Com certeza, Beatriz Prata já entrou para o rol das
minhas personagens femininas fodásticas da literatura. Ela se parece muito com
uma Guinevere dos tempos modernos – mas a Guinevere idealizada por Bernard
Cornwell em a saga “As Crônicas de Artur”
(ver aqui, aqui, aqui e mais aqui). À exemplo da personagem arturiana, Beatriz
é destemida sem ser incauta, inteligente mas nem por isso arrogante, além de
carismática e corajosa, aliás muito corajosa, ao ponto de romper paradigmas
considerados imutáveis quando se vê acusada por algo que não cometeu.
Esta garota fantástica é a personagem principal do
romance de ficção científica “Vende-se este Futuro”, livro de estréia do
escritor paulista Bruno Miquelino, publicado pela editora Novo Século.
Beatriz é uma espécie de agente de viagens
temporais. Explicando melhor: ela trabalha para uma agencia que promove viagens
no tempo chamada Déja Vu que surgiu 2097 em São Paulo, numa época em que esse
tipo de viagem era comum. A principal função da Déja Vu é transportar pessoas
do passado para o futuro, para que elas
adquiram outra identidade, longe
dos holofotes, da polícia, de seus problemas, enfim, do que for. No futuro que
elas escolhem, então lhes é concedida uma nova identidade e consequentemente
uma nova vida.
No livro a protagonista só precisa levar o grande
Charles Chaplin para o futuro, mas inúmeras coisas dão errado e ela se vê presa
no início do século XX, sem ter como voltar para o tempos modernos.
“Vende-se este Futuro” consegue prender a atenção do
leitor, logo de cara, já no prólogo quando Beatriz viaja para meados de 1970
com a missão de transportar para o futuro uma das personalidades mundiais mais
famosas da cultura pop de todos os tempos.
Bruno Miquelino |
A grande sacada do autor em sua trama foi promover
uma interação entre o real e o imaginário. Achei fantástico ver, por exemplo, a
agente de viagens temporais da Déja Vu se relacionando com grandes
personalidades da história mundial e também da nossa cultura pop. Além dessa
interação, digamos ‘diferente’, Miquelino ainda insere esses personagens
fictícios em momentos importantes da História, como por exemplo no atentado da
rua Tonelero, ocorrido na madrugada de 5 de agosto de 1954, considerado até
hoje, um dos fatos mais importantes nos anais da política brasileira.
No que diz respeito à participação de Charles
Chaplin no romance, com certeza, os leitores irão adorar os momentos de
estranhamento, emoção, amizade e aventura vividos por Beatriz e o eterno
Carlitos.
Nada foi jogado aleatoriamente no livro. Acredito
que o autor deva ter desenvolvido um excelente trabalho de pesquisa para fazer
dessa interação ‘ficção e realidade’ a mais convincente possível para leitor.
No caso de Chaplin, para se ter uma idéia, ficamos sabendo inúmeros detalhes de
sua vida particular. É interessante vê-lo discutindo alguns desses pormenores
com Beatriz.
As reviravoltas na trama também são outros pontos
positivos que valem a pena destacar. Algumas, de fato, irão pegar o leitor de
surpresa, principalmente uma conspiração que mudará o destino da história,
deixando o leitor muito surpreso.
Quanto ao final de “Vende-se este Futuro” é
impagável, aliás, os finais porque há um exclusivamente dedicado a Charles
Chaplin e ao seu filme “O Circo” e adianto que é emocionante. No outro “The End”,
onde ocorre a conclusão de toda a trama, mais surpresas. Ri muito e também
adorei aquele golpe do baú. Passei a gostar ainda mais de Beatriz.
O livro de Miquelino é dividido em ‘capítulos
temporais’, ou seja, cada capítulo corresponde a determinado ano em que ocorre
a trama. Dessa forma, ele mescla 2112 – período atual em que se desenvolve o
romance - com outras épocas: 1926, 1964, 1968, 1977 e assim por diante.
Sem dúvida, um grande livro.
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