Hoje, o “Livros e Opinião” vai se transformar numa
máquina do tempo que levará os seus leitores para a época das saudosas
cartilhas escolares que fizeram parte do aprendizado de milhares de estudantes
que tiveram o privilégio de viver as gerações dos antológicos anos 70 e 80.
Duas décadas mágicas, responsáveis por mudanças sociais, culturais e claro,
educacionais em nossas vidas. Sim, “nossas vidas”, porque também vivi os meus
melhores momentos nessas duas décadas, principalmente nos anos de 1970.
Por muito tempo perdurou que estar alfabetizado era
saber as letras, juntar sílabas e formar palavras, nessa época se aprendia através
da repetição de sons e era comum o uso das cartilhas nas escolas, eram o que se
chama atualmente de método sintético, principalmente utilizando a fonação e a
soletração.
As cartilhas que por muito tempo, sobretudo nas
décadas de 70 e 80 fizeram parte do processo de alfabetização eram livros com
leituras restritas que partiam de palavras-chave, principalmente substantivos e
que priorizavam os métodos que citei acima.
Apesar das cartilhas escolares fazerem parte de um
contexto onde as regras comportamentais eram extremamente rígidas e o estímulo
ao pensamento crítico dos alunos praticamente inexistia, elas deixaram muitas
saudades. Só mesmo aqueles que viveram naquela época para entender tal magia
que provoca uma emoção enorme aos vermos uma ilustração ou imagem desses
materiais escolares antigos.
A nossa máquina do tempo já está chegando nos anos 70
e 80; período em que era praxe todos os estudantes das escolas primárias e
secundárias formarem filas duplas no pátio para cantarem, na hora da entrada, o
hino nacional e o hino da bandeira. Depois, essas turmas subiam, em formação,
para suas respectivas salas de aula para realizarem os seus deveres escolares
tendo como fiéis companheiras as suas cartilhas; as mesmas cartilhas que iremos
reviver a partir de agora nessa postagem.
Vamos a elas!
01
– Caminho Suave
Quem tem mais de 40 ou 45 anos de idade com certeza
irá se lembrar da cartilha Caminho Suave.
Tratada como relíquia e lembrada como uma forma mais tradicional e conservadora
de aprendizagem da leitura que as atuais, a cartilha Caminho Suave marcou época.
Para entender a sua importância, basta lembrar que entre
a década de 50 e os anos 1990, passando, claro, pelos imbatíveis anos 70 e 80, estima-se
que mais de 48 milhões de brasileiros tenham aprendido a ler seguindo as frases
simples da cartilha Caminho Suave, que usava a técnica denominada
"alfabetização por imagem", e que ainda desperta memórias afetivas de
muitos adultos como a lembrança de um método eficiente para ensinar a ler.
A ideia adotada era bem simples: associar imagens e
letras com o objetivo de facilitar o aprendizado. Por exemplo, a letra A era
escrita no corpo de uma abelha, a B na barriga de um bebê, a V compunha os
chifres de uma vaca. Em razão dessa estratégia, criada pela professora Branca
Alves de Lima em 1948, a publicação tornou-se conhecida como um método de
"alfabetização pela imagem".
O livro foi um sucesso por décadas, até cair em desuso
e perder o prestígio em meados dos anos 1990, quando novas pesquisas da
psicolinguística e sociolinguística passaram a tratar a alfabetização como um
processo que deveria ensinar mais do que apenas a decifrar letras e sílabas.
02
– Cartilha da Infância
A Cartilha da
Infância criada por Thomaz Paulo do Bom Sucesso Galhardo, professor formado
pela Escola Normal de São Paulo também pode ser considerada antológica nas
décadas de 70 e 80. Ela se baseava no método da silabação e foi publicada no
início da década de 1880; em 1890, foi modificada e ampliada por Romão
Puiggari, tendo atingido sua 233ª edição, em 1992.
Essa cartilha se caracterizava como uma concretização
do método da silabação ou silábico, considerado por Galhardo como “moderno” e
“solução intermediária” mais adequada ao ensino da leitura e escrita às
crianças, naquele momento histórico. Trata-se de método sintético, de acordo
com o qual se inicia o ensino da leitura com a apresentação das
famílias silábicas – aprende-se a sílaba, depois a
formação de palavras e, por fim, a estruturação da frase.
03
– Nova Cartilha Analítico Sintética
Para conciliar os dois métodos de alfabetização, o
moderno e o antigo, o educador piracicabano Mariano de Oliveira criou em 1916 a
Nova Cartilha Analítico Sintética que
só viria a ser publicada um ano depois. Ela durou até 1976, tendo o seu auge em
1941. Da sua criação até o início dos anos de 1940, esse material didático
conseguiu vender mais de um milhão de exemplares, mantendo a média de tiragem,
por ano, acima dos 100 mil exemplares até 1969.
Apesar de no início de 1970 a sua produção ter caído
drasticamente para 40 mil exemplares e chegando em 1976 a apenas 1.000
exemplares, essa apostilha continuou sendo usada como principal apostilha de
educação infantil em muitas escolas da década de 70 até sair de circulação no
final de 1976.
04
– Cartilha Sodré
A Cartilha Sodré
que ficou conhecida pelos professores como “Método Sodré de Educação” foi
criada pela professora Benedicta Stahl
Sodré. Ela concluiu o curso de professora pelo Instituto de Educação Sud
Minucci de Piracicaba, ingressou no Magistério e depois foi removida para a
cidade de São Carlos. Lecionou durante 32 anos e concomitantemente, dedicou-se
à pesquisa no campo da alfabetização, que resultou na organização de um
processo de alfabetização, culminando com seu primeiro livro: “Cartilha Sodré”,
que teve uma tiragem espetacular e que auxiliou na alfabetização de milhares de
brasileiros.
A sua primeira edição foi lançada em 1940. A partir da
46ª edição, de 1948, a Cartilha Sodré
passou a ser publicada pela Companhia Editora Nacional. Conforme dados da
editora, de 1948 até 1989, data da última edição, foram produzidos 6.060.351
exemplares. Em 1977, ela foi remodelada pela educadora Isis Sodré Verganini.
Além da alteração no formato da cartilha, foram acrescentadas mais 30 páginas.
A Cartilha Sodré
tinha um método próprio, o ‘Método Sodré’, ou ‘Alfabetização rápida’ onde todas
as lições eram organizadas de acordo com o processo “rápido”. O processo era
considerado rápido, porque os alunos eram inseridos imediatamente na
aprendizagem das sentenças, palavras e sílabas, sem que houvesse um período
preparatório.
Acredito que muitos leitores e seguidores do “Livros e
Opinião” quando crianças seguiram esse método de alfabetização em suas escolas.
05
– Tabuada: ensino prático para aprender aritmética
Cara, essa cartilha me provocava terrores e pesadelos
dos mais “pesados”. Simples: sempre fui um péssimo aluno quando o assunto se
relacionava com números e equações. Caráculas! Tabuada, então... nem pensar.
Mas independentemente do meu medo com a tão temida
matemática, não posso negar que essa cartilha deixou saudades em muitos alunos,
principalmente aqueles que estudaram nas escolas dos anos 70.
Tabuada:
ensino prático para aprender aritmética vai além das tabelas,
trazendo "dicas" das operações matemáticas. Esse material foi
bastante utilizado por milhares de alunos do ensino primário na década de 70 em
todo o Brasil.
06
– Desenhocop
Este caderninho espiral de capa grossa surgiu no final
dos anos 60 e imperou também no início de 1970. O tal do Desenhocop causou uma
verdadeira revolução no ensino daquele período, provocando frisson em alunos e
professores de educação Artística (nos anos 70, eles eram chamados de
professores de Desenho). Como eu não tinha nenhuma aptidão para desenhar,
confesso que devo à esse santo caderninho mágico, as minhas notas, pelo menos,
razoáveis na matéria.
O Desenhocop tinha um conjunto de folhas finas de
papel vegetal com desenhos que abrangiam grande variedade de temas escolares e
também do nosso dia a dia. Cada série escolar tinha o seu Desenhocop
específico, por isso, o conjunto de temas tinha uma grande variedade, entre os
quais vultos da nossa história, religião, ciências, etc.
Como ele funcionava? Simples. Bastava o aluno passar o
lápis no contorno do desenho para que ele fosse reproduzido no caderno ou no
papel almaço. Depois era só reforçar as linhas copiadas e pronto! A cópia do
desenho estava pronta para encarar a fase de pintura. O Desenhocop fazia todos
nós, estudantes dos anos 60 e 70, nos sentirmos grandes “artistas”.
E quanto a você? Será que algumas dessas cartilhas
colaboraram com a sua alfabetização no passado?
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