Não gosto muito de ler biografias, nem as não
autorizadas e muito menos, as autorizadas. É complicado galera. Ou o autor, por
vingança, desce o sarrafo no biografado, abrindo a mala de ferramentas,
inventando cobras e lagartos ou então, por gratidão, endeusa o fulano ou fulana
transformando-o no rei ou rainha que eles nunca foram.
Por isso, tenho poucas obras biográficas em minha
estante. Por outro lado, sei que não posso generalizar, pois se temos
biográficas nulas em termos de qualidade e sinceridade, em contrapartida temos
livros do gênero fantásticos e principalmente honestos, entre os quais posso
citar: “Eric Clapton – A Biografia”; “Eu, Tina” e “Rita Lee: Uma
Autobiografia”.
Durante a semana, após dar as minhas zapeadas costumeiras
pelas livrarias virtuais, fiquei sabendo do lançamento de uma nova biografia, e
prá variar, sobre mais um cantor, ou melhor, uma cantora: Elis Regina. E, cá
entre nós, torço para que a obra seja tão boa quanto a anterior escrita pelo
jornalista Júlio Maria em “Nada Será Como Antes”. Esta, sem dúvida, uma
biografia reveladora e verdadeira, pois foi baseada em mais de 120 entrevistas
de pessoas que conviveram com a cantora.
Agora, chegou a vez do produtor João Marcello Bôscoli,
filho de Elis, publicar uma nova biografia da artista. Trata-se de "Elis e
Eu - 11 Anos, 6 Meses e 19 Dias com a Minha Mãe", da editora Planeta, que
será lançado em 9 de novembro. A boa notícia é que o livro já está em
pré-venda.
João Marcelo Bôscoli com o seu livro |
O pai de João era Ronaldo Bôscoli, jornalista,
compositor e produtor, morto em 1994. O filho de Elis nasceu no Rio, em 1970.
Ouviu músicas em casa desde sempre e, aos 11 anos, fez sua estreia como
instrumentista tocando bateria e cantando no álbum Comissão de Frente. Fez
parte de grupos que vieram depois e participou de festivais colegiais também
como compositor.
João se tornou um músico famoso, vindo a trabalhar com
Milton Nascimento, Paulinho da Viola, Lenine, Nelson Sargento, Ivan Lins, César
Camargo Mariano, Jorge Ben Jor, Demônios da Garoa, Zélia Duncan, Elza Soares e
Arnaldo Antunes.
"Elis e Eu - 11 Anos, 6 Meses e 19 Dias com a
Minha Mãe" promete revelações interessantes que só mesmo alguém muito, mas
muito próximo a cantora poderia revelar e se estivesse propenso a isso; e
parece que João Bôscoli estava. Exemplo disso, é uma passagem envolvendo uma
festa regada a muitas drogas; a mesma festa que antecedeu a morte da
“Pimentinha”.
Em um dos capítulos, o autor – na época com 11 anos -
conta que após receber o rotineiro beijo de “boa noite” de sua mãe, acordou com
ruídos vindos da suíte ao lado: um entra e sai frenético no banheiro e diálogos
entrecortados de inalações rápidas. Foi um choque perceber pela primeira vez o
consumo de drogas dentro do apartamento e, se não bastasse, com a participação
da mãe, Elis Regina. Ao
revisitar suas memórias sobre essa festinha, ocorrida alguns dias antes da
tragédia que abalaria o país, João
Marcello Bôscoli revela que teve o ímpeto de interromper a balada,
mas faltou-lhe coragem. “Se eu tivesse ido lá, o destino seria outro?”,
questiona no capítulo inicial de seu livro, “Elis e Eu”. O destino ao qual João se
refere, o país todo conhece: no dia 19 de janeiro de 1982, o coração da
maior cantora do Brasil parou de bater devido a um choque anafilático causado
pelo uso de cocaína misturada ao vermute Cinzano.
O garoto viu a mãe sair
com um fiapo de vida de casa, balbuciando palavras desconexas e carregada para
o hospital pelo namorado Samuel Mac Dowell.
Além dessa revelação, há ainda passagens sobre a
convivência da artista com os seus filhos, amigos, produtores e até mesmo com
as pessoas que ela não se dava muito bem. À primeira vista, parece ser uma
biografia honesta e narrada por alguém que fez parte da vida de Elis,
conhecendo, portanto, todos os seus segredos.
Vamos aguardar a chegada da obra às livrarias no
próximo dia 9 de novembro. Enquanto isso, os fãs de Elis Regina podem garantir
o seu exemplar em pré-venda.
Um comentário
Excelente texto. Gostaria apenas de fazer uma correção. Quando Elis morreu, seus filhos tinham 11 anos (João - 1970), 6 anos (Pedro - 1975) e 4 anos (Maria - 1977).
ResponderExcluir