Quando conversamos com alguém sobre faroeste, cowboys,
pistoleiros ou cavaleiros solitários, a primeira imagem que vem em nossas
cabeças são os filmes do gênero. Quase que imediatamente nos lembramos de “Sete
Homens e Um Destino”, “O Dólar Furado”, “Django”, “Meu Ódio Será Tua Herança”,
além de outros clássicos que fizeram a galera ficar de olhos colados nas
telonas dos cinemas. Os livros nessas horas passam longe e bem longe.
O que algumas pessoas desconhecem é que além dos
filmes, também temos excelentes livros sobre o tema. Verdade! E livros tão bons
quanto os filmes. Infelizmente, muitos leitores pensam que as histórias de
cowboys estão restritas aos livros de bolso dos anos 70 que faziam parte das
pulp fictions. Nada contra essas publicações, mesmo porque li muitas delas na
minha infância e adolescência e adorava. O que estou querendo explicar é que os
anos passaram e com isso as publicações de histórias sobre o velho oeste acabaram
evoluindo, deixando os formatos pulp de lado para assumir layouts bem mais
modernos. Os enredos, por sua vez, foram atualizados mas sem perder a sua
originalidade.
É uma pena que esse gênero não ganhou a divulgação
merecida das editoras que preferiram apostar, ao longo dos anos, em sagas,
trilogias ou romances do tipo “Young Adult”. E assim enquanto as histórias
sobre o velho Oeste estagnavam, a chamada literatura “YA” prosperava com os
seus Harry Potrters, Percy Jacksons, Jogos Vorazes, Crepúsculo,
A Culpa é das Estrelas e por afora.
No post de hoje quero resgatar esse tipo de literatura
que ficou esquecida com o passar dos anos mesmo contando com o lançamento de
obras do mais alto nível graças a persistência de poucos editores que ainda
acreditam que os cowboys, os cavaleiros solitários e os desbravadores do velho
Oeste da literatura não morreram. Selecionei dez livros para os leitores que
apreciam o gênero. Podem comprar; vale a pena.
01
– Trilogia Gatilho (Carlos Estefan e Pedro Mauro)
Se você é fã de Histórias em Quadrinhos e, claro, faroeste
do tipo cavaleiro solitário que chega em uma cidadezinha do velho Oeste para se
vingar de algo que lhe aconteceu no passado, então está intimado a comprar os
três livros da série “Gatilho”. A editora Pipoca & Nanquim decidiu, no ano
passado, presentear os seus leitores com uma edição hiper luxuosa agregando
toda a trilogia. Verdade! As três histórias em quadrinhos lançadas
separadamente em 2017, 2018 e 2019 - que já estavam esgotadas em suas edições
originais - estarão reunidas num único volume.
Quando foi publicada em 2017, a graphic novel Gatilho
chegou sem fazer muito alarde, com os seus autores- os brasileiros Carlos Estefan e Pedro Mauro -
não tendo a intenção de escrever uma continuidade tanto é que o enredo foi
formatado para se tornar uma história única. Pois é, mas o sucesso foi tanto
que Estefan e Mauro resolveram sequenciar a aventura do pistoleiro sem nome
transformando-a numa saga. Logo depois, em 2018 e 2019, foram lançados os dois
próximos quadrinhos que se tornaram um fenômeno de vendas. Hoje as três
histórias em quadrinhos estão esgotadas e se não fossem a Pipoca & Nanquim,
os amantes de novelas gráficas, principalmente aqueles que são fãs do gênero
western estariam privados de ler essas três preciosidades.
A trilogia do “pistoleiro sem nome”, composta pelos
volumes Gatilho, Legado e Redenção é
amplamente ovacionada por público e crítica como um dos melhores faroestes já
feitos no Brasil.
A edição definitiva da editora Pipoca & Nanquim
tem formato grande, com capa dura de papel linho, lombada redonda e 260 páginas
em papel de alta gramatura. Como já disse acima, reúne os três volumes
originais, desta vez coloridos pelo próprio Estefan, uma história inédita em
preto & branco e prefácio exclusivo do autor italiano Gianfranco Manfredi,
parceiro de Pedro Mauro em outros projetos na Sergio Bonelli Editore.
02
– Cimarron (Edna Ferber)
Esta dica de leitura é para a galera que adora
história de desbravadores do Velho Oeste americano. Cimarron de Edna Ferber aborda o período da colonização do estado
de Oklahoma que começou no início do século XIX.
Ferber conta a saga do advogado, ex-jornalista e
aventureiro Yancey "Cimarron" Cravat que em 1889 se casa com uma dama
do Sul e resolve retornar ao Oeste, tentando conseguir as terras com as quais
sonhara construir um rancho e criar gado, aproveitando a "corrida pela
terra" iniciada com a concessão do governo americano de vários hectares de
Oklahoma para a colonização, adquiridos dos índios. E assim, o casal acaba se
transformando em pioneiros do novo estado americano. Além dos Yancey, são
vários os competidores pelas terras, alguns, durante a jornada acabam virando
seus amigos, enquanto outros viram inimigos.
Dentro desse contexto, ocorrem as brigas, trocas de
tiros, romances, desavenças e traições.
O livro da escritora americana publicado originalmente
em 1930 serviu de roteiro para dois verdadeiros clássicos do cinema. O primeiro
“Cimarron”, que passou nas telonas em 1931, com Richard Dix e Irene Dunne, conquistou
as estatuetas de melhor filme, direção de arte e roteiro adaptado. Recebeu
ainda indicações nas categorias de melhor ator, atriz, diretor e fotografia.
Quanto ao “Cimarron” de 1960, apesar de mais modesto, ainda conseguiu ser
indicado ao Oscar por ‘Melhor Direção de Arte’ e ‘Melhor Som’.
03
– Os Melhores Contos de Faroeste (Vários Autores)
A coletânea de histórias lançada pela José Olympio
Editora em 2004 reúne 17 contos clássicos ambientados no velho oeste americano,
escritos por verdadeiras feras, entre os quais: Elmore Leonard, Jack London,
Stephen Crane e até mesmo Mark Twain – juro que eu não sabia que ele também
tinha escrito temas de bang-bang.
Faz parte da antologia um dos maiores clássicos do
velho oeste. Estou me referindo ao conto Um
Homem Chamado Cavalo de Dorothy M. Johnson que no início dos anos 70 foi
adaptado para os cinemas. O filme homônimo tinha no papel principal o saudoso
ator Richard Harris (o Dumbledore de Harry Potter) que vivia um aristocrata
inglês (John Morgan), de modos refinados, que fazia parte de uma expedição em
Dakota em 1821, quando acaba sendo capturado por indios Sioux.
Morgan passa a ser tratado como um animal, entretanto
ao contrário dos outros homens brancos, ele passa a respeitar a cultura dos
seus captores, ao mesmo tempo em que inicia um aprendizado sobre os seus
costumes. Desta maneira, o aristocrata vai ganhando, aos poucos, o respeito dos
índios. Apesar de ter assistido ao filme ainda moleque, me recordo de uma cena onde
o personagem para poder se casar com uma índia da tribo acaba sendo obrigado a
passar por um ritual medonho. Brrrr..
A presença dessa história em Os Melhores Contos de Faroeste chamou-me a atenção devido a sua
raridade. O conto de Johnson nunca veio a ser lançado no Brasil. Ele apareceu
pela primeira vez na revista Coller, em
7 de janeiro de 1950, depois foi reeditado em 1968, como uma pequena história
dentro do livro Indian Country,
também de autoria da escritora americana.
Vou ser sincero, já li o livro e dos 17 contos gostei
apenas de oito, mas todos nós sabemos que gosto não se discute, pode ser que
você acabe gostando daqueles que eu não gostei e odiando aqueles que eu amei.
04
– Meridiano de Sangue (Cormac McCarthy)
Cara, muito violento. Não recomendo para os leitores
mais sensíveis. Apesar do enredo denso e cheio de ações agressivas e selvagens,
a obra de Cormac McCarthy foi bem aceita tanto pela crítica quanto pelo
público. Neste livro, McCarthy reinventa a mitologia do Oeste americano criando
uma obra arrebatadora sobre uma terra sem lei, em que o absurdo e a alucinação
se sobrepõem à realidade.
Desde as primeiras páginas de Meridiano de Sangue, o leitor acompanha um rapaz sem família, conhecido
apenas por “Kid”, abandonado à própria sorte num mundo brutal em que, para
sobreviver, precisa ser tão ou mais violento que seus inimigos. Recrutado por
uma companhia de mercenários a serviço de governantes locais, atravessa regiões
desérticas entre o México e o Texas com a missão de matar o maior número
possível de índios e trazer de volta seus escalpos.
Liderados pelo Capitão Glanton e um homem terrível,
conhecido por "O Juiz" um gigante albino violento, capaz de matar
animais e até mesmo crianças. Ele é visto como uma figura carismática,
inteligente, habilidosa e até mesmo sobrenatural.
Em Meridiano de
Sangue, o autor mostra uma parte violenta da história americana, o velho
oeste desmistificado de toda a sua aura de inocência e duelos heroicos. O que
vemos no enredo é algo denso, carregado de selvageria que nos faz ter uma visão
menos simplista do papel e da luta dos nativos americanos e até dos cruéis
caçadores de escalpos.
05
– Oeste Vermelho (Magno Costa e Marcelo Costa)
Tenho dois amigos que leram essa história e adoraram e
olha que eles são leitores muito exigentes. Além disso, constatei boas
avaliações com relação a Oeste Vermelho
nas redes sociais. Por isso decidi incluí-la nesta relação.
A história em quadrinhos criada pelos irmãos
brasileiríssimos Magno e Marcelo Costa se passa numa típica cidade pequena do
Velho Oeste americano povoada por fazendeiros e ameaçada por bandidos
assassinos. Poderia ser considerada uma história comum, se não fosse a ambientada
no mundo dos desenhos animados de gatos e ratos. Oeste Vermelho é inspirado nos filmes de Sergio Leone e John Ford,
e é uma jornada de perdas, redenção e, mais do que tudo, vingança, mas só que envolvendo
os nossos amiguinhos gatos e ratos.
A saga criada pelos irmãos Magno acompanha a história de
Nedville, uma cidade de ratos. A pequena
cidade de faroeste logo é abalada com a notícia de um ratinho forasteiro que
diz que gatos fizeram uma chacina na cidade vizinha.
Logo formam-se dois grupos: um comandado por Frank
Jones (que quer armar uma defesa contra os gatos e até abandonar a cidade se
for o caso) e outro comandado pelo rico roedor Madlock (que não acredita na
história e quer que tudo siga normal). Os dias passam e os gatos comandados por
Chartreux finalmente chegam na cidade.
Com a chegada dos gatos chega também a violência. A
matança desenfreada feita pelos felinos tem uma carga emotiva grande.
É a partir da covardia dos gatos que a vingança de
Frank Jones tem início. Como disse antes, é uma história sem grandes inovações
e segue os moldes tradicionais de vinganças do velho oeste. O ratinho Frank
Jones é muito bem construído e é inevitável que torçamos para o sucesso de sua
missão.
Fica aí uma boa dica de leitura.
06
– Valdez Vem Aí (Elmore Leonard)
O livro de
Elmore Laonard mostra um Velho Oeste sem lei, onde o homem que o representa só
tem poder na medida em que sabe atirar bem. Neste universo brutal, Valdez Vem Aí conta uma profunda
história de moralidade e justiça.
No enredo, um pistoleiro chamado Valdez tenta impedir
que um homem negro, casado com uma índia seja morto por um grupo de cowboys
comandados por um homem muito poderoso chamado Frank Tanner. Ele é acusado
injustamente de um crime que não cometeu. O pistoleiro não consegue impedir a
morte do homem que acaba deixando uma viúva grávida.
Valdez sabe que a pessoa que deu início ao mal
entendido que culminou na morte do negro foi Frank Tanner. Por isso, decide
então ir conversar com ele, a fim de pedir quinhentos dólares para ajudar a
índia grávida. Tudo o que consegue é ser rebaixado e humilhado por Tanner e
seus inúmeros capangas. Tenta recorrer ao diálogo novamente e acaba ainda mais
humilhado, sendo enxotado da fazenda com uma cruz presa às costas.
O que seus inimigos não lembram é que depois da
crucificação vem a hora da ressurreição.
Bob Valdez revira o fundo do armário e reaparece como
o pistoleiro que ninguém via há anos.
Escrito em 1970, este livro foi o oitavo romance de
Elmore Leonard e uma de suas investidas de maior sucesso no gênero faroeste.
Repleto dos diálogos afiados, o livro agrada em cheio os fãs de um bom western.
07
– Herança de Sangue: Um Faroeste Brasileiro (Ivan Sant’Anna)
Quem disse que o Brasil também não viveu os seus
tempos de Velho Oeste? Taí a obra do escritor Ivan Sant’Anna que não me deixa
mentir. Herança de Sangue: Um FaroesteBrasileiro narra a violenta formação histórica da cidade de Catalão, no
sertão de Goiás. Apesar de se tratar de um assunto histórico, o autor consegue
prender a atenção do leitor pois seu texto é leve e fluido.
A obra narra o surgimento da cidade ainda durante o
Brasil Colônia (século XVIII), passando pelo Império Brasileiro de D. Pedro II
e pela República Velha onde o coronelismo era a grande força política no
interior do Brasil.
Sant’Anna narra que desde sua fundação por
bandeirantes paulistas até meados do século passado, Catalão - atualmente uma
próspera cidade do interior goiano - era uma espécie de faroeste brasileiro.
Histórico ponto de pouso dos mais variados tipos de aventureiros em busca de
enriquecimento rápido, a localidade foi cenário de terríveis massacres e
disputas políticas. Matadores, criminosos e foragidos de todos os quadrantes
faziam do pequeno povoado um inferno de violência em meio ao trânsito de ouro,
pedras preciosas e mercadorias.
Os pistoleiros e valentões catalanos eram famosos por
sempre resolver as discussões, até as mais irrelevantes, no tiro ou na faca.
Assassinatos cometidos para solucionar questões "de honra" também
vitimaram gerações e gerações de famílias rivais, envolvidas numa selvagem
espiral de vingança.
Um livro bem no estilo Velho Oeste, mas brasileiro.
08
– Dança com Lobos (Michael Blake)
Muitas pessoas conhecem apenas o filme com Kevin
Costner que ficou famoso ao papar sete Oscars, incluindo os de Melhor Filme e
Melhor Direção. Mas o detalhe importante que vários cinéfilos e leitores não
sabem é que a célebre produção cinematográfica foi, na realidade, adaptada de um
livro homônimo escrito por Michael Blake.
Livro e filme narram a saga de John Dunbar, um oficial
de cavalaria, que se destaca como herói na Guerra Civil Americana e, por isto,
recebe o privilégio de escolher onde quer servir. Ele escolhe um posto longínquo
e solitário, na fronteira.
Ao chegar nesse local isolado, ele estabelece amizade com um grupo de índios
Sioux - Lakota, sacrificando a sua carreira e os laços com o exército
estadunidense em favor da sua ligação com este povo, que o adota.
A convivência com os indígenas faz com que Dunbar,
pouco a pouco, vá adquirindo seus costumes, ao mesmo tempo em que ganha
respeito dos nativos. Dunbar acaba se envolvendo com uma mulher branca criada
pelos Siouxs, tornando-se um verdadeiro membro da tribo participando, inclusive
de batalhas com outros índios inimigos.
09
– Areia nos Dentes (Antônio Xerxenesky)
O livro da gaúcho Antônio Xerxenesky mistura duelos,
carteados, mariachis, cowboys e pasmem: zumbis! Hauhauhau! Isto mesmo: zumbis,
acredita?! E o curioso é que a maioria das pessoas que leram - conforme pude
verificar nas redes sociais – gostaram muito do enredo.
Areia
nos Dentes narra a história de Juan Ramírez, filho de Miguel,
que tem uma rixa com a família Marlowe. Os Ramírez desconfiam que os Marlowes
escondem alguma coisa no seu porão. A história é contada por outro Juan,
descendente do primeiro, um velho morador da Cidade do México. Ambas as
famílias se odeiam e decidem sempre resolver as suas pendengas (por mais
simples que sejam) na bala.
Para complicar ainda mais a situação, dois jovens das
famílias rivais decidem se apaixonar passando a viver um amor proibido. O que
isso significa? Simples: mais balas.
Para completar o bolo tem os zumbis que também dão as
caras na história, mas só no final.
10
– A Filha do Demônio Mayara Cordeiro)
Gostei muito do livro da autora brasileira Mayara
Cordeiro. A Filha do Demônio conta a
história de uma jovem menosprezada em sua pequena comunidade, inclusive pelos
seus próprios familiares, e que sai em busca de vingança por algo que fizeram à
sua mãe. A sua jornada será cheia de surpresas. Ela encontrará pelo caminho
vários personagens dispostos a ajudar e outros com prazer em lhe prejudicar.
Não quero estragar o enredo com spoilers mas já
adianto que não há como não se apaixonar por Yanan, uma típica heroína ‘a la
Sheldon’ ou então querer invadir a história para moer de pancadas o FDP do Rael
Amaya, um dos vilões mais cruéis que já vi num livro.
Os últimos capítulos são bem tensos com direito a
duelos, tiroteios e perseguições. Os leitores ficarão com uma vontade enorme de
mergulhar nas páginas para tomar partido de determinados personagens. Destaque
para um reencontro que acontece no final, muito emocionante.mantes de uma boa
história de faroeste.
Taí; espero que esta lista possa ir de encontro aos
desejos dos os leitores que apreciam o gênero western.
2 comentários
Olá, José Antônio, adorei a postagem. Sinceramente, eu gostaria muito que as obras de faroeste ganhassem mais espaço nas livrarias brasileiras e nos corações dos jovens leitores... quem sabe um dia? Obrigada pela lembrança e menção ao meu trabalho, fiquei muito feliz! Um abraço!
ResponderExcluirPois é Mayara, vamos torcer por isso.
Excluir