Dez best-sellers que viraram filmes antológicos nos anos 70 e 80

28 outubro 2022

Nos últimos dias, venho assistindo muitos filmes dos anos 70 e 80 e confesso que estou adorando. Aliás, na minha opinião, as melhores produções cinematográficas – aquelas que podemos chamar de antológicas – foram produzidas nessa época. Após ‘maratonar’ alguns filmes ‘setentistas’ e ‘oitentistas’ parei para pensar quantas daquelas produções foram baseadas em livros; e quantos desses livros fizeram sucesso. Daí veio a ideia dessa postagem: elaborar uma lista de livros que foram transformados em filmes marcantes nas décadas de 1970 e 1980. Espero que gostem. Torço, também, para que essa toplist auxilie a galera saudosista na escolha de alguns filmes ou livros daquele período para “matar” saudades e também o tempo ocioso. Vamos conferir:

01 – O Exorcista (William Peter Blatty)

Livro: 1971 / Filme: 1973

O livro de William Peter Blaty é por demais assustador. Tão assustador que demorei um bom tempo para lê-lo. Sempre fui adiando a leitura porque achava que a história era muito pesada.

Lembro-me que nos meus dias de estudante secundarista, quando era um verdadeiro rato de biblioteca, cheguei a sacar o livro (uma edição de bolso em folha de papel jornal) da estante, mas ao ler as primeiras páginas acabei desistindo. Não que o livro fosse ruim. Longe disso, a criação de Blatty é uma verdadeira obra prima; o problema era comigo mesmo. Eu considerava O Exorcista, o monte Everest dos livros de terror e para encará-lo tinha que estar preparado. Não queria fazer como fiz com o filme em minha pré-adolescência, quando resolvi assisti-lo e depois...  me arrependi. Fiquei sem dormir alguns dias pensando na personagem da Linda Blair possuída virando o pescoço para trás num ângulo de 360 graus e descendo uma escadaria imitando uma aranha. Sei que hoje, esses efeitos especiais são um pouco simplórios, mas há 50 anos eram, de fato, assustadores.

Bem, resumindo, após exorcizar todos os meus fantasmas e chegar à conclusão que estava em “ponto de bala” para encarar o livro, não pestanejei em compra-lo num sebo. Ao terminar a leitura pude ratificar que O Exorcista ainda tem o poder de provocar muitos sustos e calafrios.

O filme de 1973 não fica atrás em seu tempo. Na época houve relatos na imprensa de pessoas que passaram mal nos cinemas e tiveram que ser retiradas por causa das cenas chocantes. O filme fez tanto sucesso que provocou filas de vários quarteirões nos cinemas. Toda essa coqueluche acabou alavancando ainda mais as vendas do livro de Blatty.

Entre tantas cenas antológicas, três delas marcaram muito a minha vida de cinéfilo. A primeira delas foi aquela ‘descida” de escada horripilante da personagem de Linda Blair após ter sido possuída. A garota parecia uma aranha! A segunda cena marca a chegada do padre Merrin na casa dos pais da garota Regan para dar início ao rito de exorcismo. Achei por demais sinistra e tenebrosa aquela imagem do padre, todo de preto, debaixo de um poste com iluminação fraca observando a casa onde iria entrar para enfrentar o demônio. E por fim, a terceira cena que mexeu muito comigo foi o exorcismo de Regan onde os padres Merrin e Damien Karras tentam expulsar o demônio do corpo da garota.

Livraço e filmaço dos anos 70.

02 – It  (Stephen King)

Livro: 1986 / Filmes: 1990, 2017 e 2019

Livro e filmes fantásticos! Sei que muitos criticam a produção de 1990 chamada “It – Uma Obra Prima do Medo”, mas o filme tem as suas virtudes; inclusive, na minha opinião, achei o palhaço Pennywise interpretado pelo ator Tim Curry bem mais sinistro e assustador do que aquele vivido por Bill Skarsgård nas produções de 2017 e 2019. 

“It Uma Obra Prima do Medo” foi concebido para passar apenas na TV como uma minissérie, mas por causa do sucesso obtido na época, acabou indo parar, também em VHS.

Quanto ao filme “It – A Coisa” que foi dividido em duas partes (2017 e 2018) teve uma produção mais caprichada no que se refere aos efeitos visuais, mesmo assim, repito, achei o Pennywise de Curry bem mais assustador apesar dos efeitos visuais simplórios dos anos 90. Todavia, “It – A Coisa” partes I e II recebeu muitos elogios da crítica e também do público conseguindo uma excelente bilheteria.


Quanto ao livro de Stephen King, vejo como o mais assustador de toda a carreira do mestre do terror. Apesar de suas quase mil páginas devorei o enredo em poucos dias.

It é claustrofóbico, angustiante, tenso e mete medo pra caramba. Enfim, tudo o que uma obra de terror que se preze deve ter. O palhaço Pennywise das páginas é assustador. De todos os vilões da literatura de terror, admito  que esse palhaço maligno foi o que mais me provocou calafrios; e nem fobia de palhaço eu não tenho. Ele é a própria essência do mal.

03 – A Casa dos Espíritos (Isabel Allende)

Livro: 1982 / Filme: 1993

ACasa dos Espíritos narra a saga da fictícia família Trueba no período de 1905 a 1975 e funciona como uma biografia disfarçada sobre vida da autora - principalmente na segunda parte da saga que conta o golpe militar ocorrido no Chile em 11 de setembro de 1973 que culminou com a deposição do presidente  Salvador Allende.

A escritora é sobrinha do ex-presidente do Chile e relata no livro – mesclando personagens reais e fictícios - os momentos tensos que culminaram com a eleição de Salvador Allende e logo depois com a sua deposição e suicídio.

A obra de Isabel Allende vendeu muito em todo o mundo, inclusive no Brasil, tornando-se um grande clássico da literatura mundial. A adaptação cinematográfica seguiu o mesmo caminho do livro: sucesso de público e crítica. 

O diretor Billy August conseguiu reunir uma “rempa” de atores que estavam em evidência no início dos anos 90, tais como: Meryl Streep, Glenn Close, Jeremy Irons, Antônio Banderas e Winona Ruyder, entre outros.

04 – O Nome da Rosa (Umberto Eco)

Livro: 1980 / Filme: 1986

Ambientado num mosteiro franciscano italiano no ano de 1327, o livro de mistério histórico escrito por Umberto Eco foi publicado pela primeira vez em 1980.

O frei Guilherme de Baskerville é enviado para investigar os monges que estão sendo acusados de heresia, mas sua missão é interrompida por assassinatos que lembram cenas apocalípticas. Mais que uma história de investigação criminal, O Nome da Rosa combina semiótica, análise bíblica, teoria literária e é, ainda, uma preciosa crônica sobre a Idade Média.

O Nome da Rosa foi publicado em 1980 e logo atingiu a marca de 500 mil exemplares vendidos virando um grande Best-seller, sendo em seguida traduzido para o alemão e o francês. Quanto a versão cinematográfica de Jean-Jacques Annaud que chegou seis anos depois do livro de Eco, apesar de não ter contato com o apoio da crítica, foi muito bem recebido pelo público. O filme traz nos papéis principais o ator escocês Sean Connery e Christian Slater.

Uma prova de que os críticos que malharam o filme estavam errados é que “O Nome da Rosa” recebeu 17 prêmios, entre eles o César de melhor filme estrangeiro, o BAFTA de Melhor Ator e Melhor Maquiagem, e cinco prêmios David di Donatello, maior premiação do cinema italiano.

05 – Tubarão (Peter Benchley)

Livro: 1974 / Filme: 1975

Tubarão (aqui e aqui)é o clássico romance de Peter Benchley que deu origem ao primeiro blockbuster de Steven Spielberg. Mas, mesmo antes do sucesso nos cinemas, a obra literária converteu-se num fenômeno de vendas. O best-seller internacional foi o principal responsável em elevar os tubarões ao status de perfeitas encarnações do mal. Podem acreditar, tanto livro quanto filme conseguiram incutir essa mentalidade na maioria das pessoas. 

A história se passa em Amity, um balneário ficcional situado em Long Island, Nova York. Quando o corpo de uma turista é encontrado na praia o chefe de polícia Martin Brody ordena o fechamento das praias da região. Mas o prefeito Larry Vaughan, mais preocupado com o dinheiro dos veranistas, consegue abafar a notícia e libera o banho de mar na cidade. O banquete está servido.

O impacto dessa obra pop foi tão violento, que gerações passaram a pensar duas vezes antes de cair no mar. O resultado foi a perseguição desenfreada a esses peixes de dentes afiados, tanto é que Benchley se tornou um ativista contra a matança indiscriminada dos tubarões.

O longa fez um sucesso tão grande, que superou outros gigantes do cinema, como “O Poderoso Chefão” e no Brasil seu recorde só foi batido mais de 20 anos depois pelo lançamento de “Titanic”.

06 – Primeiro Sangue (David Morrell)

Livro: 1972 / Filme: 1982

Rambo é um dos personagens mais icônicos de toda a história da sétima arte, responsável por projetar a carreira de Sylvester Stallone que ficou conhecido como um dos atores mais famosos de filmes de ação, elevando o seu nome no topo da lista dos “brucutus” do cinema. Mas o que pouca gente sabe é que o primeiro filme “Rambo” que abriu as portas para a franquia do herói nas telonas foi baseada num livro de David Morrell chamado Primeiro Sangue. O filme Rambo só viria dez anos depois do lançamento da obra literária. 

Inspirado pelos sucessos de livro e filme, Morrell decidiu escrever as novelizações de Rambo II e Rambo III.

Diferente do filme de 1982, o personagem das páginas não pensa duas vezes em puxar o gatilho para eliminar quem entre em seu caminho; para ele a sua única amiga é a liberdade e para alcançá-la é capaz de tudo. O ex-combatente do Vietnã provoca várias mortes, até mesmo de pessoas inocentes, tudo para conseguir fugir e se ver livre.

O embate entre Rambo e o xerife Teasle é eletrizante e ao contrário do filme, o personagem não usa uma faca multifuncional, mas apenas um rifle e isso já é o suficiente para provocar uma chacina durante a sua fuga.

Vale lembrar que o filme “Rambo” foi responsável por impulsionar as vendas de Primeiro Sangue dez anos depois do lançamento do livro. Hoje a obra de Morrel está quase esgotada, sendo vendida a peso de ouro nos sebos.

07 – A Cor Púrpura (Alice Walker)

Livro: 1982 / Filme: 1985

O filme é baseado no livro homônimo da Alice Walker (vencedor de vários prêmios, incluindo o Pulitzer) e começa no ano de 1909 no sul dos EUA durante o período pós-abolição da escravidão, mas com algumas regiões do País ainda resistentes às mudanças.

Walker narra a história da personagem Celie (Whoopi Goldberg) que sofreu abuso sexual de seu pai, tendo 2 filhos com ele e o mesmo pai a casou (de forma forçada) com o Albert Johnson (Danny Glover), que a trata com desdém, com um comportamento análogo à escravidão. Seu único lampejo de alegria é na convivência com a sua irmã, Nettie, mas não demora muito para que elas sejam separadas pelo Albert.

O filme acompanha 40 anos da vida da protagonista vivida por Goldberg que neste meio tempo conhece duas personagens que vão mudar drasticamente a sua vida: Sofia, vivida pela Oprah Winfrey e Shug, papel da Margaret Avery.

Livro e filme fizeram um baita sucesso e foram muito elogiados pela crítica. Os cinéfilos e leitores também adoraram.

A produção cinematográfica dirigida por Steven Spielberg concorreu a 11 Oscars, mas infeliuzmente não ganhou nenhum. A indiferença foi percebida e gerou controvérsias porque muitos consideraram o melhor filme de 1985.

08 – O Chefão (Mário Puzo)

Livro: 1969 / Filme: 1972

Lançado em março de 1969, o livro O Chefão de Mário Puzo encabeçou a lista de mais comercializados do New York Times, relação onde permaneceu durante 67 semanas. A adaptação para o cinema reforçou esse sucesso e, ao mesmo tempo, deu um novo impulso para que a obra seguisse rendendo boas cifras. Contagens mais recentes indicam que “O Chefão” vendeu, ao menos, 21 milhões de exemplares pelo mundo.

O estrondoso sucesso de vendas da obra literária de Puzo acabou despertando interesse da Paramount Pictures que não pensou duas vezes em produzir um filme baseado no livro. Nasceria assim uma produção antológica que entraria para os anais da história da sétima: “O Poderoso Chefão” com Marlon Brando e Al Pacino.

Em quase todas as listas de melhores filmes de todos os tempos, “O Poderoso Chefão” aparece em primeiro lugar. Críticos e fãs de cinema o idolatram.

O diretor do longa, Francis Ford Coppola comprou uma briga enorme com a Paramount que não queria que Marlon Brando interpretasse Don Corleone pois o ator tinha fama de indisciplinado e também não gostaram da escalação do então desconhecido Al Pacino para o papel de Michael Corleone. Mas graças a persistência de Coppola o filme saiu como o planejado.

Mais um filmaço e mais um livraço!

09 – O Expresso da Meia-Noite (Billy Hayes)

Livro: 1977 / Filme: 1978

Assisti “O Expresso da Meia-Noite” no cinema da minha cidade em 1978, na data de seu lançamento. Mesmo após décadas, o filme dirigido por Alan Parker e roteirizado por Oliver Stone não sai da minha cabeça. Uma das produções cinematográficas mais densas que já vi. Ainda me lembro que saí do cinema chocado com a temática explorada.

Muito tempo depois fiquei sabendo que o filme havia sido baseado em um livro também chocante. E, agora, recentemente fui informado que se trata de uma obra autobiográfica e por isso, uma história real.

Livro e filme contam a história do jovem Billy Hayes (Brad Davis), que em 1970 está viajando de férias pela Turquia com sua namorada Susan (Irene Miracle). No aeroporto de Istambul, prestes a embarcar para os Estados Unidos, ele é detido com dois quilos de haxixe. É quando começa seu calvário. Às voltas com ameaças terroristas, a polícia turca se mostra especialmente intransigente.

Billy é investigado e apesar de colaborar, termina preso. Tenta escapar, o que piora sua situação: é brutalmente espancado. Vai parar na prisão de Sagmalcılar, que não é nada diferente daquilo que imaginamos ser o inferno. Lá conhece Jimmy (Randy Quaid), um ladrão americano, Max (John Hurt), um viciado inglês e Erich (Norbert Weisser), um traficante sueco. 

Apesar da intervenção de seu pai (Mike Kelin), Billy é condenado a quatro anos e passa a viver os horrores de uma prisão onde só impera a desumanidade. Quando a justiça turca estende sua pena para insuportáveis 30 anos, só resta a ele embarcar no tal expresso da meia-noite, uma gíria usada pelos prisioneiros para se referir ao plano de fuga pelos túneis subterrâneos da prisão. Mas vale ressaltar que essa fuga não será nada fácil.

“O Expresso da Meia-Noite” se tornou um grande sucesso nos cinemas. Também não poderia ser diferente, já que a produção contava com os talentos Parker e Stone.

10 -  Laranja Mecânica (Anthony Burgess)

Livro: 1972 / Filme: 1972

O livro de Anthony Burgess chegou ao Brasil, pela primeira vez, em 1972 através da editora Artenova, 10 anos depois de seu lançamento nos “States”. Na mesma data em que a obra desembarcava nas livrarias brasileiras, também estreava nos cinemas, aqui da terrinha, o filme de Stanley Kubrick baseado no enredo de Burgess. Tanto livro quanto filme se tornaram uma verdadeira febre no País.

Aliás, a obra literária fez tanto sucesso que cinco anos depois, a Artenova promoveria o seu relançamento com uma nova capa. A partir daí, Laranja Mecânica foi ganhando novas várias edições ao longo dos anos, sendo a mais recente aquela lançada em 2015 pela Aleph. Três anos antes, em 2012, a editora colocou no mercado uma edição comemorativa ‘chic nu urtimu’ alusiva aos 50 anos do livro no Brasil.

O enredo criado por Burgess é tido como um verdadeiro clássico da ficção científica; um marco na história da cultura pop e da literatura distópica. Narrada pelo protagonista, o adolescente Alex, esta brilhante e perturbadora história cria uma sociedade futurista em que a violência atinge proporções gigantescas e provoca uma resposta igualmente agressiva de um governo totalitário.

Ao lado de 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, Laranja Mecânica é um dos ícones literários da alienação pós-industrial que caracterizou o século 20.

A estranha linguagem utilizada por Alex, conhecida como Nadsat, merece destaque na obra; criada pelo próprio Burgess, fornece ao romance uma dimensão quase lírica.

A trama, que conta a história de uma violenta gangue de adolescentes que sai às ruas buscando divertimento de uma maneira um tanto controversa, incita profundas reflexões sobre temas atemporais, como o conceito de liberdade, a violência – seja ela social física ou psicológica – e os limites da relação entre o Estado e o Indivíduo.

Por hoje é só. Espero que leitores e cinéfilos tenham apreciado a nossa lista.

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