Este negócio de prever o futuro é uma loucura só!
Você já parou pra pensar nas vezes em que as pessoas previram o futuro – por
brincadeira, gozação ou então para criar um roteiro ficcional para um livro ou
filme – e por incrível que pareça, acabaram acertando ou então, chegando perto?
Pois é, hoje eu estava em minha casa, curtindo uma
quarentena por causa do tal coronavírus, pensando nesse assunto e cheguei a
conclusão que muitos cinéfilos e escritores tornaram-se visionários assim, meio
que sem querer. Aliás, cheguei a publicar uma lista sobre alguns livros que
previram o futuro e acertaram (ver aqui). Hoje, volto a abordar esse tema, mas
direcionando-o para essa terrível pandemia de coronavírus que estamos
enfrentando. Optei por fazer uma abordagem mais desmistificadora do que
visionária, tentando desnudar algumas coisinhas relacionadas a duas obras
literárias que estão causando o maior furor depois dessa pandemia.
Estas duas publicações continuam sendo os assuntos
de destaque nas redes sociais, causando um verdadeiro alvoroço e ganhando
milhares de curtidas e comentários, sem contar a corrida dos leitores às
livrarias na esperança de encontra-las. Tudo porque, elas ganharam o status de visionárias,
ou seja, prenunciaram a chegada do coronavirus nos tempos atuais. Mas a
realidade é bem diferente, e tanto os quadrinhos quanto livro não tem, nada de
visionários e os seus autores não anteviram absolutamente nada. Vamos aos
fatos.
Na HQs Astérix
e a Transitálica, a famosa dupla Asterix e Obelix enfrentam o vilão
Coronavírus na Itália, país que coincidentemente foi um dos mais afetado pela
doença na Europa, com mais de 172.434 mil casos e 22.745 mortes,
anunciadas até sábado (18). Na história que "antecipa" o
coronavírus, os gauleses Asterix e Obelix estão em Roma quando é descoberto um
escândalo de corrupção. Para desviar a atenção da opinião pública, um senador
cria uma corrida de bigas da qual um dos competidores se chama Coronavírus. Asterix e Obelix também participam da
competição.
No fim das contas, os gauleses vencem a prova e
Coronavírus mostra ser ninguém menos que o imperador Julius César tentando
provar seu poder sem revelar a identidade.
Publicado em 2017 na França, o livro voltou à mídia
em fevereiro, após o surto mundial do novo coronavírus, o COVID-19. Nas redes
sociais, internautas espalharam a falsa informação de que o livro era de 1981 -
e que, por isso, teria previsto a pandemia que atingiu o planeta. Afinal, até
máscara o personagem usa.
Acontece que o coronavírus não é uma doença
nova. Vale lembrar que o Ministério da Saúde já cansou de informar através
dos meios de comunicação de massa que o COVID-19 (versão do coronavírus que
teve os primeiros casos registrados na China no final de 2019) faz parte de uma
família de vírus conhecida desde a década de 1960. Em 2012, uma epidemia de uma
versão desse vírus fez com que o nome coronavírus ficasse conhecido novamente. Este
fato, provavelmente deve ter inspirado os autores dessa história do Astérix de
2017.
É importante frisar, também, que as imagens de
trechos da história só começaram a ser compartilhadas em fevereiro de
2020, quando a Itália passou a divulgar estatísticas depacientes com a doença
no país.
Dessa forma chegamos à conclusão de que as imagens
mostrando um vilão chamado Coronavírus nessa HQs de Asterix é real, mas só que...
a edição foi publicada em 2017.
Quanto a The
Eyes of Darkness (Olhos das Trevas), circulam pelas redes sociais imagens
da capa do livro de Koontz, e alguns trechos atribuídos à obra. Uma legenda diz
que o autor previu a ocorrência do novo coronavírus em Wuhan, na China. Gente,
nada a ver.
O enredo criado pelo autor americano descreve uma
arma biológica chamada Wuhan-400, desenvolvida em laboratórios localizados
perto da cidade chinesa de Wuhan que foi considerada até há pouco tempo o
epicentro original da atual pandemia.
OK, vamos explicar essa “teoria da conspiração”; e
como meu saudoso e velho pai sempre dizia: “Vamos começar do começo”. O livro
foi publicado pela primeira vez em 1981 e nesta edição do romance, o nome
original da “arma perfeita” desenvolvida em laboratório era “Gorki-400”,
referência a uma cidade russa, hoje chamada Níjni Novgorod. O nome mudou para
Wuhan-400 no final dos anos 80, no contexto do fim da Guerra Fria (1947-1991)
Esta mudança de nome teria acontecido após a entrada
de Mikhail Gorbachev no governo russo, em 1985, o que fez com que as relações
daquele país com os Estados Unidos começassem a melhorar. Por isso, foi criada
na obra The Eyes of Darkness um novo
vilão. Tudo para não atrapalhar a política da boa vizinhança que começa a
surgir entre Estados Unidos e União Soviética.
Tem mais galera. Ainda, de acordo com publicações
que rolam em abundância pelas redes sociais, o livro traria a informação de que
uma doença grave, que ataca os pulmões e resiste a qualquer tratamento, se
espalhará pelo mundo por volta do ano 2020. Para aqueles que acreditam piamente nesse argumento, sinto dizer que tal
afirmação é uma baita mentira. Na realidade, o trecho sobre 2020 não aparece em
nenhuma das versões da obra de Koontz.
Outra diferença latente entre a história de Koontz e
a realidade é que na obra de ficção o Wuhan-400 é uma arma biológica, enquanto,
pelo menos por enquanto, não há qualquer indício de que o novo coronavírus
tenha surgido como tal.
Mas apesar dessas diferenças, com certeza, um grande
número de pessoas ainda continuará acreditando nas falsas premonições desses destes
autores.
Inté!
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