Ontem, quando li uma reportagem nas redes sociais – o
assunto foi publicado em diversos portais – fiquei descrente, desgostoso e
porque não, um pouco revoltado com o nosso governo. Antes que me rotulem de
lulista ou bolsonarista quero esclarecer que sou apartidário e quando uso o
termo “governo” me refiro ao conjunto de parlamentares que cuida de nosso País,
ou seja, dos nossos três presidentes: da República, do Senado e da Câmara. Uma
lei antes de ser implantada tem que passar pela chancela das três “figuras” que
ocupam essas cadeiras. Sendo assim, um não vive sem o outro. Vou mais além,
quando ‘digo’ decepcionado com o governo, me reporto a um sentido mais amplo da
palavra ‘governo’ que atinge aproximadamente 12 anos ou três sucessões. Esta
decepção se restringe a duas palavrinhas ou melhor, três: “Reforma da
Previdência”. Três palavrinhas que ferraram de cabo a rabo a vida dos
aposentados, principalmente dos aposentados por invalidez e mais principalmente
ainda, dos aposentados por invalidez com menos de 55 anos.
Cara, o sujeito já está aposentado; o médico perito,
seja ele administrativo ou judicial, constatou que o segurado não tem mais
condições de voltar ao trabalho. Não dá, isso é definitivo. Se voltar, ele
morre ou coloca a sua segurança e a de outras pessoas em risco. Não se trata de
um auxilio doença, mas de aposentadoria. Então, chega o Sr. Michel Temer com a
sua “famosa” reforma e cria um termo chamado aposentadoria por incapacidade
permanente que obriga esse aposentado a passar por perícias médicas periódicas e
também enfrentar temíveis pentes finos do INSS. Na sequência, chega o Sr.
Bolsonaro e sacramenta a proposta de Temer. E, por último, quando a maioria
acreditava que após a chegada de Lula ao Poder, os aposentados com menos de 55
anos poderiam, enfim, respirar; ele joga a pá de cal em cima da categoria
convocando para o mês de julho, um novo pente fino com o objetivo de economizar
cerca de R$ 30 bilhões no orçamento público como se esse grupo de aposentados
tivesse culpa do déficit. E, assim, lá vai os aposentados por invalidez novamente
para a forca. Portanto a culpa não é só de um governo, mas de todos eles, como
se eles estivessem agindo em conjunto. Eu, pelo menos, entendo dessa maneira.
E como esse espaço se trata de um blog literário
gostaria de fazer uma analogia dos aposentados por invalidez que tenham menos
de 55 anos com o famoso herói da mitologia grega Ulisses, conhecido também por
Odisseu. Ele é o herói que domina o poema “Odisséia” de Homero, com sua figura
corajosa e ao mesmo tempo sofredora.
Os deuses do Olimpo, especificamente, Poseidon –
conhecido na mitologia grega como o deus dos mares - fez com que Ulisses
sofresse horrores em seu retorno a Ítaca, sua Terra Natal. O herói enfrentou
todos os tipos de dissabores: sereias mortais, monstros marinhos, selvagens
carnívoros, feiticeiras dissimuladas, um ciclope antropófago e finalmente um
grupo de guerreiros glutões que queriam roubar a sua esposa, a bela Penélope.
Na minha analogia, Ulisses representa os aposentados
por invalidez; Poseidon é o governo; e finalmente, os adversários do herói - sereias,
ciclopes, monstros e o escambau a quatro - são os parlamentares que apoiaram no
passado e continuam apoiando, hoje, a tal reforma previdenciária. Incluo também
nesse rol, alguns médicos peritos que se consideram donos da verdade e deixam
de analisar os exames e demais provas apresentadas pelo periciado, simplesmente,
indeferindo o seu pedido de maneira aleatória e irresponsável.
Em sua Odisseia, somente dois personagens ajudaram
Ulisses em seu sofrimento: a deusa Atena e também Alcino, rei dos Feácios e pai
da princesa Nausicaa. A primeira sempre encontrava meios de socorrer o herói
grego dos ataques de Poseidon e de seus inimigos. O segundo, ajudou Ulisses a
regressar a Ítaca.
Na semana passada, eu até pensava que o senador
petista Rogério Carvalho representasse uma fusão desses dois personagens
considerados aliados de Ulisses mas há poucos dias, mudei a minha opinião
quando o parlamentar que é o relator do Projeto de Lei 5332 – que acaba com as
perícias revisionais e pentes finos de todos os segurados que já são
aposentados por invalidez – simplesmente faltou na sessão do Senado onde
deveria ler e defender o seu relatório em prol dessa categoria.
Agora, enquanto escrevo esse post, fico pensando com
os meus botões se nos próximos dias, semanas ou meses surgirá alguma deusa
Atena ou rei Alcino na vida dos aposentados por invalidez, principalmente
daqueles com menos de 55 anos.
A pá de cal foi jogada em cima desses aposentados –
muitos deles, certamente, votaram no atual governo acreditando em suas
promessas – vamos torcer, agora, para que algum aliado venha salvar Ulisses,
novamente.
Ah! E por “falar” em Ulisses, acabei de ler O Regresso, segundo e último volume da
duologia Meu Nome é Ninguém que
retrata as peripécias de Odisseu. No próximo post, prometo que publico a
resenha da obra
Até lá.
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