Se existiu algo parecido com o inferno, este ‘algo’
foi o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, onde um milhão de judeus
perdeu a vida. No auge da carnificina, o conjunto de campos da cidade polonesa,
implantado pelos nazistas, exterminava 20 mil pessoas por dia. Delas, muitas
eram crianças que por não serem aptas ao trabalho forçado iam direto para as câmaras
de gás. Cara, se ha uma forma de medir a desumanidade na história mundial ao
longo dos anos, sem dúvida o extermínio desses menores ocupa o primeiro lugar
da tabela.
De acordo com alguns historiadores, os campos de
Auschwitz eram os mais violentos e desumanos de todos. Neles, as crianças
recebiam os mesmos castigos impostos aos pais. Os menores que mais sofriam eram
os deficientes físicos, mentais e
epiléticos, passando depois para os mais franzinos, doentes e os grupos
considerados inferiores aos da raça ariana. Os nazistas fechavam o cerco
seletivo com os ‘culpados’ de terem avós judeus.
Acreditem, essas crianças enfrentaram os mais cruéis
e insanos meios de tortura e morte. Algumas eram jogadas pelas janelas ou então
agarradas pelos cabelos e atiradas com violência em caminhões com passagem
apenas de ida; outras tinham a estrela gravada com ferro em brasa no corpo,
quase sempre nas costas ou no rosto. Fazia ainda parte do pacote os
fuzilamentos, as câmaras de gás disfarçadas de chuveiros e as terríveis e
bizarras experiências médicas com o carniceiro Dr. Josef Mengele.
Um antigo professor de história - da época dos
cursinhos pré-vestibulares - me relatou algo que estilhaçou a alma: o genocídio
durante o Holocausto chegou a tal ponto que muitas crianças eram jogadas vivas
às fornalhas. Putz, putz e putz!!
Mêo, se ao recordar esse quadro diabólico, você –
assim como eu – já fica com o seu emocional abalado, imagine então, os judeus -
que viveram tudo isso? Agora, pense no emocional das crianças que presenciaram
todas essas cenas pavorosas?! A maioria que conseguiu sobreviver ao Holocausto sem
seqüelas, principalmente mentais, optou pelo silêncio, pois queria apenas esquecer todo
o sofrimento; mas uma delas preferiu revelar tudo o que viu e sentiu neste
horror: Thomas Buergenthal. Nasceu, assim, o livro “Uma Criança de Sorte”. Aos
seis anos, Buergenthal foi enviado para o gueto de Kielce, na Polônia. Com
dez, separado de sua família, foi
para... adivinhe onde? Auschwitz, lá mesmo. Apesar da pouca idade, conseguiu
sobreviver a todo o festival de terror que já narrei no início do post. “Uma
Criança de Sorte” traz as memórias dessa criança do passado, hoje um
proeminente professor, juiz de direito e escritor com formação na cobiçada
Universidade de Harvard. O autor eslovaco ganhou em 2008, o prêmio Gruber Prize
for Justice por defender os direitos humanos.
Li o livro de
Buergenthal e recomendo para todos os leitores que quiserem conhecer de maneira
aberta, sem segredos, a vida por detrás das cercas de Auschwitz. Numa linguagem
fluida, ele esmiúça a rotina do campo de concentração e quais ‘táticas’ foi
obrigado a utilizar para sobreviver à matança em massa.
Ele conta que primeiramente foi separado de sua mãe –
com apenas cinco anos – e pouco depois perdeu o seu pai, sendo obrigado a ‘se virar’
no meio das monstruosidades do campo nazista para continuar vivo.
Um dos momentos mais emocionantes da obra é aquele
em que o autor revela o esforço quase sobre-humano de seu pai para livrá-lo da
câmara de gás e das experiências com Mengele. Ele revela que calculava o tempo
em Auschwitz pelo numero de horas que precisava esperar para receber a próxima
refeição ou pelos dias que restavam até o momento em que Mengele faria uma de
suas seleções mortais.
Todo o sofrimento vivido no Holocausto exerceu em Buergenthal um impacto substancial, fazendo com que se
tornasse professor de direito internacional, advogado de direitos humanos e
juiz internacional.
Um livro indispensável para todos que quiserem
conhecer detalhes sobre um dos períodos mais tristes da nossa história.
Detalhes
técnicos
“Uma Criança de Sorte”
Autor:
Thomas Buergenthal
Editora:
Nova Fronteira
Páginas:
224
Ano:
2012
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