Após denunciar as atrocidades cometidas contra ‘supostos’
doentes mentais internados – ou melhor, esquecidos – no Hospital Colônia, de
Barbacena (MG) em seu elogiado “Holocausto Brasileiro”; Daniela Arbex lança mais
uma obra polêmica e corajosa. No livro “Cova 312”, que já está à venda, a jornalista mineira conta a história
real de como as Forças Armadas mataram pela tortura um jovem militante político,
sumiram com seu corpo e forjaram um suicídio.
A vítima se chamava Milton Soares de Castro, único civil a
participar da guerrilha de Caparaó, na divisa dos estados de Minas Gerais e
Espírito Santo, considerada a primeira tentativa de levante armado contra a
ditadura militar brasileira.
Escrito na forma de romance, “Cova 312” destrincha os
detalhes da saga do jovem guerrilheiro gaúcho, nascido em Santa Maria. Ao
conseguir unir jornalismo investigativo e romance num ‘bolo só’, sem
transformar esse bolo em algo indigesto, Arbex prova porque é considerada uma
das melhores ‘jornalistas-autoras’ de sua geração. Cara, “Cova 312” abrange são
dois estilos completamente diferentes! Tá pensando que é fácil? Vai, tenta aí
unir ficção e realidade, mas sem desvirtuar a realidade. Dureza, né? Mas, Arbex
conseguiu fazer isso com maestria em seu novo livro – pelo menos até o capítulo
em que eu li antes de escrever esse post (eu e a minha velha mania de ler dois
livros ao mesmo tempo).
Castro foi preso no dia 1º de abril de 1967, junto com sete
companheiros, e levado para a Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora (MG).
No dia 28 de abril, apareceu morto. A versão oficial divulgada na época foi
suicídio. Mas pêra aí. E quanto ao corpo? É, cadê o corpo?! Pois é galera, o
corpo sumiu!
Milton Soares de Castro se tornou um desaparecido político. E
é dessa forma que o guerrilheiro é identificado no relatório final da Comissão
nacional da Verdade (CNV). Mas em 2002, Arbex soltou uma tremenda bomba numa
reportagem publicada no jornal Tribuna de Minas: ‘o corpo de Castro está
enterrado como se fosse um indigente na sepultura 312, uma cova rasa, do
Cemitério Municipal de Juiz de Fora. Depois de 35 anos, documentos da empresa
funerária e da prefeitura comprovaram a localização do corpo. No entanto, como
a família optou por não fazer a exumação, a Comissão Nacional da Verdade
continuou a considerá-lo um desaparecido.
O subtítulo de “Cova 312” já explica em poucas palavras a
filosofia de trabalho adotada pela escritora
mineira: “A longa jornada de uma repórter para descobrir o destino de um
guerrilheiro, derrubar uma farsa e mudar o capítulo da história do Brasil”.
Na obra, ela derruba a tese ‘plantada’ pela ditadura militar
de que Castro se suicidou, além de recuperar a trajetória da guerrilha do
Caparaó e da penitenciária de Linhares, um dos principais centros de detenção
do regime autoritário.
O livro de 344 páginas, lançado pela Geração
Editorial já está à venda nas principais livrarias físicas e virtuais do País
pelo preço de R$ 22,30.
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