem ainda passando...”  PQP!! Vou parar por aqui. Acho que já deu para vocês terem uma noção do quanto esse conto é pesado.

05 – Canibalismo nos Andes

Livro: Milagre nos Andes

Autor: Nando Parrado

Nesta obra, o autor Nando Parrado – um dos dezesseis sobreviventes de um acidente aéreo que tornou-se mundialmente conhecido como a "Tragédia dos Andes", ocorrido em 13 de outubro de 1972 – exorciza todos os seus medos e angustias, fazendo um relato detalhado dos 72 dias de sofrimento nas geladas e isoladas montanhas andinas onde um Fairchild F-227 da Força Aérea Uruguaia que transportava um time de rugby do Uruguai caiu.

Parrado não esconde absolutamente nada dos seus leitores, nem os fatos mais lúgubres e pavorosos.

Num dos momentos mais fortes do livro, o autor relata como ele e seus amigos, para não morrerem de inanição, foram obrigados a comer a carne dos cadáveres do acidente. Nesta parte da obra, o leitor tem que ter estômago muito forte para enfrentar os detalhes do canabalismo forçado.

Para continuarem vivos, os sobreviventes do acidente se alimentaram de carne humana por um período de aproximadamente dois meses. No início, segundo Parrado, apenas de pedaços superficiais do músculo do antebraço dos mortos, mas quando o “alimento” começou a faltar, eles tiveram de comer também pulmões, rins, cérebro e até coágulos de artérias. Ele dá detalhes de tudo isso sem meias palavras.

Quando li esse trecho de Milagre nos Andes fiquei muito impressionado, mas o meu estômago ficou bem mais.

06 – Uma planta carnívora sendo arrancada do interior do corpo de uma pessoa ainda viva

Livro: As Ruínas

Autor: Scott Smith

Cara, quero lembrar disso não. É trash demais. Ver aquela planta carnívora sendo arrancada do peito do sujeito ainda vivo. Arghhhh!

As situações vividas pelos personagens de As Ruínas de Scott Smith chegam ao extremo; trechos envolvendo automutilações, amputações a sangue frio, além de um terrível e sui generis vilão carnívoro que devora as suas vítimas sorrateiramente e sem piedade, minam a resistência do mais forte dos leitores. Perto do final fui obrigado a “dar um respiro” e deixar o livro sobre a mesa, quietinho, para prosseguir a leitura somente depois.

Costumo dizer que Smith foi muito sádico ao escrever As Ruínas, porque além das cenas chocantes envolvendo a luta de cinco jovens contra um inimigo assustador e impiedoso, o autor também explorou ao máximo os medos, incertezas, ansiedades e conflitos de cada um dos personagens. 

A cena em que um companheiro de um dos jovens tenta tirar de dentro do seu corpo uma planta carnívora que se alojou por lá é de acabar com qualquer estômago por mais forte que seja. Confiram alguns trechos e vejam se não estou com a razão:

Mathias perguntou se Eric queria se deitar. Ele sacudiu a cabeça.

- Vai doer, talvez seja mais fácil se você,,,

- Estou bem, vai logo  - respondeu Eric.

Mathias começou pelo peito. Fez cinco incisões rápidas em forma de asterisco e abriu. Enfiou a mão lá dentro e retirou lentamente a planta de dentro do corpo de Eric. Ela era surpreendentemente grande: Mathias precisou guardar a faca no bolso de trás da calça e usar as duas mãos para arrancar a massa escorregadia coberta de sangue semicoagulado e que se contorcia..,.” Afffff. Vamos ficar por aqui.

Imagine o que esses inimigos carnívoros fizeram com os outros jovens que estavam nesse grupo.

07 – O frigorífico de carne humana

Livro: Jantar Secreto

Autor: Raphael Montes

Cara, não quero me lembrar daquele frigorífico de carne humana. My God! Esta recordação infeliz me perseguiu por várias semanas após ter lido Jantar Secreto. Independentemente dessa e de outras cenas pesadíssimas envolvendo canibalismo, o livro de Raphael Montes é viciante. Você, simplesmente mergulha na história e não consegue parar de ler.

O autor conta a saga de quatro jovens que deixam uma pequena cidade do interior do Paraná, para estudar no Rio de Janeiro. Eles dividem um apartamento em Copacabana e fazem o possível para alcançar os seus sonhos na cidade grande. Em meio às dificuldades de pagar o aluguel e conseguir um bom emprego em um País em crise, os quatro amigos tem uma ideia para finalmente ganhar dinheiro: realizar jantares secretos para clientes ávidos por uma aventura gastronômica exótica: carne humana.

Mas o que começa como uma brincadeira, de repente, assume proporções inimagináveis que irão transformar profundamente a vida e o destino desses quatro amigos.

No capítulo do frigorífico vemos em detalhes ... cara, quero lembrar disso, novamente, não. Em poucas palavras imagine tudo o que se faz num frigorífico normal, agora... experimente trocar os animais por pessoas. Grrrrrrrr!!!

08 – Comendo o próprio cérebro frito

Livro: Hannibal

Autor: Thomas Harris

Este trecho de Hannibal impressiona demais, além de ser nojento. Imagine uma pessoa comendo um pedaço do próprio cérebro. Entonce, foi exatamente isso que aconteceu no livro de Thomas Harris quando o seu antológico personagem Dr. Hannibal Lecter abriu o crânio de um agente do FBI drogado, seu inimigo, cortou um pedaço de seu cérebro, fritou com trufas e o ofereceu ao próprio agente, fazendo-o comer. Caráculas! Harris castigou os leitores nesse capítulo.

Sente só o drama de parte do texto: “Dr. Lecter levantou o tampo da cabeça de Krendler, colocou-o na bandeja de prata e o levou até o aparador. Praticamente nenhuma gota de sangue caiu da incisão limpa, já que os principais vasos sanguíneos tinham sido amarrados... o crânio fora serrado na cozinha, meia hora antes da refeição... Dr, Lecter retirou uma fatia do lóbulo pré-frontal do agente vivo e”... Deixe-me parar por aqui porque é trash demais. Se, por acaso, quiser saber o desfecho dessa cena bizarra, leia o livro.

Galera, taí! Preparem os seus estômagos e boa leitura.

 


3 comentários

  1. Na versão cinematográfica do Hannibal (felizmente) essa cena não foi cortada e é tão nojenta quanto no livro.
    Jam, você que curte um terrorzinho, já leu o primeiro Hellraiser? Eu gostei bastante.

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    1. Olá Agusto.
      Cara, acredita que eu pensava ser uma novelização do filme?! Mas depois fiquei sabendo que na realidade é o contrário, ou seja, o filme que foi baseado na obra literária. Achei o filme muito interessante. Aliás, o livro é parecido com a produção cinematográfica?

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  2. É uma situação curiosa: o Barker escreveu Hellraiser já com intenção de que fosse adaptado para o cinema. Acabou que ele mesmo dirigiu o filme.
    E sim, o filme e o livro são bem parecidos, mas há algumas diferenças relevantes.
    Pra mim, ambos são equivalentes na qualidade. Gosto muito.

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