Não pretendia abrir um post para escrever uma crônica
sem nenhuma ligação com a proposta do blog que é a de “falar” sobre livros. Na
realidade iria escrever uma resenha de Circe:
feiticeira, bruxa, entre o castigo dos deuses e o amor dos homens, de
Madeline Miller. Quanto a crônica que você está lendo agora, seria apenas um
preâmbulo da resenha onde contaria rapidamente, em poucas palavras, algo
distinto dos livros que aconteceu no meu dia a dia. Mas depois, pensando melhor,
concluí que esse assunto valeria uma divagação a mais entre tantas outraas que
já publiquei nesse blog.
E no exato momento em que começo escrever esse texto,
eis que Lulu entra na sala onde estou com meu notebook e pergunta: “E aí?
Quando teremos outra divagação?”. Pensei comigo: “Pode parar! De fato, os
deuses da literatura estão querendo que eu divague um pouquinho mais (rs)”.
Então vamos divagar.
A geladeira quebrou! Pronto, na lata. Quebrou e quebrou
bonito; se é que existe um bonito quando se quebra alguma coisa (rs). Aliás, o
motivo do atraso na publicação de algumas postagens foi a tal da geladeira que
nesse momento está com as portas escancaradas “olhando” desoladamente para mim
como que “implorando”: “Cara tô muito mal, não sei o que eu tenho, chame um bom
“médico” para mim, piedade!!”.
Mas o que a minha amada geladeira não “entende” é que o
problema reside unicamente nessas duas questões que “ela” citou: não saber o
que tem, ou seja, qual o seu defeito e depois: chamar um bom “médico”. Rapaz,
nunca pensei que a quebra de uma geladeira pudesse contribuir – e muito! – para
o aumento da carga de estresse emocional ou ansiedade de uma pobre vítima. Isto
mesmo: pobre vítima, porque essa vítima sofre muito. Cara, os transtornos para
aqueles que possuem apenas uma geladeira são muitos e os riscos de perderem
alimentos congelados caríssimos, principalmente carnes, também são muitos.
A minha primeira onda de estresse chegou no momento em
que chamei o primeiro técnico para fazer uma avaliação no equipamento. Antes,
deixe-me esclarecer que na cidade onde moro, os profissionais da área de
refrigeração não são tão bem avaliados. As suas estrelinhas no Google estão muito
baixas, por isso fechei os olhos, apontei o dedo e escolhi um deles. Um
senhorzinho com uma cara de muita experiência chegou, deu uma espiada atrás da
geladeira, ficou de cócoras, encostou o ouvido na grade traseira e tascou: “É
gás, acabou, Vou ter que fazer uma carga”. Ocorre que o tal senhorzinho não
sabia que antes de chama-lo, eu havia consultado vários vídeos no Youtube e
todos eles – vejam bem não “quase todos”, mas “todos eles” – afirmavam que se o
compressor de uma geladeira estiver quente ou morno, trepidando e se a grade
traseira de sua geladeira também estiver quente, o problema, com toda a
certeza, não é falta de gás. Pois é, a minha Consul, nesses quesitos, estava
“zero bala”. Olhei para o senhorzinho e disse: “muito obrigado, vou dar uma
estudada e lhe telefono depois”. Imediatamente, ele devolveu: “Vamos fazer já,
eu dou um desconto”. – “Não, obrigado”, respondi. – “Já estou com os
equipamentos aí, o serviço não vai demorar”. - Fui obrigado a retrucar bem
pausadamente – “O-b-r-i-g-a-d-o”. Meio a contragosto, o senhorzinho insistente
acabou indo embora.
Para evitar que essa postagem fique muito extensa, não
vou citar as outras três experiências nada agradáveis que tive com outros três
técnicos sabichões, dois deles insistindo na teoria do gás. Quanto ao outro profissional
– pera aí... eu escrevi profissional?!! - que o apelidei de “Dr. Pode Ser”. Ele
só dizia: “Então... pode ser isso, pode ser aquilo, pode ser acolá, mas também
não pode ser”. Se ele tivesse me exposto as suas dúvidas com personalidade, eu
até permitiria que ele operasse a minha amada Consul, mas a cada “pode ser” ele
dava uma coçada no lado esquerdo da cabeça, perto da orelha; uma coçadinha do
tipo: “Parceiro estou mais perdido do que peixe fora d’água”.
E cá, estou eu; com a geladeira vazia, portas escancaradas
e degelada. Aliás, ela está desligada há três dias já que o técnico (o qual
ainda estou procurando) só poderá abri-la após o degelo para que não quebre a
tampa de plástico e o isopor que protege os componentes eletrônicos do
congelador: ventoinha, resistência, etc.
Cara, nunca pensei que uma geladeira quebrada tivesse
tantos “pode ser” – e, de fato, tem. Nunca pensei, também, que existissem
tantos charlatões que se dizem técnicos de refrigeração. Viram só que equação
complicada? “Como resolver algo com muitos ‘pode ser’ dispondo de poucas
pessoas confiáveis e capazes?”
Entonce: apresento-lhes, a saga da minha Consul
duplex. Amanhã, tentarei novamente resolver essa equação. Hoje, ainda, antes de
escrever esse texto, um colega me indicou um novo técnico – O sujeito é bão!
Pode confiar! – afirmou ele.
E aí? Confio? Vendo a minha companheira de oito anos
com as portas abertas e agonizando, e por sua vez deixando a mim e Lulu também agonizados,
correndo com alimentos para cima e para baixo à procura de uma geladeira
reserva, chegou à conclusão que não tenho escolha. Só me resta: confiar e acreditar
que o sujeito, de fato, é ‘bão’.
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