É duro falar escrever sobre o trabalho de amigos. É
complicado demais, cara; pelo menos para os blogueiros literários honestos que
escrevem em suas resenhas o que, de fato, sentem ao concluir a leitura de determinada
obra, não se curvando servilmente para a pressão das parcerias com editoras.
Por mais que o seu amigo escritor seja um amigão, amigaço
ou super-amigo, se você criticar alguns pontos de sua narrativa, ele vai ficar
ferido; não aquela ferida grave de guerra que vai mutilar a amizade entre
vocês, mas aquele arranhão que vai incomodar a ambos. Um dia desses, estava
escolhendo quiabos na feira livre e saí com a mão pinicando por causa daqueles
maledetos espinhos minúsculos característicos daquele legume. Não perdi a mão,
mas me incomodou pacas, durante boa parte do dia. Sua amizade vai sofrer esse
tipo de arranhão se no momento em que resenhar o livro do tal amigo, prevalecer
a sua sinceridade.
Então num belo, você diz todo sorridente e confiante: “Não,
não! Mesmo esse livro desgraçado sendo ruim pra caráculas, vou dizer que ele é
ótimo, pelo menos não corro o risco de magoar o meu amigaço”. Se você pensa
dessa forma, fudeu tudo e de vez (desculpe o linguajar, mas não encontro outra
palavra para definir tal lambança). Vamos para os resultados dessa decisão nada
inteigente: primeiro problema: você vai perder toda a credibilidade que tem
junto aos leitores e seguidores do seu blog e... segundo problema: vai se
passar por mentiroso ou sabujo. Resultado: Para manter essa amizade com o seu
amigão escritor, você pagou um preço bem caro. E olha... não quero pagar nunca
esse preço. Tenho dois amigos escritores: Márcio ABC, que passou a assinar suas
obras como Márcio Blanco Cava, e César Bravo. Posso garantir que nunca os
elogiei sem que eles merecessem. Gosto demais das narrativas desses dois
sujeitos.
Fiz todo esse preambulo antes de “falar” sobre o
lançamento de Cidade das Estátuas
para que vocês entendam como aprecio o trabalho do seu autor Márcio Blanco Cava.
Conheço o Márcio há mais de 40 anos, desde nossa época de estudantes
universitários quando defendemos, juntos, nossa tese de final de curso, mas
acreditem, jamais iria elogiar um livro seu se eu não tivesse gostado. Poderia
até não criticar, mas também não publicaria nada no blog, enfim, não
incentivaria a sua leitura. Acontece que apreciei muito Parabala (2022), seu primeiro romance, além de Estado Bruto (2017) e Delação
(2019). Quanto as suas outras obras ainda não tive oportunidade ler; lembrando
que ele já publicou sete livros.
Por ter gostado de suas três publicações,
principalmente de Parabala acredito que Cidade
das Estátuas tem tudo para seguir o êxito de seus lançamentos anteriores,
por isso, certamente estarei lendo.
Lançado pela Editora Mireveja, de Bauru, o livro entrou
em pré-venda (com preço promocional) em 6 de maio, com exclusividade pelo site www.editoramireveja.com.
Cidade
das Estátuas narra a saga de Ambrosiano Maria, um
cidadão brasileiro que leva a vida sem sobressaltos até conhecer a misteriosa
Lúcia, que em poucos minutos transformará sua existência para sempre. Através
desse drama individual, segundo o release fornecido
pela editora, a história penetra a carne da sociedade para formular uma
importante questão: qual é o preço da alienação, da omissão, do individualismo?
O romance, ambientado na década de 1970, se passa em
uma cidadezinha repleta de estátuas, algumas bastante inusitadas, onde
fantasmas acreditam também fazer parte da vida local. Márcio evoca, daquele
período obscuro da história do Brasil e de outros ainda mais remotos, muitos
dos fantasmas que insistem em nos assombrar, entre eles as violências de raça e
de gênero e o desejo pela ditadura militar por parte de muitos brasileiros,
como observa a crítica literária Lúcia Facco, que assina o texto de orelha do livro.
"A obra reflete sobre o Brasil, sua formação, a construção de sua
identidade. Mas o drama da paixão vivida pelo protagonista compõe um universo
peculiar, capaz de cruzar realidade, fantasia, lirismo. Por fim, é um livro de
amor, terror e humor”, ela define.
O autor, por sua vez comenta que “o tema da ditadura
militar e a realidade do país sempre me moveram e estão presentes na maioria
dos meus livros, como Pater, Estado bruto e Delação. No entanto, com Cidades das estátuas sinto que consegui
dar um salto em termos de linguagem, experimentando mais, ousando mais, sem
perder o foco na história brasileira e projetando para os dias atuais”.
Nascido em Cafelândia, interior de São Paulo, Márcio
Blanco Cava, que também é conhecido como Márcio ABC, foi repórter, editor e
diretor de redação em diversos veículos e mídias, na capital e no interior
paulista, entre ele a Rede Bom Dia. Dedica-se à literatura desde 2002, quando
lançou seu primeiro romance, Parabala.
Márcio, boa sorte em mais esse lançamento e que venham
novos autores brasileiros com capacidade para fazer a diferença no mercado
editorial.
Postar um comentário