Ontem, enquanto fuçava algumas prateleiras no porão
de casa, me deparei com algumas edições daqueles livrinhos de bolso publicados em
páginas de papel jornal – acho que localizei ‘uns’ três de faroeste que estavam
perdidos numa caixa bem velha. Pois é, bastaram esses três livrinhos para que
eu realizasse uma gostosa viagem no tempo: desliguei-me completamente daquele porão
cheio de caixas velhas e embarquei de mala e cuia para o passado. Quando digo passado estou me referindo à sala
da casa dos meus pais na década de 70. Naquela sala, havia uma cômoda super
xique onde o meu irmão mais velho guardava os seus livros (ver aqui). Cara, como eu gostava de bisbilhotar naquele armário!
Quando percebia que estava sozinho em casa, o meu
passatempo predileto era invadir domínios proibidos; e aquela cômoda era um
desses territórios. Tinha medo de pedir para que o meu irmão me deixasse
folhear aqueles livrinhos de bolso da Brigitte Montfort, Coyote, FBI, Chumbo
Quente e outros; então preferia agir em segredo. Como a chave ficava sempre nas
portinhas das cômodas, a minha missão não era nada complicada.
Meu!! Como viajei com as histórias desses livrinhos
em minha infância e pré-adolescência. A pulp fiction preferida do ‘menino-invasor’,
aqui, sempre foi a da Brigitte Montfort, espiã da CIA que utilizava o codinome
Baby. Gostava tanto daquela morena estonteante de cabelos negros compridos e
olhos azuis que até decidi homenageá-la em vários posts (veja aqui, aqui e novamente aqui).
A famosa personagem foi criada pelo escritor
espanhol Antonio Vera Ramirez que escrevia sob o pseudônimo de Lou Carrigan. Já
as capas das histórias eram produzidas por um dos maiores ilustradores
brasileiros de todos os tempos: José Luiz Benício. Foi ele quem deu vida à
Brigitte Montfort, cujas histórias foram publicadas até 1992.
A espiã da Cia foi considerada o carro-chefe de
vendas da editora carioca Monterrey, de propriedade de dois espanhóis: Luis de
Benito e Juan Fernandes Salmeron que residiam no Brasil. E por falar na
Monterrey, foi ela que popularizou a moda dos livros de bolsos por aqui,
transformando-a numa verdadeira febre. Era o período das saudosas pulp fictions
quando grupos de leitores procuravam constantemente as bancas para adquirir os propalados
livrinhos publicados em papel de baixíssima qualidade, mas com enredos
viciantes.
Fundada em 1956, a editora começou publicando a
série de faroeste “O Coyote” do escritor espanhol José Mallorquí. Posso dizer,
com certeza, que Mallorquí com o seu
“Coyote” foi o precursor dos chamados livros de bolso que tanto sucesso fizeram
por aqui e também em vários outros países. Antes da criação do justiceiro
mascarado, havia em Barcelona, na Espanha, uma editora chamada Cliper que já
vinha publicando as aventuras do Zorro que estourava em vendas por lá.
Imediatamente os donos da Monterrey entraram em contato com Mallorquí – na
época, um jovem e promissor escritor – para que criasse um personagem mascarado
nos mesmos moldes do Zorro. Mallorquí não dormiu no ponto e assim nascia o
destemido e emblemático “El Coyote” (se quiserem saber mais sobre o personagem acessem aqui).
Logo depois, em 1961, surgia a série FBI, trazendo
histórias de espionagem. Embora “O Coyote” também tivesse histórias em
quadrinhos, não foram publicadas no país.
Em 1963, A Monterrey, na época sob a direção do
jornalista José Alberto Gueiros, republicou o romance “Giselle, a espiã nua que
abalou Paris” na coleção ZZ7, ambientado na França da Segunda
Guerra Mundial. Vale lembrar que essa história já havia sido escrita por David
Nasser como um folhetim para o periódico Diário da Noite, jornal dos
Diários Associados de Assis Chateaubriand. Gueiros, apenas rescreveu o romance
ao lado do tio, o poeta Augusto Frederico Schmidt. Com o sucesso de ‘Giselle’,
a editora encomendou uma nova série protagonizada por uma espiã estonteante.
Pronto! Nascia assim, ela: Brigitte Montfort, a filha de Giselle, para
isso, a Monterrey encomendou os textos para Carrigan. Com relação a Carrigan, é
importante acrescentar que antes de Birgitte, ele já era conhecido pelos livros
da coleção FBI.
Outra série famosa da Monterrey foi K. O.
Durban do escritor brasileiro Hélio do Soveral, paródia aos espiões da
cultura pop como James Bond de Ian Fleming. Esta série também teve as capas
produzidas por Benício.
Uma curiosidade interessante e que alguns leitores
de livros de bolso no Brasil desconhecem é que a série Spectre também foi escrita por
Soveral, mas com o pseudônimo de Ell Sov.
Além da Monterrey, tivemos ainda outra editora de
bolsilivros no Brasil que contribuiu para a difusão do gênero em terras
tupiniquins: a Bruguera. Esta empresa espanhola, fundada em 1910, teve uma filial no Brasil, inicialmente
chamada Bruguera, mas que logo depois mudou o seu nome para Cedibra. A empresa foi extinta em 1986. A série mais
famosa da Bruguera publicada em nosso País foi ‘Estefania’ com histórias de
faroeste.
Viram só o que aqueles três livrinhos de bolso perdidos
no porão de casa aprontaram comigo? Devo à eles esta volta fantástica para a minha
infância de leitor.
Espero que tenham gostado.
11 comentários
Quem sabe a L&Pm lança uma coleção pocket da Brigitte Montfort
ResponderExcluirQuem sabe ? Estou aberta a negociações.
Excluiré até poderia, mas a LPM é careitra, ia ficar caro, tem que ser como era na época da Monterey, Brasiliense, Futurama e outras
Excluirtenho alguns repetidos, para troca
ExcluirQuem sabe ? Sou a responsável pela obra , a Editora se encontra fechada em virtude do falecimento de Juan Alberto Fernandez desde 2005. Porém respondo pelas pela mesma .
ResponderExcluirOs originais desses bolsilivro ainda existem?
ExcluirSim, mas não em bancas.
ExcluirE esses livros de bolso , faroeste, você sabe como fazer pra comprar Obrigado
ResponderExcluirOlá! Seguem alguns links que poderão lhe ajudar:
Excluir* https://www.estantevirtual.com.br/busca?q=brigitte%20montfort
* https://www.estantevirtual.com.br/busca?q=J.%20Mallorqui
* https://lista.mercadolivre.com.br/mallorqui#D[A:mallorqui]
* https://www.estantevirtual.com.br/busca?q=reis%20do%20faroeste
Abraços!
tenho repetidos para troca, se alguém também tiver algum e interessar, ZZ7, FBI, 77Z, FB7, Perry Rhodan e outros
ResponderExcluirPodiam republicar os bolsilivros de faroeste.
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