Já vou avisando logo de cara que não serei
exagerado; apenas sincero: “Irmandade de Copra” foi nos meus 53 anos de vida,
um dos melhores livros de ficção científica que já li; excetuando o seu final,
que não gostei. Mas como refletia um antigo professor de literatura que me
ensinou muito: “Finais são apenas finais”. O que o mestre queria dizer é que
finais de obras literárias são relativos, podendo agradar a alguns, mas
desagradar a outros. A prova dessa certeza é que teve muitos finais escritos
por Stephen King que odiei; mas outros amigos leitores, incluindo críticos
literários muito mais capacitados do que eu, simplesmente deliraram, chegando
perto de ter um orgasmo de prazer com os tais epílogos. A conclusão da história
de a “Irmandade de Copra” não vai escapar dessa certeza absoluta da literatura
mundial: “agradar alguns e desagradar a outros”.
Por outro lado a leitura de suas mais de 400
páginas, incluindo o prólogo fantástico, foi prazeroso, perto do viciante. Li o
livro em uma ‘tacada só’ e cheguei a fazer algo que não estou acostumado: ler
em meu trabalho. “Irmandade de Copra” sempre esteve na minha bolsa (007 e não
modelo feminino – rs) e ao sobrar uma folga no trampo, lá estava eu com o livro
nas mãos.
“Irmandade de Copra” já começa a conquistar o leitor
em seu Prólogo, onde a autora carioca Caroline Defanti, em apenas três páginas,
explica numa narrativa cheia de suspense como são criados os super-soldados que
irão combater os alienígenas que se apossaram do planeta Terra. A transformação
de Gabriel em Arcanjo e de Aeris em Musa, de fato prende o leitor, e já dá uma
noção de como funciona o polêmico e questionado projeto que une o DNA
alienígena ao dos humanos, alterando toda a sua genética e conferindo-lhes poderes especiais, mas não sem antes cobrar
um alto preço por isso. Dos inúmeros aspirantes à “Irmãos” – é assim que são
conhecidos os super-soldados já que fazem parte de uma Irmandade – nem todos
conseguem sair vivos do processo de mudança. Após adquirirem os seus dons, eles
ainda são obrigados a passar por uma prova final de vida ou morte para testar a
suas novas habilidades.
Defanti explica de uma maneira crua – sem meias
palavras – o processo de ‘amadurecimento forçado’ desses jovens que ao
ingressarem na escolinha da Irmandade são obrigados a esquecer que são crianças
ou adolescentes para se tornarem adultos prematuros, queimando etapas
importantes de suas vidas. Neste aspecto, a autora foi muito feliz ao beber na mesma
fonte de Orson Scott Card e seu fantástico ‘O Jogo do Exterminador’.
Autora Caroline Defanti |
Apesar da pouca idade, apenas 22 anos, Defanti se
revelou uma escritora muito amadurecida ao fugir de estereótipos comuns que
estão presentes na maioria das obras de ficção científica envolvendo conflitos
entre humanos e alienígenas, entre os quais, um que faz qualquer monge recluso perder
a calma: o conhecido efeito ‘sai no braço’. Infelizmente, muitos autores
de livros do gênero dão mais ênfase para
a ação do que para o desenvolvimento da trama. Em “Irmandade de Copra”, Defanti
soube dosar muito bem a testosterona de terráqueos e alienígenas. O livro
apresenta momentos de muita ação, como uma das primeiras tentativas frustradas
de ataque da Irmandade contra os alienígenas, mas também traz à tona os
conflitos existentes entre os ‘Irmãos’.
A autora também foi cuidadosa ao evitar criar
personagens estereotipados, ou seja, quem é mocinho é mocinho e quem é bandido
é bandido para todo o sempre. Não; ela
compôs personagens complexos, como Musa, Arcanjo, Chess (o líder dos Irmãos),
Malika ( a criança extra-terrestre) e principalmente o alienígena Dakarai, pelo
qual me apaixonei. Em determinado ponto da trama, acabei ficando indeciso, não
sabendo se torcia pela perseverança dos humanos em recuperar o seu planeta ou
pela ideologia dos alienígenas.
No enredo da autora, em um futuro distante, a quase
extinção do ser humano fez com que os poucos que restaram lutassem pela
sobrevivência em colônias construídas na lua e em Marte. Entretanto, uma raça
alienígena se apossa da Terra e a curam, mas os homens desejam ter o seu
planeta e suas vidas de volta. Ocorre que os seres não parecem dispostos a
abrir mão de seu novo lar. Por isso, os homens
criam novos soldados capazes de combater essas criaturas e recuperar o
planeta. Assim nasce a Irmandade de Copra.
Cara, a trama estava muito, mais muito envolvente e
durante a leitura a minha mente já estava criando “N” possibilidades de
desfecho para alguns personagens. Foi quando chegou o final onde uma das
cientistas que idealizou o projeto de criação dos super-soldados decidiu
simplesmente... Bem, é melhor você ler. Com certeza, alguns leitores irão
gostar da conclusão da história, outros não. Como já dizia o meu antigo mestre:
“Finais são apenas finais...”
Ponto positivo para a editora Arwen por ter
descoberto uma grande escritora.
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