A Paciente Silenciosa

03 julho 2021



O problema depois que lemos livros como Eles Merecem a Morte e Mentirosos é que ficamos mal acostumados e a partir daí qualquer thriller que encaramos passamos a exigir plot twists tão bons e inesperados quanto aqueles que lemos nas obras que citei acima. Mas na minha opinião, será difícil surgir reviravoltas tão chocantes quanto aquelas que presenciei nos enredos de Eles Merecem a Morte, de Peter Swanson e Mentirosos de E. Lockhart.

Resultado dessa frustração: uma baita ressaca literária. Confesso que ainda estou dependente desses dois livros e olha que essa ressaca já dura muito tempo. Li Mentirosos e Eles Merecem a Morte em 2019. Me envolvi tanto com a história, amei tanto os personagens e me surpreendi pacas com as reviravoltas no enredo que vários livros que li depois chegaram a me agradar, mas não surpreenderam,

chegaram a me envolver mas no fundo acabaram sendo apenas mais do mesmo.

Quando vi tantos elogios e notas altíssimas no Skoob com relação A Paciente Silenciosa de Alex Michaelides tive esperança de que essa obra conseguiria me curar dessa ressaca literária FDP. Por isso fui com muita sede ao pote e talvez, esse tenha sido o meu erro: “ir com uma sede avassaladora e cheio de expectativas". Resultado: quase acabei me afogando nesse pote.

A Paciente Silenciosa não foi o que eu esperava. Apesar da sua narrativa fluida e capítulos curtos, o enredo trabalha apenas com um plot twist e na minha opinião, apenas razoável. Querem saber se me surpreendi. Sim; me surpreendi, mas pouco. Foi o tipo da reviravolta que o leitor diz ao final: - Putz, só isto! – Foi assim que me senti no momento da solução do mistério que envolve os personagens principais.

Acredito que ao optar por trabalhar com apenas uma reviravolta em sua história – nesse caso, no final da trama – o autor tem que “quebrar o côco” ou “esquentar a moringa” (como dizia meu velho pai) para elaborar um plot twist portentoso, daqueles de deixar o leitor com a boca escancarada e cheia de dentes exclamando um Ohhhhhhhhhhh deliciosamente gostoso. Afinal, o escritor terá apenas um trunfo nas mãos, ao contrário daqueles que optam por incluir em seus enredos vários plots. Neste caso, o autor pode até se dar ao luxo de acrescentar algumas reviravoltas mais amenas na história, deixando a melhor delas para o grand finale. Para mim, esses plots distribuídos ao longo da trama servem para ir nos satisfazendo durante a leitura. Podemos fazer uma analogia com aqueles aperitivos que saboreamos antes do prato principal que é servido numa festa. Pense nesses aperitivos como sendo os plot twists menores que vão diminuindo a sua ansiedade, a sua fome, e no prato principal sendo o grande ‘plot finale’.

Ok, vamos agora inveter os papéis. Imagine, você numa festa, cheio de “expectativas culinárias” onde é servido apenas o prato principal. Esse prato tem que ser muito especial, muito saboroso para compensar a falta dos canapés, concordam?

Além disso, obras que tem apenas uma reviravolta em sua trama devem ter personagens carismáticos para segurar o rojão até a chega da reviravolta final.



O problema de A Paciente Silenciosa é que ela entrega um plot, como já disse acima, apenas razoável - tão razoável que no meu caso, já estava quase adivinhando qual seria a ‘grande sacada’ do autor – além de personagens sem nenhuma empatia. Por exemplo, o personagem principal, Theo Faber é chato demais: um cara fraco, nada confiável e que não aprende com os seus próprios erros e tropeços. Dessa forma, sobra para Alícia Berenson – a tal paciente silenciosa do título – segurar as pontas, mas infelizmente, ela também não consegue. Pelo menos para mim não gerou nenhuma empatia.

Quanto aos personagens secundários, achei muito mal desenvolvidos, principalmente Gabriel, o marido de Alícia; seu irmão Max e o professor Diomedes, o mentor de Theo. Além disso, com exceção do professor Diomedes – Diretor Clínico do Hospital Psiquiátrico Judiciário - eles não são nem um pouco carismáticos. Ah! Tem ainda a mulher de Theo, Kathy. Caráculas que personagem antipática, como não bastasse ter um hábito em nada aceitável.

Portanto, ficou difícil para mim - tendo pela frente personagens antipáticos ou amorfos, além de um plot twist apenas mediano - fazer parte do grupo de leitores que acharam a obra de Michaelides fantástica. Para esses leitores recomendo: Eles Merecem a Morte e Mentirosos.

Bem, vamos lá para um breve resumo do enredo de A Paciente Silenciosa. Uma pintora famosa chamada Alicia Berenson é acusada de matar o seu marido com cinco tiros no rosto. Ele é encontrado com os pés e mãos amarrados numa cadeira e com a cabeça esfacelada. O detalhe é que ela o amava muito. Depois do crime, a artista nunca mais disse uma palavra.

A sua recusa em falar ou dar qualquer explicação transformou essa tragédia doméstica em algo muito maior – um mistério que atrai a atenção do público e aumenta ainda mais a fama da pintora. No entanto, ao mesmo tempo que seus quadros passam a ser mais valorizados do que nunca, ela é levada para um hospital psiquiátrico judiciário.

Theo Faber é um psicoterapeuta forense que espera há muito tempo por uma oportunidade de trabalhar com Alícia. Ele tem certeza de que é a pessoa certa para lidar com o caso e tentar fazer com que ela volte a falar e assim, conseguir desvendar os segredos de toda essa tragédia.

A história é narrada no passado e presente. O enredo é intercalado com as narrativas do diário que Alícia escreveu nos dias que antecederam o crime e com as colocações de Theo no presente.

Enfim, é isso aí.




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