Em 2012, ainda nos primórdios desse blog, escrevi um
post sobre os fiascos dos filmes baseados em livros de Sidney Sheldon e Stephen
King. Na postagem “Stephen King e Sidney Sheldon: “competentes nas páginas e azarados no cinema”, selecionei alguns livros de King e Sheldon, considerados
sucessos de público e crítica, mas que deram origem a bagaceiras homéricas no
cinema e na TV.
No post de hoje quero fazer um mea-culpa com relação a
King. Tudo bem, concordo que vários de seus livros e contos viraram verdadeiras
bagaceiras nas telonas, mas por outro lado, o mestre do terror também teve várias
histórias transformadas em grandes sucessos nos cinemas. Quanto a Sheldon, a minha
opinião anterior continua a mesma, já que todas as adaptações de seus livros
foram ‘brabas’, algumas delas, verdadeiros desastres. Enfim, não escapou
nenhuma.
King, por sua vez, teve mais sorte. Prova disso é que
selecionei oito filmes baseados em obras literárias do autor que se tornaram
grandes sucessos de público e crítica. Vamos a eles.
01
– Bala de Prata (1985)
-
Baseado no livro: “A Hora do Lobisomem” lançado em 1983
Muitos críticos consideram “Bala de Prata” juntamente
com “Um lobisomem americano em Londres” (1981) os melhores filmes sobre
lobisomem produzidos nos anos 80.
Apesar da produção baseada no livro A Hora do Lobisomem ter feito mais
sucesso na TV e em vídeo, os críticos definem “Bala de Prata” como um filmaço.
Dirigido por Daniel Attias e roteirizada, a propósito,
pelo próprio King, a obra audiovisual narra a história de uma pacata
cidadezinha do interior dos EUA que tem sido atormentada por um lobisomem. Ninguém
no local acredita nessa possibilidade até que a situação sai de controle, com
muita gente morrendo e famílias entrando em pânico. Nesse contexto aterrorizante, sobra, então,
para o personagem Marty Coslaw, um garoto paralítico, interpretado por Corey
Haim - um jovem ator muito conhecido naquela época – juntamente com sua irmã Jane
(Megan Follows) e seu tio Red (Gary Busey) darem um jeito de parar a ameaça.
Apesar do orçamento baixo (sete milhões de dólares), o
mestre de efeitos especiais Carlo Rambaldi (“E.T., Contatos Imediatos do
Terceiro Grau” e “Duna” dentre vários outros) não faz feio se considerarmos as
restrições financeiras e a época em que o filme foi feito.
Filmaço. Quanto ao livro, não preciso ‘dizer’ nada, A Hora do Lobisomem é um verdadeiro clássico da literatura de
terror.
02
– Um Sonho de Liberdade (1994)
-
Baseado no conto Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank que faz parte da
coletânea “As Quatro Estações”, lançado em 1984.
“Um Sonho de Liberdade” com Morgan Freeman e Tim
Robbins apesar de ter recebido sete indicações para o Oscar, incluindo a de
“melhor filme”, não levou nenhuma.
Antes da premiação da Academia, o filme decepcionou
nas bilheterias, o público foi bem aquém do esperado, apesar dos críticos terem
amado a produção. “Um Sonho de Liberdade” só atingiria o tão esperado sucesso
de público quase um ano depois de sua chegada aos cinemas, em 1995, logo após
as pessoas terem tomado conhecimento das sete indicações ao prêmio Oscar.
O lançamento da versão VHS representou o sucesso que
ele tanto precisava. Em 1995, foi a fita mais alugada nos Estados Unidos. A TNT,
logo depois, adquiriu os direitos de exibição do longa que passou inúmeras
vezes na TV, caindo definitivamente no gosto do público.
O conto Rita
Hayworth e a Redenção de Shawshank é um dos mais surpreendentes do livro As Quatro Estações. Adorei o final,
aliás, muito parecido com o “The End” do filme.
03
– Conta Comigo
-
Baseado no conto O Corpo que faz parte da coletânea “As Quatro Estações”,
lançado em 1984
Taí mais um filmaço que saiu das páginas da coletânea As Quatro Estações. Desta vez, o conto O Corpo virou “Conta Comigo” nos
cinemas. Grande sucesso de público e crítica. Nesta adaptação cinematográfica, um
grupo de garotos de 12 anos (vividos por jovens Wil Wheaton, River Phoenix,
Corey Feldman e Jerry O’Connell) descobrem que o corpo de um jovem desaparecido
está abandonado próximo de um trilho de trem a quilômetros de sua cidade,
Castle Rock. Buscando a fama de heróis, eles decidem ir atrás do cadáver, sem
saber que uma gangue de adolescentes está com o mesmo plano.
Ausente de elementos sobrenaturais, o enredo foi o
primeiro drama de King a ser levado para o cinema e como já citei a galera
cinéfila amou.
até hoje, é muito respeitada pelo público. Grato com o
sucesso do filme, o diretor Rob Reiner, ajudou a fundar a Castle Rock
Entertainment, que seria responsável por lançar outros títulos importantes
derivados da obra de Stephen King, como “Louca Obsessão” (1990), “Trocas
Macabras” (1993) e “Um Sonho de Liberdade” (1994).
04
– O Iluminado (1980)
-
Baseado no livro “O Iluminado”, lançado em 1977
O curioso em relação a esse filme dirigido por Stanley
Kubrick (”2001- Uma Odisseia no Espaço”) é que Stephen King odiou a produção,
tecendo críticas bem ácidas e afirmando que haviam matado a sua obra. Ele
detestou tanto que anos depois, resolveu produzir uma nova história baseada em
seu livro. Apesar dos protestos de King, o filme dirigido por Kubrick fez um
baita sucesso e hoje é considerado um verdadeiro clássico do cinema de terror.
O diretor de “2001- Uma Odisseia no Espaço” fez um “O
Iluminado” espetacular, uma obra que tem a sua marca. Não esperem ver elementos
da obra do mestre do terror muito presentes, pois o roteiro filmado é bem
diferente do livro, o que demonstra muito bom senso e personalidade por parte
de Kubrick em adaptar a sua maneira, um dos maiores sucesso de King.
Em um de seus papéis mais icônicos, Jack Nicholson interpreta
Jack Torrance que decide ir para o elegante e isolado Overlook Hotel com sua
esposa (Shelley Duvall) e o filho (Danny Lloyd) para trabalhar como zelador
durante o inverno. Ao chegarem ao local, Torrance começa a mudar a sua
personalidade, para pior, como se o Hotel estivesse controlando a sua vontade.
05
– À Espera de um Milagre (1999)
-
Baseado no livro “À Espera de um Milagre”, lançado em 1996
Frank Darabont volta a dirigir um filme baseado numa
obra de Stephen King cinco anos depois de ter conduzido as filmagens de “Um
Sonho de Liberdade”.
“À Espera de um Milagre” foi indicado para o Oscar nas
categorias de melhor filme, melhor ator coadjuvante (Michael Clarke Duncan),
melhor som e melhor roteiro adaptado.
Na trama, John Coffey, personagem vivido por Clarke
Duncan, que se encontra no corredor da morte em uma penitenciária de Cold
Montain, é um gentil e gigantesco prisioneiro com poderes sobrenaturais que
trazem um senso de espírito e humanidade
aos seus guardas e colegas de cela. Ele também tem o poder de curar as pessoas
que estão enfermas.
Apesar das suas três horas de duração, o filme de Darabont
não cansa o espectador. O enredo é de uma sensibilidade ímpar; muito emocionante.
Tanto livro quanto filme são narrados em primeira
pessoa por Paul Edgecombe (Tom Hanks), um idoso que vive em um asilo. Paul
regressa em suas memórias e narra suas experiências como chefe dos guardas no
corredor da morte da penitenciária de Cold Mountain durante a Grande Depressão,
onde conheceu o estranho prisioneiro chamado vivido por Clarke Duncan.
06
- Carrie, A Estranha (1976)
-
Baseado no livro “Carrie”, lançado em 1974
Existe uma história real, mas para aqueles que não
acompanham a fundo a carreira de Stephen King, ela não passa de lenda. Podem
acreditar, não é lenda; trata-se da mais pura verdade. Saibam que se não fosse a
mulher do escritor, Tabitha King, talvez o mestre do terror não existiria, ou
seja, ele poderia ter sido qualquer ‘coisa’, menos escritor. Explico melhor: ao
escrever os primeiros capítulos de seu primeiro romance (Carrie), King não
gostou nenhum pouco do que escreveu e, por isso, decidiu jogar as folhas no
lixo. Quem as resgatou foi sua esposa, a também escritora, que insistiu para
que ele terminasse a história. Nascia assim, o primeiro grande sucesso
literário do autor que não pararia mais de crescer até ter se tornado uma
referência do gênero terror em todo o mundo.
Dois anos após o seu lançamento, Carrie ganharia uma adaptação cinematográfica com Sissy Spacek e
John Travolta (antes da fama com “Os Embalos de Sábado a Noite”) chamada
“Carrie, A Estranha”. A produção cinematográfica dirigida pelo mestre Brian de
Palma fez um enorme sucesso naquela época e com o passar do tempo acabou se
tornando um filme cult amplamente merecedor do status de antológico. Resumindo:
a obra de Brian de Palma arrebentou a boca do balão.
Pois é, tudo deveria ter parado por aí, mas então
vieram os produtores “papa níqueis” e resolveram criar mais três prequels horríveis;
um pior do que o outro. Como eu já mencionei, deveriam ter parado no original.
Assim vieram os medonhos: “A Maldição de Carrie” (1999), “Carrie, A Estranha”
(2002) e outra “Carrie, A Estranha” (2013).
Mas como estamos “falando” apenas de filmes baseados
em livros de King que se tornaram clássicos, melhor ficar com a primeira Carrie
e esquecer as demais.
07
– Louca Obsessão (1990)
-
Baseado no livro “Misery”, lançado em 1987
Misery,
o clássico do terror escrito por Stephen King inspirou o filme “Louca Obsessão”
que também se tornaria um clássico no início dos anos 90. A produção com Kathy
Bates e James Caan, é uma história chocante sobre o impacto da ficção em uma
mente obsessiva e a angústia do aprisionamento.
Na trama, Paul Sheldon, interpretado nas telonas por
James Caan, é um escritor famoso, reconhecido por uma série de best-sellers
protagonizados pela mesma personagem: Misery Chastain. Annie Wilkes é uma
enfermeira aposentada, leitora voraz e obcecada pela história de Misery. Quando
Paul sofre um acidente de carro em uma nevasca, ele é resgatado justamente por
Annie, e esse encontro entre fã e autor é o ponto de partida de uma das tramas
mais aterrorizantes criadas por Stephen King.
Insatisfeita com o final do último livro da série, a
fã isola o autor debilitado em um quarto em sua casa. Com torturas, ameaças e
uma vigilância persistente, ela faz de tudo para obrigá-lo a reescrever a
narrativa com o final que ela considera apropriado. Considerada uma das vilãs
mais assustadoras e complexas do universo King e interpretada por Kathy Bates
no filme que se tornou um clássico, Annie Wilkes é a figura que faz de Misery um livro e um filme essenciais.
08
– It, A Coisa – Capítulos I e II (2017 e 2019)
-
Baseado no livro It, lançado em 1986
It (A Coisa)
foi o 22º livro de Stephen King e seu 17º romance escrito em seu próprio nome.
As outras cinco histórias (“Fúria” (1977), “A longa marcha” (1979), “A
auto-estrada” (1981), “O Sobrevivente” (1982), e “A maldição do cigano” (1984)
foram escritas com o pseudônimo de Richard Bachman. A narrativa segue as
experiências de sete crianças, que são aterrorizadas por uma entidade maligna –
o diabólico palhaço Pennywise ou Parcimonioso - que explora os medos de suas
vítimas para se disfarçar enquanto caça suas presas.
O livro rendeu três adaptações, sendo uma para a TV e
duas para os cinemas. As duas últimas num enredo único, mas dividido em dois
capítulos que estrearam nos cinemas em 2017 e 2018.
As críticas apontaram que “It, A Coisa”, apesar de ser
um filme demasiadamente longo, tem um bom desfecho e momentos assustadores que
vão além dos efeitos especiais. Em outras palavras: apesar da longa duração, o que
obrigou os produtores a dividirem o filme em dois capítulos, “It, A Coisa”
agradou críticos e público.
Já a produção de 1990 lançada diretamente em vídeo e depois
na TV pode ser considerada mais modesta. Mesmo assim, “It – Uma Obra-Prima do
Medo” também não decepcionou, mas apesar disso, não consegue superar os dois
capítulos de “It, A Coisa” exibidos em 2017 e 2018.
Taí galera, é isso.
Por hoje, é só.
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