Acabei de ler Dois
Papas. Livraço! Já tinha assistido ao filme da Netflix com Anthony Hopkins no
papel de Bento XVI e Jonathan Pryce como Francisco, mas o livro de Anthony McCarten –
que também é o roteirista do filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles
– é muito superior. Os detalhes sobre a vida dos dois pontífices que na
produção cinematográfica são tratados de maneira bem superficial, sobram no
livro.
Talvez para deixar o filme mais maleável, alguns
assuntos polêmicos como o acobertamento
de casos de pedofilia cometidos por alguns padres, bispos e até mesmo cardeais
no pontificado de Bento XVI receberam somente citações e bem diluídas na produção cinematográfica. Já
no livro, esse e outras temas pesados são abordados e analisados de maneira minuciosa.
O polêmico envolvimento do Papa Francisco - na época em que era cardeal em
Buenos Aires - com a ditadura argentina também foi outro ponto amenizado no
filme, mas tratado em detalhes nas páginas de Dois Papas.
Podemos dizer que McCarten, em seu livro, analisa a
fundo a trajetória dos dois pontífices, baseando-se em depoimentos de pessoas
próximas a Francisco e Bento XVI, além de documentos confiáveis conseguidos na
época da ditadura argentina e também junto à Santa Sé.
Livro lançado pela editora BestSeller |
Por sua vez, Jorge Mario Bergoglio, antes de ter se tornado
o líder máximo da igreja católica, teria conexões com a ditadura militar
argentina no período que ficou conhecido como Guerra Suja e que durou de 1976 a
1983.
Enquanto o filme perdoa Jorge Bergoglio por seu
envolvimento na captura de dois padres jesuítas pela ditadura argentina nos
anos 1970, a pesquisa de McCarten explora as incongruências deste e de outros
episódios, como a declaração de uma família de que o ex-cardeal argentino sabia
da prática de entregar os bebês paridos nos centros de tortura a pessoas
ligadas ao regime.
Mas o livro também reconhece a importância desses dois
pontífices para a Igreja Católica, principalmente o legado do Papa Francisco
que após assumir a cátedra de Pedro passou a tratar com mais seriedade os casos
de pedofilia no clero, além de dar a atenção necessária para outros temas
polêmicos, considerados verdadeiros tabus para a Igreja, como o homossexualismo,
casais de segunda união e os casos de corrupçãomno Banco do Vaticano. O enredo revela
ainda um homem que opta pelas coisas simples, dispensando todas as comodidades oferecidas
pela Santa Sé aos papas. Tudo isso somado ao seu enorme carisma fez com que a
igreja católica recuperasse parte do seu prestígio perdido ao longo dos anos.
Cena do filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles |
Dois
Papas alterna capítulos sobre a vida dos dois pontíofices,
incluindo infância e juventude, com curiosidades relacionadas ao Conclave. Nós,
católicos, sabemos que informações sobre os conclaves são extremamente raras,
já que a cerimônia que elege o papa é restrita aos cardeais votantes e está
envolta em segredos. Mas o autor revela que, no entanto, em setembro de 2005 um
clérigo anônimo rompeu seu voto de sigilo e revelou à revista italiana Limes o
que aconteceu dentro da Capela Sistina, em abril daquele ano. Dessa forma, o
leitor descobre tudo o que rolou no conclave que elegeu Ratzinger como papa.
Enquanto o filme acelera a eleição de Bento XVI ao
mostrar apenas três rodadas de votação — ele foi eleito após a quarta – o livro
mostra detalhadamente como foi todo o processo para a escolha do papa.
Outro pormenor omitido no filme mas tratado de maneira
minuciosa na obra literária são os motivos que teriam levado o papa Bento XVI a
renunciar ao pontificado. O autor apresenta várias hipóteses tendo por base
alguns documentos e fontes próximas ao papa.
Pois é galera, se eu fosse definir filme e livro, o
primeiro seria ficção e o segundo, realidade.
Inté!
2 comentários
Adorei o filme, mas livros são sempre mais detalhados, né!
ResponderExcluirUm abraço, Jam.
Olá Joelma,
ResponderExcluirSe puder leia o livro. Apesar das poucas páginas está repleto de informações. Se você gostou do filme, com toda certeza irá gostar ainda mais do livro.