Ontem, estava dando uma espanadinha no pó da minha
estante quando me deparei com um livro esquecido há ‘milênios’. Ele estava lá,
num cantinho, isolado, tombado e todo menosprezado. Ao ver a sua capa,
lembrei-me de sua origem. “- Caraca! Este é aquele livro que ganhei daquela
pessoa que me ‘doou’ uma caixa cheia de revistas antigas!”, exclamei. Pois é
galera, “Cimarron”, de Edna Ferber veio junto com um monte de revistas rasgadas
e velhinhas, sem utilidade pra nada. Do quase presente de grego que ganhei; o
livro e, acho que, duas revistinhas ‘Seleções’ foram as únicas coisas que se
salvaram.
Achei a capa bonita e o coloquei na estante, apenas
para fazer número. O motivo da falta de interesse na obra de Ferber (escrita
originalmente em 1929 – a minha edição é um relançamento do Círculo do Livro) é
que nunca senti amores por livros de faroeste. E foi aí que cometi um erro
crasso, já que “Cimarron não pode ser considerada uma obra tradicional do
gênero, ou seja, do tipo ‘cospe bala’ para todos os lados. Após ter lido e
gostado da obra, posso dizer que a essência do enredo diz respeito ao desbravamento
do território de Oklahoma, representando uma fase da história dos Estados
Unidos.
Aí você, com certeza, afirmará: - “Pô, se for assim,
o enredo deve ser muito descritivo e cansativo!”. Não. Não é. Por acaso, você
achou “As Vinhas da Ira” John Steinbeck cansativo? Os dois livros abordam momentos
diferentes da história americana. Steinbeck explora a Grande Depressão dos anos
30 que destruiu fazendas, despejou famílias e deixou milhões de desempregados
nos Estados Unidos. O desespero levou os pequenos arrendatários que perderam as
suas propriedades a realizar um verdadeiro êxodo para a Califórnia em busca de
emprego. Terra, que segundo eles, corria o leite e o mel, mas ao chegarem lá, acabam
conhecendo a dura realidade e foram obrigados à enfrentá-la.
Já “Cimarron” aborda um período bem mais remoto da
história da ‘Terra do Tio Sam’: a colonização do estado de Oklahoma que começou
no início do século XIX.
Posso garantir que as duas obras, apesar de descritivas,
tem enredos por demais atraentes, além de contar com personagens muito carismáticos.
Se em “As Vinhas da Ira” temos a família Joad; em “Cimarron” temos os Yancey. Cada
um, à sua maneira, tentando derrubar muros considerados intransponíveis,
erguidos por grupos de pessoas poderosas.
Ferber conta a saga do
advogado, ex-jornalista e aventureiro Yancey "Cimarron" Cravat que em
1889 se casa com uma dama do Sul e resolve retornar ao Oeste, tentando
conseguir as terras com as quais sonhara construir um rancho e criar gado,
aproveitando a "Corrida pela terra" iniciada com a concessão do
governo americano de vários hectares de
Oklahoma para a colonização, adquiridos dos índios. E assim, o casal acaba se
transformando em pioneiros do novo estado americano. Além dos Yancey, são
vários os competidores pelas terras, alguns, ao logo da jornada acabam se
tornando seus amigos, enquanto outros viram inimigos.
Dentro desse
contexto, ocorrem as brigas, trocas de tiros, romances, desavenças e traições.
O que me chamou a atenção é que a autora soube dosar com perfeição, romance,
drama, descrição e ação; da mesma maneira que Steinbeck também procedeu com o
seu “Vinhas da Ira”.
Os personagens que
vão desfilando nas páginas de “Cimarron” acabam conquistando os leitores; até
mesmo os vilões e vilãs tem o seu charme.
Para aqueles que
ainda relutam ler a saga dos Yancey, posso tentar convencê-los, usando o
argumento de que a história de Ferber serviu de roteiro para dois verdadeiros
clássicos do cinema. O primeiro “Cimarron” que passou nos cinemas em 1931 com
Richard Dix e a ultra famosa e disputadíssima, naquela época, Irene Dunne conquistou
as estatuetas de melhor filme, direção de arte e roteiro adaptado. Recebeu
ainda indicações nas categorias de melhor ator, atriz, diretor e fotografia. Quanto
ao “Cimarron” de 1960, apesar de mais
modesto, ainda conseguiu ser indicado ao Oscar por ‘Melhor Direção de Arte’ e ‘Melhor
Som’.
Se apesar de todos
esses argumentos, você ainda continuar na dúvida quanto a leitura do livro, só
posso dizer: paciência.
Inté!
7 comentários
Bom, não é os Yancey, mas os Cravat. A história é incrível. Adoro ver o amadurecimento da Sabra, uma mulher forte, e vê-la vencendo os próprios preconceitos, como os que ela tem em relação aos índios. Edna Ferber é maravilhosa.
ResponderExcluirLi este maravilhoso livro há muitos anos e até hoje guardo boas recordações, principalmente o final emocionante que mescla amor e altruísmo. Boa leitura!
ResponderExcluirPois é, mas a obra é dos anos 20; não de 1957. Senão, como houve uma adaptação em 1931? Bom livro pra quem gosta de bang-bang ou das HQ's de Tex Willer e cia. Abração.
ResponderExcluirExatamente. O livro é de 1929.
ExcluirMarcio e Unknown, vocês estão certos. Pesquisei e, de fato, a minha fonte inicial estava incorreta. O livro é da década de 20, para ser mais extato de 1929, como informado acima. O erro já foi corrigido.
ExcluirObrigado pelo alerta e abraços!
Li Cimarron há algumas décadas. Amei o livro!
ResponderExcluirUma leitura especial, não é mesmo? Também gostei muito.
Excluir