A Hora do Lobisomem

13 agosto 2017
O Francisco, um colega meu, que detesta ser chamado de Chico, me fez ver o quanto Stephen King é bom. Tudo bem que eu já sabia do talento inquestionável do escritor, afinal de contas, já li grande parte de seus livros, mas o Chico me abriu os olhos para uma virtude de King que falta para a maioria dos outros autores: o dom de escrever uma história curta com muuuiiitos personagens e dar à todos eles a importância merecida, chegando ao ponto de um mero personagem coadjuvante conquistar a preferência dos leitores.
Pois é, foi o que aconteceu com o Chico que se encantou com Kate, a irmã de Marty, este o personagem principal de “A Hora do Lobisomem”. E confesso que também senti uma queda pela menina que é fantástica. Ok, quer ver como King é fodástico na hora de compor um personagem? Kate aparece poucas vezes no enredo, seus diálogos são curtos – não chegam a uma linha, quanto mais um parágrafo - acontecem somente com Marty e... acho que nas poucas mais de 100 páginas da história, ela aparece apenas três ou quatro vezes. Alias, ‘aparecer no enredo’ não seria o termo correto. O mais ideal seria ‘passar pelo enredo’, já que a sua participação na história é do tipo vapt-vupt, mas apesar disso, ela conquistou o coração e a atenção do Chico e... a minha, também.
King compôs uma personagem dúbia com falas ácidas. No início você acredita que ela sente raiva ou ciúme de Marty, mas na realidade, ela ama o seu irmão de paixão. Até mesmo, durante os diálogos em que ela o chama de aleijado protegido e mimado que consegue tudo o que quer da; nós, leitores, não conseguimos sentir raiva dela. Na realidade, esta é a maneira que Kate encontra de expressar o seu carinho pelo irmão. Nem mesmo Marty fica com raiva dela, ao contrário, ele também entra no ‘clima’ porque sabe que pode confiar em sua irmã de olhos fechados.
Em “A Hora do Lobisomem”, King esbanja talento ao criar personagens que apenas ‘passam pela história’, mas conseguem deixar a sua marca. O policial Nery que surge apenas em um capítulo também prende a atenção do leitor por causa da sua arrogância e auto-suficiência. Para ele, o lobisomem da história não passa de um marginalzinho barato com uma fantasia de lobo que sai matando pessoas indefesas nas noites de lua cheia. O cara é tão chato que você passa a torcer pela besta. Quando cheguei neste capítulo pensei comigo mesmo: “Tomara que o lobisomem de um jeito nesse calhorda arrogante”.
Milt Sturmfuller e Stella Randolph,  são outros que apenas passam, mas também mexem com os sentimentos dos leitores, de maneira positiva ou negativa. Além desses, há também outros coadjuvantes, sem contar os personagens principais: Marty, seus pais, seu tio Al e o reverendo Lester Lowe.
Cara, tente escrever uma história curta de aproximadamente 100 páginas , lotada de personagens, e tente fazer com que todos eles recebam a atenção merecida dos leitores. King conseguiu essa façanha em “A Hora do Lobisomem”.
O enredo criado pelo autor é apaixonante e prende a atenção do leitor página por página. A história se desenvolve mês a mês, sendo que cada capítulo corresponde a um mês do ano. Acredito que King já escreveu contos até mais compridos do que “A Hora do Lobisomem”, por isso mesmo, acredito que a história se enquadraria muito mais nessa categoria do que no gênero romance. Mas o que importa é a qualidade da obra. E quando digo qualidade estou me referindo a um todo que vai desde o texto cativante,  passando pelas ilustrações e terminando com a capa primorosa elaborada pela Suma de Letras. C-a-r-a-c-a! Que coisa linda!
O livro mescla as ilustrações originais de Bernie Wrightson – coloridas, nesta edição!! – com as inéditas de Giovanna Cianelli, Rafael Albuquerque, Rebeca Prado e Lucas Pelegrinetti, considerados quatro dos melhores ilustradores do País. Achei incrível a sacada da Suma de Letras que pediu aos quatro profissionais brasileiros que representassem a sua cena preferida de “A Hora do Lobisomem”. Cada um deles desenhou a cena do romance que mais mexeu com a sua sensibilidade. Fantastic!
Quanto as ilustrações originais de Wrightson dispensam comentário. São um atrativo a parte. Elas fecham cada capítulo do livro. Você não vê a hora de concluir a leitura do capítulo para conferir a ilustração da cena.
Para quem não sabe, Wrightson que morreu em março desse ano, aos 68 anos, vítima de câncer, foi um artista americano mais conhecido como co-criador do personagem Monstro do Pântano. Ele começou a carreira como ilustrador nos anos 1960 antes de começar a trabalhar com quadrinhos. Também fez capas de livros de King e artes conceituais para vários filmes, entre os quais "Os Caça-Fantasmas", "Galaxy Quest" e "Homem-aranha".
O trabalho de Wrightson se tornou uma grande influência no gênero do terror, tanto é verdade que ele recebeu uma homenagem no último episódio da emblemática série de TV “Walking Dead” que terminou em abril.
“A Hora do Lobisomem” conta a história da pequena cidade de Tarker's Mill que sempre foi um lugar pacato até que terríveis e violentos assassinatos começaram a acontecer. Os habitantes locais acreditavam que o responsável pelas mortes seja um psicopata à solta. Porém um garoto de 11 anos, audacioso, curioso e rebelde, chamado Marty – que não tem os movimentos das pernas e por isso vive numa cadeira de rodas - acredita que os assassinatos não estão sendo causados por uma pessoa, mas sim por um lobisomem.
Advinhem se ele não está certo...
Leiam, sem medo, aliás... com medo.

Livro para entrar na lista de favoritos de qualquer leitor, ainda mais com essa edição luxuosa preparada pela Suma de Letras.

5 comentários

  1. Aaaaamo ler e adoooooro histórias de terror. E faz aaaaanos que ouço falar de Stephen King. Mas nunca li um livro dele.
    Ok, não me bate!, he, he.
    E já assisti a praticamente todos os filmes baseados na obra de King. Agora vou apanhar, rs,rs.
    Bom, acho que tenho algum perdão. Na época pré internet, e morando em cidade pequena, eu ficava meio que refém do reembolso postal e as editoras da época que mais se destacavam nesse tipo de venda não tinham livros de King. Portanto acabei conhecendo King e descobrindo o fascínio de suas histórias pelos filmes mesmo. Depois da internet, sei lá porque nunca comprei um livro dele.

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    1. "Não me bate...Agora vou apanhar". Estou rachando de rir por aqui com as suas colocações, Atas. De fato, a maioria dos filmes de King - com raras exceções, e temos algumas - são horrorosos, ao contrário dos livros. Inclusive, já escrevi um post sobre esse tema.
      Abrcs!

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  2. Calma, estou me redimindo. Já há um bom tempinho estou de olho e muitas vezes não comprei pelo preço ( mesmo em sebos alguns livros dele estão bem caros). E de ficar de olho e esperando um preço razoável , comprei, N (DarkSide), que está esperando o momento certo de ser lido, e num sebo As Quatro Estações, que chegou em tão bom estado que ninguém diria que é usado. Quando chegou li duas páginas ( sem intenção de lê-lo por enquanto) e não resisti, com tempo tive de ler a primeira história. Acho que comecei a entender o encanto por esse autor, afinal me fazer adorar uma história cujo tema não me interessaria, tem que ser muito bom.
    Lembra do que falei acima? Nunca li um livro dele, inteiro ainda não. Sei lá, sem pensar nisso acho que eu queria começar com o pé direito. E pelo jeito vou. Chegou esses dias A Hora do Lobisomem( adorei o filme, he, he). E fora ser de Stephen King e certamente ser uma história ótima, que edição é essa, rapaz! E a capa! E as ilustrações! Merece tudo que você falou acima. O livro é liiindo!
    Pergunta: Todos da coleção são tão lindos?

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    1. Tenho os cinco livros da coleção "Biblioteca Stephen King" e posso garantir que o layout de ambos é fantástico. Vale lembrar que o único da coleção que contém ilustrações é "A Hora do Lobisomem".
      Dica de leitura: Se quiser sentir muuuuito medo, recomendo dois livros de King: "A Coisa" e "O Cemitério". Este último, além do medo, ainda deixa o leitor muito incomodado. Ler a noite e sozinho é barra. Experimente.
      Abcs!

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  3. Bem, no caso do "O Cemitério", tenho ele na minha intenção de compras já a um bom tempo. Sempre achei ele meio carinho, fico esperando alguma promoção, mas com certeza uma hora dessas compro. Pena que não esteja nessa coleção da Suma em edição tão caprichada.
    Abraços e boas leituras amigo.

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