Um dos meus maiores traumas literários foi ter me
desfeito dos gibis da série Marvels
idealizados por Kurt Busiek e Alex Ross nos anos 90. Ainda me lembro da capa de
um deles que trazia o Tocha Humana correndo no meio de uma rua com as pessoas
em pânico tentando se proteger das chamas vivas que emanavam de seu corpo. Li
os quatro gibis há mais de duas décadas e depois... eles sumiram do meu
arsenal. Tenho quase certeza que isso aconteceu na época em que começava a me
amarrar mais nos livros do que nos quadrinhos. Acho que foi isso.
Mas ocorre que de repente me bateu uma vontade
enorme de reler os quatro gibis antológicos que revolucionaram para sempre o
mundo das HQs. Sabem quando bate aquele insight poderoso? Daqueles que você
diz: “Caráculas! Tenho que fazer isso agora!” Pois é, foi um insight desse tipo
que eu tive. E assim, lá vou eu atrás das minhas relíquias perdidas.
Cara, confesso que a jornada foi difícil pra
caramba. Não conseguia encontrar os tais gibis e quando os localizava, os
preços assustavam. Esta procura ficou ainda mais árida porque, na realidade,
desejava mesmo adquirir a edição especial de 10º aniversário da saga, em capa
dura, com a minissérie completa. Fiquei louco por essa edição que a Panini
lançou em 2010. Este Marvels em capa
dura fez tanto sucesso que a editora acabou obrigada a lançar, acho que três ou
outras quatro edições.
Galera, fiquei inebriado com a releitura da obra
prima de Busiek e Ross.
Para quem não sabe, Marvels revitalizou as histórias em quadrinhos, pois deixou de lado
aqueles heróis imponentes e cheios de si se digladiando com vilões também
imponentes e arrogantes. Os quadrinhos escritos por Busiek e desenhados por
Ross optaram por seguir uma premissa totalmente diferente e inovadora na época.
Em, Marvels os protagonistas não são
os heróis e os vilões, mas as pessoas comuns, ou seja, os cidadãos de Nova York
que vivem no meio desses super-heróis. Estas pessoas comuns são representadas
pelo fotógrafo-jornalístico Phil Sheldon que trabalha como free lance para um
jornal vendendo fotos das proezas dessas ‘maravilhas”, como ele ‘batizou’ esses
seres superpoderosos.
Sheldon passa a história inteira tentando descobrir
qual é o papel de uma pessoa normal em um mundo submetido a forças que estão
além de seu controle.
Imagine nós, seres humanos normais, tendo a nossa
rotina de vida modificada profundamente com a chegada em nossa cidade de outras
pessoas com superpoderes: capazes de voar, escalar paredes e ainda
invulneráveis. Já imaginou você caminhando pela rua justamente no momento em
que dois desses seres superpoderosos resolvem se enfrentar? Qual seria a sua
reação? Você veria esses seres como deuses? Quais seriam as consequências desse
embate para você, um ser humano normal?
Marvels
trabalha com essa premissa, a presença dos heróis: quem são? Que autoridades
eles tem sob nós (humanos)? Estamos seguros e confortáveis com essas criaturas
superpoderosas voando sob nossas cabeças? A partir do aparecimento dos
primeiros heróis, a mídia tem um papel fundamental na construção da leitura
feita pelos cidadãos: vilões ou justiceiros? Qual seria o comportamento da
imprensa? Ela veria esses super-humanos como heróis, justiceiros ou vilões,
todos eles? Busiek e Ross exploram tudo isso em sua saga de quadrinhos
ambientada do ano de 1939 a 1974.
Outro detalhe muito importante é quer a minissérie
viaja por todo o rico universo da Marvel, mostrando a história de diversos
super-heróis desde a aparição do Tocha Humana original, em 1939, até a temível
chegada do devorador de mundos, Galactus, culminando com a chocante morte de
Gwen Stacy, o primeiro amor do Homem-Aranha. Tudo isso, a partir do ponto de
vista de Sheldon.
Como já disse, a minissérie contem quatro capítulos
divididos em quatro gibis, lançados em 1994.
No capítulo Capítulo 1
denominado “A Era das Maravilhas, o personagem Phil
Sheldon presencia em Nova York um evento fantástico e ao mesmo tempo surpreendente:
a chegada de dois super-seres com poderes inimagináveis: Tocha Humana e Namor,
o Príncipe Submarino. O Tocha, na realidade é um androide flamejante criado por
um famoso cientista. Desta maneira, Sheldon sente que está acontecendo algo
diferente e extraordinário na cidade e desiste de atravessar o Atlântico onde
iria cobrir a 2ª Guerra Mundial. E sua intuição prova estar certa: nos meses
seguintes a cidade vê aparecer vários super-seres, os "Marvels", como
o jornalista os chama, além de Namor e Tocha Humana, surge também o Capitão
América.
No capítulo 2, décadas após
o fim da Segunda Guerra, Sheldon, agora casado e pai de família, presencia em
Nova York uma nova geração de "Marvels": Quarteto Fantástico,
Thor, Hulk, Homem Aranha e Homem de Ferro, além da volta do Capitão América e
Namor. Mas uma nova raça de seres poderosos, os mutantes, provoca dúvidas e
medo: serão os X-Men amigos ou inimigos? Sheldon se vê num dilema moral
quando uma garotinha mutante pede asilo em sua casa. Imagine você, agora, em
sua cidade, convivendo com Ciclope, Fera, Homem de Gelo, Jean Grey e Professor
Xavier, mas claro, sem conhece-los. Para você, eles são apenas mutantes. Qual
seria a sua reação? Achei o capítulo mais interessante da minissérie.
Na penúltima parte chamada
“O Dia do Juízo” o negócio ferve, pois marca a chegada da Galactus, o “Devorador
de Mundos” ao planeta Terra, especificamente em Nova York. Quando a sua nave
gigantesca aterrissa na grande metrópole e o vilão inicia o seu ataque, os
moradores acreditam que o Dia do Juízo Final chegou.
Nem mesmo o poder combinado do Quarteto Fantástico e
do Surfista Prateado parece deter o alienígena, que pretende destruir a Terra.
Phil Sheldon toma então a decisão de passar seus últimos momentos com sua
família.
E finalmente o capítulo 4 –
“O Dia Em Que Ela Morreu” – onde Sheldon conhece a jovem
e singela Gwen Stacy, a quem se torna uma espécie de amigo, tutor e guardião. O
velho fotógrafo chega à conclusão que os "Marvels" estão entre nós
para proteger inocentes como Gwen. Mas nem mesmo os super-heróis podem mudar o
destino que aguarda a adorável doce lourinha. Um capitulo bem dramático.
A edição especial de 10º de Marvels também brinda os seus leitores com várias páginas de
extras, explicando todo o processo artístico utilizado por Ross em seus
desenhos, além de várias curiosidades de bastidores, entre as quais o esquema
de modelos vivos que o desenhista usou para compor as imagens de seus
personagens. Mas o melhor vem agora: prepararem para ler o prefácio escrito por
ninguém mais do que o gênio das HQs Stan Lee.
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e estiver disposto a pagar R$ 95,00 em média, o produto encontra-se disponível
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Inté!
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