Não gostei. Sei que estou esfriando o tesão de muitas
pessoas que não veem a hora de ler a obra da escritora inglesa C.J. Tudor que
dominou, por várias semanas, o primeiro lugar das listagens das mais vendidos
em todo o País. Antes que acabe de gelar por completo esse tesão, deixe-me tranquiliza-los,
pois trata-se apenas da minha opinião, tendo certamente muitas outras
contrárias e que estão colocando nas alturas “O Homem de Giz”, classificando-o
como um dos melhores thrillers policiais dos últimos tempos; mas no meu caso, prefiro
passar e... longe. Não me agradou, mesmo.
A premissa da história até que é interessante, mas
os plot twists que se seguem não seguram esse bom início. Achei eles bem
chochos. Concordo que um enredo para prender a atenção do leitor não precisa
ter grandes reviravoltas a cada capítulo, do tipo arrasa quarteirões, mas acho
importante que esses plot twists tenham um pouco de tempero e façam com que
pelo menos o leitor solte um cometido “Ohhhhh!!”
De fato, Tudor bebeu na fonte de “O Corpo”, até
matar a sede, já que as duas histórias são muito parecidas. Em ambas, temos um
grupo de crianças que vivem numa pequena cidade e que certo dia encontram o
corpo de uma pessoa adolescente que estava desaparecida há alguns dias. A
aventura acaba se transformando numa jornada de autodescoberta que os marcará para
sempre. Tanto Tudor quanto King utilizam um ‘protagonista-narrador’ de 12 anos –
os livros são escritos em primeira pessoa. Ocorre que o Gordie Lachance criado
por King cativa os leitores desde o início, já o Eddie Adams de “O Homem de Giz”
é um pé no saco, quase sempre apelando para o coitadismo. A “gang de Gordie”
também é muito diferente da “gang de Eddie”. Resumindo: os primeiros são muito
mais ‘vivos’ ou será que você não se lembra das deliciosas loucuras juvenis de
Chris Chambers de “Conta Comigo” que nos cinemas foi vivido pelo ator River
Phoenix que viria a morrer tragicamente, sete anos após o sucesso de “Conta
Comigo”?
C.J. Tudor |
Como vocês já podem ter notado acho que, de fato, o
que prejudicou a história de Tudor foram os seus personagens insossos. Aliás, é
muito arriscado um autor decidir escrever um livro com algumas particularidades
já existentes em uma outra obra. Agora, se a obra, na qual o autor resolver ‘beber’
bem fundo na fonte, foi um grande sucesso no passado, o risco de não agradar se
torna maior porque fatalmente irão surgir as comparações. Foi o que aconteceu
com “O Homem de Giz”; alguns gostaram, mas outros, nem um pouco. Como já sabem,
me enquadro na segunda categoria de leitores.
Em seu primeiro livro, Tudor conta a história de
cinco crianças inseparáveis que passam a maior parte dos dias andando de
bicicleta pela pacata vizinhança em busca de aventuras. Os desenhos a giz são
seu código secreto: homenzinhos rabiscados no asfalto; mensagens que só eles
entendem. Mas um desenho misterioso leva o grupo de crianças até um corpo
desmembrado e espalhado em um bosque. Depois disso, nada mais é como antes. Com
o passar dos anos, as descobertas que o fato proporciona acaba por modificar,
completamente, a vida e a amizade desses cinco garotos.
O livro é narrado em primeira pessoa pelo personagem
Eddie; e Tudor optou por intercalar essa narrativa em dois tempos distintos:
passado e presente. Dessa forma, ora o leitor acompanha os fatos ocorridos em
1986; ora em 2006, com os protagonistas já adultos e carregando os seus
fantasmas.
Durante a história, a autora faz uma abordagem bem realista
sobre o mal de Alzheimer, doença progressiva que destrói a memória e outras
funções mentais importantes. Ela descreve em detalhes e de maneira bem crua a
angustia dos portadores da doença em sua fase inicial – quando descobrem que
estão com o mal - e também dos familiares dos doentes. Achei impressionante.
Bem galera, é isso aí. Com certeza, muitos que ainda
irão ler “O Homem de Giz” irão gostar do livro e discordar dessa resenha. Afinal,
já imaginou se pensássemos coletivamente, como abelhas? Seria chato demais, não
acham?
Inté!
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