Crash: Estranhos Prazeres

23 agosto 2015
Acabei de ler “Crash: Estranhos Prazeres” de J.G. Ballard e posso classificá-lo como um livro fóda. Apesar de alguns leitores mais puritanos ficarem chocados com o termo, peço desculpas, não há outra palavra para defini-lo em sua ambigüidade. De fato, a obra é fóda no bom e também no mau sentido; depende da maneira de como você encarar as 240 páginas escritas pelo autor. Li inúmeras resenhas que endeusaram a história, enxergando um monte de metáforas escondidas no texto cru e indigesto de Ballard. Por outro lado, alguns segmentos de leitores e blogueiros só conseguiram ver pornografia no livro. Se você se enquadra no primeiro grupo, o livro foi maravilhosamente fóda, mas se você faz parte do segundo grupo, “Crash: Estranhos Prazeres” foi simplesmente fóda; um fóda daqueles que servem para registrar os piores momentos de sua vida, quando você atinge o fundo do poço numa situação extrema e exclama: - “Putz, tô fudi...!”
Eu estou na segunda categoria, porque achei o livro muito ruim. Tudo bem que os aficionados da obra enxergaram um monte de metáforas nas linhas e entrelinhas escritas por Ballard, mas eu não enxerguei. Tudo isso que estou escrevendo no post, transformei em palavras para um ex-colega de universidade – gosto muito do cara – o Marquinhos, um leitor voraz e inteligente. Após me ouvir, acredito que ele só não me chamou de “Rei dos Asnos” por é muito meu amigo.
Ele me disse:
–“Mêo! Você não entendeu que, na obra, a masculinidade é medida pelo tamanho do carro que o cara possui!?”
- “Não, não entendi, isso não.
“ Você não entendeu que os todos aqueles carros são uma metáfora aos órgãos sexuais masculinos!?”
- “Piorou! Entendi menos ainda”
Esta foi uma parte do nosso diálogo há dois dias trás.
Na minha opinião a história de Ballard envolvendo pessoas que se excitam com acidentes de carros é o fóda no pior dos sentidos. Achei as fobias, neuras e taras descritas pelos personagens muito cansativas. Pô! Não saia daquilo! O sujeito contava uma tara, você virava a página e lá vinha o mesmo sujeito contando outra tara. Depois chegava uma mulher e contava a sua tara ou neura, dava um ‘tempinho’, e lá vinha a ‘muié’ com mais uma tara. A leitura foi ficando repetitiva e juro, novamente, que não enxerguei metáfora nenhuma nesse festival de taras.
Ao final, cheguei a conclusão que estava lendo uma obra pornográfica. Mais uma vez, me desculpe os fãs ardorosos de “Crasch: Estranhos Prazeres”, mas foi o que senti.
O livro escrito em 1973, é narrado em primeira pessoa por um roteirista de cinema e publicidade, James Ballard (mesmo nome do autor), e retrata uma espécie de irmandade de indivíduos doentios, obcecados pelas possibilidades eróticas dos desastres de automóvel.. Os caras só sentem prazer quando vêem pessoas destroçadas em acidentes de veículos. Entendam, eles não sentem prazer ao presenciarem a colisão, mas após; ou seja, quando os corpos estãoexpostos no meio das ferragens. 
O líder do grupo, Robert Vaughan, passa seus dias nas vias expressas da região do aeroporto de Londres, procurando acidentes sangrentos, que ele fotografa em todos os detalhes escabrosos. Depois, com prostitutas colhidas à beira da estrada, busca reproduzir, em bizarros atos sexuais no interior do carro, as posições das vítimas lesionadas.
A história é conduzida por um narrador cada vez mais perplexo e fascinado com a
descoberta desse mundo em que o erótico, o mecânico e o macabro parecem se fundir.
Após sofrer um acidente, o narrador conhece no hospital o líder do grupo viciado em acidentes e com isso, acaba ingressando na seita ou irmandade, sei lá.
James e sua mulher Catherine já eram bizarros antes de ingressarem no grupo de Vaughan. Há um trecho no livro que retrata bem a bizarrice do casal, descrita pelo marido: “Durante nossos primeiros atos sexuais eu inspecionava deliberadamente cada orifício que podia encontrar. Passava a língua por suas gengivas, na esperança de sentir algum fragmento de vitela retido entre os dentes; enfiava a língua por sua orelha, na esperança de encontrar um vestígio do gosto de cera; examinava suas narinas e umbigo, e, por último, a vulva e o ânus. Tinha de meter o dedo até o fundo antes de extrair matéria fecal, um vestígio marrom na unha”.
Enfim, “Crash: Estranhos Prazeres” é isso: taras, taras e mais taras. Metáforas entre tantas taras, não encontrei. Com certeza, o cineasta David Cronemberg localizou as trais metáforas, pois em 1996, decidiu filmar com algumas amenizações a história de Ballard. E diga-se, a produção recebeu muitos elogios; mas opiniões são opiniões, cada leitor ou cinéfilo tem a sua.
E pensar que há pouco tempo, após ler várias resenhas positivas, cheguei a elogiar o livro de Ballard. Erro crasso o meu.
Inté!


2 comentários

  1. Acho que a metáfora deve ser subordinada ao romance e não o inverso. Não tenho a mínima paciência em buscar significados ocultos em livros. Por isso sou tão fã de Stephen King, o cara é honesto, ele diz que tudo o que tinha a dizer está claro no texto e significados ocultos ficam por conta da imaginação de quem lê. Concordo contigo, Crash é apenas um livro obre uma perversão doentia, não tem porque tentar enobrecer a leitura buscando metáforas.

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    1. Pois é Ronaldo, e eu acabei comprando o livro por causa das 'milhares' de opiniões e resenhas favoráveis. Dancei (rs).
      Abcs!

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