“Se você os tiver guarde a sete chaves, se não os
tiver apenas sonhe, pois dificilmente os terá um dia”. Usei essa frase para
escrever uma postagem há mais de 12 anos, ainda nos primórdios do blog (confira
aqui). Foi um post sobre livros raros que naquela época haviam deixado de ser
publicados há ‘muuuuitos’ anos. Alguns deles foram relançados após poucas
editoras terem percebido, mesmo tardiamente, a importância dessas obras e o
brado popular de muitos leitores que exigiam um relançamento. Por outro lado,
ainda há livros que continuam com o status de raros não sendo encontrados nem
mesmo em sebos e quando o são, os preços exorbitantes assustam o mais calmo dos
leitores.
Neste post selecionei cinco livros raríssimos que já
estão merecendo um relançamento – de preferência em edição luxuosa – há muito
tempo. Quem sabe, alguma editora desperte de sua hibernação literária e assim,
resolva relançar estas obras incríveis que infelizmente sumiram das livrarias e
dos sebos. Vamos a elas.
01
– Primeiro Sangue (David Morrell)
Primeiro Sangue de David Morrell publicado originalmente em 1972
ganhou notoriedade após o lançamento do arrassa quarteirões chamado “Rambo”. O
filme produzido em 1982 transformou Sylvester Satallone num dos atores de filmes de ação mais
rentáveis de Hollywood nos anos de 1980; fama que carregou nas costas até há
pouco tempo. Quanto a “Rambo” virou uma das sagas cinematográficas mais
icônicas de todos os tempos, tanto é que rendeu outras quatro continuações.
Após o sucesso do filme de 1982, o livro de Morrell
foi relançado nesse mesmo ano, mas com a capa do filme, depois... caiu no
esquecimento das editoras, mas não no esquecimento dos leitores e até mesmo
cinéfilos que passaram a exigir uma republicação da história. Infelizmente todo
esse clamar popular não foi atendido, até agora, por nenhuma editora.
Há alguns anos surgiram comentários de que a DarkSide
havia decidido relançar essa preciosidade, mas os comentários ficaram apenas
nos comentários, já que a “caveirinha” não se pronunciou sobre o assunto. Uma pena.
Li Primeiro
Sangue – tenho o livro, ufaaaa!! – e posso garantir que o enredo é muito
diferente do filme; bem mais profundo e tenso. Vamos torcer para que alguma
editora acorde e perceba a importância desse livro.
02
– “Duro de Matar” (Roderick Thorp)
Ufaaaaa! Também tenho. Há muitos anos atrás, quando
ainda não havia ganhado o status de raro, adquiri a obra de Roderick Thorp num
sebo e acredite: a preço módico. Trata-se de mais um livro que rendeu um filme
famoso de ação. Tão famoso que acabou se tornando uma saga cinematográfica com
seis filmes.
Nothing
Lasts Forever (Nada
Dura para Sempre, traduzido ao pé da letra) publicado originalmente em 1979
só foi lançado no Brasil após o sucesso do filme “Duro de Matar” com Bruce
Willis e que bombou nos cinemas em 1988. Portanto, o livro de Thope no qual o
filme foi baseado só chegou nas livrarias brasileiras, nove anos após a sua
publicação original. E chegou no Brasil com o mesmo nome e também a mesma capa
do filme. A editora Record, na época, optou por dispensar o título original do
livro de Thorpe.
A obra teve uma passagem rápida pelas livrarias já que
a Record decidiu não colocar no mercado novas edições e assim, o livro foi
sumindo... sumindo... sumindo, até se extinguir das prateleiras das livrarias e
dos sebos.
Como acontece com qualquer adaptação, existem
diferenças entre o romance de Thorp e o filme. No livro, o nome do herói é
Joseph Leland, que, como John McClane, é um policial de Nova York. Embora o
filme com Bruce Willis e o livro sejam diferentes em algumas áreas, Duro de
Matar incluiu muitas das sequências de ação de Nothing Lasts Forever (confiram a resenha que fiz sobre o livro
aqui).
Ah! Ia me esquecendo; encontrei um único exemplar no
portal da Estante Virtual pela “bagatela” de R$ 129,00!
03
– O Visconde de Bragelonne (Alexandre Dumas)
Este livro de Alexandre Dumas fecha a história da saga
dos mosqueteiros composta pelos livros: Os
Três Mosqueteiros, Vinte Anos Depois
e O Visconde de Bragelonne. O detalhe
é que a história foi publicada por Dumas no formato de folhetim – como fez com O Conde de Monte Cristo – e por isso,
décadas depois, quando foi lançada no formato livro chegou a ter 10 volumes com
aproximadamente 300 páginas cada.
Que eu saiba, a última edição de O Visconde de Bragelonne aconteceu nos anos 60 pela editora Saraiva
que colocou no mercado 6 volumes. Antes tivemos publicações da editora Lello,
se não me falhe a memória em sete volumes e ‘mais antes ainda’, lá pelos anos
50, a Livraria Fittipaldi Editora publicou a história em dez partes. Além
dessas edições temos ainda um ‘resumão’ da história – de apenas 149 páginas,
direcionando ao público infantojuvenil lançado pela editora Melhoramentos em
1964. Depois disso, nenhuma outra editora ousou publicar a última parte da saga
Os Três Mosqueteiros.
Se alguém desejar concluir a leitura da antológica
trilogia de Dumas, terá de recorrer aos sebos e torcer para encontrar O Visconde de Bragelonne em seis, sete
ou dez volumes; sem contar a tradução desatualizada, ortografia antiga e o
risco de topar com livros em estado precário de conservação. Quanto ao resumão
da Melhoramentos, esqueça. Cara, resumindo: é muito pouco dos nossos editores
com um enredo considerado essencial para a conclusão das aventuras dos quatro
inseparáveis mosqueteiros.
É muita tortura você ter em mãos edições luxuosas de Os Três Mosqueteiros e Vinte Anos Depois, mas depois ficar
chupando o dedo por um terceiro livro que você sabe... não “existe” - pelo menos numa nova edição.
Fica aqui, um recadinho para a editor Zahar: “Poxa
vida, vocês lançaram em edições luxuosas: Os
Três Mosqueteiros e Vinte Anos Depois
e agora empacaram na conclusão da saga?! Sem contar que relançaram O Conde de Montecristo que a exemplo de O Visconde de Bragelonne foi escrito no
formato de folhetim. Por que não fazer o mesmo com o “nosso” Visconde?
04
– Depois da Meia-noite (Stephen King)
Depois
da Meia-noite é uma coletânea de novelas escritas por
Stephen King em 1988 e 1989 e publicadas em agosto de 1990. É seu segundo livro
desse tipo, sendo o primeiro As Quatro
Estações. A coleção ganhou o Prêmio Bram Stoker em 1990 para Melhor Coleção
e foi indicada ao Prêmio Locus em 1991.
O livro de 667 páginas e que se tornou o sonho de
consumo de 10 em cada 10 fãs de Stephen King reúne quatro noveletas – Os Longoliers, Janela Secreta, Secreto Jardim, O
Policial da Biblioteca e O Cão da
Polaroide. Desses contos, dois foram adaptados para as telas: Longoliers e Janela Secreta, Secreto Jardim. O primeiro foi parar na TV em 1995,
se não me engano na Rede Record, no formato de uma minissérie chamada “Fenda no
Tempo”; enquanto que o segundo acabou ‘aterrissando’ nos cinemas com o título
resumido de “Janela Secreta” com ninguém menos do que Johnny Depp no papel de
protagonista.
Depois
da Meia-noite foi lançado pela editora Francisco Alves
em 1992 e depois disso não teve nenhuma outra edição.
Se, por acaso, você tem esse livro, escute o meu
conselho: jamais o empreste, nem mesmo para o seu pai, muito menos para o seu
irmão. Guarde-o num cofre e esconda a chave.
Agora se prepare para o susto. Sugiro que tome algum
calmante antes de ler as próximas linhas. Vamos lá: pesquisei bastante na
internet e só consegui encontrar um exemplar usado num sebo filiado a Amazon
pelo valor de... já tomou o calmante? Então lá vai: R$ 550,00!!
Putz Suma!! Tenha piedade de todos nós, fás de King, e
coloque logo esse livro na série Biblioteca
Stephen King!
05
– A Casa do Passado (Algernon Blackwood / Heloisa Seixas)
Quer levar mais um susto? Que tal pagar R$ 300,00 por
um livro usado com aproximadamente 300 páginas? Entonce, esse é o valor de A Casa do Passado na Estante Virtual. Já
um livreiro da Amazon teve um pouco mais de compaixão e resolveu fazer um corte
menos profundo no bolso dos leitores: R$ 170,00. Qual outra prova será
necessária para que os editores aqui da terrinha entendam a importância dessa
obra e o quanto ela está merecendo uma republicação? Acho que essas editoras
estão morgando.
A
Casa do Passado é uma antologia de contos de terror do
inglês Algernon Blackwood, um mestre do gênero, redescoberto no Brasil pela
jornalista e escritora Heloisa Seixas. A obra reúne histórias como Os salgueiros, sua obra-prima, O quarto ocupado, A Ala Norte e A boneca,
clássicos da literatura de horror.
Esta é a terceira coletânea de contos de terror
organizada e traduzida por Heloisa Seixas. A obra foi lançada em 2001. Os
personagens dos contos de Blackwood vivem situações horripilantes, que não
imaginaríamos nos nossos piores pesadelos. São pessoas comuns, subitamente
envolvidas em histórias que fogem ao controle da lógica e do que pode ser
explicado.
Blackwood, que já foi tão famoso quanto seus
contemporâneos Bernard Shaw, H. G. Wells e Conan Doyle, caiu em esquecimento
logo após sua morte, há cerca de 50 anos. Hoje, os milhares de fãs do gênero,
ávidos por uma história angustiante cercada de sustos, fantasmas e surpresas
estão sofrendo porque não conseguirem encontrar mais o livro e quando o
encontram quase caem de costas por causa dos preços “milionários”.
Parabéns à Heloísa Seixas pela sua iniciativa em
resgatar esse importante autor e a minha indignação por nenhuma editora ter
tomado, até agora, a iniciativa de relançar essa coletânea antológica de contos
de terror.
Valeu galera!
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