Algumas pessoas que leram o texto integral de O Conde de Monte Cristo de Alexandre
Dumas acharam a história maçante e com isso acabaram abandonando a leitura.
Vejam que eu disse apenas “algumas pessoas” porque a grande maioria amou o
enredo. Fui um desses que devorou o livro. Amo histórias com muitos diálogos.
Prefiro esse tipo enredo ao invés daqueles com excesso de descrições. Sei lá,
acho esse tipo de texto muito cansativo, por isso quando leio alguma obra com
uma torrente de diálogos entre os seus personagens, caráculas! Como me deleito!
Taí o motivo de ter me dado tão bem com o Conde.
Posso dizer que no livro de Dumas, os personagens
conversam à vontade, sem nenhuma vergonha. E isso deixa evidente o quanto o
autor era bom; um verdadeiro gênio, porque escrever um enredo com mais de 1.300
páginas recheadas de diálogos não é para qualquer um. Tenho o hábito de dizer
que você conhece um escritor diferenciado quando ele consegue colocar na boca
de seus personagens frases interessantes. Na minha opinião, um autor que tem
dificuldades para escrever diálogos é um profissional limitado, com raríssimas
exceções, sendo uma dessas exceções – aliás, a única que eu conheço – um dos
mestres do terror chamado H.P. Lovecraft que sofria uma atrapalhação danada
quando ia compor alguns diálogos para os personagens de suas histórias; e
quando conseguia, eles eram, simplesmente, sofríveis. Por isso, os seus livros
são tão descritivos, aliás, descritivos a exaustão. Mesmo assim, Lovecraft
conquistou – merecidamente – o seu espaço na galeria dos escritores
diferenciados.
Além dele, juro que não conheço mais ninguém que tenha esse tipo
de dificuldade e possa ser considerado um escritor talentoso.
Mas vamos voltar ao assunto principal desse post.
Estava me referindo aos diálogos de O
Conde de Monte Cristo. Pois é, eles são cativantes. Galera, é como se o
leitor estivesse ali, dentro do contexto da narrativa, ouvindo ou participando
da conversa entre os personagens.
Dumas constrói diálogos marcantes. Emocionei-me com
as conversas entre Valentine e seu amor secreto, Maximilien Morrell, além do
seu avó Nortier; queria voar nas gargantas de Mondego, Danglars e Caderousse no
momento em que conversaram, ardilosamente, preparando a armadilha que levaria
Edmond Dantès à prisão no Castelo de If; me diverti demais com as peripécias de
Luigi Vampa, Peppino e o todo o seu núcleo de bandidos; me apaixonei por
Haydée, putz que personagem... e, finalmente, fiquei comovido com a amizade
entre Dantès e o abade Faria. Ah! Quanto a Mercedes, a noiva de Dantès, vivi
uma tempestade de sentimentos: raiva, carinho, decepção, pena, tudo misturado.
Acredito que todo esse rol de emoções só foi possível
graças aos diálogos perfeitos entre os personagens envolvidos na ação. Dumas
não economizou nas ‘conversações’. Talvez, por isso, os poucos leitores que não
gostaram da obra sejam aqueles que não são tão adeptos dos enredos com essa
característica, preferindo aqueles mais descritivos.
O
Conde de Monte Cristo foi publicado, inicialmente, como
Folhetim de 1844 a 1846, o livro conta a história de um marinheiro que foi
preso injustamente, após ter sido vítima de uma trama ardilosa armada por três
pessoas que ele julgava ser seus amigos. Nas masmorras do Castelo de If,
conhece o abade Faria de quem fica amigo. Quando o abade morre, ele escapa da
prisão e toma posse de uma misteriosa fortuna. O marinheiro, agora em condições
financeiras, pode vingar-se daqueles que o levaram à vida de prisioneiro.
É considerado, juntamente com Os Três Mosqueteiros, uma das mais populares obras de Dumas, e é
frequentemente incluída nas listas de livros mais vendidos de todos os tempos.
Vale lembrar que eu já havia lido O Conde de Monte Cristo antes, mas na
versão infantojuvenil com pouco mais de 300 páginas (aqui). Gostei tanto da história
que acabei me interessando pela edição integral. Escolhi o box da editora Zahar
com a edição comentada e ilustrada que está divino.
A tradução viva do texto integral feita por André
Telles e Rodrigo Lacerda é uma verdadeira pérola. Tão bem feita que foi a vencedora
do prêmio Jabuti em sua categoria. O box da Zahar tem dois volumes com 170
gravuras de época e mais de 500 notas explicativas, além de uma rica
apresentação e cronologia de vida e obra do autor. A versão impressa da Zahar apresenta
ainda capa dura e acabamento de luxo.
Recomendo muito, não só pelo seu visual esmerado,
mas principalmente pela qualidade de seu texto, e claro... pela qualidade dos
diálogos.
Inté!
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