Harold Robbins fez parte da minha adolescência. Passei grande parte desse período da minha vida lendo as tramas regadas a relações conflituosas, traições e sexo. Nos anos 70 e 80, muito mais na década de 70, os livros de Robbins vendiam como água no deserto, principalmente as edições econômicas publicadas em papel jornal e que tinham um preço muito mais acessível. Lembro que encontrava essas edições na banca de revistas perto de casa.
O ‘menino’, aqui, tinha uma sorte danada já que o meu
irmão mais velho também era fã de Robbins e vivia comprando essas edições baratinhas.
Putz, saudades daquele tempo.
No post de hoje decidi fazer uma homenagem para esse
autor que viveu a sua fase de ouro na década de 1970. Selecionei cinco livros
Robbins que na minha opinião não podem faltar na estante de qualquer leitor que
apreciava o seu estilo literário.
Vamos a eles!
01 – 79 Park Avenue
Um dia desses li o comentário de uma leitora no Portal Skoob que define muito bem Harold Robbins. Ela disse que o escritor que morreu aos 81 anos em 1997 era um Sidney Sheldon mais ousado. Achei perfeita a sua definição. Acredito que o ousado esteja relacionado ao erotismo exacerbado, tanto é que muitos pais nos anos 60 e 70 não permitiam que suas filhas lessem o autor.
O estilo narrativo de Robbins é semelhante ao de
Sheldon. Já que eles usam técnicas praticamente semelhantes, ou seja: traições,
reviravoltas inesperadas, tramas que mesclam flashbacks com acontecimentos reais,
sexo, prólogos muito bem escritos e personagens femininas com personalidade.
Portanto, a única diferença entre os dois autores se restringia as cenas de
sexo. Enquanto Sheldon era... digamos... um pouco mais cometido, apenas um
pouco heimmm; Robbins já ‘abria o verbo’ descrevendo as nuances do ato numa
linguagem que, creio eu, chocou muitos leitores da época, já que os seus
maiores sucessos da chamada “Fase de Ouro Robbins” foram escritos nos anos 50,
60 e 70. Por causa do erotismo descrito de maneira aberta e muitas vezes, sem
amarras, ele foi rotulado por alguns de escritor maldito.
79 Park Avenue se enquadra nesse contexto já que foi
escrito em 1955. Ah! Vale lembrar que Nelson Rodrigues fez a maioria das
traduções para o português dos livros de Robbins, incluindo 79 Park Avenue.
Neste livro, que muitos fãs, classificam como o melhor
de toda a carreira literária do escritor, Maryann Flood é a grande heroína. Após
ter uma infância e adolescência de violência doméstica e sexual – passando por
um reformatório – acaba sendo obrigada a viver como prostituta e com o tempo,
torna-se a responsável pela agência de modelo chamada “79 Park Avenue”. O que
Flood desconhece é que a tal agência revela por trás de sua fachada, o drama de
lindas jovens que são levadas à prostituição e exploradas por um sindicato de
gangsters.
A jovem acaba, então, indo parar no banco dos réus,
não se importando em ser condenada, já que o promotor do caso é o único homem
que amou em toda a sua vida.
Maryann Flood é tão forte e instigante quanto a Noele
Page de O Outro lado da Meia Noite
que muitos reputam como a personagem mais carismática criada por Sidney
Sheldon.
02
– O Machão
Acho que a somatória de uma história interessante com
uma leitura proibida contribuiu para que O
Machão e consequentemente Robbins marcasse precocemente o início da minha
vida de leitor inveterado.
Apesar de ter lido a obra há muito tempo ainda me
lembro de alguma coisa. No enredo, tinha um cara ‘podre de rico’ que viajava
num avião e que deixava as mulheres loucas, perdidamente apaixonadas por ele. O
sujeito tinha até ‘umas’ ampolas que ele abria na hora do ato sexual e que
liberavam uma fragrância enlouquecedora. Suas amantes ficavam loucas...
Vichieeee! Pois é; tá vendo porque Robbins foi tão polêmico para a sua época?
Depois, nos meus trinta e poucos anos, li a obra novamente. Gostei bastante do
enredo.
O clima erótico desenvolvido pelo autor ao longo das
páginas, apesar de pesado jamais chega a ser chulo, grosso e de mau gosto. São
descrições realistas sem nenhuma aura daquelas revistinhas pornôs. Aliás,
Robbins foi especialista nisso.
O personagem principal de O Machão é Badyr Al Fay que por um capricho do destino foi encontrado
pela rica e poderosa família Al Fay, abandonado no deserto. Dessa maneira, ele
acaba tomando o lugar de um dos filhos natimorto dos Al Fay. Inconsciente das
circunstâncias de seu nascimento e de sua verdadeira ascendência, Badyr foi
criado para aceitar todos os privilégios e obrigações do filho de um árabe
poderoso. Para proteger a fortuna que ascende a vários milhões de dólares,
Badyr percorre todos os continentes em seu jato particular e conhece novas e
lindas mulheres até o dia em que algo inesperado acontece em sua vida de
milionário. Prestem atenção nas personagens Jordana, mulher de Badyr, e Leila,
sua filha, muito importantes na trama.
03
– O Garanhão
Sai O Machão e entre O Garanhão, é mole? (rs). O Garanhão é mais uma obra da “Fase de Ouro”. Foi o primeiro livro escrito pelo autor na década de 1970. Lançado em 1971 bateu recorde de vendas.
A exemplo de 79
Park Avenue, Robbins divide o livro entre passado e presente. Na história,
o foco principal é a amizade e parceria entre o ex-piloto de provas Ângelo
Perino e o velho empresário Loren Hardeman que comanda a indústria
automobilística Loren e que sonha em criar um novo modelo de automóvel. Dois
homens de diferentes gerações que se respeitam, se complementam, acreditam nos
mesmos ideais e têm os mesmos sonhos.
Ângelo é uma pessoa forte e implacável nos negócios, um
jovem piloto de corridas cuja audácia nas pistas só é igualada pela sede de
mulheres. É ele o narrador do conflito de poder entre o autoritário e libertino
Loren Hardeman I, magnata do automobilismo, e seu neto, herdeiro das mesmas
disposições.
Ângelo, aos poucos, vai revelando aos leitores as
intimidades de uma família cheia de segredos, cujos ressentimentos se estendem
por gerações, desencadeando conflitos que tomam proporções trágicas e que são
arrastadas até ao presente.
04 – A mulher Só
Li A Mulher Só, pela primeira vez, no final dos anos 70. Peguei o livro na biblioteca e o devorei em poucos dias. Na minha opinião, trata-se de um dos melhores de Robbins, mas também um dos mais picantes como fica evidente na capa da edição relançada pela editora Círculo do Livro em 1978.
A personagem principal do romance, JeriLee que sonha
se tornar uma escritora famosa não mede consequências para atingir o seu
objetivo. Dessa maneira, ela abandona o marido, a sua cidade, os poucos colegas
e até mesmo muitos de seus princípios morais e vai para a luta. Nesta sua nova
jornada, ela acaba se prostituindo, além de se envolver com álcool, drogas e
dormindo com quem quer que seja, até mesmo pessoas que ela julga desprezíveis,
homens ou mulheres, para conseguir chegar onde quer.
Na realidade, o enredo mostra uma inversão de valores,
pois o que JeriLee almeja é ser valorizada no meio artístico, no seu caso,
dentro do contexto editorial. Mas fica a pergunta: “Será que para se tornar uma
pessoa respeitada no mundo do Jet set, vale a pena passar por cima de muitos
princípios que você julga moral?
Se você leu esse texto até aqui, certamente, deve estar odiando a personagem criada por
Um livro muito picante no que se refere a cenas de
sexo e erotismo – como já disse no início, talvez, um dos mais picantes
escritos pelo autor - mas com uma trama incrível.
05
– Uma Prece Para Danny Fisher
Um livro diferente do estilo característico de Harold Robbins. Quem leu O Machão, 79 Park Avenue, O Garanhão, Os Pervertidos e outros com certeza irá estranha a linha narrativa adotada pelo autor em Uma Prece Para Danny Fisher. Já escrevi nessa postagem que os enredos de Robbins são pesados rolando muito sexo, traição, inveja, sacanagem, enfim, um verdadeiro ‘pega prá capar’. Costumo dizer que Robbins não perdoa, ele atira e muitas vezes o tiro é pesado. Pô, o cara só escreve porcarias?! Não galera, pelo contrário: o cara é muito bom. Um escritor de primeira qualidade. O diferencial é que os seus enredos, como já disse, são pesados e não irão agradar algumas pessoas adeptas de um estilo mais light, mais pudico. Por isso, quando li Uma Prece para Danny Fisher, lançado originalmente em 1951, levei um baque. Cara, a obra foge muito dos elementos tão comumente usados por Robbins em suas histórias. A obra é profunda, triste e emocionante, sem as doses extras de ‘corpo-suor e sexo’.
Robbins narra a saga de Danny Fisher, um garoto que
tinha tudo o que desejava: um emprego, um animal de estimação e disponibilidade
para flertar com mulheres mais velhas, sem contar o seu talento fantástico para
o boxe. Mas sabe quando, de repente, tudo começa a dar errado na vida da
pessoa? Algo parecido com o exemplo de Jó narrado na Bíblia. Entonce, é isso
que começa a acontecer na vida de Danny. Sua família perde tudo e acaba sendo
obrigada a dispor de uma casa confortável, localizada num bairro nobre, para se
mudar num apartamento humilde em Manhattan. E assim, o personagem principal é
obrigado a deixar a sua infância prazerosa para trás, enfrentando a pobreza, o
perigo e a violência diária. Ele passa a lutar dentro e fora dos ringues para
sobreviver.
Leiam, acredito que vocês irão gostar muito.
Galera, por hoje é só (*)
2 comentários
Só uma correção: Nelson Rodrigues nunca traduziu livro nenhum, foi apenas uma jogada de marketing da editora. Essa informação está disponível na internet.
ResponderExcluirOlá. Chequei a informação e você está certo.
ResponderExcluirValeu muito pela sua colaboração.
Obrigado e abraços!