Os anos 70 tiveram livros que fizeram muito sucesso,
mas tanto sucesso que mereceram ganhar, justamente, o status de Best-Seller;
vou mais além: mereceram ser chamados de antológicos. Mas o tempo também é
cruel com algumas obras literárias que muitas vezes, de maneira inexplicável,
caem no esquecimento com o passar de anos ou décadas.
É difícil encontrar uma explicação para esse fato, ou
seja, como um livro excelente, bem escrito e que fez um baita sucesso em sua
época não conseguiu resistir ao tempo e acabou esquecido pelas novas gerações
de leitores?
Tal curiosidade me levou a escrever esse post onde
seleciono 10 livros que foram considerados grandes Best-Sellers e venderam
‘horrores’ nos anos 70 mas hoje, nos tempos atuais, poucos se lembram ou
conhecem. Isso não significa que eles deixaram de ser bons livros, nada disso.
Acredito que essa lista será útil para aqueles
leitores que estão à procura de um bom livro e ao mesmo tempo curiosos para
saber quais eram as tendências literárias dos áureos anos 70. Vamos que vamos!
01
– O Triângulo das Bermudas (Charles Berlitz)
Se até hoje o Triangulo das Bermudas continua
despertando o interesse de cidadãos comuns e também de cientistas – prova disso
são os estudos feitos pela Nasa no começo deste ano - imagine então, o grau
dessa curiosidade na década de 60 e 70 quando o misterioso triângulo estava...
podemos dizer no auge. Nestas duas décadas, principalmente em 70, por algum
motivo, aconteceu um “boom” de reportagens sobre o tema; aproveitando esse
momento propício, o escritor e pesquisador Charles Berlitz aproveitou para
lançar, em 1974, o livro chamado O
Triângulo das Bermudas.
Uma informação curiosa é que antes de escrever a obra,
Berlitz tinha uma agência de viagens e ficou curioso porquê grande parte de
seus clientes evitavam passar pelo chamado Triângulo das Bermudas. Certo dia, a
sua curiosidade ultrapassou os limites quando um homem – após ter comprado a
passagem para um vôo que passaria pelo local – voltou a agência de Berlitz e,
muito nervoso, simplesmente devolveu o bilhete e foi embora.
Berlitz decidiu ir à fundo e investigar o misterioso
triangulo, nascia, assim, o livro que vendeu muito na época de seu lançamento
tornando-se um verdadeiro best seller. A obra não saía da boca do povo e rendeu
muita grana para o seu autor, mas com o passar de anos e décadas acabou caindo
no esquecimento.
02
– Love Story (Erich Segal)
O romance lançado em 1970 foi o livro mais vendido nos
Estados Unidos e traduzido para 33 idiomas. Na época, as livrarias enfrentaram
filas gigantescas de leitores que de tão desejosos em adquirir a obra chegaram
a dormir nas portas das lojas.
Então, como explicar toda essa histeria por uma
novelização? Bem, para decifrar esse mistério temos que voltar para 1969, ou
seja, um ano antes do lançamento do filme. Pois é, Segal havia escrito um
roteiro sobre o envolvimento de um rapaz rico com uma garota pobre que sofre de
doença terminal. Os executivos da Paramount ‘amaram’ o enredo lacrimoso e sem
pestanejar compraram o texto. Frisando:
isto, em 1969. Para reforçar a
divulgação do filme, a produtora pediu que o autor escrevesse também um livro
baseado no roteiro cinematográfico, para ser lançado nas lojas no Dia dos
Namorados do ano seguinte, semanas antes de o longa ir para os cinemas. A
estratégia funcionou.
Love Story, estourou em vendagens e o filme com Ryan O’Neal e
Ali MacGraw, baseado na obra literária, se tornou a sexta maior bilheteria na
história do cinema americano. A frase dita pela personagem de MacGraw no filme:
“amar é jamais ter que pedir perdão” se tornou antológica e uma marca
registrada para aquela geração.
Nos dias atuais aconteceu algo curioso: o filme
continua lembrado e comentado, mas o livro caiu no esquecimento. Uma pena
porque é muito bom.
03
– Aracelli, Meu Amor (José Louzeiro)
Um crime ocorrido em 18 de maio de 1973 chocou todo o Brasil. Mesmo sem o advento da Internet e das redes sociais, esse fato passou a ser comentado no País de ponta a ponta, desde os mais remotos lugarejos às grandes metrópoles.
Aos 8 anos, Araceli Cabrera Sánchez Crespo foi
raptada, drogada, estuprada, morta e carbonizada, no Espírito Santo. O corpo
foi deixado desfigurado e em avançado estado de decomposição próximo a uma
mata, em Vitória, dias depois de desaparecer.
O dia do desaparecimento de Aracelli, com o passar dos
anos, passou a marcar um lembrete para que a sociedade se atente à violência
contra as crianças. O 18 de maio foi instituído como o Dia Nacional de Combate
ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a partir de 2000. Os
envolvidos, provenientes de famílias influentes no Espírito Santo, nunca foram
punidos por seu crime.
Três anos após o brutal assassinato da criança, o
escritor e roteirista José Louzeiro lançou um romance-reportagem de cunho
investigativo sobre o crime. Aracelli,
Meu Amor lançado pela editora Civilização Brasileira em 1976 foi um estouro
de vendas o que levou a editora Prumo a republicar a obra 37 anos depois, mas
sem o mesmo impacto da publicação original.
Após oito anos do lançamento de sua segunda edição,
poucos leitores contemporâneos se lembram o livro, uma pena.
04
– Viagem Fantástica (Isaac Asimov)
Em 1966, milhares de pessoas enfrentavam filas enormes nos cinemas para assistirem a superprodução de ficção científica “Viagem Fantástica” dirigida por Richard Fleischer. O filme arrebentou nas bilheterias e entrou para a cultura pop daquela época, fazendo a cabeça de toda aquela geração de cinéfilos.
O enredo acompanha uma equipe de sete cientistas em
uma viagem submarina através do corpo humano em direção ao cérebro para a
realização de uma delicada operação. Para isso eles são miniaturizados e
introduzidos na corrente sanguínea do paciente.
O roteiro de Fleischer serviu como base para que o
famoso escritor de ficção científica Isaac Asimov fizesse a novelização do
filme (aqui). A ideia desse projeto partiu dos produtores de “Viagem Fantástica”
com o apoio dos magnatas da 20th Century Fox. Percebendo que a produção
cinematográfica “arrebentaria a boca do balão” nas bilheterias, eles pensaram:
“Porque não ganhar uns trocos a mais com um livro baseado no roteiro do
filme?”. Dessa forma o faturamento praticamente dobraria. Mas para isso, tanto
filme quanto livro teriam de ser impecáveis. Os produtores e demais chefões dos
estúdios da Fox já tinham um gênio à frente da direção: Richard Fleischer, que
em 1954 havia provado o seu talento ao dirigir “20 Mil Léguas Submarinas”, com
Kirk Douglas, baseado na obra de Julio Verne. Só faltava um outro gênio para
ficar responsável pela novelização do roteiro. Foi assim que Asimov foi
convidado para o projeto e acabou aceitando. Resultado: filme e livro
divinamente fantásticos. Apesar disso, poucos leitores contemporâneos conhecem
a obra de Asimov.
05
– O Círculo Matarese (Robert Ludlum)
Imagine em plena guerra fria, dois agentes – um americano e outro, russo –
obrigados a trabalharem juntos, apesar de serem
considerados inimigos mortais. Aliás, a capa da edição mais recente do livro
deixa evidente o que Bradon Scofield e Vasili Talaniekov representam um para o
outro. Só para lembrar que na capa de O
Círculo Matarese vemos dois escorpiões venenosos numa luta aguerrida onde,
provavelmente, só um deles sairá vivo. É assim que Scofield e Talaniekov se
tratam: inimigos mortais, mas quis o destino que ambos fossem obrigados a trabalhar
juntos por um motivo relevante. Este é um breve resumo do livro de Robert
Ludlum.
O Círculo Matarese foi juma das obras mais
comentadas e vendidas em 1979. A sua primeira publicação estourou em vendas em
vários países e se tornou uma verdadeira “febre literária”. Não entendo como um
livro tão bom acabou ficando esquecido por tanto tempo. Ainda me lembro que há
vários anos fiquei muito empolgado com a notícia publicada em jornais e sites
especializados de que estava confirmada a produção de um filme baseado nessa
obra contando com ninguém mais, ninguém menos do que Tom Cruise e Denzel
Washington nos papeis principais. Mas inexplicavelmente o assunto morreu e não
se viu nem ouviu mais nada a respeito. Infelizmente o mesmo aconteceu com o
excelente livro de Ludlum que alguns leitores consideram até mesmo melhor do
que A Identidade Bourne.
06 – Honra Teu Pai (Gay Talese)
Honra Teu Pai de Gay Talese, ex- jornalista do New York Times, foi lançado originalmente em 1971 e caiu como uma verdadeira bomba no meio literário daquele ano por revelar segredos da Máfia.
Publicado no Brasil como Honrados Mafiosos, trata-se
de um livro-reportagem sobre os meandros desse mundo, centrado na história de
Joseph "Joe Bananas" Bonanno, que controlava uma das chamadas ‘Cinco
Famílias’ de Nova York, e de seu filho Salvatore "Bill" Bonanno,
protagonista de uma sangrenta guerra entre mafiosos. Partindo do sequestro de
Joseph em 1964, o livro remonta à origem do clã Bonanno e descreve a ascensão
do patriarca, que aos 26 anos já controlava uma das grandes famílias da máfia
italiana de Nova York. Gay Talese, um dos pais do new journalism americano,
obteve vasto acesso ao clã Bonanno, e pela primeira vez trouxe à tona uma visão
de dentro da máfia, objetiva e despida de romantismo.
Talese teve acesso a fontes como: Joseph Bonanno, o
chefe da família, Fay Labruzzo, mãe de Bill, Catherine Bonanno e Joseph Bonanno
Jr., irmãos de Bill Bonanno, a esposa de Bill; Rosalie, os seguranças de seu
pai e aos advogados da família.
Bill aproximou-se tanto de Talese que mesmo quando
sumia, por conta da rivalidade entre as famílias da máfia, dava um jeito de
entrar em contato com o escritor para avisar que estava vivo e por vezes
prosseguirem com as entrevistas.
Honrados
Mafiosos alcançou os primeiros lugares em todas as listas
literárias da década do início dos anos 70, mas hoje é pouco lembrado pelos
leitores. Há 10 anos, a editora Companhia das Letras relançou a obra com o
título original –Honra Teu Pai – mas
não alcançou o mesmo impacto da edição original.
07
– As Veias Abertas da América Latina (Eduardo Galeano)
Quando foi escrito, em 1971, As Veias Abertas da América Latina do escritor uruguaio Eduardo Galeano, logo se transformou em um clássico da esquerda latino-americana.
No livro, o escritor faz uma análise da história da
América Latina sob o ponto de vista da exploração econômica e da dominação
política, desde a colonização europeia até a contemporaneidade da época em que
foi lançado. Isso em um período contextualizado pela Guerra Fria (1945-1991), e
pelo início de um ciclo de regimes ditatoriais nos países latino-americanos.
A publicação de Galeano era tão identificada como
sendo uma obra revolucionária e de esquerda, que foi banida na Argentina,
Chile, Brasil e no Uruguai, durante as ditaduras militares nesses países.
Eduardo Galeano chegou a ser preso em solo uruguaio, e depois obrigado a se
exilar, primeiramente na Argentina, e depois, na Espanha. Estes fatos
turbinaram ainda mais a sua obra fazendo com que os leitores ficassem
desesperados para conseguir um exemplar, por debaixo do pano, durante a época
da ditadura militar, mesmo correndo certos riscos.
Quando a obra foi, finalmente liberada, ainda nos anos
70, tornou-se um verdadeiro estouro de vendas. Hoje, apenas um grupo seleto de
leitores sabem da publicação do livro.
08
– Inferno na Torre (Richard Martin Stern)
Em 1974, dois gigantes da indústria cinematográfica – Warner Bros e Fox –se uniriam em coprodução para realizar um dos maiores sucessos do cinema-catástrofe, tendência em alta nos anos 1970, e faturar vistosos U$ 48 milhões em bilheteria, só nos States, e mais U$ 67 milhões pelo mundo afora. No Brasil, o filme arrebentou nas bilheterias.
A ideia do roteiro para a produção cinematográfica “Inferno
na Torre” vinha de dois livros (The Tower,
de Richard Martin Stern, e The Glass
inferno, de Thomas N. Scortia) lançados em 1973, um ano antes do filme.
Apesar de constar o ano de 1973 na publicação da
editora Record, o livro só foi chegar no Brasil dois anos após o lançamento do
filme, ou seja, em 1976.
Para pegar carona no sucesso do filme, a Record trocou
o título original da obra literária pelo título do filme. Sendo assim, saiu A Torre e em seu lugar entrou Inferno na Torre. Tanto o filme com
Steve McQueen, Paul Newman, Faye Dunaway e Richard Chamberlain quanto o livro
de Stern foram sucesso absoluto de público e crítica na década de 70. Em 2021,
pouco ou quase nada ouvimos sobre eles.
09
– Primeiro Sangue (David Morrell)
Cara, Rambo é, sem dúvida alguma, um dos personagens de ação mais icônicos do cinema e que ajudou a firmar a carreira de Sylvester Stallone como um dos grandes atores de filmes de ação no cinema hollywoodiano. Mas poucas pessoas que assistiram ao filme de 1982 que deu origem a uma das franquias cinematográficas de maior sucesso sabem que o primeiro filme da saga foi baseado em uma obra literária de 10 anos antes, a primeira e ainda a mais famosa do autor canadense-americano David Morrell que, depois, escreveria as novelizações de Rambo II e Rambo III dentre muitas outras.
Primeiro Sangue, publicado em 1972 pela editora Record e em 1988 pela
Nova Cultural - esse último já levando o título do filme, na época - foi tão
ovacionado pelos leitores quanto o filme foi pelos cinéfilos. A primeira
edição, de 1972, vendeu um número absurdamente grande de exemplares quando os
produtores da grande indústria cinematográfica nem sonhavam em fazer um filme
baseado na obra. Dez anos depois, o seu relançamento voltaria a estourar em
vendas catapultado pelo sucesso do filme de Stallone lançado no mesmo ano.
Hoje, ficou a lembrança do filme que se tornou um ícone do cinema de ação, mas
do livro... poucas pessoas se recordam.
10
– O Enxame (Arthur Herzog)
Publicado originalmente em 1976 pela editora Artenova, A Invasão das Abelhas teve uma receptividade muito boa por parte dos leitores. Esta receptividade aumentou ainda após o lançamento do filme “O Enxame”, em 1978, baseado na obra de Arthur Herzog. Neste mesmo ano, a Artenova relançaria o livro, mas desta vez com a capa do filme.
Herzog usou um método inovador na época, deixando de
lado introdução, prólogo, prefácio e outros inícios convencionais de obras,
para estampar logo de cara em seu livro notícias de ataques de abelhas
africanas em várias partes do mundo. As duas páginas, antes do 1º capítulo,
contem textos jornalísticos sobre os estragos provocados pelas abelhas, além de
relatos que indicam o surgimento de uma nova espécie mortífera do animal.
O Enxame é um romance cheio de tensão e para ler numa só
tacada. Como já disse uma verdadeira joia rara que só será encontrada nas
prateleiras de algum sebo.
Livraço do qual, infelizmente, sumiu das livrarias,
contribuindo para cair no esquecimento dos leitores.
2 comentários
Excelente artigo. O Círculo Matarese é o melhor livro de Ludlum.
ResponderExcluirObrigado! Também gostei muito de "O Círculo Matarese" Livraço, Já está merecendo, há tempos, uma adaptação cinematográfica.
ExcluirAbcs!