De amputações tresloucadas a medicamentos bizarros. Três livros que mostram os horrores da medicina no passado

19 outubro 2020


O meu sonho quando criança sempre foi o de ser médico. Este sonho durou até os meus 18 anos quando surgiu uma segunda paixão em minha vida: o jornalismo. Esta paixão teve início de uma maneira avassaladora, tão logo comecei a trabalhar na rádio da minha cidade. Apesar de jovem, já me escalaram, de cara, no setor de jornalismo. Comecei como office de redação, depois repórter, depois produtor e assim foi indo. Ao ver a engrenagem do sistema responsável pela transformação de fatos em notícias, pirei. – Cara, é isso que eu quero! – exclamei na época. Mas confesso que a paixão pela medicina ainda permanece escondidinha bem no fundo do meu coração. Sabe aquela pequena brasa que sobrou de uma imensa fogueira? Pois é, coisa desse tipo.

Por isso, ainda sou um grande apreciador dos livros sobre o tema. ‘Volta e meia’ lá estou eu à procura de alguma obra sobre história da medicina, principalmente aquelas que abordem a sua evolução através dos tempos. Isto explica porque sai correndo para comprar “Medicina dos Horrores”, um livro que devorei em tempo recorde.

Esta brasinha que insiste em permanecer viva elucida também o motivo dessa postagem. Num primeiro momento pensei em contar um pouco sobre a minha odisseia de menino sonhador – em ser médico – até ter se transformado num menino jornalista amante de livros. Mas então, pensei comigo: - Lá vem mais divagações que me farão fugir da proposta do blog que é ‘falar’ sobre livros. Assim, resolvi unir o útil ao agradável e juntar as duas propostas: fazer uma rápida introdução com as minhas já conhecidas divagações e logo na sequencia fazer esse blog cumprir o seu papel que é o de informar literariamente os seus leitores.

Escolhi três livros que abordam a evolução da medicina. Li um e adorei, mas pretendo ler os outros dois. Sei que a exemplo de mim, tem muitas pessoas que acompanham esse blog e que são grandes fãs de livros do gênero, afinal não é preciso ser médico para gostar de obras sobre medicina. Concordam? O tema é muito sedutor para ficar restrito apenas à classe dos nossos doutores de branco.

Sem mais delongas vamos aos livros; aliás livraços!

01 – Medicina dos Horrores  (Lindsey Fitzharris)

O livro é fantástico, pois a autora numa linguagem fluída e descomplicada faz com que os leitores tenham uma ampla noção de como era a prática da medicina no século XIX e a luta de um jovem cirurgião chamado Joseph Lister em adotar métodos antissépticos que evitassem as infecções pós-operatórias que matavam milhares de pacientes naquela era.

Hoje, a assepsia se tornou uma pratica comum e ao mesmo tempo obrigatória, mas é difícil acreditar que nem sempre foi assim. Exemplo disso é que até meados do século XIX ela não existia e assim, as cirurgias eram repletas de sangue, dor e podridão.

Medicinados Horrores não se resume apenas a uma biografia de Lister com detalhes curiosos sobre a sua vida. O livro é muito mais do que isso. A autora descreve como foi descoberto o primeiro anestésico, o que levou os médicos a realizarem cirurgias mais demoradas; antes esses procedimentos ficavam restritos às amputações. Ela ainda relata casos de cirurgias complexas – que apesar da falta de assepsia – já eram realizadas naquele tempo, como tumores malignos no rosto e nas mamas. Os leitores ainda terão a oportunidade de conhecer os médicos famosos da década de 1800, como Robert Liston que foi considerado o cirurgião mais rápido do mundo. Ele ficou famoso pelo inusitado talento de amputar uma perna em menos de 30 segundos.

Mas – pelo menos no meu caso – o que me chamou mais a atenção foram os capítulos dedicados a Liston que mostraram como foi a sua luta para mudar o panorama caótico das cirurgias do século XIX, fazendo com que elas deixassem de ser realizadas nos teatros abarrotados de pessoas e passassem para as salas cirúrgicas dos hospitais com todos métodos antissépticos necessários.

02 – Medicina Macabra (Thomas Morris)


Medicina Macabra
do novo selo Macabra da DarkSide Books será a minha próxima aquisição, com certeza. Estou louco para ler esse livro, principalmente depois da maioria dos comentários positivos sobre a obra.

O autor, Thomas Morris escreve sobre as superstições e tradições folclóricas que influenciaram a Medicina por um bom tempo. Ele também conta vários casos de médicos do passado que foram capazes de encontrar soluções e aplicar tratamentos bem sofisticados.

Enquanto pesquisava para escrever seu primeiro livro, Morris fez uma descoberta um tanto quanto… curiosa: entre dissertações cheias de linguagem técnica e textos desafiadoramente longos, pérolas divertidas e grotescas sobre casos bizarros estavam escondidas. Muitos destes relatos eram bons demais para serem esquecidos na literatura médica, e ele decidiu fazer uma seleção irresistivelmente peculiar. Da Holanda do século XVII até a Rússia czarista, da zona rural do Canadá até um baleeiro no Pacífico. De acordo com release promocional da editora, Medicina Macabra é uma reunião de casos insólitos da história da Medicina que ocorreram em um período de trezentos anos. Alguns desses relatos são angustiantes ou comoventes, outros são macabros, mas todos oferecem algo mais além do que uma boa anedota. Por mais constrangedoras que sejam as enfermidades, por mais estranhos que sejam os tratamentos, todos esses casos expressam algo sobre as crenças e a sabedoria de uma época.

Um dos casos mais macabros descritos pelo autor envolve uma família inteira que sofria de dores e por isso, ao médicos decidiram amputar as pernas para acabar com o sofrimento. Cruzes!!

Há outro caso de um paciente, cujo um de seus dentes, simplesmente, explodiu! É, do nada! E quando você comeu uma alface fresca e dois dias depois lesmas saíram pela sua boca? Ecaaa!

Pois é,  Medicina Macabra traz relatórios de casos verídicos, escritos por médicos que relataram aquilo que viram e fizeram, obtidos a partir de livros, panfletos, cartas e bilhetes. Remédios irremediáveis, curas extraordinárias, cirurgias que tinham tudo para dar errado, casos insólitos e lamentáveis embaraços.

Como já disse, está em minha lista.

03 – 30 Histórias Insólitas Que Fizeram a Medicina (Jean-Noel Fabiani)

O livro da editora Vestígio também parece ser muito bom. É outro que também estará entrando em minha lista de leitura. À exemplo de Medicina dos Horrores e Medicina Macabra, a obra recebeu muitos elogios dos leitores.

Jean-Noel Fabiani que é chefe do departamento do Hospital Europeu Georges-Pompidou em Paris, onde dirige o departamento de cirurgia cardiovascular, revela que os cirurgiões muitas vezes se esquecem de que devem sua profissão a um certo Félix de Tassy, um barbeiro que, em 1686, conseguiu curar finalmente a fístula anal do rei Luís XIV. A seu pedido, o soberano instituiu a cirurgia como profissão de direito.
Quem não sabe hoje que lavar as mãos é a maneira mais fácil de evitar contaminações? Fabiani revela, no entanto, que em 1850, Inácio Semmelweis sofreu críticas duríssimas por ter implorado a seus colegas que observassem essa regra (hoje) básica de higiene, a fim de salvar jovens gestantes que morriam, uma após a outra, de infecções durante o puerpério.
Segundo a editora Vestígio, o livro traz 30 histórias insólitas que fizeram a medicina. Desde os tempos antigos até o primeiro transplante de coração, são apresentados figuras e acontecimentos que estão muitas vezes na origem das maiores descobertas médicas: Horace Wells, descobridor da anestesia; Barão Larrey, que amputou os feridos na noite da sangrenta Batalha de Eylau; e mesmo o velho Hipócrates, cujo juramento os médicos repetem até os dias de hoje.
Taí galera! Espero que os amantes da medicina, mesmo não sendo médicos, tenham apreciado essas indicações.

Valeu!

 

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