Algo que me irrita demais são livros com capítulos
enormes. Daqueles que você começa a ler e parece não ter mais fim. Então, mesmo
que o enredo não seja ruim, aquela imensidão de letrinhas vai te esgotando,
esgotando até você não ver a hora de terminar o tão malfadado ‘capitulão’.
Cara, fico P. da Vida com esses autores ou editores que não tem a perspicácia
de dividir esses ‘super-capítulos’ em subcapítulos. É por isso que admiro cada
vez mais Stephen King. A maioria de seus livros – para não dizer todos – são
divididos em subcapítulos, deixando a leitura de suas obras muito mais
atrativa. Não é à toa que ele é conhecido como o mestre da escrita e... claro,
mestre do terror, também.
Pois é, “Titanic – A História Completa” do escritor e
historiador francês Philippe Masson, infelizmente, se enquadra na categoria dos
livros com capítulos longos ao extremo e sem nenhuma subdivisão. Não sei se
essa escolha partiu do autor ou de seus editores, o que sei é que tal atitude
matou grande parte do enredo.
Talvez, acontece o mesmo com vocês, não gosto de
interromper temporariamente a leitura sem terminar um capítulo. Quando sou
obrigado a parar no meio daquele mar de letras por algum motivo, me sinto
perdido quando retorno a leitura já que o enredo do “capitulão” foi ‘podado’-
por mim - sem o autor completar a sua linha de raciocínio. Resultado: fico
perdidão e acabo tendo de voltar vários parágrafos para pegar o embalo,
novamente.
Bem, mas deixando os infernais ‘capitulões’ de lado,
vamos ao que interessa: ao enredo, o qual vou me esforçar para não liberar
spoiler. Vamos lá. A história é razoável, pois tem partes interessantes e outras
nem tanto. Dos sete capítulos – excluindo “apresentação”, “glossário” e
“bibliografia” – os que mais prenderam a minha atenção foram: “O Inconcebível”,
“Imprudência ou Fatalidade” e “Do Salvamento no Mar”. No primeiro, o leitor se
sente dentro do próprio Titanic, já que o autor narra como foi o naufrágio do
transatlântico, desde o momento em que colidiu lateralmente com um iceberg até
o instante dramático em que o navio se parte ao meio, e proa e popa submergem
em posição vertical. É neste capítulo que Masson conta, baseado em depoimentos
de sobreviventes, quais foram as reações de vários passageiros e tripulantes.
Atos de muita coragem se fundem a atos de extrema covardia nos momentos de
perigo. Vários desses atos são narrados em detalhes, fazendo com que o leitor
se sinta como um dos passageiros do Titanic, ali, naquele momento, assistindo a
tudo.
Não tenho como negar, que apesar da falta de
subcapítulos, devorei essa parte do livro. A grande quantidade de fotos e
gráficos também ajudaram a tornar o texto mais atrativo.
É neste capítulo que o autor aborda um assunto que para
alguns não passa de uma lenda, mas para outros é a mais pura realidade: a
orquestra do Titanic que tocou várias músicas no convés para acalmar os
passageiros, enquanto o transatlântico submergia. Todos os oito músicos
pereceram durante o naufrágio e devido ao ato de heroísmo e coragem, a história
real do grupo acabou se tornando uma lenda.
Em “Imprudência ou Fatalidade”, são apresentadas
várias hipóteses sobre o acidente para o leitor. Excesso de velocidade do
transatlântico? Rota arriscada pré-determinada pela Companhia responsável pelo
Titanic? Falha na comunicação de telégrafo? Enfim, Masson disseca todas as
possibilidades que possam ter conduzido ao grave acidente. Achei o capítulo bem
atraente.
Já em “Do Salvamento no Mar”, o autor analisa as
falhas ocorridas no processo de salvamento dos passageiros que conseguiram
sobreviver ao naufrágio. Reza a lenda que enquanto o Titanic mergulhava nas
profundezas do Atlântico Norte surgiu no meio do nevoeiro, daquela noite
fatídica de 15 de abril de 1912, um misterioso navio, o qual apenas poucos
sobreviventes nas balsas conseguiram avistar. Seria um navio fantasma ou alguma
embarcação que se recusou a ajudar no salvamento? Neste capítulo, Masson
explora a possibilidade do suposto navio fantasma ser na realidade o cargueiro
britânico SOS Californian. Discussões a respeito de uma possível negligência do
comandante desse navio, Stanley Lord e de sua tripulação nos socorros à
embarcação compatriota perduram até os dias atuais. O livro explora muito bem
esse assunto e a presenta os fatos prós e contra o capitão e a tripulação do
Californian, deixando para que o leitor, de posse das informações, opine se
houve ou não omissão de socorro.
Quanto aos outros quatro capítulos, sinceridade? Achei
desinteressantes. Juro que as informações sobre os motivos que levaram a
construção Titanic não me atraíram; muito menos as tentativas de resgatar os
lendários ‘restos mortais’ do transatlântico que repousa nas profundezas do
oceano, além dos inquéritos que foram
abertos para apurar responsabilidades do naufrágio.
No balanço final, acredito que os capítulos: “O
Inconcebível”, “Imprudência ou Fatalidade” e “Do Salvamento no Mar” valeram a
leitura do livro, apesar dos temíveis e medonhos capitulões.
Por hoje é só.
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