Certo dia estava recordando minha época de leitor
adolescente, quando eu era um verdadeiro rato de biblioteca. Foi uma recordação
muito gostosa, tão gostosa que me prendi a ela e não queria mais soltá-la.
Época em que saía da escola e me engolfava no meio daquele ‘mar’ de livros das
bibliotecas municipal ou então da minha antiga escola ginasial. É claro que
tinha os meus momentos para paquerar ou frequentar brincadeiras dançantes nos
porões das casas dos meus amigos regadas ao som dos saudosos vitrolões; mas
confesso que estar no meio daquele montão de ‘bebês’ era algo pra lá de
especial.
Por isso, hoje resolvi compartilhar essa recordação com
a galera, escrevendo um post com os dez livros que marcaram esse momento
especial em minha vida. Dez livros que conheci nas biblioteca dos anos 70 em
minha cidade e amei. Vamos a eles:
Na minha adolescência era apaixonado por livros que tinham
as suas histórias adaptadas para o cinema. Na década de 1970 recordo que fiquei
fissurado num filme em que um enorme transatlântico, após ser atingido por um
vagalhão, virava de cabeça para baixo, fazendo com que um grupo de
sobreviventes lutasse para chegar ao casco antes que a embarcação afundasse.
Apesar de ser apenas um ‘crianção’ naquela época, recordo que na produção
cinematográfica tinha um pastor atlético que assumia o papel de líder do grupo;
um tira grosseiro casado com uma mulher loira, mimada e mal educada; além de
uma senhora gorda e simpática que no meio do filme, num gesto heroico colocava
a vida em risco para salvar os seus companheiros.
No dia seguinte, após ter assistido ao filme, fui
correndo até a biblioteca da minha escola e passei horas e horas lendo O Destino do Poseidon de Paul Gallico e
admirando as suas ilustrações. Acabei me apaixonando pelos
personagens. Anos depois, já adulto, o tal do livro voltou a minha
memória reativando toda aquela vontade louca de relê-lo. Foi quando decidi que o
encontraria de qualquer maneira, custasse o que custasse. Consegui através de
um livreiro.
02
– Os Três Mosqueteiros (Alexandre Dumas)
Os
Três Mosqueteiros do escritor francês, Alexandre Dumas
(pai) faz com que me lembre da minha época de estudante primário. Certo dia,
naquele tempo, a minha professora Dona Conceição, pediu para que a nossa classe
lesse o livro de Dumas para que aprendêssemos o significado da verdadeira
amizade. Todos os alunos formaram os seus grupos de leitura e, então, começamos
a devorar a história. Líamos uma parte na escola e depois aprofundávamos a
leitura em nossas casas.
Gostei tanto do enredo que anos depois, já adulto,
acabei comprando o livro para relê-lo, e posso afirmar que a sensação foi tão
deliciosa quanto naquela década em que eu era apenas um estudante do ensino
primário.
E a saudosa dona Conceição tinha toda a razão; de
fato, Os Três Mosqueteiros deixam
evidente o valor da amizade sincera. Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan estão
sempre prontos a doar a vida um pelo outro. Essa amizade que teve o dom de
emocionar muitos leitores é resumida numa frase que se tornou famosa em todo o
mundo: “Um por todos e todos por um”, o lema dos mosqueteiros do Rei.
03
– Éramos Seis (Maria José Dupré)
Cara! Como a história de dona Lola, ‘seo’ Júlio e
seus filhos: Carlos, Alfredo, Juninho e Maria Isabel mexeram comigo! Li esse
livro - que fez parte da série “Vagalume” - quando tinha 12 ou 13 anos. Me
apaixonei de cara por aquela bondosa mulher que fazia de tudo pelo seu marido e
seus quatro filhos. Dona Lola foi uma das minhas heroínas de infância. A mulher
batalhadora e amorosa foi perdendo aos poucos todos os membros de sua querida e
amada família, até sobrar somente ela. Dona Lola, então, recorda a sua história
numa casa de repouso, onde foi parar após a morte de seus entes queridos.
Éramos
Seis
faz com que eu me recorde dos tempos de biblioteca da Escola Industrial onde
cursei o antigo ginasial. Todos os dias, após o sinal que indicava o fim das
aulas no período da manhã, o blogueiro aqui, disparava pela sala de aula afora
com a sua mochila pendurada nas costas, para ficar fuçando nos livros da
biblioteca, escolhendo qual deles levaria para ler em casa. O romance de Dupré
foi um dos que mais marcaram essa fase da minha vida.
04
– A Mulher Só (Harold Robbins)
Hoje, quando lembro de alguns livros de Harold
Robbins que lia escondido em minha infância dou muitas risadas. Por que eu lia
escondido? Tá bem; eu conto. Lá vai: por causa das capas! Isto mesmo; as capas
das edições brasileiras publicadas no formato de bolso eram ‘brabas’. Cara, só
tinha ‘pegação’! Eram casais se agarrando, homens e mulheres seminus em poses
sensuais, e por aí afora. Se minha mãe visse aquelas fotos chapadas, não
pegaria bem; entonce, partia para a chamada ‘leitura camuflada’.
Depois de alguns anos, quase saindo da adolescência,
já que estava entrando na fase dos meus 18 anos, continuei lendo várias
obras do autor. Neste período, já sem medo ser pego pela Dona Lázara; mas por
outro lado, com um baita receio de ser apanhado pela namorada ciumenta e
desconfiada que, ainda por cima, detestava ler.
Pois é, foi nessa época, perto do final dos anos 70,
que tive contato com A Mulher Só,
edição lançada pela Círculo do Livro em 1978. Peguei o livro na biblioteca e o
devorei em poucos dias. Na minha opinião, trata-se de um dos melhores de
Robbins, mas também um dos mais picantes como fica evidente na capa da edição
relançada pela editora Círculo do Livro em 1978. Em abril de 2019 escrevi um
post sobre A Mulher Só. Se quiser
saber mais detalhes sobre o livro acesse aqui.
05
– O Dia do Chacal (Frederick Forsyth)
Li O Dia do
Chacal de Frederick Forsyth, nos anos 70, após emprestá-lo da biblioteca pública
municipal. Costumo dizer que aquele importante espaço literário de minha cidade
foi encolhendo com o passar dos anos. Ao invés crescer e se informatizar, ela
foi encolhendo e perdendo atrativos, até ficar reduzida a um espaço ‘piquitico’
e quase sem livros.
Mas na época em eu era um pré-adolescente, a saudosa
biblioteca ocupava um salão oval ‘enoooorme’, rodeada de obras de cima a baixo
e com a mesa da bibliotecária no centro. Cara, era a coisa mais linda que
existia! O sonho de todos os leitores. Hoje, no local funciona – acho que – a
sede de um clube de futebol amador que nem sei se existe ou não.
Foi naquele espaço encantado – pelo menos para mim –
que conheci O Chacal e Claude Lebel: dois personagens culpados pelas minhas
noites em claro e pelas broncas levadas de minha mãe. – Zé, você está acordado
ainda?! Amanhã você tem que levantar cedo prá ir para a escola. Apaga essa luz
e vai dormir logo menino! – gritava ela. Mas no fundo, eu sabia que a sua
bronca era da boca para fora, já que ela ficava feliz em saber que, apesar da
pouca idade, eu já era um devorador de livros.
06
– Eram os Deuses Astronautas (Erich von Daniken)
A edição de Eram
os Deuses Astronautas que li pela primeira vez, há muitos anos, no silêncio
da biblioteca da minha escola pertencia à Editora Melhoramentos, lançado em
1970. Ele tinha a capa preta e dois astronautas sentados (um de costas para
outro) num objeto parecido com um totem. Lembro que a obra era toda ilustrada
e, naquela época, fiquei surpreso tanto com as fotos quanto com as revelações
‘meio que’ conspiratórias do autor.
Eram
Os Deuses Astronautas? foi um livro que marcou a minha
geração de leitores. Os seus questionamentos bombásticos e até mesmo
ensandecidos para aquela época – a obra foi lançada em 1968 – quando o homem
nem sequer havia pisado na lua, deixaram as comunidades científicas e
religiosas, no caso as mais fundamentalistas, com os cabelos em pé. Por outro
lado, as pessoas que integravam as alas de vanguarda de quatro décadas e meia
atrás, simplesmente vibraram com as teorias de Daniken.
O controverso escritor suíço lançou em sua obra ideias
que continuam sendo revolucionárias para os tempos atuais. Imagine, então
naquela época!!
07
– Eu, Christiane F., Treze Anos, Drogada, Prostituída... (Kai Hermann e Horst
Hieck)
A primeira coisa que fazia após ouvir o sinal do
recreio ou então do final das aulas era ‘zarpar’ para a biblioteca da escola.
Chegando por lá, fazia a festa! Lembro que o meu primeiro contato com Eu, Christiane F., Treze Anos, Drogada,
Prostituída aconteceu naquele
espaço amplo e silencioso, onde, geralmente, estavam eu e a minha estimada
bibliotecária Dona Alice.
Os livros não podiam sair da biblioteca da Escola Industrial,
por isso, os alunos tinham de ler por ali mesmo. Mas com jeitinho consegui
convencer Dona Alice que abriu a chamada ‘exceção das exceções’. Acho que fez
isso por me considerar um ratão de biblioteca (rs).
Li o livro em dois ou três dias, não mais do que
isso. Confesso que marcou. Foi uma leitura impactante. Sei que hoje, a história
da vida de Christiane Vera Felscherinow perdeu parte de seu impacto em
virtude dos tempos em que vivemos, onde alguns – incluindo a própria ONU –
sugerem a descriminalização das drogas. Mas na década de 70, para ser exato, em
1979, quando o livro foi lançado, não existiam essas ideias revolucionárias e
chocantes. Se hoje, vários artistas famosos não ficam nem um pouco constrangidos
em fazer apologia as drogas, afirmando que a ‘mardita’ faz um bem danado para o
corpo e para alma; naqueles tempos o sujeito não podia se gabar, tanto assim,
de sua coragem ou burrice. Se quisesse fumar o ‘produto’ tinha que fazer isso nas
sombras.
Imagine, agora, naquele tempo repressivo e puritano,
uma criança de apenas 13 anos ‘soltar a bomba’, publicamente, de ‘que além de
se drogar, também se prostituía à vontade? Tenso, não é mesmo?!
Um livro que marcou muito a minha vida de ‘rato de
bibliotecas”.
08
– Assassinato no Expresso Oriente (Agatha Christie)
Sempre temos uma bibliotecária que marca as nossas
vidas de ratos de bibliotecas. A minha se chamou ‘Dona Alice’, a qual já citei
nessa postagem. Para ser sincero, nunca soube o seu sobrenome, mas independente
disso, ela era uma pessoa fantástica. Sempre indicando bons livros e
esclarecendo dúvidas dos jovens leitores que frequentavam o ‘seu espaço’, e eu
era um deles.
Foi ela que me explicou quem era Hercule Poirot. Assassinato no Expresso Oriente foi o
primeiro livro de Agatha Christie que li. E sorte minha que tinha a ‘Dona
Alice’, sempre paciente, por perto, caso contrário encontraria algumas
dificuldades com relação a Poirot.
Explico melhor: nesse livro, o famoso detetive é
jogado sem nenhuma apresentação no enredo. Juro que fiquei meio perdidão quando
vi Poirot ingressando no trem acompanhado de um policial. –“Dona Alice quem é
Hercule Poirot??” Perguntei para a boa e saudosa velhinha. “- Ele é um detetive
muito inteligente, talvez o mais inteligente de todos, capaz de solucionar os
casos mais difíceis”. E foi assim que fiquei conhecendo Hercule Poirot. Depois,
“mandei ver” na leitura.
Posso dizer que foi Assassinato no Expresso Oriente que me estimulou a procurar outros
livros da autora. A falta de apresentação de Poirot não atrapalha em nada a
história que tem momentos muito tensos. Agatha escreve sobre um assassinato que
ocorre num trem chamado Expresso do Oriente que está cheio de passageiros.
09
– O Meu Pé de Laranja Lima (José Mauro de Vasconcelos)
Ainda me lembro da fase de ‘calouro-ginasial’.
Fiquei abobado quando vi, pela primeira vez, a biblioteca da minha nova escola
que se comparada com a do grupo escolar, onde estudava, mais se parecia com a
antológica biblioteca de Alexandria. Pois é galera, foi fuçando nesse mar de
livros que localizei O Meu Pé de Laranja
Lima que contava a história de um garoto chamado Zezé. Após folhear as
primeiras páginas acabei me interessando pelo livro e o pedi emprestado.
Lí rapidinho.
Fiquei fã de carteirinha daquela criança pobre, de
seis anos, inteligente e sensível. Carente de um afeto que não encontra na
família. Zezé aprende tudo sozinho e inventa para si um mundo de fantasia em
que seu grande confidente é Xururuca, o pé de laranja lima. As suas conversas
com a árvore são emblemáticas e ao mesmo tempo emocionantes.
Posso afirmar que a obra de José Mauro de
Vasconcelos, lançada em 1968, foi um dos livros que me ajudou a ganhar gosto
pela leitura. Tanto é verdade, que já o li e reli por diversas vezes e pretendo
relê-lo outras vezes mais.
10
– Um Estranho no Espelho (Sidney Sheldon)
Há mais de três décadas, sempre perto dos finais de
tarde, eu tinha o hábito ir até a biblioteca municipal da cidade para ficar
‘folheando’ algumas obras. Enquanto os meus amigos, após o serviço, iam direto
para os barzinhos ou butecos da vida, o rato de biblioteca, aqui, se enfunava
no meio dos livros para mergulhar em viagens fantásticas que só alguns enredos
tinham o poder proporcionar. No final, sempre levava um livro para ler em casa.
Foi naquela antiga biblioteca, onde hoje funciona a
Companhia de Policiamento Militar, que ‘peguei’ gosto pelas obras de Sidney
Shelson. Já estava entrando na casa dos 20 anos e me lembro que havia uma
coleção de 10 livros do autor que acabei devorando inteiramente. Um estranho no espelho, fazia parte
dessa coleção. Gostei tanto do livro que acabei relendo-o outras vezes, sendo a
mais recente no mês passado.
Discordo daquelas pessoas que consideram o livro um
dos menos famosos de Sheldon ou então um dos mais fracos. Nada a
ver. Pelo menos para mim, “Um estranho no espelho” é fantástico.
A obra foi escrita em 1976, logo após o mega sucesso
“O Outro Lado da Meia-Noite”.
Então, é isso aí galera. Foi bom compartilhar com
vocês essas recordações.
Valeu!
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