No final de semana passado, enquanto tentava colocar
em ordem o porão de casa onde se encontra uma “porção” de caixas repletas de
arquivos “mortos” - ainda da época em
que as maquinas de mimeógrafos eram a bola da vez - encontrei duas revistas
Amiga dos anos 70. Cara, na hora, bateu uma nostalgia daquela época... Período
em que os livros eram a internet e as cartas eram o nosso celular, como diz a
letra da música Reza a Lenda de Fiduma e Jeca.
Por esse motivo resolvi fugir um pouco da
característica habitual do blog que é abordar assuntos literários para publicar
uma lista sobre revistas. Isso mesmo, mas revistas que marcaram as gerações dos
anos 70 e 80 e que hoje, infelizmente, não existem mais. Com o advento da
internet, várias dessas editoras optaram por encerrar as edições impressas e
transferir as suas matérias para a blogosfera ou então, simplesmente pararam de
circular devido aos custos elevados.
De uma forma ou de outra, as edições impressas dessas publicações
marcaram época há muuuuitos anos e hoje gostaria de homenageá-las no “Livros e
Opinião” contando um pouquinho de sua história.
01
– Amiga
Em 26 de maio de 1970, chegava às bancas de todo o
Brasil a primeira edição da revista Amiga editada pela Bloch Editores. Na
primeira capa, as presenças de Regina Duarte e Cláudio Marzo, estrelas de Véu
de Noiva, novela de Janete Clair.
Amiga,
toda semana trazia notícias da TV, rádio, disco e do show business em geral. As
sessões de fofocas e fotonovelas (duas por edição) eram os destaques da década
de 70 na revista.
Silvio Santos e Carlos Imperial (super plá do
Imperial) tinham cada um, uma coluna sobre o mundo artístico.
Na época, eu era fã dessa revista que abordava o
universo das celebridades e dos bastidores da televisão, com entrevistas e
reportagens. Também publicava os resumos dos capítulos das telenovelas.
Com o surgimento de novas publicações concorrentes no
gênero como a Ti Ti Ti e Minha Novela e a crise na Bloch Editores
que acarretaria no fim da empresa, a Amiga
foi perdendo espaço e parou de ser publicada pouco antes da falência da Bloch,
em 2000.
02
– Sétimo Céu
Taí mais uma revista publicada pela Bloch Editores. Sétimo Céu surgiu bem antes de Amiga, em 1958 e atingiu o seu auge no
período da jovem guarda.
Era uma revista voltada para o mundo artístico,
apresentando em cada edição, uma fotonovela. Com uma proposta inovadora, frente
as demais revistas do gênero, produzia aqui mesmo no Brasil suas fotonovelas
ao invés de importar as produções
italianas.
No começo os atores eram desconhecidos, somente depois
é que os cantores da Jovem Guarda como Jerry Adriani, Roberto Carlos, Vanusa e
Wanderley Cardoso, além de artistas famosos da televisão, entre eles, Francisco
Cuoco, Vera Fischer e Regina Duarte passaram a protagonizar as histórias e
melodramas românticos. Uma das edições mais famosas de Sétimo Céu, publicada em
agosto de 1966, chegou a ter o cantor Roberto Carlos como protagonista da
história.
Fica aqui, uma curiosidade: o cantor e compositor
Chico Feitosa, de outro movimento musical surgido pouco antes chamado Bossa
nova, iniciou sua carreira como repórter, chegando a trabalhar na revista em
1959.
Sétimo
Céu circulou
até o final dos anos 90 e deixou muitas saudades nas gerações setentistas e
oitentistas de leitores.
03
– Vruum
Revista considerada a mais inovadora de sua época e
por isso caiu imediatamente no agrado do público jovem, a chamada galera teen
dos anos 70.
Vruum
foi lançada em abril de 1976 pela Editora Abril e considerada uma publicação diferente
de tudo que havia até então. Destinada principalmente aos adolescentes, trazia
matérias sobre carros, aviões, motos, barcos, os mais variados tipos de
veículos, num projeto gráfico super moderno para a época.
Teve somente seis números, e mais um álbum de
figurinhas, mas até hoje é reverenciada por amantes da cultura pop. Em sua
primeira edição trouxe na última capa fichas técnicas com fotos de navios de
guerra da Marinha do Brasil. A maioria dos leitores daquele período deram a
esse exemplar o status de antológico.
Vruum ainda
poder ser encontrada por colecionadores no portal Mercado Livre.
04
– Cinemin
No tempo em que a internet era apenas um sonho, Cinemin era a minha revista preferida
quando queria ficar sabendo das novidades do cinema. Além de um fanático
devorador de livros, o “menino”, aqui, também tinha um apetite insaciável por filmes.
Cinemin dava todas as informações de
que precisava. Ainda me lembro que ia devorando a revista no buzão que
transportava estudantes universitários que estudavam em outras cidades da
região. Não estava nem aí para o pessoal que ficava gritando: - Apaga logo o
seu zoinho!!” – O tal “zoinho”, na realidade, era a luz de leitura que ficava
acima da poltrona dos ônibus. A galera queria dormir enquanto eu queria ler
(rs).
A saudosa Cinemin,
publicada entre novembro de 1982 e outubro de 1993, foi pioneira no gênero, o
melhor conteúdo já escrito sobre o tema no Brasil até hoje. A revista abordava
todos os gêneros e épocas, com o mesmo cuidado e dedicação, com coberturas
impressionantemente detalhadas de cerimônias de premiação e festivais, dos mais
badalados aos menos conhecidos. Eu ouso dizer que foi a melhor publicação sobre
cinema no mundo.
05
– Manchete
A Manchete surgiu
em abril de 1952 e foi tida como a segunda maior revista brasileira de sua
época, atrás apenas da revista O Cruzeiro.
Empregando uma concepção moderna, a revista tinha como fonte de inspiração a publicação
ilustrada parisiense Paris Match e utilizava, como principal forma de
linguagem, o fotojornalismo.
Em seu auge, a equipe de jornalistas e colaboradores
tinha nomes como Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Manuel Bandeira,
Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, David Nasser, Nelson Rodrigues e Irineu
Guimarães entre outros. O fotógrafo e cinegrafista francês Jean Manzon era o
responsável pelas principais imagens da revista.
A Manchete atingiu rápido sucesso e em poucas semanas
chegou a ser a revista semanal de circulação nacional mais vendida do país,
destituindo a renomada e, até então, hegemônica O Cruzeiro. Em 2000, com a falência de Bloch Editores, a revista
deixou de circular, sendo depois relançada com outros donos, de maneira
esporádica, tendo sua última edição publicada em 2007.
06
– Ele & Ela
Acho que eu tinha “uns” 18 anos quando tive, pela
primeira vez, nas mãos essa revista. Peguei assim meio que... escondido. Tudo
bem que já estava no “auge” dos meus 18 anos, mas ter 18 anos nos anos 70,
mesmo no final daquela década era, digamos... meio complicado
Ser pego em flagrante lendo revistas masculinas em
público pegava mal. Com a chegada do novo milênio, essa mentalidade mudou, e
muito, tanto é que nos anos 2000, enquanto circulou, a revista Playboy era
presença marcante nas mesas e porta-revistas dos consultórios médicos e
barbearias. Ela estavam lá, toda “belae formosa” no meio de outras publicações
de gêneros diferentes. Mas na década de 70, o caldo engrossava um pouco.
Lembro que minha mãe vivia gritando pelos quatro
cantos da casa: - Quem anda comprando revista de mulher pelada aqui?!!! É claro
que os meus dois irmãos e muitos menos eu, não assumiam a “culpa”.
Hoje, posso revelar que na realidade quem comprava essas
revistas era o meu irmão mais velho e eu, evidente, não perdia tempo e já
emendava, em segredo, a leitura dessas publicações. A preferida do meu irmão
era Ele & Ela.
Esta revista masculina publicada pela Editora
Manchete, empresa que havia comprado os títulos da antiga Bloch Editores, onde
foi editada por mais de trinta anos, era muito popular nas décadas de 1970 e
1980. A publicação encarava de igual para igual a Playboy.
Ele
& Ela, lançada em 1979, visava a um público mais
sofisticado, embora a revista fizesse mais concessões para o vulgar do que
concorrentes como as revistas Playboy,
da Editora Abril, e Status, da
Editora Três.
Ao contrário da Playboy,
Ele & Ela não apresentava
frequentemente mulheres famosas posando nuas. Todavia, diversas mulheres que
vieram a ser bastante famosas posaram peladas para a revista, dentre elas Xuxa,
que posou diversas vezes, Monique Evans, Myrian Rios e Luíza Brunet.
Um dos principais atrativos da publicação era a seção
de cartas, intitulada Fórum, que depois tornou-se um suplemento destacado da
revista, embora fosse vendida com a mesma. No Fórum eram publicadas cartas,
onde os leitores narravam suas aventuras e fantasias eróticas.
Em 2019, a versão impressa de Ele & Ela saiu de circulação após 40 anos, devido a problemas
financeiros. Porém, o conteúdo continuou disponível em seu site oficial.
07
– Fatos e Fotos
Cara, a edição histórica da revista Fatos e Fotos de Julho de 1969 tem o
poder de deixar arrepiado todos os cabelos do meu corpo. Que imagem! A emoção
de ver o módulo da Nasa já pousado na lua com um dos astronautas pisando no
solo lunar ainda permanece muito atual e capaz de despertar fortes emoções;
imagine então naquela época quando a edição chegou às bancas?!
Fatos
& Fotos (ou em alguns períodos Fatos & Fotos/Gente) registrou
muitos outros momentos importantes depois da chegada do homem à lua. A revista
semanal de variedades foi editada pela Editora Bloch, do Rio de Janeiro, e
circulou entre as décadas de 1960 e 1980 (a partir de 1983 deixou de ser
semanal, para ter edições esporádicas).
A revista estava dirigida a reportar, com grandes
fotografias e pouco texto, dramas sociais, atualidades, artes, vida pessoal de
pessoas famosas e do mundo da televisão.
Esses artigos eram publicados em seções que tinham por
nomes os temas que retratavam e se distribuíam pelas sessenta e seis páginas da
revista. Com uma diagramação inovadora, nela as imagens deixavam de ser um
elemento acessório da matéria jornalística, e passaram a ter o papel de
destaque a partir das quais a matéria se desenvolvia.
08
– O Cruzeiro
Esta é antológica! Acredito que até os leitores de
gerações contemporâneas ouviram falar dessa revista lançada em 1928 e que
sobreviveu até julho de 1975 quando publicou o seu último número.
A revista ilustrada - editada pelos Diários
Associados, de Assis Chateaubriand - foi um marco para o jornalismo cultural e
fotojornalismo no Brasil. Uma das primeiras do gênero de variedades no país,
com páginas sobre cinema, saúde, literatura, notícias da semana, política e até
humor. O Cruzeiro promoveu diversas
inovações no ramo, fosse pelo design gráfico, a abundância de imagens ou as
grandes reportagens.
Na redação, os jornalistas costumavam trabalhar em
duplas, com um repórter para o texto e outro para as fotos - a mais conhecida
foi entre o francês Jean Manzon e o brasileiro David Nasser, mais tarde elevado
ao cargo de diretor da revista após a morte de Chateaubriand em 1968.
Como uma revista ilustrada, O Cruzeiro privilegiava bastante as imagens em suas reportagens.
Para conseguir as imagens, além de ter seu próprio time de fotojornalistas, a
revista tinha parceria com agências estrangeiras como a Atlantic Photo Berlim e
Consortium Paris.
Foi também na revista que o cartunista Péricles de
Andrade Maranhão criou o personagem O Amigo da Onça, que seguiu sendo publicado
com grande sucesso entre o público mesmo após o suicídio do seu criador, em
1961. Depois disso, O Amigo da Onça passou a ser ilustrado por outros membros
da equipe.
A revista chegou ao fim em 1975, após o declínio das
vendas e o crescimento de concorrentes, como a Manchete, Realidade e Fatos & Fotos, mais atualizadas e em
expansão ao longo da década de 1960.
09
– Intervalo
Nas décadas de 1950 e 1960, apesar dos poucos canais
disponíveis na TV, acompanhar tudo ou saber quando ia passar seu programa
favorito era complicado. Nessa época as novelas começaram a ganhar destaque,
mas eram os programas musicais que mais faziam sucesso.
Aproveitando o início da polarização da televisão, em
1963, surgiu a primeira revista especializada em assuntos de TV: Intervalo, editada pela Abril teve projeção
nacional. Até o início dos anos 1970 ela reinou quase absoluta. Toda semana trazia
os horários da programação de todas as emissoras, incluindo sempre matérias
muito interessantes sobre programas, séries e novelas.
A publicação da Abril dominou as bancas nesta época,
sendo a preferida da grande massa de leitores que ficavam alvoroçados para
saber das novidades que rolavam na TV, principalmente em seus bastidores.
Foi somente a partir dos anos 1970 com o lançamento da
revista Amiga, pela Editora Bloch que
a Intervalo começou a perder terreno.
Depois de duas tentativas de mudança de formato, em 1972 a Intervalo deixou de circular, mas sua importância como registro de
uma era ficou definitivamente marcada na memória de grande parte dos leitores.
10
– Kripta
Posso afirmar, sem medo de errar, que a revista Kripta lançada em 1976 pela editora RGE
revolucionou os quadrinhos de terror no Brasil. Foram ao todo 60 edições. Idealizada
pelo editor Luis Felipe Aguiar, a emblemática Kripta é até hoje considerada a melhor revista do gênero publicada
no Brasil.
Com 68 páginas, capa colorida e miolo em preto e
branco, a RGE investiu também em uma campanha publicitária incluindo rádio e
TV, que eternizou a frase “Com Kripta, qualquer dia é sexta-feira, qualquer
hora é meia-noite”. Em 1981, a publicação chegava ao fim.
Kripta
sempre manteve o mesmo número de páginas, mas mudou o formato por duas vezes. Até
a edição 26 adotou um formato intermediário entre o magazine e o formato
americano (17 x 24 cm); entre os números 27 e 50 o formatinho (13,5 x 20,5 cm)
e em seguida passou para o mini-formatinho (13,5 x 19 cm) até o seu
encerramento.
Uma revista que marcou época e certamente deixou
muitas saudades. Li muitas ‘Kripta’s’ em minha adolescência, com medo, mas lia.
Valeu pessoal, espero que tenham viajado um pouco ao
passado com essas revistas antológicas.
6 comentários
E aí, como está?
ResponderExcluirSim, ando sumido, mas só em escrever, continuo lendo as postagens.
Umas revistas acima, como vou dizer, são anteriores a minha existência,he he, mas várias outras sim, me lembro e causaram aquela nostalgia. E me fizeram lembrar de tantas outras publicações de revistas dos anos 70 e 80 e 90?
Mas sabe o que teria saudade mesmo? Entrar numa banca, escolher entre tantas uma revista, ou livro. Usei o verbo no futuro do pretérito porque por aqui bancas não existem mais. Ainda existem bancas de revistas e livros?
Abraço!
Fico feliz por estar acessando as postagens. Pensei que você tinha se evaporado (rssss). Com relação às bancas, de fato, dá uma saudade danada. Ainda me lembro da banca da minha cidade. Comprei muitos livros com o 'seo' Luiz.
ExcluirAbraços!
Coleciono revistas NÚMERO UM e edições especiais e comemorativas, desde 1966, com a Realidade. Tenho umas 300 revistas número 1 e umas 200 revistas comemorativas. Também coleciono cartões-postais do mundo inteiro (tenho "apenas" 230.000 na coleção) e livros históricos de cidades paulistas (devo ter uns 300). Já publiquei 11 livros históricos sobre a cidade onde resido - Martinópolis-SP. No Google, digitando meu nome completo entre aspas, encontrará sites sobre os postais, as revistas etc. O e-mail do G.MAIL eu tenho mas não acesso, uso o jcdaltozo@uol.com.br
ResponderExcluirNo comentário anterior não saiu meu nome: José Carlos Daltozo
ResponderExcluirEu tenho a coleçao da Vruum ...
ResponderExcluirhttps://produto.mercadolivre.com.br/MLB-2664719269-revistas-album-de-figurinhas-vruum-avioes-decada-70-completo-_JM
ResponderExcluir