Grande parte dos comentários que li sobre “O Regresso”
– segundo e último volume da duologia “Meu Nome é Ninguém” – diziam que o autor
Valerio Massimo Manfredi aumentou a história desnecessariamente quebrando toda
a magia que envolve a saga de Ulisses ou Odisseu. Concordo em gênero, número e
grau. Vou mais além e afirmo que o autor escreveu mais do que devia e se
enrolou todo no final. Quando acabei de ler o livro disse para Lulu que
Manfredi foi guloso; comeu mais do que devia, se empanturrou e depois, passou
mal.
A maioria daqueles que leram as versões romanceadas de
a “Odisseia” de Homero ou então, assistiram aos filmes baseados na obra sabem
que a saga de Ulisses termina tão logo após o seu retorno a Ítaca quando ele,
juntamente com o seu filho Telêmaco e alguns aliados, exterminam todos os
guerreiros que haviam invadido o seu palácio com a intenção de desposar a sua
esposa Penélope, acreditando que o herói havia morrido.
O que Manfredi fez? Ele quis ir mais a fundo e narrar
o que aconteceu depois disso; e foi aí que ele se embananou todo. Antes desse
acréscimo na saga, por parte do autor, a narrativa estava fluida e agradável
capaz de prender a atenção do leitor. Como escrevi na resenha de “O Juramento”
(primeiro volume da duologia Meu Nome é Ninguém) ler todos os acontecimentos
envolvendo a Guerra de Tróia e o retorno de Ulisses a sua Terra Natal narrados
em primeira pessoa pelo próprio herói torna a história muito mais palatável e
saborosa fazendo com os leitores devorem as páginas.
Acredito que ao autor ao escrever essa duologia, tinha
como proposta narrar fatos desconhecidos sobre a vida do herói da mitologia
grega, ou seja, fatos além daqueles que conhecemos lendo o poema de Homero ou
então, as suas versões romanceadas. Dessa maneira, no primeiro volume
conhecemos curiosidades interessantes sobre a infância de Odisseu; como ele
conheceu o seu avô; a origem de seu nome; como ele se tornou um guerreiro e,
também; como ele conheceu Penélope e como por pouco, Helena de Tróia não o
desposou; além de muitos outros detalhes, posso ‘dizer’... “indédito” da
conhecida saga.
Esta proposta de Manfredi caiu como uma luva em toda a
narrativa de “O Juramento”, mas por outro lado, apenas em parte de “O
Regresso”. Na minha opinião, se o autor tivesse encerrado a narrativa logo após
a sua vingança contra os pretendentes de Penélope, a duologia seria encerrada ,
com chave de ouro, mas o problema foi que ele quis mais e com isso, acabou
estragando o encerramento da história.
Comentei com algumas pessoas que também leram a duologia
que tudo o que deveria ser acresentado a mais na saga de Odisseu foi feito em
“O juramento”, restando muito pouco ou quase nada a ser acrescentado em “O
Regresso”. Esse pouco foi acrescentado nos trechos envolvendo as interações de
Ulisses com Calipso, Circe e a princesa Nausicaam, filha do rei Alcino que o
ajudou o herói a regressar a Ítaca. Bastavam esses acrescimentos no enredo para
deixa-lo agradável porque já tínhamos a deliciosa narrativa de Ulisses em
primeira pessoa.
Mas o autor não entendeu dessa maneira e optou por
incluir uma nova viagem para Odisseu após o seu retorno a Ítaca. Nesta nova
peripécia, ele deveria ir até uma terra muito distante onde cumpriria uma
promessa para acalmar Poseidon, deus dos mares e pai do ciclope Polifemo, morto
çpelo herói. E foi aí que o caldou engrossou demais ou ficou ralo de mais, como
queiram. Achei essa segunda aventura de Ulisses muito chata, insípida e muito
metafórica. Resumindo: chata e confusa.
Se quiserem um conselho, leiam “O Regresso” até o
capítulo em que Odisseu mata os usurpadores de seu palácio que pretendiam
desposar Penélope e esqueçam a última viagem, sem sentido, do herói. Já aqueles
que quiserem encará-la, desejo boa sorte.
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