A história de um armário muito louco, seus livros e gibis maravilhosos

06 junho 2016
E o ‘pega pra capa’ continua rolando solto lá em casa. Graças a Deus, a reforma está chegando ao fim. Entramos agora na fase da limpeza e arrumação dos móveis. Amanhã, pretendo começar a organizar os livros nas estantes. Este é o momento mais complicado do período pós-refrorma, mas com a ajuda de Lulu, com certeza, conseguirei realocar as minhas obras favoritas que no momento encontram-se “desacomodadas’, provisoriamente num sofá e também no chão da minha sala de leitura.
Mas no post de hoje, gostaria de falar sobre a descoberta de um outro armário. Apesar de não ter nada de secreto, como o saudoso armário de meu irmão (ver aqui), ele me presenteou com verdadeiras jóias raras que eu julgava perdidas.
Este armário fica na cozinha de casa e é enooorme! O engenheiro que fez o projeto da ‘obra’ deve ser um alien, daqueles que vivem em nosso planeta disfarçadamente, fingindo pertencer a raça dos terráqueos, como no filme “Homens de Preto” com Will Smith.
Mêo, o sujeito conseguiu embutir um armário gigante e profundo numa parede pequena e rasa! Certo dia, entrei no armário e comecei a medir a sua largura e profundidade. Caraca, parecia que a minha fita métrica era uma sonda de plataforma exploradora de petróleo e o tal armário, o próprio oceano! Imediatamente me lembrei daquela sala secreta da Escola de Bruxaria de Hogwarts, onde Harry Potter costumava guardar seus badulaques. Lembram-se dela? Quanto mais coisas o Potter guardava, mais coisas ali cabiam.
Acredito que ‘seo’ Basílio, o engenheiro que projetou o armário famoso tenha utilizado tecnologia alienígena. Tanto que acredito que ele não morreu, mas simplesmente retornou para o seu planeta de origem.
Dona Táta que contratei para fazer a faxina de casa, sentiu na pele o que é desafiar o desconhecido. Quando ela começou a limpar o armário do ‘seo’ Basílio quase teve um piripaque. – “PQP! Que armário #@&*%$#@*!! Quanto mais eu retiro as coisas, mais badulaqueira aparece!” – trovejou a faxineira. – “Parece que essa joça ta parindo”! – completou.
Acontece que a dona Táta é uma verdadeira boca-santa, um poço de tranqüilidade. Desde que a conheço, nunca a ouvi pronunciar um xingamento, uma ofensa qualquer. Mas o armário do ‘seo’ “Basílio, O Extraterrestre” conseguiu tirar aquela mulher do sério.
Para cada panela que ela tirava, surgiam outras três e assim, dona Táta foi entrando em pânico e ficando nervosa. Com isso, foi perdendo as estribeiras até deixar de ser a famosa boca-santa.
Vendo o seu desespero, eu e Lulu decidimos ajudá-la a ‘parir’ o armário com DNA Alien. Quando já estávamos quase vencendo-o  pelo cansaço, eis que descubro em um de seus compartimentos uma caixa de madeira, tipo bauzinho, pronta para ser explorada. Ao abrir a caixa, quase tive um ataque cardíaco, mas de emoção. Ali dentro estavam verdadeiras relíquias literárias que devorei a exaustão em minha infância e adolescência.
Não me perguntem como alguns livros e revistas foram parar num armário de cozinha junto com um monte de panelas. Não sei explicar. Talvez tenha sido mais uma das peças pregadas pela ‘caixa secreta’ de seu Basílio (rs).
Só posso dizer que sou grato por essa descoberta, independente de quem tenha guardado o baú com o seu rico conteúdo no famoso armário.
E vamos as descobertas!
01 – Almanaque O Homem Aranha (1972)
Cara, palavra. Fiquei muito emocionado quando o armário de ‘seo’ Basílio pariu o primogênito. E este primogênito foi ninguém menos do que o super “Almanaque O Homem Aranha”. Trata-se do sonho de consumo de 10 em cada 10 fãs do cabeça de teia. O gibizão lançado pela Ebal em 1972 pode ser considerado um produto antológico. Por quê? Man, ele foi inteiramente desenhado pelo mago John Romita. Sob seu pincel, a revista do Aranha se tornou a mais vendida da empresa no período de 1967 a 1968. E o almanaque que descobri amoitado no famoso armário foi publicado originalmente em 1968 ou seja, quando as histórias do amigão da vizinha estavam no auge dos auges.
É evidente que naquela época – com os meus 11 anos - eu não tinha noção sobre nada disso, na realidade eu só queria devorar aquelas histórias cheias de ação e repletas de ilustrações fantásticas do aracnídeo.
O almanaque tem três histórias: “O Estigma do Lavador de Cérebros”, “Amarga Vitória” e “Perdidos na Teia”. Os enredos são interligados e abordam de um modo geral o tumultuado romance de Peter Parker com Gwen Stacy.
02 – Gibi Jerônimo – O Herói do Sertão (1957)
Cara, estou emocionado. Verdade. Durante a exploração ao armário do ‘seo’ Basílio, topei com uma relíquia raríssima que pertenceu ao meu saudoso pai, o Kid Tourão que ilustrou tantos posts nos quase cinco anos de vida desse blog. Putz, que saudades. Porra, essas lágrimas que insistem em cair enquanto digito essas linhas são fod...
Pois é, prosseguindo: encontrei um gibi que certamente pertenceu ao meu pai.
Eu soube – por intermédio de minha mãe - que o velho Kid era fã de “Jerônimo, O Herói do Sertão” e vibrava com os capítulos da radionovela que a Rádio Nacional levou ao ar de 1953 a 1967. Depois passou adquirir os gibis do rei do gatilho tupiniquim lançados pela Rio Gráfica Editora em 1957. Nem mesmo Francisco Di Franco di Franco, o intérprete de Jerônimo na TV Tupi, escapou do grande Kid que passou a acompanhar a novela religiosamente.
  A capa traz o nosso herói do sertão lutando com o crocodilo E que surpresa agradável ao descobrir quase depois de seis décadas desses gibis que certamente, um dia, o meu velho pai pegou em suas mãos para lê-lo. Com o título de “Rio das Sombras”, a capa traz o nosso herói lutando com um crocodilo no fundo do rio. Nem preciso dizer que essa relíquia foi imediatamente para a minha estante de livros.
03- Robinson Crusoé
Robinson Crusoé fez parte da minha infância. Lembro ter lido o livro de Daniel Defoe traduzido por Monteiro Lobato na biblioteca da escola primária da minha cidade. Isto no início dos anos 70. Gostei tanto da história que mesmo após décadas, ainda lembro de detalhes da obra lançada pela editora Brasiliense em 1968. O enredo era no formato corrido, ou seja, não tinha capítulos. A escrita de Lobato me enfeitiçava. Como o livro estava proibido de sair da biblioteca, aproveitava para lê-lo durante o recreio.
Recordo que um dia cheguei para minha mãe e disse-lhe que estava lendo um livro muito legal, mas que não podia trazê-lo para casa por causa das normas internas da biblioteca. Então, ‘mami’ fez questão de comprar uma edição semelhante a da escola para me presentear. Só faltei plantar bananeira quando ganhei aquela jóia rara.
O tempo passou, eu cresci e o livro sumiu. Bem, sumiu até o momento em que resolvi explorar o armário alien. Ele estava lá, muito bem guardadinho. Não me pergunte como ele foi parar naquele espaço. Com certeza, não saberei responder.
04 – Perdidos no Espaço (Álbum de figurinhas)
“Perigo, perigo, Will Robinson!” Esta frase antológica marcou a minha infância. Eu era super-fã do seriado “Perdidos no Espaço”. Não saia de frente da TV enquanto não terminasse o capítulo do dia. Fantástico! Gostava tanto do seriado que acabei ganhando de presente de meu irmão mais velho, um álbum de figurinhas da patota do Dr. Smith.
Grande parte da minha mesada gastava na compra de figurinhas para completar o álbum. Quantos “bafos” joguei com os meus amigos de infância na esperança de faturar os cromos que faltavam para completar o álbum! Colocávamos quatro ou cinco figurinhas viradas para baixo e batíamos nelas com a mão em forma de concha. Aqueles que conseguissem virá-las  passavam a ser os seus proprietários. Rapaz! E a emoção ao abrir um maço de figurinhas que havia acabado de comprar na banca! Ficava torcendo para ser contemplado com "uma difícil”.
Fiquei muito feliz quando localizei esse álbum jogado no fundo do armário gigante.
05 – Almanaque do Mancha Negra
Quando pensei que o armário de seu Basílio já tinha esgotado as suas surpresas, eis que encontro uma nova preciosidade: um almanaque do Mancha Negra lançado pela Editora Abril em 1984. E mais: trata-se do primeiro número!!
Nos meus tempos de universitário, gostava muitos dos gibis da galera da Disney. Eu acabava indo sempre na contramão, preferindo a patota que não era assim, digamos... tão certinha. Mancha Negra, Irmãos Metralha e Bafo-de-Onça eram aqueles que eu mais curtia. Eles eram muito engraçados, apesar de sempre se darem mal no final.
O mancha Negra era o tradicional inimigo de Mickey, conhecido por assaltar bancos, deixando como marca pessoal uma mancha de tinta preta. Mickey sempre o apanha em flagrante.
O almanaque da Abril é ‘coisa do outro mundo’ e eu não o via há aproximadamente 32 anos. Mal sabia que ele estava muito bem guardado – quero dizer, escondido – no armário de “ Basílio, o Extraterrestre”.

Galera, inté!

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