Hollywood sempre viu nas epidemias e pandemias um
grande chamariz para a produção de filmes de sucesso, verdadeiros blockbusters.
Os sucessos dessas produções provaram que a maioria dos cinéfilos se amarram
naqueles enredos onde um grupo de destemidos cientistas se unem em busca do
controle e também da cura de algum vírus que esteja dizimando a população em
todo o mundo. Geralmente esse vírus é proveniente de algum país distante ou
então sintetizado em laboratórios de máxima segurança, mas por descuido de
algum incauto cientista acaba se espalhando pelo mundo afora. Foi assim com
“Epidemia” (1995), Cabana do Inferno (2005), Fim dos Tempos (2008), além de
outros.
Na literatura não é diferente. Temos muitos livros que
abordam o mesmo tema amado por Hollywood, o que deixa claro a queda de muitos
escritores por um personagem incomum chamado: “Sr. Vírus”, de preferência
mortal.
01
– A Peste (Albert Camus)
Quem diria que uma narrativa escrita em 1947 voltasse
ao topo dos mais vendidos após mais de 70 anos? Este fenômeno aconteceu com A Peste, do escritor franco-argelino
Albert Camus. O livro tem atraído a atenção de muitos leitores em diversos
países da Europa, em meio a pandemia de coronavírus.
A obra publicada após o fim da Segunda Guerra Mundial,
conta a história da chegada de uma epidemia, a peste bubônica, à cidade
argelina de Orã. O personagem principal é um médico, Rieux, que combate a
doença até o momento em que ela se dissipa, depois de muitas mortes. O narrador
descreve como a população reage, indo da apatia à ação, e como alguns se expõem
a risco para enfrentar a disseminação da doença.
Há aproveitadores, como um personagem que lucra com um
mercado paralelo de produtos. Os personagens do livro ajudam a mostrar os
efeitos que o flagelo causa na sociedade.
Alguns críticos consideram A Peste uma metáfora dos horrores da Segunda Guerra Mundial. Camus
é considerado um dos mais importantes e representativos autores do século XX.
Prova disso é que conquistou o Prêmio Nobel de Literatura/Romance no ano
de 1957
02
– Ensaio Sobre a Cegueira (José Saramago)
Ensaio Sobre a Cegueira foi escrito pelo
português José Saramago e publicado em 1995. O romance traduzido em diversas
línguas se tornou um dos mais famosos e renomados do escritor e fora, sem
dúvida, um dos principais motivos para a escolha dele ao prêmio Nobel de
literatura em 1998.
A obra narra a história da epidemia de cegueira branca
que se espalha por uma cidade, causando um grande colapso na vida das pessoas e
abalando as estruturas sociais. A cegueira começa num único homem, durante a
sua rotina habitual. Quando está sentado em seu carro no semáforo, este homem
tem um ataque de cegueira. No momento em que várias pessoas correm para
ajuda-lo, tem início a cadeia de transmissão da doença que se alastra
rapidamente em forma de epidemia.
O governo decide agir, e as pessoas infectadas são
colocadas em uma quarentena com recursos limitados que irá desvendar aos poucos
as características primitivas do ser humano.
Saramago mostra, através desta obra intensiva e
sofrida, as reações do ser humano às necessidades, à incapacidade, à
impotência, ao desprezo e ao abandono.
O livro ganhou uma adaptação cinematográfica em 2008
dirigida por Fernando Meirelles.
03
– O Último Homem (Mary Shelley)
A escritora britânica Mary Shellley que ficou
mundialmente conhecida como a autora de Frankenstein, lançou O Último Homem em 1826 quando tinha 29
anos. Assim como na obra anterior e mais conhecida Frankenstein (1818) -
envolvida com questões científicas do eletromagnetismo, química e materialismo
- O Último Homem aponta novamente para esta mesma Shelley sempre
interessada em compreender o alcance da investigação científica.
O enredo se passa numa sociedade futura, num momento
de devastação pela peste bubônica. Lionel Verney é o narrador, membro de uma
família nobre que perdeu suas riquezas, que assiste ao colapso ao seu redor se
tornando o único sobrevivente dessa tragédia.
Especialistas costumam ressaltar os retratos
autobiográficos de figuras do círculo da autora, como seu falecido marido,
Percy Bysshe Shelley e Lord Byron.
O leitor acompanha também o cotidiano da irmã de
Lionel, Perdita, casada com Lorde Raymond, que se torna chefe de estado. Além
deste núcleo familiar, há outros personagens interessantes cujas histórias,
amores, desamores e interesses pessoais acabam sendo colocados em segundo plano
devido a conflitos políticos. Mas, entre reis, princesas e desavenças, cabe a praga
descontrolada ditar as atitudes humanas.
Os revisores da editora responsável pela primeira
publicação do livro o consideraram "doentio" e criticaram suas
crueldades "estúpidas", e chamaram a imaginação da autora de
"enferma". A reação assustou Mary Shelley, que prometeu a sua
editora um livro mais popular, da próxima vez. No entanto, mais tarde, ela
falou de O Último Homem como uma de suas obras favoritas. O
romance não foi republicado até 1965. No século XX, a história recebeu uma nova
atenção da crítica e passou a ganhar o merecido destaque.
04
– Um Ano de Milagres (Geraldine Brooks)
Em Um Ano de
Milagres, a escritora australiana Geraldine Brooks (1955) conta a história
de uma remessa de tecidos infectados, vinda de Londres, que espalha a peste por
uma aldeia isolada nas montanhas durante o século 17, precisamente no ano de
1666. A partir do ponto de vista da arrumadeira Anna Frith, o livro narra a
peste que matou quase um quinto da população inglesa, se inspirando na história
real do vilarejo de Evam, na Inglaterra.
Um detalhe curioso que vale a pena destacar é que este
romance histórico é baseado na verdadeira história da aldeia inglesa Eyam, no
período medieval, ou seja, Brooks criou uma narrativa fictícia baseada na
realidade vivida por aqueles moradores.
O livro detalha a decisão de um pequeno vilarejo de se
isolar quando a peste bate na porta dos moradores, com o objetivo de não
espalhar esta doença que causa uma morte tão dolorosa, rápida e sem controle,
para vilarejos vizinhos.
Um
Ano de Milagres é fruto de uma pesquisa minuciosa em
arquivos médicos e históricos para que a escritora – vencedora do prêmio Pulitzer
de ficção em 2006 com o livro O Senhor
March – pudesse descrever com realismo e riqueza de detalhes os costumes, a
mentalidade, as superstições e o cotidiano da Inglaterra rural da época.
05
– O Enigma de Andrômeda (Michael Crichton)
Evidentemente não poderia deixar de incluir nessa
lista um livro do escritor que foi considerado um dos mestres da ficção
científica contemporânea: Michael Crichton. Pena que ele morreu em 2008 e nos
deixou privados de seus enredos fantásticos.
Neste livro seu primeiro romance de scifi publicado originalmente
em 1968, um satélite espacial cai em uma pequena cidade do Arizona, trazendo
consigo um vírus letal que pode causar uma catástrofe biológica de proporções
nunca vistas. Um grupo secreto composto pelos mais renomados cientistas de suas
áreas é reunido pelo governo americano e colocado em uma instalação sofisticada
para descobrir a cura para esse vírus, antes que seja tarde demais.
OEnigma de Andrômeda não tem catástrofes, nem correrias.
Crichton escreve de uma de tal maneira que faz com que o leitor se sinta parte
da equipe de cientistas, como se ele estivesse ali, ao lado dos quatro
pesquisadores, também descobrindo detalhes importantes que podem ajudar na
investigação do fato. Cada descoberta é minuciosamente explicada aos leitores
como se corpo científico estivesse falando conosco.
Por todas essas características, o livro cria uma
cumplicidade impar com os leitores, como se os convidasse a ajudar os
pesquisadores em suas descobertas.
06
– Estação Onze (Emily St. John Mandel)
Este livro tem tudo a ver com a pandemia de
coronavírus. Suponhamos que uma epidemia mortal como esta que estamos vivendo
saia do controle das autoridades médicas. Já pensou como seria tenso? Como
ficaria a situação em todo o mundo após 15 ou 20 anos? Estação Onze da escritora canadense Emily St John Mandel tem muitas
particularidades nesse sentido.
No romance, uma praga mortal chamada Gripe da Geórgia
causa um verdadeiro estrago, dizimando populações em todo o mundo.
A autor começa contando que certa noite, um famoso
ator sofre um ataque cardíaco no palco, durante a apresentação de “Rei Lear”. Um
paparazzo com treinamento em primeiros socorros, vai em seu auxílio. Uma atriz
mirim observa horrorizada a tentativa de ressuscitação cardiopulmonar enquanto
as cortinas se fecham. Nessa mesma noite, uma terrível pandemia de gripe começa
a se espalhar e destrói, quase por completo, toda a humanidade.
Quase 20 anos depois, aquela atriz mirim que viu
chocada a tentativa de ressuscitamento do ator viaja com a sua pequena trupe de
artistas pelos assentamentos do mundo pós-calamidade, apresentando peças de
Shakespeare e números musicais para as comunidades de sobreviventes da pandemia
de gripe.
A narrativa apresenta a vida antes e depois da
pandemia que tomou conta do mundo no universo ficcional criado por Emily
Mandel. De forma comovente e cheia de reviravoltas, a obra traz um novo ângulo
para o formato: os desdobramentos e consequências da praga, 20 anos mais
tarde.
07
– Um Diário do Ano da Peste (Daniel Defoe)
Vocês se lembram que citei no início da postagem que
havia selecionado um livro técnico para fazer parte dessa lista? Então, está aí
o tal livro. Trata-se de Um Diário do
Ano da Peste do escritor e jornalista francês Daniel Defoe nascido em 1660.
A obra é uma reportagem sobre a epidemia de peste
bubônica que dizimou 70 mil vidas em Londres, no ano de 1665. Um Diário do Ano da Peste, que tem sido
um modelo de rigor descritivo há quase 300 anos, mistura realidade e ficção. O
autor cria personagens e diálogos que recompõem um clima novelesco, mas sem
deixar de registrar os fatos com o olhar apaixonado de um repórter.
O livro é escrito em primeira pessoa com o narrador
explicando os motivos que não o levaram a abandonar Londres no início da
epidemia, como centenas de pessoas estavam fazendo. Os olhos do narrador fazem
o papel dos olhos dos leitores que passam a conhecer o sofrimento de todas as
pessoas atingidas pela peste terrível. Ele vai presenciando ou ouvindo de
outras bocas o relato do avanço da doença em Londres.
Através da narrativa do personagem, o leitor se depara
com pessoas saudáveis que são trancadas em suas casas com familiares doentes, mulheres
que ficam uivando desesperadamente nas janelas de suas casas que foram marcadas
com o sinal da peste, valas abertas onde os cadáveres eram simplesmente
jogados, sem terem sequer o enterro cristão, pois ninguém se arriscaria a ser
contaminado.
Na fala do narrador, percebemos a moral religiosa do
século XVII e XVIII, na qual a peste era considerada o castigo da mão de Deus
por todas as faltas cometidas pelos londrinos,
Autor do romance “Robinson Crusoé” (1719) e de mais de
outras 500 obras, Daniel Defoe é considerado o primeiro grande romancista
inglês, além de ter sido um precursor do jornalismo moderno. Ele morreu em
1731.
08
– A Peste Negra (Gwyneth Cravens e John S. Marr)
Este livro escrito em 1976 parte de uma premissa muito
interessante: como seria nos dias de
hoje uma epidemia da peste negra que assolou a Idade Média, dizimando grande
parte da população?
O livro faz parte da minha lista de leituras e está
bem acomodado na estante. Pretendo lê-lo o mais rápido possível. Vale destacar
que os dois autores entendem do assunto. Gwyneth Cravens é escritora,
jornalista e cronista, é autora de numerosos contos publicados no “The New
Yorker”, “Harper’s Magazine”, “Transatlantic” e em outras grandes revistas
norte-americanas, muito deles figurando já em antologias. Quanto ao seu
parceiro, John S. Marr, é um epidemiologista especializado em surto de doenças
infecciosas. Foi diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis da cidade de
Nova York, onde investigou vários surtos de doenças infecciosas, incluindo
febre tifoide, botulismo, amebíase e gripe suína.
Em A Peste Negra
descreve-se uma nova e fulminante epidemia que atinge Nova York na década de
1970. No regresso de uma festa campestre, uma moça adoece gravemente com
sintomas da terrível doença e dentro em pouco, Manhattan inteira estará
ameaçada pela peste negra. Começa, então, a longa perseguição movida por um
jovem médico do Serviço de Saúde da cidade para, em luta contra o tempo, situar
cada uma das pessoas que tiveram contato com a jovem e que podiam ter sido
contagiadas pela doença infecciosa, ignorantes do mal implacável que traziam
consigo.
Rapidamente, porém, o surto epidêmico de propaga.
Dessa maneira, Nova York acaba se transformando num imenso cemitério. Então, é
a vez de os sobreviventes colaborarem com a medidas governamentais para
localizar o mal e salvar ainda o resto do País.
09
– Vírus (Robin Cook)
Na época de seu lançamento, 1988, o vírus Ebola –
descoberto em 1976 – era o grande ‘bicho-papão’ do momento, engolindo outras
pragas tão mortais quanto ele. Aproveitando a onda, o autor acabou decidindo
usar o Ebola como o astro principal de seu 7º romance. Ponto para ele porque
acabou criando um enredo que é puro suspense: não só devido ao conhecido vírus,
mas também por causa do carisma de uma personagem sensacional: Drª Marissa
Blumenthal, que graças ao sucesso desse livro passou a protagonizar outras
publicações do autor.
Em Vírus, Blumenthal
luta para desmascarar uma conspiração que pode colocar em risco a vida de
milhares de pessoas. Tudo começa na África quando um médico morre de uma
doença misteriosa. Logo em seguida, também morre um grande número de africanos
com sintomas semelhantes. Depois de algum tempo, várias pessoas começam a
morrer em um centro médico de Los Angeles de um vírus misterioso e devastador.
O contágio vai avançando como um rastro de pólvora.
A Drª Blumenthal do CDC (Centro de Controle de
Doenças) começa a investigar a doença, a fonte de contágio e a cura para um
vírus que, até então, estava restrito apenas à laboratório de pesquisa.
A médica tem que agir logo, antes que o Ebola ganhe as
ruas e comece a contaminar as pessoas, fazendo com que a epidemia fuja
totalmente do controle das autoridades de saúde, o que teria resultados
devastadores.
Numa situação tão dramática como esta, a médica a cada
passo dado, irá descobrir que há por entre os seus superiores, pessoas
interessadas em que a verdade não apareça. O final é surpreendente.
10
– A Dança da Morte (Stephen King)
Não poderia deixar de fechar essa lista com o livro do
mestre do terror Stephen King. Lançado originalmente em 1978, A Dança da Morte é considerado por
muitos fãs como o melhor livro da carreira do autor. Nele, uma poderosa arma
biológica é acidentalmente libertada de uma base secreta nos Estados Unidos. Um
vírus extremamente mortal acaba dizimando quase toda a população da terra,
excetuando uma pequena parcela resistente a ele. Logo os sobreviventes se veem
divididos e são obrigados a optar entre uma bondosa senhora de idade chamada
Mãe Abigail ou um ser misterioso chamado Randall Flagg, cuja primeira atitude
no momento de crise é recrutar a escoria da sociedade sobrevivente para formar
o seu “batalhão”, tencionando conquistar, com eles, o que restou da civilização
moderna pós apocalíptica. A partir daí começa um embate estilo “duro de matar”
entre os dois grupos.
Recentemente, King disse que o novo coronavírus não é
mais sério do que a doença criada por ele em A Dança da Morte. "Não, o coronavirus NÃO É como 'A Dança da
Morte'. Não é nem de longe tão séria quanto. É eminentemente possível
sobreviver. Mantenham-se calmos e tomem todas as precauções necessárias",
escreveu o autor no Twitter....
Beleza galera? Espero que tenha contribuído com
algumas indicações de livros para as pessoas que estão interessadas em ler
enredos que se assemelhem ou pelo menos cheguem perto dos tempos de coronavírus
que estamos vivendo.
Tchau!
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