O chamado “true crime” está catapultando as vendas de
livros em todo o mundo, principalmente no Brasil. Uma reportagem que li - em
meados de 2022 – não me lembro em qual jornal, revista ou site, afirmava que
esse gênero literário passou a ser o mais vendido aqui na terrinha, superando
os tradicionais romances policiais, thrillers psicológicos, biografias e
autobiografias, além das melosas histórias de amor que tem em Nicholas Sparks o
seu melhor e maior representante.
O gênero “true crime” envolve as narrativas que contam
crimes reais. Os livros, podcasts ou séries de TV trazem informações sobre a
investigação e reconstrução dos fatos envolvendo esses crimes. As histórias
tratam da psicologia dos criminosos, bem como da forma como os crimes
aconteceram, depoimentos de testemunhas e sobreviventes e o processo de
investigação policial. O conteúdo dessas obras é, em sua maioria,
jornalísticos: entrevistas, áudios de processos, gravações feitas em tribunais,
imagens da cobertura da imprensa dos crimes e diversos outros.
O crime mais comumente retratado é o de assassinato,
com uma boa parte dos títulos focando em um assassino em série. A abordagem
varia entre análise do perfil do criminoso, o desenrolar do caso – com detalhes
sobre as investigações –, explicação do modus operandi (o método do criminoso),
e até mesmo equívocos que possam ter acontecido no processo de análise do
crime.
Este gênero ganhou cada vez mais espaço nos diferentes
tipos de mídia, principalmente nos livros e na televisão. Séries que abordaram
os assassinatos da atriz Daniela Perez (Pacto mortal) ou a ascensão e queda da
deputada e pastora Floderlis, acusada e condenada pelo assassinato de seu
marido em 2019 (Em nome da mãe) explodiram nos streamings alavancando as
audiências da Globay e da HBO, respectivamente. O mesmo fenômeno, mas com temas
diferentes também vingaram nos livros fazendo com que a maioria das editoras
explorassem esse filão ao máximo. Prova disso, foi a DarkSide que chegou até
mesmo a criar uma marca relacionada ao tema batizada de “Crime Scene” e que se
tornou uma das mais rentáveis da editora carioca.
Resumindo: nunca um gênero literário esteve tão em
alta como o true crimes. Por isso, o “Livros e Opinião” também decidiu embarcar
nessa onda e elaborar uma postagem direcionada, especialmente, aos leitores que
apreciam essa categoria de livros. Neste post, escolhi 10 obras de “true
crimes” que ganharam a cabeça da galera. Eles fazem ou fizeram parte de
qualquer lista de mais vendidos. Seus temas são intrigantes e certamente irão
agradar em cheio. Vamos a eles:
01
– Lady killers (Tori Telfer)
Lady Killers foi inspirado na coluna homônima da escritora Tori
Telfer no site Jezebel.com. O livro é um dossiê de histórias sobre assassinas
em série e seus crimes ao longo dos últimos séculos.
Telfer caprichou. Acredito que ela gastou muito tempo
em suas pesquisas para montar o seu enredo. Escrever sobre assassinas em série,
de um modo geral, já é difícil devido a falta de material sobre o assunto, o
que não acontece quando o tema diz respeito à assassinos. Por algum motivo, o
material sobre homens que matam em série é muito mais amplo do que aqueles que
se referem sobre o mesmo tema, mas tendo o sexo oposto sob os holofotes. Apesar
disso, a autora conseguiu escrever um livraço.
Com um texto informativo, mas também ao mesmo tempo
fluido, Telfer recapitula a vida de catorze mulheres com apetite para
destruição, suas atrocidades e o legado de dor deixado por cada uma delas.
Em Lady Killers você vai conhecer, por exemplo, a Vovó
Sorriso, que dominou as páginas dos jornais norte- americanos em 1950 por seu
carisma e piadas mórbidas. Ela teria matado quatro maridos! Outro destaque é
para Kate Bender que recebia viajantes em sua hospedaria e tinha o hábito de
assassinar todos que ousavam flertar com ela! Uma verdadeira viúva negra.
O que levou essas e outras Lady Killers do livro a
cometerem esses crimes? Como era o seu modus operandi? Como a polícia chegou
até elas? Você irá conseguir desvendar
esses mistérios após ler a obra de Tori Telfer.
02
– Serial killers – Anatomia do mal (Harold Schechter)
O subtítulo do livro de Harold Schechter já explica a
sua essência: “Entre na mente dos psicopatas”. E é, exatamente, isso que os
seus nove capítulos fazem. O leitor acaba mergulhando fundo na mente de
predadores assassinos que ficaram famosos ao longo da história por causa das
atrocidades cometidas. O autor não esconde absolutamente nada, revelando
detalhes macabros de crimes horrendos e os motivos que poderiam ter levado
esses serial killers a cometerem tais monstruosidades.
Serial Killers – Anatomia do Mal faz um estudo minucioso da mente dos
serial killers, desde a sua infância até a fase adulta, apontando as possíveis
causas que poderiam ter levado uma criança normal a se transformar num
assassino cruel, sanguinário e sem remorsos.
Schechter que é professor de literatura e cultura
americana no Queens College, na Universidade da Cidade de Nova York, renomado
por suas obras sobre crimes verídicos, aponta os principais sinais que indicam
que uma criança possa vir se tornar um serial killer no futuro. Cara!
Impressionante esse capítulo! Ele explica ainda a diferença das categorias de
assassinatos: em “série”, “em massa” e “relâmpago”. As nuances entre psicótico
e psicopata.
03
– Modus Operandi: Guia de true crimes (Carol Moreira e Mabê Bonafé)
Carol Moreira e Mabê Bonafé tem um podcast chamado
Modus Operandi que apesar do pouco tempo em atividade (nasceu em janeiro de
2020) já angariou uma audiência gigantesca.
Agora, as duas trazem para o papel toda a experiência
que acumularam em mais de cem episódios em um livro para quem quer saber tudo sobre
“true crimes”, um universo que conquista cada vez mais fãs.
Em
Modus Operandi: Guia de true crime, as autoras abordam as
principais bases do gênero de maneira simples, objetiva e bem-humorada. Entre
capítulos sobre sistema de justiça, polícia, investigação, casos arquivados,
serial killers e outros, a dupla descreve dezenas de crimes que impactaram o
Brasil e o mundo, conta a história de assassinos em série e traz diversas
curiosidades e fontes para quem quiser saber mais sobre o assunto.
Com referência a casos célebres, muitos deles contados
no podcast do Globoplay, e a filmes e séries, Modus Operandi passeia pela história do gênero, listam os tipos de
crime, os passos de uma investigação e como funcionam os sistemas judicial e
carcerário.
O famoso Bope carioca ganha um espaço especial quando
falam do sequestro do ônibus 174, em 2000, uma tragédia que exemplifica como o
“sistema falhou”, de acordo com Mabê. Elas discorrem também sobre como as
penitenciárias brasileiras refletem o racismo estrutural.
Tanto o podcast quanto o livro continuam sendo muito
elogiados por críticos e leitores.
04
– O Caso Evandro (Ivan Mizanzeck)
No início da década de 90, várias crianças
desapareceram no Paraná. Em 6 de abril de 1992, na cidade de Guaratuba, litoral
do estado, foi a vez do menino Evandro Ramos Caetano, de 6 anos. Poucos dias
depois, seu corpo foi encontrado sem mãos, cabelos e vísceras, o que levou à
suspeita de que ele fora sacrificado num ritual satânico. Passados três meses,
numa reviravolta que deixou até os investigadores atônitos, sete pessoas —
incluindo a esposa e a filha do prefeito da cidade — foram presas e confessaram
o crime. O caso, que ficou conhecido como "As bruxas de Guaratuba",
teve imensa repercussão.
Especulações sobre o crime diabólico preencheram
páginas e mais páginas de jornais, e ocuparam a programação televisiva. Os
desdobramentos judiciais se estenderam por cerca de três décadas.
Neste livro reportagem, criado a partir da pesquisa
feita para a quarta temporada do podcast “Projeto Humanos”, Ivan Mizanzuk conta
como procedimentos investigativos contestáveis e denúncias de tortura puseram
em xeque a validade não apenas do trabalho policial, mas também das confissões
dos supostos culpados.
05
– Mindhunter: O primeiro caçador de serial killers americano (John Douglas e
Mark Olshaker)
Mindhunter:
O primeiro caçador de serial killers americano se tornou o livro mais vendido da editora Intrínseca em
2017. A obra arrebentou em vendas naquele ano e, agora, nos tempos atuais,
ainda continua conquistando novos leitores. O livro fez tanto sucesso que
acabou virando uma série na Netflix.
Mindhunter:
O primeiro caçador de serial killers americano mostra
os bastidores de alguns dos casos mais terríveis, fascinantes e desafiadores do
FBI.
Durante as mais de duas décadas em que atuou no FBI, o
agente especial John Douglas tornou-se uma figura lendária. Em uma época em que
a expressão serial killer, assassino em série, nem existia, Douglas foi um
oficial exemplar na aplicação da lei e na perseguição aos mais conhecidos e
sádicos homicidas de nossos tempos. Como Jack Crawford em O Silêncio dos Inocentes, Douglas confrontou, entrevistou e estudou
dezenas de serial killers e assassinos, incluindo Charles Manson, Ted Bundy e
Ed Gein.
Com uma habilidade fantástica de se colocar no lugar
tanto da vítima quando no do criminoso, Douglas analisa cada cena de crime,
revivendo as ações de um e de outro, definindo seus perfis, descrevendo seus
hábitos e, sobretudo, prevendo seus próximos passos.
O livro é um fascinante relato da vida de um agente
especial do FBI e da mente dos mais perturbados assassinos em série que ele
perseguiu.
06
– A Sangue frio (Truman Capote)
Nos anos 60, Truman Capote, revolucionou a literatura
com a obra A Sangue Frio. O livro,
que narra desde o brutal assassinato de uma conhecida família de Kansas até a
execução dos assassinos, é até hoje um marco na história do jornalismo
investigativo e, referência para qualquer um que queira escrever um romance de
não-ficção.
Mesmo que a obra de Capote fuja um pouco das vertentes
do “true crime” já que o autor romantizou os fatos reais, não posso negar que A Sangue Frio foi um divisor de águas,
ou seja, foi a partir dele que outros autores começaram a escrever romances
policiais baseados em fatos reais, mas não deixando de lado as características
principais do gênero “true crimes” onde o autor examina um crime real e detalha
as ações de pessoas reais apesar da chamada "romantização da verdade”.
Capote narra os detalhes de um crime que chocou o
estado de Kansas, nos Estados Unidos, em 15 de novembro de 1959 quando a
respeitada família Clutter foi encontrada morta em sua fazenda na cidade de
Holcomb. Os quatro membros: o pai Herbert, de 48 anos; a mãe Bonnie, de 45
anos; a filha de 16 anos, Nancy, e o filho mais novo, Kenyon de 15 anos, foram
amordaçados e baleados por Richard Eugene “Dick” Hickock e Perry Edward Smith.
O crime teve ampla cobertura da imprensa local, por se
tratar de uma família conhecida e pela gravidade, até então, não explicada das
ações. Assim que soube da notícia, Capote resolveu viajar até o Kansas para
cobrir a história, levou consigo a também escritora, e amiga de infância, Nelle
Harper Lee. Juntos entrevistaram os assassinos e revelaram detalhes da chacina.
O livro foi lançado em 1965, acompanhou Dick e Perry
até o dia da execução. O lançamento foi um sucesso instantâneo e, hoje é o
segundo livro de crime mais vendido na história.
A narrativa vai muito além da cobertura de um crime,
com razões e consequência para a brutalidade. Capote consegue nos fazer imergir
na história. Entendendo o que motivou o crime, e os diversos ângulos que ele
engloba.
07
– Columbine (Dave Cullen)
Quando falamos de massacres em escolas, o primeiro
pensamento na mente de qualquer um é o (infelizmente) conhecido ‘Massacre de
Columbine’. Ocorrido no dia 20 de abril de 1999, o caso entrou para a história
dos Estados Unidos depois que dois estudantes do Columbine High School entraram
no colégio armados e, depois de assassinarem brutalmente 13 pessoas — 12
estudantes e um professor — e ferirem outros 21, se suicidaram.
O trágico episódio — realizado por Eric Harris e Dylan
Klebold — teve um impacto significativo na cultura americana e levou a debates
sobre controle de armas, bullying nas escolas e saúde mental.
Dave Cullen foi um dos primeiros repórteres a chegar à
cena e passou dez anos escrevendo Columbine,
livro que hoje é considerado a obra definitiva sobre o tema. Os episódios
recontados são uma mistura das reportagens que Cullen publicou na época com
anos de pesquisa ― incluindo centenas de entrevistas com a maioria dos
diretores envolvidos, a análise de mais de 25 mil páginas de evidências
policiais, incontáveis horas de vídeo e áudio, e o trabalho extenso de outros
jornalistas de confiança.
Columbine ganhou
vários prêmios e honras, incluindo o Edgar Allan Poe Award (2010), o Barnes
& Noble’s Discover Award (2009) e o Goodreads Choice Award (2009. Columbine
também foi indicado em mais de vinte listas de melhores livros de 2009,
incluindo The New York Times, Los Angeles Times, Publishers Weekly, e foi
eleito como uma das melhores obras da década de 2000 pelo American School Board
Journal.
08
– BTK Profile: Máscara da maldade (Roy Wenzl)
Ao longo de três décadas, um monstro aterrorizou os
moradores de Wichita, Kansas. Um assassino em série que amarrava, torturava e
matava mulheres, homens e crianças, iludiu a polícia por anos a fio enquanto se
vangloriava de suas terríveis façanhas para a mídia. A nação ficou chocada
quando os crimes de BTK — a sigla para os termos em inglês bind, torture, kill,
que eram sua assinatura criminosa — foram enfim associados a Dennis Rader, um
vizinho amigável, marido devoto e respeitado presidente da congregação de uma
igreja local.
Este livro é fruto da intensa colaboração entre
polícia e imprensa local. Os dois resolveram se unir e trabalhar em conjunto
pois entendiam que para manter a cidade informada e a salvo, imprensa – no caso
jornal – e polícia precisavam colaborar e já que o BTK queria a atenção da
mídia e se comunicava com os jornais locais, por isso, nada melhor do que
dividir isso com a polícia.
O autor de BTK
Profile: Máscara da maldade é repórter do jornal Wichita Eagle e tinha
conhecimento dos crimes do BTK ao longo dos anos. A intenção com este livro era
corrigir os erros de edições que falavam dos assassinatos e escrever a versão
definitivas sobre o que de fato aconteceu.
09
– Caso Henry: Morte anunciada (Paolla Serra)
Na madrugada de 8 de março de 2021, o menino Henry
Borel chegou à emergência de um hospital do Rio sem respirar e com o corpo
gelado. Foi levado pela mãe, Monique Medeiros, e seu companheiro, o vereador em
quinto mandato Dr. Jairinho. Um mês depois, os dois eram presos, acusados pela
morte da criança.
A investigação da morte do menino de apenas 4 anos
tinha tudo para ser arquivada por falta de provas e sepultada nos escaninhos da
burocracia oficial. Mas o poder e o prestígio de Jairinho esbarraram em médicos
comprometidos com a vida, em policiais focados em descobrir a verdade e na
determinação de Paolla Serra, jornalista de “O Globo” que foi a responsável por
fazer o caso se tornar conhecido publicamente e teve papel fundamental na
investigação da morte de Henry Borel.
Nos últimos oito meses a jornalista se dedicou ao caso
e ao livro que relata os bastidores de mais um homicídio infantil que chocou o
país. Em “Caso Henry: Morte anunciada”, a autora conta informações exclusivas e
inéditas que levaram à prisão do casal. Além disso, o público também poderá ver
o perfil de um dos protagonistas dessa trama.
10
– Elize Matsunaga – A mulher que esquartejou o marido (Ullisses Campbell)
Foi em 19 de maio de 2012 que Elize Matsunaga matou o
marido Marcos com um tiro na cabeça. Em seguida, esquartejou o corpo por cerca
de seis horas, distribuindo os pedaços em malas e desovando em uma mata. Como
em um filme, Matsunaga tinha planejado passo a passo após o crime. Visitou os
sogros e os mostrou um e-mail falso, do qual o texto havia sido escrito por
ela, que se passava pelo marido morto, dizendo que estava tudo bem. Enquanto
mostrava a mensagem eletrônica aos pais de Marcos, Elize chorava afirmando que
ele havia fugido com uma amante.
Dez anos após o assassinato, muitos se perguntam qual
a razão de Elize ter matado seu marido. Neste livro, Ullisses Campbell narra a juventude
conturbada de Elize Matsunaga, o relacionamento problemático de seus pais, o estupro
na adolescência e muitas outras marcas que afetaram, e provavelmente a afetam
até hoje.
Quem é Elize? Por que Elize matou seu marido? Como ela
está após anos na prisão? Essa e muitas outras respostas em uma obra de Ulisses
Campbell, lançada pela editora Matrix.
As opções estão aí para você que gosta do gênero true
crime fazer a sua escolha. Espero ter ajudado.
Por hoje é só galera.
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