Nesta semana enquanto dava uma “zapeada” em minha
estante de livros, vi ali, meio que escondidinho, o romance As Sandálias do Pescador de Morris West
que eu havia lido em minha adolescência. Ao olhar para a sua capa,
imediatamente me lembrei de uma coleção famosa que tinha na biblioteca da minha
escola e que eu sempre levava emprestado para ler em casa. Estou me referindo a
coleção literária Grandes Sucessos Abril
Cultural que fez muito sucesso no início dos anos 80. As Sandálias do Pescador foi a porta de entrada que me levou a
lembrar de outros títulos dessa coleção. Esta mesma “porta” me levou para mais
uma coleção famosa, cujos livros eu devorava e amava: Mestres do Horror e da Fantasia. Gostava tanto que até rendeu uma
postagem especial no blog (ver aqui).
A partir daí refleti porquê não escrever um post sobre
as séries de livros que marcaram gerações de leitores dos anos 70 e 80? Foi
assim que “pintou” esse texto que você está lendo agora.
Selecionei seis coleções literárias que fizeram a
cabeça de muitos leitores nessas duas décadas. Não importa se eram vendidas em
bancas ou livrarias, o sucesso era o mesmo. Vamos a elas.
01
– Grandes Sucessos Abril Cultural
É evidente que vou começar com a coleção que me
inspirou a escrever esse post. Grandes
Sucessos foi uma coleção de obras literárias que obteve grande êxito, publicada
pela Abril Cultural entre os anos de 1980 e 1983.
A coleção foi lançada no segundo semestre de 1980,
tendo como primeiro título O Dia do
Chacal, ao custo então de Cr$ 95,00. A coleção completa chegou a 113 livros
na Série Branca e 24 livros na Série Ouro que tinha a capa preta. O sucesso da
coleção levou a editora a trabalhar com tiragens médias de 100 mil exemplares
por obra.
Verdadeiros clássicos fizeram parte dessa coleção,
entre os quais: O Chefão (Mario
Puzo), Um Certo Capitão Rodrigo
(Érico Veríssimo), O Colecionador (John
Fowles), Carrie (Stephen King), O Exorcista (Wiiliam Peter Blatty),
entre outros.
Os livros da série Grandes
Sucessos Abril Cultural eram vendidos nas bancas de revistas e jornais. Não
tenho a informação se a tiragem das obras era mensal, bimensal ou então sem uma
periodicidade definida.
02
– Mestres do Horror e da Fantasia
A coleção Mestres do Horror e da Fantasia começou a ser publicada pela editora Francisco
Alves em 1981. Logo de cara, lançou Eu Sou a Lenda de Richard Matheson; depois vieram outros lançamentos que
fizeram a alegria dos leitores do gênero de terror e suspense. Vale lembrar que
grande parte dos livros, hoje raros, de Stephen King, fizeram parte dessa
coleção. Vou citar alguns: A Metade Negra,
Depois da Meia-Noite, Trocas Macabras, Os Estranhos e do raríssimo – quase extinto nos sebos - Os Livros de Bachman.
A coleção teve ainda outros títulos famosos: A Assombração da casa da Colina (Shirley
Jackson), A Ilha do Dr.Moreau (H.G.
Wells) e As Máquinas do Prazer (Ray
Bradbury). Os exemplares da Francisco Alves publicaram até mesmo uma raridade: Miniaturas do Terror, o único livro de
Tabitha King, esposa de Stephen King, lançado no Brasil.
Em 1993, o sonho terminaria com o anúncio feito pela
editora de que a sua famosa coleção havia chegado ao fim. O seu lançamento
derradeiro foi Trocas Macabras de
Stephen King em 1992. Depois Zéfini.
Hoje, a maioria das obras que fazem parte de Mestres do Horror e da Fantasia são
consideradas raras e com preços nas nuvens só podendo ser encontradas em
pouquíssimos sebos.
03
– Supersellers
A Record é considerada a editora pioneira na venda de
livros em bancas de jornais e revistas. Tenho vários títulos da Record em minha
estante e que na década de 1980 e meados de 1990 fizeram um baita sucesso nas
prateleiras das bancas sendo muito procurados. Sei disso porque esses livros
foram presentes de um amigo que tinha o hábito de compra-los em bancas de
jornais e revistas. Entre eles posso citar: O
Milagre de Irving Wallace e A
Profecia de David Seltzer.
Estes livros da Record vendidos nas bancas faziam
parte do selo Supersellers e
inicialmente tinham a encadernação no formato brochura, mas devido as vendas
que superavam todas as expectativas, a editora resolveu apostar alto e assim,
em 1995, investiu US$ 250 mil em publicidade televisiva – uma fortuna para os
padrões da época - para relançar a série, mas desta vez em capa dura reunindo
autores consagrados como Sidney Sheldon e Mario Puzo.
O empreendimento foi lançado em parceria com a editora
Altaya, que entrava com os custos de impressão das obras. A venda em bancas foi
um achado para a Record, segundo a diretora da editora, naquela época, Luciana
Villas-Boas.
Essa foi a terceira coleção que a Record lançou para
venda em bancas e a que mais vendeu. As anteriores foram Mostra de Literatura Contemporânea e as obras da escritora Agatha
Christie.
04
– Edibolso
No final dos anos 60 e início da década de 70, os
livros de bolso explodiram em vendas em todo o Brasil. Foi a época de ouro de
editoras como a Prisma, Melhoramentos; Dominus, Artenova e muitas outras. Mas
acredito que a mais famosa e com o maior número de vendagem de suas edições foi
a Edibolso que antecedeu as editoras Monterrey, Ediouro e Martin Claret - a
Martin Claret continua em atividade até hoje.
A história da Edibolso começou em 1971, a partir de
uma sociedade entre a Editora Abril (sócia majoritária), a Bantam Books, a
Difel, a Record e a Círculo do Livro, com a intenção de disponibilizar um
catálogo variado e que pudesse ser vendido em bancas. Dessa maneira, nascia o
selo Edibolso que fez um grande sucesso nas bancas de jornais e revistas. Suas
obras abrangiam ficção e não-ficção de autores nacionais e estrangeiros. Mas
ela não teve vida longa: encerrou as atividades em 1978, com uma centena de
livros de bolso publicados.
Verdadeiras obras primas foram lançadas pela Edibolso
no formato edição econômica, entre eles: O Destino do Poseidon (Paul Gallico), As Vinhas da Ira (John Steinbeck), 2001
– Uma Odisséia no Espaço (Arthur C. Clarke) e A Revolução dos Bichos (George Orwell).
O slogan famoso utilizado pela Edibolso e que ficava
fixado nos expositores de livros era: “Edibolso – Livros Gostosos por Preços
Gostosos”. Simples, mas objetivo, não acham? (rs).
05
– Vagalume
Muitos adultos se orgulham em dizer sem medo, vergonha
ou receio, que autores como Lúcia Machado de Almeida, Maria José Dupré e José
Rezende Filho continuam sendo importantes em suas vidas de leitor ou então que
“O Escaravelho do Diabo” foi um dos melhores enredos policiais já lidos.
Acreditem! As obras daquele vagaluminho simpático de boina, cavanhaque, calça
boca-de-sino e medalhão presente no logotipo da série tinham esse poder.
A autora que inaugurou a série de livros da Vagalume
foi Maria José Dupré com o título A Ilha Perdida que pode ser considerado o
marco inicial dessa famosa coleção. A obra foi publicada em 1973. Na
realidade, o lançamento da Ática, era uma terceira edição da obra, publicada
originalmente em 1944.
Outras obras que fizeram parte dos primeiros títulos
da “Vaga-lume” também eram consagradas do grande público, como Éramos Seis (1943) da mesma Maria José Dupré e O
Feijão e o Sonho (1949) de Orígenes Lessa. Após as reedições desses livros da
fase inicial da Vaga-lume, viriam, então, as obras inéditas escritas pelos
novos autores ou aqueles escritores ‘reciclados’ da velha guarda.
Muitos leitores da série - jovens de ontem e adultos
hoje – tem como tema principal em suas rodas de discussão a polêmica sobre qual
foi o maior sucesso entre todos os livros lançados pela Vaga-lume. E olha que a
lista de candidatos é enorme; mas se formos fazer uma pesquisa entre os fãs da série, com
certeza O Escaravelho do Diabo, de Lúcia Machado de Almeida ganharia a
enquete.
Enfim, a coleção Vagalume pode, tranquilamente, ganhar
o carimbo de “antológica” pois fez parte da vida de uma grande geração de
leitores brasileiros. Aqueles que quiserem saber mais sobre as origens dessa
série bastam acessar uma postagem especial (confira aqui) onde conto os
primórdios da Vagalume.
06
– Círculo do Livro
Fecho essa lista com o Círculo de Livro que não poderia faltar nessa lista de maneira
alguma. As obras publicadas por essa editora que implantou um dos primeiros
clubes de assinatura de livros do País se tornaram antológicas e fizeram parte
da vida da maioria dos leitores brasileiros. Lembro aqueles que quiserem
conhecer um pouco mais a fundo a história do Círculo do Livro que publiquei nos primórdios do blog, em 2012, um
post especial sobre o assunto (confiram aqui).
A editora surgiu em 1973 através de um acordo firmado
entre o Grupo Abril e a editora alemã Bertelsmann e vendia livros por um
"sistema de clube", onde a pessoa era indicada por algum sócio e, a
partir disso, recebia uma revista quinzenal com dezenas de títulos a serem
escolhidos. O novo sócio teria então a obrigação de comprar ao menos um livro
no período.
Foram reunidos até 1975 duzentos e cinquenta mil
sócios, número que dobrou em 1978.
Em 1982, as vendas alcançaram cinco milhões de
exemplares, totalizando dezessete milhões nos primeiros dez anos de existência
da Círculo.
O Círculo do Livro funcionou até 1990 e durante o
período em que esteve ativa publicou vários livros de sucesso, em capa dura,
que ainda podem ser encontrados nos sebos espalhados pelo Brasil afora.
Taí galera, espero que tenham gostado e rememorado
essas coleções de obras literárias que marcaram as nossas vidas de devoradores
de livros.
Inté!
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