No mês passado, enquanto estava lendo “A Herdeira”
de Sidney Sheldon escrevi no Instagram que o único problema que enfrentamos ao depararmos
com um livro do autor é que ele vicia. Por isso, somos obrigados a comprar
outros, outros e mais outros e quando percebemos, a nossa estante já está
repleta de Sheldon.
Foi isto que aconteceu comigo. Tinha “A Herdeira”
perdida em minha estante há muitos anos e numa dessas manhas de inverno, após
uma ressaca literária terrível – havia acabado de ler “O Cemitério” de Stephen
King - resolvi dar uma quinada de 360 graus. Estava à procura de uma história
romântica, tipo folhetim. Foi quando bati os olhos na capa hiper-brega da
Record que tinha estampada a foto de uma mulher abraçando um homem e olhando
voluptuosamente para ele. “É esse mesmo!”, disse eu, me referindo ao livro.
A minha intenção era ler apenas alguns capítulos,
mesmo porque ainda não estava totalmente recuperado da ressaca causada pelo “O
Cemitério” , mas quem disse que consegui abandonar a história? Quando percebi
estava devorando o livro!
A principal personagem do livro é Elizabeth Roffe
que após a morte de seu pai, Sam Roffe, torna-se a principal acionista e
consequentemente herdeira de todo o seu império formado por indústrias
farmacêuticas espalhadas por vários países. O poderoso conglomerado, capaz até
mesmo de derrubar governos, tem o seu capital fechado com as ações divididas
entre quatro membros da família Roffe, todos eles casados com as primas de
Elizabeth. Sam era totalmente contra a entrada de pessoas estranhas na direção
de suas empresas, portanto se qualquer um dos diretores quisesse vender as suas
ações para grupos ou pessoas de fora da família teria de convencer todos os
acionistas. Resumindo: ele só poderia vender com a concordância unânime da
diretoria.
Entretanto esses quatro acionistas da firma – à
exceção de Sam Roffe – lutavam com problemas financeiros gravíssimos contraídos
com dívidas de jogatinas, amantes ou simplesmente movidos pela cobiça. Foi
então que coisas estranhas começaram a acontecer. Fábricas e laboratórios
explodiam, patentes eram roubadas, erros de embalagem lançavam no mercado
drogas perigosas e em muitos casos a sabotagem era evidente.
Sam Roffe negou-se a ceder às pressões dos outros
diretores minoritários e acabou morto num acidente de alpinismo provocado. Ao
se tornar a única herdeira de seu pai, Elizabeth passou a ser o alvo dos
atentados, já que também se opôs às vendas das ações.
Sheldon trabalha com quatro suspeitos na trama,
deixando o leitor “desesperado” para saber quem é o sabotador e o assassino de
Sam Roffe. Todos eles tem motivos para ter cometido o crime já que estão
completamente endividados, mas em se tratando de Sheldon, você não sabe se pode
surgir um quinto ou sexto suspeito, já que o final de suas histórias sempre
reserva surpresas inesperadas para os leitores.
Ah! Antes que me esqueça. Os fãs de Sheldon,
certamente, devem se lembrar do advogado Napoleon Chotas de “O Outro Lado da
Meia-Noite” e “Lembranças da Meia Noite”. Pois é, tenho uma boa notícia para
aqueles que irão ler “A Herdeira”: o autor criou um personagem secundário tão
bom quanto Chotas e com a mesma pitada de humor. Trata-se do detetive Max
Hornung que ganha a simpatia do leitor por causa do seu jeito despojado e
bonachão que, na realidade, esconde uma inteligência e sagacidade
incomparáveis, além de uma memória fotográfica.
Hornung aparece perto do final da trama, deixando os
leitores com um gostinho de quero mais. Pena que Sheldon não o utilizou em
outros livros.
Enfim, é isso. “A Herdeira” vale muito a leitura.
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