10 livros que encontrei nas bibliotecas em minha adolescência e me fizeram viajar

05 julho 2020

Certo dia estava recordando minha época de leitor adolescente, quando eu era um verdadeiro rato de biblioteca. Foi uma recordação muito gostosa, tão gostosa que me prendi a ela e não queria mais soltá-la. Época em que saía da escola e me engolfava no meio daquele ‘mar’ de livros das bibliotecas municipal ou então da minha antiga escola ginasial. É claro que tinha os meus momentos para paquerar ou frequentar brincadeiras dançantes nos porões das casas dos meus amigos regadas ao som dos saudosos vitrolões; mas confesso que estar no meio daquele montão de ‘bebês’ era algo pra lá de especial.
Por isso, hoje resolvi compartilhar essa recordação com a galera, escrevendo um post com os dez livros que marcaram esse momento especial em minha vida. Dez livros que conheci nas biblioteca dos anos 70 em minha cidade e amei. Vamos a eles:
01 – O Destino do Poseidon (Paul Gallico)
Na minha adolescência era apaixonado por livros que tinham as suas histórias adaptadas para o cinema. Na década de 1970 recordo que fiquei fissurado num filme em que um enorme transatlântico, após ser atingido por um vagalhão, virava de cabeça para baixo, fazendo com que um grupo de sobreviventes lutasse para chegar ao casco antes que a embarcação afundasse. Apesar de ser apenas um ‘crianção’ naquela época, recordo que na produção cinematográfica tinha um pastor atlético que assumia o papel de líder do grupo; um tira grosseiro casado com uma mulher loira, mimada e mal educada; além de uma senhora gorda e simpática que no meio do filme, num gesto heroico colocava a vida em risco para salvar os seus companheiros.
No dia seguinte, após ter assistido ao filme, fui correndo até a biblioteca da minha escola e passei horas e horas lendo O Destino do Poseidon de Paul Gallico e admirando as suas ilustrações. Acabei me apaixonando pelos personagens.  Anos depois, já adulto, o tal do livro voltou a minha memória reativando toda aquela vontade louca de relê-lo. Foi quando decidi que o encontraria de qualquer maneira, custasse o que custasse. Consegui através de um livreiro.
02 – Os Três Mosqueteiros (Alexandre Dumas)
Os Três Mosqueteiros do escritor francês, Alexandre Dumas (pai) faz com que me lembre da minha época de estudante primário. Certo dia, naquele tempo, a minha professora Dona Conceição, pediu para que a nossa classe lesse o livro de Dumas para que aprendêssemos o significado da verdadeira amizade. Todos os alunos formaram os seus grupos de leitura e, então, começamos a devorar a história. Líamos uma parte na escola e depois aprofundávamos a leitura em nossas casas.
Gostei tanto do enredo que anos depois, já adulto, acabei comprando o livro para relê-lo, e posso afirmar que a sensação foi tão deliciosa quanto naquela década em que eu era apenas um estudante do ensino primário.
E a saudosa dona Conceição tinha toda a razão; de fato, Os Três Mosqueteiros deixam evidente o valor da amizade sincera. Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan estão sempre prontos a doar a vida um pelo outro. Essa amizade que teve o dom de emocionar muitos leitores é resumida numa frase que se tornou famosa em todo o mundo: “Um por todos e todos por um”, o lema dos mosqueteiros do Rei.
03 – Éramos Seis (Maria José Dupré)
Cara! Como a história de dona Lola, ‘seo’ Júlio e seus filhos: Carlos, Alfredo, Juninho e Maria Isabel mexeram comigo! Li esse livro - que fez parte da série “Vagalume” - quando tinha 12 ou 13 anos. Me apaixonei de cara por aquela bondosa mulher que fazia de tudo pelo seu marido e seus quatro filhos. Dona Lola foi uma das minhas heroínas de infância. A mulher batalhadora e amorosa foi perdendo aos poucos todos os membros de sua querida e amada família, até sobrar somente ela. Dona Lola, então, recorda a sua história numa casa de repouso, onde foi parar após a morte de seus entes queridos.
Éramos Seis faz com que eu me recorde dos tempos de biblioteca da Escola Industrial onde cursei o antigo ginasial. Todos os dias, após o sinal que indicava o fim das aulas no período da manhã, o blogueiro aqui, disparava pela sala de aula afora com a sua mochila pendurada nas costas, para ficar fuçando nos livros da biblioteca, escolhendo qual deles levaria para ler em casa. O romance de Dupré foi um dos que mais marcaram essa fase da minha vida.
04 – A Mulher Só (Harold Robbins)
Hoje, quando lembro de alguns livros de Harold Robbins que lia escondido em minha infância dou muitas risadas. Por que eu lia escondido? Tá bem; eu conto. Lá vai: por causa das capas! Isto mesmo; as capas das edições brasileiras publicadas no formato de bolso eram ‘brabas’. Cara, só tinha ‘pegação’! Eram casais se agarrando, homens e mulheres seminus em poses sensuais, e por aí afora. Se minha mãe visse aquelas fotos chapadas, não pegaria bem; entonce, partia para a chamada ‘leitura camuflada’.
Depois de alguns anos, quase saindo da adolescência, já que estava entrando na fase dos meus 18 anos, continuei lendo várias obras do autor. Neste período, já sem medo ser pego pela Dona Lázara; mas por outro lado, com um baita receio de ser apanhado pela namorada ciumenta e desconfiada que, ainda por cima, detestava ler.
Pois é, foi nessa época, perto do final dos anos 70, que tive contato com A Mulher Só, edição lançada pela Círculo do Livro em 1978. Peguei o livro na biblioteca e o devorei em poucos dias. Na minha opinião, trata-se de um dos melhores de Robbins, mas também um dos mais picantes como fica evidente na capa da edição relançada pela editora Círculo do Livro em 1978. Em abril de 2019 escrevi um post sobre A Mulher Só. Se quiser saber mais detalhes sobre o livro acesse aqui.
05 – O Dia do Chacal (Frederick Forsyth)
Li O Dia do Chacal de Frederick Forsyth, nos anos 70, após emprestá-lo da biblioteca pública municipal. Costumo dizer que aquele importante espaço literário de minha cidade foi encolhendo com o passar dos anos. Ao invés crescer e se informatizar, ela foi encolhendo e perdendo atrativos, até ficar reduzida a um espaço ‘piquitico’ e quase sem livros.
Mas na época em eu era um pré-adolescente, a saudosa biblioteca ocupava um salão oval ‘enoooorme’, rodeada de obras de cima a baixo e com a mesa da bibliotecária no centro. Cara, era a coisa mais linda que existia! O sonho de todos os leitores. Hoje, no local funciona – acho que – a sede de um clube de futebol amador que nem sei se existe ou não.
Foi naquele espaço encantado – pelo menos para mim – que conheci O Chacal e Claude Lebel: dois personagens culpados pelas minhas noites em claro e pelas broncas levadas de minha mãe. – Zé, você está acordado ainda?! Amanhã você tem que levantar cedo prá ir para a escola. Apaga essa luz e vai dormir logo menino! –  gritava ela. Mas no fundo, eu sabia que a sua bronca era da boca para fora, já que ela ficava feliz em saber que, apesar da pouca idade, eu já era um devorador de livros.
06 – Eram os Deuses Astronautas (Erich von Daniken)
A edição de Eram os Deuses Astronautas que li pela primeira vez, há muitos anos, no silêncio da biblioteca da minha escola pertencia à Editora Melhoramentos, lançado em 1970. Ele tinha a capa preta e dois astronautas sentados (um de costas para outro) num objeto parecido com um totem. Lembro que a obra era toda ilustrada e, naquela época, fiquei surpreso tanto com as fotos quanto com as revelações ‘meio que’ conspiratórias do autor.
Eram Os Deuses Astronautas? foi um livro que marcou a minha geração de leitores. Os seus questionamentos bombásticos e até mesmo ensandecidos para aquela época – a obra foi lançada em 1968 – quando o homem nem sequer havia pisado na lua, deixaram as comunidades científicas e religiosas, no caso as mais fundamentalistas, com os cabelos em pé. Por outro lado, as pessoas que integravam as alas de vanguarda de quatro décadas e meia atrás, simplesmente vibraram com as teorias de Daniken.
O controverso escritor suíço lançou em sua obra ideias que continuam sendo revolucionárias para os tempos atuais. Imagine, então naquela época!!
07 – Eu, Christiane F., Treze Anos, Drogada, Prostituída... (Kai Hermann e Horst Hieck)
A primeira coisa que fazia após ouvir o sinal do recreio ou então do final das aulas era ‘zarpar’ para a biblioteca da escola. Chegando por lá, fazia a festa! Lembro que o meu primeiro contato com Eu, Christiane F., Treze Anos, Drogada, Prostituída aconteceu naquele espaço amplo e silencioso, onde, geralmente, estavam eu e a minha estimada bibliotecária Dona Alice.  
Os livros não podiam sair da biblioteca da Escola Industrial, por isso, os alunos tinham de ler por ali mesmo. Mas com jeitinho consegui convencer Dona Alice que abriu a chamada ‘exceção das exceções’. Acho que fez isso por me considerar um ratão de biblioteca (rs).
Li o livro em dois ou três dias, não mais do que isso. Confesso que marcou. Foi uma leitura impactante. Sei que hoje, a história da vida de Christiane Vera Felscherinow perdeu parte de seu impacto em virtude dos tempos em que vivemos, onde alguns – incluindo a própria ONU – sugerem a descriminalização das drogas. Mas na década de 70, para ser exato, em 1979, quando o livro foi lançado, não existiam essas ideias revolucionárias e chocantes. Se hoje, vários artistas famosos não ficam nem um pouco constrangidos em fazer apologia as drogas, afirmando que a ‘mardita’ faz um bem danado para o corpo e para alma; naqueles tempos o sujeito não podia se gabar, tanto assim, de sua coragem ou burrice. Se quisesse fumar o ‘produto’ tinha que fazer isso nas sombras.
Imagine, agora, naquele tempo repressivo e puritano, uma criança de apenas 13 anos ‘soltar a bomba’, publicamente, de ‘que além de se drogar, também se prostituía à vontade? Tenso, não é mesmo?!
Um livro que marcou muito a minha vida de ‘rato de bibliotecas”.
08 – Assassinato no Expresso Oriente (Agatha Christie)
Sempre temos uma bibliotecária que marca as nossas vidas de ratos de bibliotecas. A minha se chamou ‘Dona Alice’, a qual já citei nessa postagem. Para ser sincero, nunca soube o seu sobrenome, mas independente disso, ela era uma pessoa fantástica. Sempre indicando bons livros e esclarecendo dúvidas dos jovens leitores que frequentavam o ‘seu espaço’, e eu era um deles.
Foi ela que me explicou quem era Hercule Poirot. Assassinato no Expresso Oriente foi o primeiro livro de Agatha Christie que li. E sorte minha que tinha a ‘Dona Alice’, sempre paciente, por perto, caso contrário encontraria algumas dificuldades com relação a Poirot.
Explico melhor: nesse livro, o famoso detetive é jogado sem nenhuma apresentação no enredo. Juro que fiquei meio perdidão quando vi Poirot ingressando no trem acompanhado de um policial. –“Dona Alice quem é Hercule Poirot??” Perguntei para a boa e saudosa velhinha. “- Ele é um detetive muito inteligente, talvez o mais inteligente de todos, capaz de solucionar os casos mais difíceis”. E foi assim que fiquei conhecendo Hercule Poirot. Depois, “mandei ver” na leitura.
Posso dizer que foi Assassinato no Expresso Oriente que me estimulou a procurar outros livros da autora. A falta de apresentação de Poirot não atrapalha em nada a história que tem momentos muito tensos. Agatha escreve sobre um assassinato que ocorre num trem chamado Expresso do Oriente que está cheio de passageiros.
09 – O Meu Pé de Laranja Lima (José Mauro de Vasconcelos)
Ainda me lembro da fase de ‘calouro-ginasial’. Fiquei abobado quando vi, pela primeira vez, a biblioteca da minha nova escola que se comparada com a do grupo escolar, onde estudava, mais se parecia com a antológica biblioteca de Alexandria. Pois é galera, foi fuçando nesse mar de livros que localizei O Meu Pé de Laranja Lima que contava a história de um garoto chamado Zezé. Após folhear as primeiras páginas acabei me interessando pelo livro e o pedi emprestado.  Lí rapidinho.
Fiquei fã de carteirinha daquela criança pobre, de seis anos, inteligente e sensível. Carente de um afeto que não encontra na família. Zezé aprende tudo sozinho e inventa para si um mundo de fantasia em que seu grande confidente é Xururuca, o pé de laranja lima. As suas conversas com a árvore são emblemáticas e ao mesmo tempo emocionantes.
Posso afirmar que a obra de José Mauro de Vasconcelos, lançada em 1968, foi um dos livros que me ajudou a ganhar gosto pela leitura. Tanto é verdade, que já o li e reli por diversas vezes e pretendo relê-lo outras vezes mais. 
10 – Um Estranho no Espelho (Sidney Sheldon)
Há mais de três décadas, sempre perto dos finais de tarde, eu tinha o hábito ir até a biblioteca municipal da cidade para ficar ‘folheando’ algumas obras. Enquanto os meus amigos, após o serviço, iam direto para os barzinhos ou butecos da vida, o rato de biblioteca, aqui, se enfunava no meio dos livros para mergulhar em viagens fantásticas que só alguns enredos tinham o poder proporcionar. No final, sempre levava um livro para ler em casa.
Foi naquela antiga biblioteca, onde hoje funciona a Companhia de Policiamento Militar, que ‘peguei’ gosto pelas obras de Sidney Shelson. Já estava entrando na casa dos 20 anos e me lembro que havia uma coleção de 10 livros do autor que acabei devorando inteiramente. Um estranho no espelho, fazia parte dessa coleção. Gostei tanto do livro que acabei relendo-o outras vezes, sendo a mais recente no mês passado.
Discordo daquelas pessoas que consideram o livro um dos  menos famosos de Sheldon ou então um dos mais fracos. Nada a ver. Pelo menos para mim, “Um estranho no espelho” é fantástico.
A obra foi escrita em 1976, logo após o mega sucesso “O Outro Lado da Meia-Noite”.
Então, é isso aí galera. Foi bom compartilhar com vocês essas recordações.
Valeu!

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