Nos últimos dias, venho assistindo muitos filmes dos
anos 70 e 80 e confesso que estou adorando. Aliás, na minha opinião, as
melhores produções cinematográficas – aquelas que podemos chamar de antológicas
– foram produzidas nessa época. Após ‘maratonar’ alguns filmes ‘setentistas’ e
‘oitentistas’ parei para pensar quantas daquelas produções foram baseadas em
livros; e quantos desses livros fizeram sucesso. Daí veio a ideia dessa
postagem: elaborar uma lista de livros que foram transformados em filmes
marcantes nas décadas de 1970 e 1980. Espero que gostem. Torço, também, para
que essa toplist auxilie a galera saudosista na escolha de alguns filmes ou
livros daquele período para “matar” saudades e também o tempo ocioso. Vamos
conferir:
01
– O Exorcista (William Peter Blatty)
Livro:
1971 / Filme: 1973
O livro de William Peter Blaty é por demais
assustador. Tão assustador que demorei um bom tempo para lê-lo. Sempre fui
adiando a leitura porque achava que a história era muito pesada.
Lembro-me que nos meus dias de estudante secundarista,
quando era um verdadeiro rato de biblioteca, cheguei a sacar o livro (uma
edição de bolso em folha de papel jornal) da estante, mas ao ler as primeiras
páginas acabei desistindo. Não que o livro fosse ruim. Longe disso, a criação
de Blatty é uma verdadeira obra prima; o problema era comigo mesmo. Eu
considerava O Exorcista, o monte
Everest dos livros de terror e para encará-lo tinha que estar preparado. Não
queria fazer como fiz com o filme em minha pré-adolescência, quando resolvi
assisti-lo e depois... me arrependi.
Fiquei sem dormir alguns dias pensando na personagem da Linda Blair possuída
virando o pescoço para trás num ângulo de 360 graus e descendo uma escadaria
imitando uma aranha. Sei que hoje, esses efeitos especiais são um pouco simplórios,
mas há 50 anos eram, de fato, assustadores.
Bem, resumindo, após exorcizar todos os meus fantasmas
e chegar à conclusão que estava em “ponto de bala” para encarar o livro, não
pestanejei em compra-lo num sebo. Ao terminar a leitura pude ratificar que O Exorcista ainda tem o poder de
provocar muitos sustos e calafrios.
O filme de 1973 não fica atrás em seu tempo. Na época
houve relatos na imprensa de pessoas que passaram mal nos cinemas e tiveram que
ser retiradas por causa das cenas chocantes. O filme fez tanto sucesso que
provocou filas de vários quarteirões nos cinemas. Toda essa coqueluche acabou
alavancando ainda mais as vendas do livro de Blatty.
Entre tantas cenas antológicas, três delas marcaram
muito a minha vida de cinéfilo. A primeira delas foi aquela ‘descida” de escada
horripilante da personagem de Linda Blair após ter sido possuída. A garota
parecia uma aranha! A segunda cena marca a chegada do padre Merrin na casa dos
pais da garota Regan para dar início ao rito de exorcismo. Achei por demais
sinistra e tenebrosa aquela imagem do padre, todo de preto, debaixo de um poste
com iluminação fraca observando a casa onde iria entrar para enfrentar o
demônio. E por fim, a terceira cena que mexeu muito comigo foi o exorcismo de
Regan onde os padres Merrin e Damien Karras tentam expulsar o demônio do corpo
da garota.
Livraço e filmaço dos anos 70.
02
– It (Stephen King)
Livro:
1986 / Filmes: 1990, 2017 e 2019
Livro e filmes fantásticos! Sei que muitos criticam a
produção de 1990 chamada “It – Uma Obra Prima do Medo”, mas o filme tem as suas
virtudes; inclusive, na minha opinião, achei o palhaço Pennywise interpretado
pelo ator Tim Curry bem mais sinistro e assustador do que aquele vivido por Bill
Skarsgård nas produções de 2017 e 2019.
“It Uma Obra Prima do Medo” foi concebido para passar
apenas na TV como uma minissérie, mas por causa do sucesso obtido na época,
acabou indo parar, também em VHS.
Quanto ao filme “It – A Coisa” que foi dividido em
duas partes (2017 e 2018) teve uma produção mais caprichada no que se refere
aos efeitos visuais, mesmo assim, repito, achei o Pennywise de Curry bem mais
assustador apesar dos efeitos visuais simplórios dos anos 90. Todavia, “It – A
Coisa” partes I e II recebeu muitos elogios da crítica e também do público
conseguindo uma excelente bilheteria.
Quanto ao livro de Stephen King, vejo como o mais
assustador de toda a carreira do mestre do terror. Apesar de suas quase mil
páginas devorei o enredo em poucos dias.
It
é claustrofóbico, angustiante, tenso e mete medo pra caramba. Enfim, tudo o que
uma obra de terror que se preze deve ter. O palhaço Pennywise das páginas é assustador.
De todos os vilões da literatura de terror, admito que esse palhaço maligno foi o que mais me provocou
calafrios; e nem fobia de palhaço eu não tenho. Ele é a própria essência do
mal.
03
– A Casa dos Espíritos (Isabel Allende)
Livro:
1982 / Filme: 1993
ACasa dos Espíritos narra a saga da fictícia família Trueba
no período de 1905 a 1975 e funciona como uma biografia disfarçada sobre vida
da autora - principalmente na segunda parte da saga que conta o golpe militar
ocorrido no Chile em 11 de setembro de 1973 que culminou com a deposição do
presidente Salvador Allende.
A escritora é sobrinha do ex-presidente do Chile e
relata no livro – mesclando personagens reais e fictícios - os momentos tensos
que culminaram com a eleição de Salvador Allende e logo depois com a sua
deposição e suicídio.
A obra de Isabel Allende vendeu muito em todo o mundo,
inclusive no Brasil, tornando-se um grande clássico da literatura mundial. A
adaptação cinematográfica seguiu o mesmo caminho do livro: sucesso de público e
crítica.
O diretor Billy August conseguiu reunir uma “rempa” de
atores que estavam em evidência no início dos anos 90, tais como: Meryl Streep,
Glenn Close, Jeremy Irons, Antônio Banderas e Winona Ruyder, entre outros.
04
– O Nome da Rosa (Umberto Eco)
Livro:
1980 / Filme: 1986
Ambientado num mosteiro franciscano italiano no ano de
1327, o livro de mistério histórico escrito por Umberto Eco foi publicado pela
primeira vez em 1980.
O frei Guilherme de Baskerville é enviado para
investigar os monges que estão sendo acusados de heresia, mas sua missão é
interrompida por assassinatos que lembram cenas apocalípticas. Mais que uma
história de investigação criminal, O Nome
da Rosa combina semiótica, análise bíblica, teoria literária e é, ainda,
uma preciosa crônica sobre a Idade Média.
O
Nome da Rosa foi publicado em 1980 e logo atingiu a
marca de 500 mil exemplares vendidos virando um grande Best-seller, sendo em
seguida traduzido para o alemão e o francês. Quanto a versão cinematográfica de
Jean-Jacques Annaud que chegou seis anos depois do livro de Eco, apesar de não
ter contato com o apoio da crítica, foi muito bem recebido pelo público. O
filme traz nos papéis principais o ator escocês Sean Connery e Christian
Slater.
Uma prova de que os críticos que malharam o filme
estavam errados é que “O Nome da Rosa” recebeu 17 prêmios, entre eles o César
de melhor filme estrangeiro, o BAFTA de Melhor Ator e Melhor Maquiagem, e cinco
prêmios David di Donatello, maior premiação do cinema italiano.
05
– Tubarão (Peter Benchley)
Livro:
1974 / Filme: 1975
Tubarão (aqui e aqui)é o clássico romance de Peter Benchley que deu origem ao primeiro blockbuster de Steven Spielberg. Mas, mesmo antes do sucesso nos cinemas, a obra literária converteu-se num fenômeno de vendas. O best-seller internacional foi o principal responsável em elevar os tubarões ao status de perfeitas encarnações do mal. Podem acreditar, tanto livro quanto filme conseguiram incutir essa mentalidade na maioria das pessoas.
A história se passa em Amity, um balneário ficcional
situado em Long Island, Nova York. Quando o corpo de uma turista é encontrado
na praia o chefe de polícia Martin Brody ordena o fechamento das praias da
região. Mas o prefeito Larry Vaughan, mais preocupado com o dinheiro dos
veranistas, consegue abafar a notícia e libera o banho de mar na cidade. O
banquete está servido.
O impacto dessa obra pop foi tão violento, que
gerações passaram a pensar duas vezes antes de cair no mar. O resultado foi a
perseguição desenfreada a esses peixes de dentes afiados, tanto é que Benchley
se tornou um ativista contra a matança indiscriminada dos tubarões.
O longa fez um sucesso tão grande, que superou outros
gigantes do cinema, como “O Poderoso Chefão” e no Brasil seu recorde só foi
batido mais de 20 anos depois pelo lançamento de “Titanic”.
06
– Primeiro Sangue (David Morrell)
Livro:
1972 / Filme: 1982
Rambo é um dos personagens mais icônicos de toda a
história da sétima arte, responsável por projetar a carreira de Sylvester
Stallone que ficou conhecido como um dos atores mais famosos de filmes de ação,
elevando o seu nome no topo da lista dos “brucutus” do cinema. Mas o que pouca
gente sabe é que o primeiro filme “Rambo” que abriu as portas para a franquia
do herói nas telonas foi baseada num livro de David Morrell chamado Primeiro Sangue. O filme Rambo só viria
dez anos depois do lançamento da obra literária.
Inspirado pelos sucessos de livro e filme, Morrell decidiu
escrever as novelizações de Rambo II e Rambo III.
Diferente do filme de 1982, o personagem das páginas
não pensa duas vezes em puxar o gatilho para eliminar quem entre em seu caminho;
para ele a sua única amiga é a liberdade e para alcançá-la é capaz de tudo. O
ex-combatente do Vietnã provoca várias mortes, até mesmo de pessoas inocentes,
tudo para conseguir fugir e se ver livre.
O embate entre Rambo e o xerife Teasle é eletrizante e
ao contrário do filme, o personagem não usa uma faca multifuncional, mas apenas
um rifle e isso já é o suficiente para provocar uma chacina durante a sua fuga.
Vale lembrar que o filme “Rambo” foi responsável por
impulsionar as vendas de Primeiro Sangue dez
anos depois do lançamento do livro. Hoje a obra de Morrel está quase esgotada,
sendo vendida a peso de ouro nos sebos.
07
– A Cor Púrpura (Alice Walker)
Livro:
1982 / Filme: 1985
O filme é baseado no livro homônimo da Alice Walker
(vencedor de vários prêmios, incluindo o Pulitzer) e começa no ano de 1909 no
sul dos EUA durante o período pós-abolição da escravidão, mas com algumas
regiões do País ainda resistentes às mudanças.
Walker narra a história da personagem Celie (Whoopi
Goldberg) que sofreu abuso sexual de seu pai, tendo 2 filhos com ele e o mesmo
pai a casou (de forma forçada) com o Albert Johnson (Danny Glover), que a trata
com desdém, com um comportamento análogo à escravidão. Seu único lampejo de
alegria é na convivência com a sua irmã, Nettie, mas não demora muito para que
elas sejam separadas pelo Albert.
O filme acompanha 40 anos da vida da protagonista
vivida por Goldberg que neste meio tempo conhece duas personagens que vão mudar
drasticamente a sua vida: Sofia, vivida pela Oprah Winfrey e Shug, papel da
Margaret Avery.
Livro e filme fizeram um baita sucesso e foram muito
elogiados pela crítica. Os cinéfilos e leitores também adoraram.
A produção cinematográfica dirigida por Steven
Spielberg concorreu a 11 Oscars, mas infeliuzmente não ganhou nenhum. A
indiferença foi percebida e gerou controvérsias porque muitos consideraram o
melhor filme de 1985.
08
– O Chefão (Mário Puzo)
Livro:
1969 / Filme: 1972
Lançado em março de 1969, o livro O Chefão de Mário Puzo encabeçou a lista de mais comercializados do
New York Times, relação onde permaneceu durante 67 semanas. A adaptação para o
cinema reforçou esse sucesso e, ao mesmo tempo, deu um novo impulso para que a
obra seguisse rendendo boas cifras. Contagens mais recentes indicam que “O
Chefão” vendeu, ao menos, 21 milhões de exemplares pelo mundo.
O estrondoso sucesso de vendas da obra literária de
Puzo acabou despertando interesse da Paramount Pictures que não pensou duas
vezes em produzir um filme baseado no livro. Nasceria assim uma produção
antológica que entraria para os anais da história da sétima: “O Poderoso
Chefão” com Marlon Brando e Al Pacino.
Em quase todas as listas de melhores filmes de todos
os tempos, “O Poderoso Chefão” aparece em primeiro lugar. Críticos e fãs de
cinema o idolatram.
O diretor do longa, Francis Ford Coppola comprou uma
briga enorme com a Paramount que não queria que Marlon Brando interpretasse Don
Corleone pois o ator tinha fama de indisciplinado e também não gostaram da
escalação do então desconhecido Al Pacino para o papel de Michael Corleone. Mas
graças a persistência de Coppola o filme saiu como o planejado.
Mais um filmaço e mais um livraço!
09
– O Expresso da Meia-Noite (Billy Hayes)
Livro:
1977 / Filme: 1978
Assisti “O Expresso da Meia-Noite” no cinema da minha
cidade em 1978, na data de seu lançamento. Mesmo após décadas, o filme dirigido
por Alan Parker e roteirizado por Oliver Stone não sai da minha cabeça. Uma das
produções cinematográficas mais densas que já vi. Ainda me lembro que saí do
cinema chocado com a temática explorada.
Muito tempo depois fiquei sabendo que o filme havia
sido baseado em um livro também chocante. E, agora, recentemente fui informado
que se trata de uma obra autobiográfica e por isso, uma história real.
Livro e filme contam a história do jovem Billy Hayes
(Brad Davis), que em 1970 está viajando de férias pela Turquia com sua namorada
Susan (Irene Miracle). No aeroporto de Istambul, prestes a embarcar para os
Estados Unidos, ele é detido com dois quilos de haxixe. É quando começa seu
calvário. Às voltas com ameaças terroristas, a polícia turca se mostra
especialmente intransigente.
Billy é investigado e apesar de colaborar, termina
preso. Tenta escapar, o que piora sua situação: é brutalmente espancado. Vai
parar na prisão de Sagmalcılar, que não é nada diferente daquilo que imaginamos
ser o inferno. Lá conhece Jimmy (Randy Quaid), um ladrão americano, Max (John
Hurt), um viciado inglês e Erich (Norbert Weisser), um traficante sueco.
Apesar da
intervenção de seu pai (Mike Kelin), Billy é condenado a quatro anos e passa a
viver os horrores de uma prisão onde só impera a desumanidade. Quando a justiça
turca estende sua pena para insuportáveis 30 anos, só resta a ele embarcar no
tal expresso da meia-noite, uma gíria usada pelos prisioneiros para se referir
ao plano de fuga pelos túneis subterrâneos da prisão. Mas vale ressaltar que
essa fuga não será nada fácil.
“O Expresso da Meia-Noite” se tornou um grande sucesso
nos cinemas. Também não poderia ser diferente, já que a produção contava com os
talentos Parker e Stone.
10
- Laranja Mecânica (Anthony Burgess)
Livro:
1972 / Filme: 1972
O livro de Anthony Burgess chegou ao Brasil, pela
primeira vez, em 1972 através da editora Artenova, 10 anos depois de seu
lançamento nos “States”. Na mesma data em que a obra desembarcava nas livrarias
brasileiras, também estreava nos cinemas, aqui da terrinha, o filme de Stanley
Kubrick baseado no enredo de Burgess. Tanto livro quanto filme se tornaram uma
verdadeira febre no País.
Aliás, a obra literária fez tanto sucesso que cinco
anos depois, a Artenova promoveria o seu relançamento com uma nova capa. A
partir daí, Laranja Mecânica foi
ganhando novas várias edições ao longo dos anos, sendo a mais recente aquela
lançada em 2015 pela Aleph. Três anos antes, em 2012, a editora colocou no
mercado uma edição comemorativa ‘chic nu urtimu’ alusiva aos 50 anos do livro
no Brasil.
O enredo criado por Burgess é tido como um verdadeiro
clássico da ficção científica; um marco na história da cultura pop e da
literatura distópica. Narrada pelo protagonista, o adolescente Alex, esta
brilhante e perturbadora história cria uma sociedade futurista em que a
violência atinge proporções gigantescas e provoca uma resposta igualmente
agressiva de um governo totalitário.
Ao lado de 1984,
de George Orwell, e Admirável Mundo Novo,
de Aldous Huxley, Laranja Mecânica é um dos ícones literários da alienação
pós-industrial que caracterizou o século 20.
A estranha linguagem utilizada por Alex, conhecida
como Nadsat, merece destaque na obra; criada pelo próprio Burgess, fornece ao
romance uma dimensão quase lírica.
A trama, que conta a história de uma violenta gangue
de adolescentes que sai às ruas buscando divertimento de uma maneira um tanto
controversa, incita profundas reflexões sobre temas atemporais, como o conceito
de liberdade, a violência – seja ela social física ou psicológica – e os
limites da relação entre o Estado e o Indivíduo.
Por hoje é só. Espero que leitores e cinéfilos tenham
apreciado a nossa lista.
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