O Cemitério

23 junho 2019

O livro “O Cemitério”, de Stephen King, é tão bom, mas tão bom, que seria uma grande heresia estraga-lo com spoilers nessa resenha. Por isso pretendo escrever o mínimo possível para evitar esse mal. Aliás, estou escrevendo esse post especialmente para aquelas pessoas que ainda não leram o livro e tampouco assistiram aos dois filmes (1989 e 2019) baseados na obra.
Apesar da maioria dos “leitores-cinéfilos” já terem lido o livro e assistido, pelo menos, a produção de 20 anos atrás, alguns ainda desconhecem a história por completo, não sabendo quem morre, quem continua vivo, qual o resultado da atitude de Louis Creed, no que aquele ou este personagem se transforma. Bem, a resenha que você lê agora foi escrita para essas pessoas, por isso, talvez, ela possa parecer bem superficial, mas... paciência. Prefiro assim. Me perdoem aqueles que já estão calejados com o “Universo Pete Sematary” e esperavam algo mais detalhado.
Considero “O Cemitério” o livro mais denso e perturbador de King. Posso dizer que a morte é o personagem principal do enredo. Não a morte como algo físico, mas metafísico – do jeito que ela é realmente, agindo e mudando o comportamento dos personagens, influenciando em suas decisões.
Por exemplo, o personagem Louis Creed, por ser médico, sempre soube lidar e, principalmente, aceitar a morte como algo normal, até o momento em que ela cruza o seu caminho, mudando o seu modo de pensar e agir. No caso de Raquel, mulher de Creed, ela passou a ter ojeriza da morte após um trauma de infância envolvendo sua irmã, chegando ao ponto de não aceitar que um dia irá perder pessoas queridas em sua vida ou então animais de estimação. A pronúncia da palavra “morte” é proibida em sua casa. Mas após ser atingida pelo luto e quase perder a razão, surpreendentemente, ela se torna uma mulher forte, ao ponto de viajar quilômetros infindáveis para tentar salvar alguém querido. E tudo isso baseado numa premonição.
Cena do filme "Cemitério Maldito" de 1989
Outros personagens do livro também são atingidos pela morte, entre os quais Jud Crandall, amigo da família Creed; Ellie, filha do casal e até mesmo Irwin – pai de Rachel e sogro de Louis – que  juntamente com o seu genro protagonizam uma cena que seria hilária se não ocorresse no velório de um familiar. Aliás, King é mestre em transformar fatos engraçados, até mesmo pastelões em momentos de terror. Cada um desse personagens reage de maneiras diferentes quando alguém conhecido ou estimado perde a vida.
Enfim é isto, a morte está presente em toda a história e por isso, acredito que “O Cemitério” seja tão perturbador. Mas não apenas perturbador; o enredo também tem vários momentos que causam calafrios. Eu, mesmo, me arrepiei com quatro passagens que me incomodaram muito. Perto do final, um dos personagens, após a sua transformação maligna, choca o leitor não somente por sua aparência, mas também pelo seu linguajar, considerado incompatível para a sua idade. Algo que não acontece nos dois filmes.
"Cemitério Maldito", remake que estreou nos cinemas em 2019
Vários trechos da obra onde o cemitério maldito interage com alguns personagens, procurando arrastá-los para o abismo de uma loucura se fim, como se fosse uma entidade malévola, metem um medo visceral. Na maioria das vezes, li o livro sozinho em casa durante a madrugada e confesso que fiquei com aquele medo bobo de entrar num cômodo com a luz apagada. Acredite, “O Cemitério” consegue fazer isso.
Na trama, Louis Creed, um jovem médico de Chicago, acredita que encontrou seu lugar em Ludlow, uma pequena cidade do Maine, onde se muda com sua esposa, Rachel, e seus dois jovens filhos, Ellie e Gage. 
A boa casa, o trabalho na universidade, a felicidade da esposa e dos filhos lhe trazem a certeza de que fez a melhor escolha.
Num dos primeiros passeios familiares para explorar a região, conhecem um "simitério" no bosque próximo a sua casa. Ali, gerações e gerações de crianças enterraram seus animais de estimação.
Para além dos pequenos túmulos, onde letras infantis registram seu primeiro contato com a morte, há, no entanto, um outro cemitério. Uma terra maligna que atrai pessoas com promessas sedutoras e onde forças estranhas são capazes de tornar real o que sempre pareceu impossível.
Este local estranho e maligno passa a ter grande influência na família Creed.
Enfim, é isto. Espero não ter liberado muito spoilers para a galera que ainda não leu o livro e nem assistiu aos dois filmes.
Só posso dizer: não deixem de ler “O Cemitério”. É muito assustador e principalmente, perturbador. Talvez, o mais perturbador de todos os livros escritos pelo mestre do terror.

2 comentários

  1. Acredito que você teve uma percepção parecida com a minha sobre esse livro, porque quando fiz a minha resenha sobre O Cemitério no meu blog, eu também tive essa preocupação em não revelar muitos detalhes sobre a história que pudessem estragar a experiência de novos leitores.
    Nos últimos tempos, eu percebi que tanto filmes quanto livros são melhores aproveitados quando se tem o mínimo de informações prévias sobre eles.

    No caso desse em particular, você teve uma vantagem sobre mim, pois quando o li pela primeira vez em 2001, eu já havia visto o filme de 1989 quando criança, então já sabia de tudo o que iria acontecer na história. Uma cena em particular do filme ficou na minha lembrança durante ANOS (eu tinha uns cinco anos de idade quando vi o filme pela primeira vez, mas já gostava de filmes de terror nessa época), embora essa cena seja diferente no livro.

    No entanto, mesmo com esse fato de eu saber o que iria acontecer no livro mesmo antes de lê-lo, não atrapalhou na questão de esse se tornar minha obra favorita de King. Pelo que eu li da sua resenha, você curtiu um mesmo aspecto que eu: a transformação do protagonista na terceira parte. Diferente das duas versões cinematográficas, no caso do livro as ações dele são, de certa forma, justificadas. Aquele trecho em que ele pensa "como não aproveitar essa oportunidade?" resume bem isso.

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    1. Pois é, também assisti ao filme de 89, mas recordava vagamente de algumas cenas. Com certeza, não atrapalhopu a leitura.
      Gostaria de agradecer pela indicação. Valeu, mesmo, Augusto!
      Abcs!

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