Se há uma coisa que detesto são livros com capítulos
enormes, daqueles que parecem que nunca vão terminar. Cara, que pipoco! Me dá
desespero! Vou lendo, vou lendo e a leitura não flui, por melhor que seja a
história. Na minha opinião, obras de qualidade com capítulos curtos – por maior
que seja o número de páginas – deixam a leitura mais dinâmica e com isso você acaba
devorando as páginas.
Por que estou dizendo escrevendo isso? Simples.
Sofri muito para ler Um Diário do Ano da
Peste de Daniel Defoe. No total, a publicação de 284 páginas da Artes e
Ofícios Editora tem apenas quatro capítulos, mas quando o autor começa, de
fato, a narrar o seu diário, ele faz isso num único capítulo. Cara, são mais de
250 páginas corridas, no pau, sem respiro para o leitor!
Esta sucessão ininterrupta de frases, parágrafos, pontos
finais e o escambau a quatro foi me dando um desespero, um suador que por pouco
não entrei em pânico. Como se eu estivesse perdido no meio do oceano e não
enxergasse nenhuma ilha à frente – entenda-se ilha por capítulo. Por esse
motivo, a história é ruim? Aí é que está; ela não é. É claro que tem os seus altos
e baixos – os altos do início para meio do enredo e os baixos do meio para o
final, principalmente no final – mas num todo podemos classifica-la de razoável
para boa, só que... já sabe né? A falta de capítulos acaba deixando a leitura
muito arrastada.
Acredito que o verdadeiro precursor do new jornalism –
que é o método de transformar uma reportagem numa criação literária – se chama
Daniel Defoe. Quase 300 anos antes de Truman Capote e Tom Wolfe ficarem
conhecidos como os precursores desse gênero literário com os bestsellers A Sangue Frio e Os Eleitos, respectivamente, Defoe com o seu Um Diário do Ano da Peste já tinha descoberto o new journalism.
Por isso mesmo, Um
Diário do Ano da Peste se diferencia de todas as demais abordagens da
epidemia de peste bubônica que assolou Londres no verão de 1665, dizimando a
maior parte de seus moradores. Esta diferenciação com relação as demais obras
que tratam desse assunto ocorre porque Defoe transformou uma farta informação
jornalística de credibilidade inquestionável sobre a peste negra – como ficou
conhecida no século XVII - num romance; numa obra ficcional. Com isso, o autor
trama a narrativa fundindo fato e ficção, através de minuciosa coleção de
detalhes.
Publicado em 1722, como relato de uma testemunha ocular só identificada no final do
texto pelas iniciais H.E., Um Diário do
Ano da Peste é uma narrativa em primeira pessoa feita por um narrador
anônimo e imaginário, sobre os horrores enfrentados pela cidade de Londres
durante o surto de peste bubônica em 1665. Vale lembrar que Defoe tinha quatro
anos de idade no período da peste; o livro só veio a ser escritor 55 anos
depois.
No enredo, esse narrador que por alguns motivos não
quis sair da cidade durante a peste, conta detalhes sobre a chegada e
progressão da epidemia em Londres registrando observações e comentários à
margem dos acontecimentos. O desenrolar da ação é determinado e conduzido pelo
conflito entre as duas personagens centrais: de um lado, a peste se alastrando
pela cidade; de outro, a população de Londres enfrentando, fugindo ou
resistindo ao assalto repentino enfermidade.
Um
Diário do Ano da Peste tem alguns trechos que podem
impressionar os leitores mais sensíveis. Eu, mesmo, fiquei chocado com algumas
passagens descritas pelo narrador fictício.
Nos deparamos com pessoas que sãs trancadas em suas
casas juntamente com familiares doentes, uivos de mulheres desesperadas nas
janelas das residências marcadas com a peste; valas abertas onde os cadáveres
eram simplesmente jogados, sem terem sequer um enterro cristão, pois ninguém se
arriscaria a ser contaminado; médicos que no afã de aliviarem o sofrimento dos
pacientes chegavam ao ponto de jogar ácido ou outras substâncias corrosivas nas
ínguas que surgiam nas virilhas, axilas e pescoço dos doentes na tentativa de
supurá-las; mulheres grávidas que estavam doentes e que na hora no parto não
encontravam ninguém para assisti-las já que médicos e parteiras não queriam se
contaminar, com isso eram obrigadas a parir sozinhas. Cara, alguns trechos do
livro, de fato, são trash.
Separei algumas passagens que achei bem
impressionantes. Confiram:
- “Às vezes, um homem ou uma mulher caía morto
no próprio mercado, já que muitas pessoas tinham a peste e não sabiam até que a
gangrena interior atingia os órgãos vitais, quando morriam em poucos minutos”
- “Os inchaços que geralmente surgiam no
pescoço ou na virilha, quando endureciam e não arrebentavam mais, tornavam-se
tão doloridos que eram iguais a mais sofisticada tortura. Alguns incapazes de
suportar o tormento atiravam-se pelas janelas, davam tiros ou se eliminavam de
qualquer maneira”
-
Por não terem nenhuma parteira ou médico para assisti-las, algumas mulheres
grávidas feriram-se dando à luz... Devo dizer que crianças sem conta foram
assassinadas... muitas vezes, mãe e filho se perdiam da mesma maneira”.
Estes são apenas alguns trechos, existem muitos outros
considerados mais tensos e que exigirão estômago dos leitores.
Como disse no início do post, antes do final do livro,
a história vai ficando um pouco redundante e somado ao texto corrido e falta de
capítulos, o enredo acaba ficando cansativo.
Quero frisar que li a edição da Artes e Ofício
Editora, quanto a publicação da L&PM não conheço, por isso não posso dizer
se essa editora optou pela inclusão de capítulos ou pela manutenção do texto
original.
Inté!
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