10 livros de faroeste para você ter em sua estante

28 maio 2022

Quando conversamos com alguém sobre faroeste, cowboys, pistoleiros ou cavaleiros solitários, a primeira imagem que vem em nossas cabeças são os filmes do gênero. Quase que imediatamente nos lembramos de “Sete Homens e Um Destino”, “O Dólar Furado”, “Django”, “Meu Ódio Será Tua Herança”, além de outros clássicos que fizeram a galera ficar de olhos colados nas telonas dos cinemas. Os livros nessas horas passam longe e bem longe.

O que algumas pessoas desconhecem é que além dos filmes, também temos excelentes livros sobre o tema. Verdade! E livros tão bons quanto os filmes. Infelizmente, muitos leitores pensam que as histórias de cowboys estão restritas aos livros de bolso dos anos 70 que faziam parte das pulp fictions. Nada contra essas publicações, mesmo porque li muitas delas na minha infância e adolescência e adorava. O que estou querendo explicar é que os anos passaram e com isso as publicações de histórias sobre o velho oeste acabaram evoluindo, deixando os formatos pulp de lado para assumir layouts bem mais modernos. Os enredos, por sua vez, foram atualizados mas sem perder a sua originalidade.

É uma pena que esse gênero não ganhou a divulgação merecida das editoras que preferiram apostar, ao longo dos anos, em sagas, trilogias ou romances do tipo “Young Adult”. E assim enquanto as histórias sobre o velho Oeste estagnavam, a chamada literatura “YA” prosperava com os seus Harry Potrters, Percy Jacksons, Jogos Vorazes, Crepúsculo, A Culpa é das Estrelas e por afora.

No post de hoje quero resgatar esse tipo de literatura que ficou esquecida com o passar dos anos mesmo contando com o lançamento de obras do mais alto nível graças a persistência de poucos editores que ainda acreditam que os cowboys, os cavaleiros solitários e os desbravadores do velho Oeste da literatura não morreram. Selecionei dez livros para os leitores que apreciam o gênero. Podem comprar; vale a pena.

01 – Trilogia Gatilho (Carlos Estefan e Pedro Mauro)

Se você é fã de Histórias em Quadrinhos e, claro, faroeste do tipo cavaleiro solitário que chega em uma cidadezinha do velho Oeste para se vingar de algo que lhe aconteceu no passado, então está intimado a comprar os três livros da série “Gatilho”. A editora Pipoca & Nanquim decidiu, no ano passado, presentear os seus leitores com uma edição hiper luxuosa agregando toda a trilogia. Verdade! As três histórias em quadrinhos lançadas separadamente em 2017, 2018 e 2019 - que já estavam esgotadas em suas edições originais - estarão reunidas num único volume.

Quando foi publicada em 2017, a graphic novel Gatilho chegou sem fazer muito alarde, com os seus autores-  os brasileiros Carlos Estefan e Pedro Mauro - não tendo a intenção de escrever uma continuidade tanto é que o enredo foi formatado para se tornar uma história única. Pois é, mas o sucesso foi tanto que Estefan e Mauro resolveram sequenciar a aventura do pistoleiro sem nome transformando-a numa saga. Logo depois, em 2018 e 2019, foram lançados os dois próximos quadrinhos que se tornaram um fenômeno de vendas. Hoje as três histórias em quadrinhos estão esgotadas e se não fossem a Pipoca & Nanquim, os amantes de novelas gráficas, principalmente aqueles que são fãs do gênero western estariam privados de ler essas três preciosidades.

A trilogia do “pistoleiro sem nome”, composta pelos volumes Gatilho, Legado e Redenção é amplamente ovacionada por público e crítica como um dos melhores faroestes já feitos no Brasil.

A edição definitiva da editora Pipoca & Nanquim tem formato grande, com capa dura de papel linho, lombada redonda e 260 páginas em papel de alta gramatura. Como já disse acima, reúne os três volumes originais, desta vez coloridos pelo próprio Estefan, uma história inédita em preto & branco e prefácio exclusivo do autor italiano Gianfranco Manfredi, parceiro de Pedro Mauro em outros projetos na Sergio Bonelli Editore.

02 – Cimarron (Edna Ferber)

Esta dica de leitura é para a galera que adora história de desbravadores do Velho Oeste americano. Cimarron de Edna Ferber aborda o período da colonização do estado de Oklahoma que começou no início do século XIX.

Ferber conta a saga do advogado, ex-jornalista e aventureiro Yancey "Cimarron" Cravat que em 1889 se casa com uma dama do Sul e resolve retornar ao Oeste, tentando conseguir as terras com as quais sonhara construir um rancho e criar gado, aproveitando a "corrida pela terra" iniciada com a concessão do governo americano de vários hectares de Oklahoma para a colonização, adquiridos dos índios. E assim, o casal acaba se transformando em pioneiros do novo estado americano. Além dos Yancey, são vários os competidores pelas terras, alguns, durante a jornada acabam virando seus amigos, enquanto outros viram inimigos.

Dentro desse contexto, ocorrem as brigas, trocas de tiros, romances, desavenças e traições.

O livro da escritora americana publicado originalmente em 1930 serviu de roteiro para dois verdadeiros clássicos do cinema. O primeiro “Cimarron”, que passou nas telonas em 1931, com Richard Dix e Irene Dunne, conquistou as estatuetas de melhor filme, direção de arte e roteiro adaptado. Recebeu ainda indicações nas categorias de melhor ator, atriz, diretor e fotografia. Quanto ao “Cimarron” de 1960, apesar de mais modesto, ainda conseguiu ser indicado ao Oscar por ‘Melhor Direção de Arte’ e ‘Melhor Som’.

03 – Os Melhores Contos de Faroeste (Vários Autores)

A coletânea de histórias lançada pela José Olympio Editora em 2004 reúne 17 contos clássicos ambientados no velho oeste americano, escritos por verdadeiras feras, entre os quais: Elmore Leonard, Jack London, Stephen Crane e até mesmo Mark Twain – juro que eu não sabia que ele também tinha escrito temas de bang-bang. 

Faz parte da antologia um dos maiores clássicos do velho oeste. Estou me referindo ao conto Um Homem Chamado Cavalo de Dorothy M. Johnson que no início dos anos 70 foi adaptado para os cinemas. O filme homônimo tinha no papel principal o saudoso ator Richard Harris (o Dumbledore de Harry Potter) que vivia um aristocrata inglês (John Morgan), de modos refinados, que fazia parte de uma expedição em Dakota em 1821, quando acaba sendo capturado por  indios Sioux.

Morgan passa a ser tratado como um animal, entretanto ao contrário dos outros homens brancos, ele passa a respeitar a cultura dos seus captores, ao mesmo tempo em que inicia um aprendizado sobre os seus costumes. Desta maneira, o aristocrata vai ganhando, aos poucos, o respeito dos índios. Apesar de ter assistido ao filme ainda moleque, me recordo de uma cena onde o personagem para poder se casar com uma índia da tribo acaba sendo obrigado a passar por um ritual medonho. Brrrr..

A presença dessa história em Os Melhores Contos de Faroeste chamou-me a atenção devido a sua raridade. O conto de Johnson nunca veio a ser lançado no Brasil. Ele apareceu pela primeira vez na revista Coller, em 7 de janeiro de 1950, depois foi reeditado em 1968, como uma pequena história dentro do livro Indian Country, também de autoria da escritora americana.

Vou ser sincero, já li o livro e dos 17 contos gostei apenas de oito, mas todos nós sabemos que gosto não se discute, pode ser que você acabe gostando daqueles que eu não gostei e odiando aqueles que eu amei.

04 – Meridiano de Sangue (Cormac McCarthy)

Cara, muito violento. Não recomendo para os leitores mais sensíveis. Apesar do enredo denso e cheio de ações agressivas e selvagens, a obra de Cormac McCarthy foi bem aceita tanto pela crítica quanto pelo público. Neste livro, McCarthy reinventa a mitologia do Oeste americano criando uma obra arrebatadora sobre uma terra sem lei, em que o absurdo e a alucinação se sobrepõem à realidade.

Desde as primeiras páginas de Meridiano de Sangue, o leitor acompanha um rapaz sem família, conhecido apenas por “Kid”, abandonado à própria sorte num mundo brutal em que, para sobreviver, precisa ser tão ou mais violento que seus inimigos. Recrutado por uma companhia de mercenários a serviço de governantes locais, atravessa regiões desérticas entre o México e o Texas com a missão de matar o maior número possível de índios e trazer de volta seus escalpos.

Liderados pelo Capitão Glanton e um homem terrível, conhecido por "O Juiz" um gigante albino violento, capaz de matar animais e até mesmo crianças. Ele é visto como uma figura carismática, inteligente, habilidosa e até mesmo sobrenatural.

Em Meridiano de Sangue, o autor mostra uma parte violenta da história americana, o velho oeste desmistificado de toda a sua aura de inocência e duelos heroicos. O que vemos no enredo é algo denso, carregado de selvageria que nos faz ter uma visão menos simplista do papel e da luta dos nativos americanos e até dos cruéis caçadores de escalpos.

05 – Oeste Vermelho (Magno Costa e Marcelo Costa)

Tenho dois amigos que leram essa história e adoraram e olha que eles são leitores muito exigentes. Além disso, constatei boas avaliações com relação a Oeste Vermelho nas redes sociais. Por isso decidi incluí-la nesta relação. 

A história em quadrinhos criada pelos irmãos brasileiríssimos Magno e Marcelo Costa se passa numa típica cidade pequena do Velho Oeste americano povoada por fazendeiros e ameaçada por bandidos assassinos. Poderia ser considerada uma história comum, se não fosse a ambientada no mundo dos desenhos animados de gatos e ratos. Oeste Vermelho é inspirado nos filmes de Sergio Leone e John Ford, e é uma jornada de perdas, redenção e, mais do que tudo, vingança, mas só que envolvendo os nossos amiguinhos gatos e ratos.

A saga criada pelos irmãos Magno acompanha a história de  Nedville, uma cidade de ratos. A pequena cidade de faroeste logo é abalada com a notícia de um ratinho forasteiro que diz que gatos fizeram uma chacina na cidade vizinha.

Logo formam-se dois grupos: um comandado por Frank Jones (que quer armar uma defesa contra os gatos e até abandonar a cidade se for o caso) e outro comandado pelo rico roedor Madlock (que não acredita na história e quer que tudo siga normal). Os dias passam e os gatos comandados por Chartreux finalmente chegam na cidade.

Com a chegada dos gatos chega também a violência. A matança desenfreada feita pelos felinos tem uma carga emotiva grande.

É a partir da covardia dos gatos que a vingança de Frank Jones tem início. Como disse antes, é uma história sem grandes inovações e segue os moldes tradicionais de vinganças do velho oeste. O ratinho Frank Jones é muito bem construído e é inevitável que torçamos para o sucesso de sua missão.

Fica aí uma boa dica de leitura.

06 – Valdez Vem Aí (Elmore Leonard)

O livro  de Elmore Laonard mostra um Velho Oeste sem lei, onde o homem que o representa só tem poder na medida em que sabe atirar bem. Neste universo brutal, Valdez Vem Aí conta uma profunda história de moralidade e justiça.

No enredo, um pistoleiro chamado Valdez tenta impedir que um homem negro, casado com uma índia seja morto por um grupo de cowboys comandados por um homem muito poderoso chamado Frank Tanner. Ele é acusado injustamente de um crime que não cometeu. O pistoleiro não consegue impedir a morte do homem que acaba deixando uma viúva grávida.

Valdez sabe que a pessoa que deu início ao mal entendido que culminou na morte do negro foi Frank Tanner. Por isso, decide então ir conversar com ele, a fim de pedir quinhentos dólares para ajudar a índia grávida. Tudo o que consegue é ser rebaixado e humilhado por Tanner e seus inúmeros capangas. Tenta recorrer ao diálogo novamente e acaba ainda mais humilhado, sendo enxotado da fazenda com uma cruz presa às costas.

O que seus inimigos não lembram é que depois da crucificação vem a hora da ressurreição.

Bob Valdez revira o fundo do armário e reaparece como o pistoleiro que ninguém via há anos.

Escrito em 1970, este livro foi o oitavo romance de Elmore Leonard e uma de suas investidas de maior sucesso no gênero faroeste. Repleto dos diálogos afiados, o livro agrada em cheio os fãs de um bom western.

07 – Herança de Sangue: Um Faroeste Brasileiro (Ivan Sant’Anna)

Quem disse que o Brasil também não viveu os seus tempos de Velho Oeste? Taí a obra do escritor Ivan Sant’Anna que não me deixa mentir. Herança de Sangue: Um FaroesteBrasileiro narra a violenta formação histórica da cidade de Catalão, no sertão de Goiás. Apesar de se tratar de um assunto histórico, o autor consegue prender a atenção do leitor pois seu texto é leve e fluido.

A obra narra o surgimento da cidade ainda durante o Brasil Colônia (século XVIII), passando pelo Império Brasileiro de D. Pedro II e pela República Velha onde o coronelismo era a grande força política no interior do Brasil.

Sant’Anna narra que desde sua fundação por bandeirantes paulistas até meados do século passado, Catalão - atualmente uma próspera cidade do interior goiano - era uma espécie de faroeste brasileiro. Histórico ponto de pouso dos mais variados tipos de aventureiros em busca de enriquecimento rápido, a localidade foi cenário de terríveis massacres e disputas políticas. Matadores, criminosos e foragidos de todos os quadrantes faziam do pequeno povoado um inferno de violência em meio ao trânsito de ouro, pedras preciosas e mercadorias.

Os pistoleiros e valentões catalanos eram famosos por sempre resolver as discussões, até as mais irrelevantes, no tiro ou na faca. Assassinatos cometidos para solucionar questões "de honra" também vitimaram gerações e gerações de famílias rivais, envolvidas numa selvagem espiral de vingança.

Um livro bem no estilo Velho Oeste, mas brasileiro.

08 – Dança com Lobos (Michael Blake)

Muitas pessoas conhecem apenas o filme com Kevin Costner que ficou famoso ao papar sete Oscars, incluindo os de Melhor Filme e Melhor Direção. Mas o detalhe importante que vários cinéfilos e leitores não sabem é que a célebre produção cinematográfica foi, na realidade, adaptada de um livro homônimo escrito por Michael Blake.

Livro e filme narram a saga de John Dunbar, um oficial de cavalaria, que se destaca como herói na Guerra Civil Americana e, por isto, recebe o privilégio de escolher onde quer servir. Ele escolhe um posto longínquo e solitário, na fronteira.
Ao chegar nesse local isolado, ele estabelece amizade com um grupo de índios Sioux - Lakota, sacrificando a sua carreira e os laços com o exército estadunidense em favor da sua ligação com este povo, que o adota.

A convivência com os indígenas faz com que Dunbar, pouco a pouco, vá adquirindo seus costumes, ao mesmo tempo em que ganha respeito dos nativos. Dunbar acaba se envolvendo com uma mulher branca criada pelos Siouxs, tornando-se um verdadeiro membro da tribo participando, inclusive de batalhas com outros índios inimigos.

09 – Areia nos Dentes (Antônio Xerxenesky)

O livro da gaúcho Antônio Xerxenesky mistura duelos, carteados, mariachis, cowboys e pasmem: zumbis! Hauhauhau! Isto mesmo: zumbis, acredita?! E o curioso é que a maioria das pessoas que leram - conforme pude verificar nas redes sociais – gostaram muito do enredo.

Areia nos Dentes narra a história de Juan Ramírez, filho de Miguel, que tem uma rixa com a família Marlowe. Os Ramírez desconfiam que os Marlowes escondem alguma coisa no seu porão. A história é contada por outro Juan, descendente do primeiro, um velho morador da Cidade do México. Ambas as famílias se odeiam e decidem sempre resolver as suas pendengas (por mais simples que sejam) na bala.

Para complicar ainda mais a situação, dois jovens das famílias rivais decidem se apaixonar passando a viver um amor proibido. O que isso significa? Simples: mais balas.

Para completar o bolo tem os zumbis que também dão as caras na história, mas só no final.

10 – A Filha do Demônio Mayara Cordeiro)

Gostei muito do livro da autora brasileira Mayara Cordeiro. A Filha do Demônio conta a história de uma jovem menosprezada em sua pequena comunidade, inclusive pelos seus próprios familiares, e que sai em busca de vingança por algo que fizeram à sua mãe. A sua jornada será cheia de surpresas. Ela encontrará pelo caminho vários personagens dispostos a ajudar e outros com prazer em lhe prejudicar. 

Não quero estragar o enredo com spoilers mas já adianto que não há como não se apaixonar por Yanan, uma típica heroína ‘a la Sheldon’ ou então querer invadir a história para moer de pancadas o FDP do Rael Amaya, um dos vilões mais cruéis que já vi num livro.

Os últimos capítulos são bem tensos com direito a duelos, tiroteios e perseguições. Os leitores ficarão com uma vontade enorme de mergulhar nas páginas para tomar partido de determinados personagens. Destaque para um reencontro que acontece no final, muito emocionante.mantes de uma boa história de faroeste.

Taí; espero que esta lista possa ir de encontro aos desejos dos os leitores que apreciam o gênero western.

2 comentários

  1. Olá, José Antônio, adorei a postagem. Sinceramente, eu gostaria muito que as obras de faroeste ganhassem mais espaço nas livrarias brasileiras e nos corações dos jovens leitores... quem sabe um dia? Obrigada pela lembrança e menção ao meu trabalho, fiquei muito feliz! Um abraço!

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