Já escrevi em posts anteriores que considero David
Martín o personagem mais instigante da saga “O Cemitério dos Livros
Esquecidos”; e após ter lido “O Prisioneiro do Céu”, esta opinião ganhou ainda
mais força.
O atormentado escritor que vende barato o seu
talento, além de fazer um estranho acordo com um ser misterioso onde concorda
vender a sua alma em troca de saúde, sucesso e dinheiro, é o meu preferido dos
três livros da saga – “A Sombra do Vento”, “O Jogo do Anjo” e “O Prisioneiro do
Céu - que li até o momento. Creio que Carlos Ruiz Zafón estava inspirado quando
decidiu compor esse personagem.
Se em “O Jogo do Anjo”, Martín provocava no leitor sentimentos
ambíguos que vão do respeito ao desprezo , agora, em “O Prisioneiro do Céu”,
aprendemos a admirá-lo, pois passamos a entender melhor a sua relação com
Isabella Sempere, a mãe de Daniel, o protagonista da saga. Na realidade, Martín
chegou a doar a sua própria vida para proteger toda a família Sempere –
Isabelle e o seu marido Sr. Sempere, além de Daniel, filho do casal. Ficamos
sabendo, por exemplo, que Martín no período em que esteve preso sob os olhares
atentos do vilão Mauricio Valls - diretor do Castelo Montjuic, para onde, em
1938, durante a Guerra Civil, iam os presos de todas as classes sociais para
serem executados ou então esquecidos em calabouços fétidos e impregnados de
peste - concordou em atender as terríveis exigências de Valls com a promessa de
que o seu algoz não iria criar um ardil para prender a família Sempere.
Grande parte da história de “O Prisioneiro do Céu”
se passa atrás das paredes de Montjuic onde acontece um encontro emblemático
entre David Martin e ninguém menos do que Fermín Romero de Torres, amigo inseparável
de Daniel. C-a-r-a! Juro que não acreditei quando estas duas lendas da saga de
Zafón se encontram. Mêo! Só mesmo quem está familiarizado com a saga para
entender a dimensão desse encontro, dessa interação. Os diálogos entre os dois
personagens são verdadeira pérolas: ora tensos, ora engraçados.
O relacionamento entre Fermin e Sebastian Salgado,
outro preso de Montjuic também merece destaque. Apesar da situação de penúria
em que vive Salgado, é de seu personagem que vem as ‘tiradas’ mais engraçadas. O
sujeito engole qualquer tipo de sofrimento ou tortura para não revelar onde
esconde a chave de um cofre que guarda uma fortuna incomensurável em algum lugar secreto fora da prisão. Quando
Fermin descobre onde Salgado guarda a chave. Dei altas risadas. Melhor,
gargalhadas. Imagine só jeito de Fermin ao descobrir o precioso segredo.
Impagável.
“O Prisioneiro do Céu” amarra alguns pontos que
haviam ficados soltos em “A Sombra do Vento” e “O Jogo do Anjo” – os restantes,
acredito que serão ‘amarrados’ em “O Labirinto dos Espíritos”, livro que fecha
a trilogia. O leitor fica conhecendo mais detalhes sobre a morte de Isabella; parte
das raízes de Fermín e os motivos que o levou a se transformar num morador de
rua. Entre outras revelações, também está o verdadeiro motivo daquele primeiro
encontro entre Fermín e Daniel na Plaza Real, após o filho de Sempere ter sido
expulso a pontapés da mansão de Dom Gustavo pelo amante de Clara Barceló. Todas
essas linhas soltas são costuradas neste terceiro livro.
A história começa pouco antes do Natal, na Barcelona
de 1957, um ano depois do casamento de Daniel Sempere e Bea. Eles agora tem um
filho, Julián, e vivem com o pai de Daniel em um apartamento em cima da
livraria Sempere e Filhos. Fermin ainda trabalha na Livraria Sempere e Filhos e
está ocupado com os preparativos para seu casamento com Bernarda no ano-novo.
No entanto, ele guarda um segredo que o vem deixando muito triste, o qual ele
acaba revelando para Daniel no decorrer da história.
O enredo de “O Prisioneiro do Céu”, em grande parte,
se resume à esse segredo de Fermín que ele vai desvendando aos poucos para
Daniel, dando a oportunidade de seu amigo conhecer a história de sua mãe,
Isabelle; do escritor David Martin, do vilão Maurício Valls e também do próprio
Fermín.
O livro tem um final aberto e que certamente
prosseguirá com “O Labirinto dos Espíritos.
Fui.
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