Não Confie em Ninguém

13 janeiro 2021

Uma morte desnecessária e um final decepcionante, daqueles que broxa qualquer leitor. Estes são os dois erros cruciais de Não Confie em Ninguém de Charlie Donlea. É uma pena porque o enredo é muito bom, ou melhor, ótimo. O autor conta a história de Sidney Ryan, repórter e também cineasta especializada em documentários e que trabalha numa famosa rede de televisão. O destino de Sidney acaba se cruzando com o de Grace Sebold, uma promissora estudante de medicina acusada da morte de seu namorado durante uma tranquila viagem ao Caribe. Condenada por um crime surreal, ela embarca num pesadelo que parece não ter fim.

Quando completa dez anos de prisão, Grace conhece a cineasta e surge então a chance de provar a sua inocência. Sidney acredita na versão de Grace e mergulha de cabeça em pesquisas e descobre evidencias surpreendentes e diversas falhas no inquérito e no processo que condenaram a estudante de medicina. Tudo leva a crer que ela foi vítima de uma conspiração. Dessa forma, Sidney decide produzir um documentário contando a história de Grace.

Os primeiros episódios do documentário vão ar e rapidamente o programa se torna um dos mais assistidos da história da televisão. Antes do término das filmagens, o clamor popular leva o caso a ser reaberto. Finalmente a sorte de Grace parece ter mudado. Mas será que Grace é mesmo inocente ou estaria, apenas, manipulando Sidney para se ver livre da prisão? Grace foi vítima de uma intricada trama conspiratória ou se trata de uma assassina fria e manipuladora?

O plot criado por Donlea é genial e prende o leitor como uma teia de aranha. A sacada do autor em fazer com que Sidney produza um documentário em tempo real é fantástica. Durante uma reunião com os magnatas da rede de TV onde trabalha, a jornalista propõe a realização de um documentário onde os fatos são apresentados ao público praticamente no momento em que estão acontecendo, ou seja, não se trata de um documentário concluído com início-meio-fim, pronto para ir ao ar. Neste projeto inovador, tudo o que Sidney descobre durante a semana, os seus telespectadores também ficam sabendo naquela mesma semana. Isto faz com que o último episódio do documentário chamado “A Garota de Sugar Beach” se transforme numa incógnita já que a cineasta não sabe o que vai descobrir e, nós, leitores, também embarcamos nesse clima de incerteza, tensão e curiosidade fazendo com que cada página seja devorada com avidez.

As reviravoltas no meio da trama, algumas do tipo “Não acredito!” também ajudam a prender a atenção dos leitores ainda mais. Você fica sem saber se Grace está sendo sincera ou se está fingindo. Os outros suspeitos que aparecem na trama também contribuem para aguçar ainda mais a curiosidade da galera.

Outro ponto positivo no livro são os personagens secundários hiper-carismáticos como o detetive aposentado Gus Morelli e a impagável Drª Lívia Cutty, médica legista e especialista em casos criminalísticos. Aliás, esta personagem já apareceu em Deixada para Trás, outro livro de Donlea. Tanto Gus quanto a Drª Lívia são fantásticos. O irmão de Grace e sua amiga íntima – Marshall e Ellie, respectivamente – também despertam o interesse com todas as suas auras de mistério. Mas então, vem aquela morte completamente desnecessária somada aquela conclusão horrível da história. Uma bos@@. Tipo, fiz tudo certinho, mas no final joguei merda no ventilador.

Fico imaginando um “The End” decente e, claro, sem aquela morte dos diachos que jamais deveria ter acontecido, aliado ao plot twist final da história – que é muito bom . Se isso ocorresse teríamos um enredo perfeito. Cara o que será que deu no Donlea? Sofreu algum apagão quando terminava de escrever o final do enredo?

Juro que ao chegar no encerramento de Não Confie em Ninguém fiquei com a impressão de que o meu livro veio faltando algumas páginas. Infelizmente o desenlace apressado fez com que muitos fios ficassem soltos na trama, além daquele final do tipo “em aberto” que, certamente, deixou muitos leitores morrendo de raiva e... decepcionados.

Um comentário

  1. Para mim o que foi ruim não foi o final aberto. Foi a revelação do assino.

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