Relançamento recente da editora Suma |
Fico imaginando o plot de “A Metade Sombria” nas mãos
de um outro autor que não fosse Stephen King. Acredito que a obra teria uma
chance enorme de entrar no rol das mais ridículas do século, e encabeçando a
lista. Digo isto porque a essência do enredo é muito inverossímil, algo
amalucado, completamente fora da realidade. Falar o que de uma história onde um
escritor famoso, de repente, vê o seu alter ego se “despregar” de sua alma e
sair por aí aprontando poucas e boas? Tudo isso sem nenhuma explicação plausível.
Ah! Lembrando ainda que o tal alter ego é de carne e osso, ou seja, ele não é
nenhum fantasma ou alma penada, pelo contrário, o espertinho é bem consistente.
Juro que estava com uma cisma danada de “A Metade
Sombria”, pois já conhecia esse plot maluco e fiquei temeroso em comprar a
obra. Estava quase chegando ao ponto de adquirir o livro somente pelo seu layout
e também para complementar a coleção “Biblioteca Stephen King” lançada pela
Suma e que já se encontra em seu 5º volume. Juro que não pretendia lê-lo. Ocorre,
galera, que o homem que deu vida a esse plot esquisito se chama Stephen King. Pois
é, levando-se em consideração o nome do autor, resolvi comprar e ler o livro;
aliás, acabei de ler.
E quer saber? Simplesmente, quebrei a cara. O livro é
maravilhoso. King mostrou porque é considerado um dos melhores escritores – se
não, o melhor – do gênero terror em todo o mundo. Ele transformou um enredo
maluco e inconcebível em algo próximo da realidade. Acredite, King chegou ao
ponto de buscar informações científicas que comprovam ser possível partes de um
irmão gêmeo já morto - olhos, unhas, dedos ou dentes - sobreviverem no
organismo do outro gêmeo que conseguiu se manter vivo. Loucura, não? Mas o
autor consegue envolver o leitor com tanta intensidade que ele acaba
acreditando em seus argumentos. A partir daí a leitura passa a fluir de uma
maneira maravilhosa e até conseguimos esquecer do plot que momentos antes
achávamos inverossímil.
Mesmo tendo alguns trechos cansativos – acho que King
poderia ter enxugado um
pouco mais a história e deixado com bem menos páginas
do que as 464. Achei alguns diálogos e interações de personagens desnecessários,
mas nem esse detalhe consegue tirar os mérito da obra que são muitos.
Lançamento original de 1991 |
Em a “Metade Sombria”, King conta a história de um
conceituado escritor chamado Thad Beaumont que após sofrer um bloqueio
literário, decide adotar um pseudônimo e escrever romances policiais violentos,
fugindo completamente de seu estilo clássico. Surge, assim, George Stark que é
completamente diferente da sua outra metade. Explicando melhor: Ao criar o seu alter
ego, Thad decidiu torna-lo o mais próximo possível da realidade. Para isso, ele
escreveu até mesmo uma falsa biografia para Stark – um ex-presidiário,
arrogante, violento e que só escrevia os originais de seus livros com lápis
preto já que não sabia datilografar. O segredo de que Thad e Stark são a mesma
pessoa é conhecido apenas pela sua mulher de Thad e o seu editor.
A ideia deu certo e os livros de Stark tornaram-se
verdadeiros best-sellers, mas acontece que Thad estava a cada dia incorporando
os hábitos nada salutares de sua “cara” metade. Após algum tempo, Thad resolve
escrever um livro com o seu nome verdadeiro e aproveita a oportunidade para se
livrar do “escritor maldito”, revelando que ele e George Stark são a mesma
pessoa. Pronto, a partir daí começam os problemas na vida de Thad.
“A Metade Sombria” tem um enredo muito tenso e essa
tensão vai aumentando com o desenrolar da história. O final é apoteótico,
daqueles que ficam guardados muito tempo em nossa memória.
É importante frisar que a obra foi lançada no Brasil,
originalmente em 1991, pela editora Francisco Alves como parte da coleção
"Mestres do Horror e da Fantasia. Desde então, encontrava-se esgotada em
todo o País. Há poucas semanas, a Suma relançou a história numa versão luxuosa
de encher os olhos.
Antes que me esqueça, depois que li o livro fiquei com
muita cisma de pardais, ao ponto de me assustar com essas aves tão inofensivas.
Inofensivas? Será?! Após o “The End” de “A Metade Sombria” vocês ficarão
sabendo o motivo do meu receio.
Inté!
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