O susto foi tão
grande que somente agora – após mais de um mês – consegui me recompor para
escrever sobre o assunto. Imagine você, um leitor inveterado, vendo ir para o saco um trabalho que ama e que
demorou anos para edificá-lo. No meu caso, ‘esse trabalho’ se chama livros,
muitos livros, mais de 300, o que para mim já é o suficiente para mensurar como
‘muitos’.
Tudo neve início em
uma das madrugadas desse verão chuvoso que estamos vivendo. Percebi um barulho
estranho no cômodo onde estão as minhas duas prateleiras de livros. Quando fui verificar...
c-a-r-a-c-a!! Não estava caindo goteiras pelo teto; na realidade o teto tinha
se transformado nas cataratas do Niágara! Cara, a água caia pelos quatro cantos
do forro de alvenaria, além de escorrer por uma das paredes, justamente aquela
que está próxima de uma das estantes de livros. Quanto a outra estante: pinga
ni mim! Estava sendo bombardeada por um exército de goteiras.
Estantes esvaziadas às pressas |
Naquele momento
fiquei impotente. Começou a passar pela minha cabeça um filme dos anos que
havia demorado para construir aquele pequeno acervo. Ali, na minha frente – enfrentando a ira das água de um temporal
recheado de raios e relâmpagos – não estavam simples livros que ao serem
molhados e perdidos, poderiam simplesmente ser trocados por outros mais novos.
Ali estava toda a minha história de leitor, desde os primórdios da infância até
a fase adulta.
Bacias, plásticos e baldes tentando proteger o novo piso |
Faziam parte
daquelas estantes os primeiros livros que eu havia ganhado de minha mãe e que
me instigaram o prazer pela leitura; ali estavam as pedras fundamentais da
minha pequena biblioteca com mais de três centenas de livros, ou seja, os dois
primeiros romances que deram início ao sonho de ter um acervo de obras
literárias em minha casa; ali estavam os livros que ganhei de Lulu e também de amigos queridos, cada um deles com uma
história diferente; ali estava o livro que recebi de uma grande editora antes
do primeiro ano de blog, sem ter nenhum tipo de parceria – foi algo espontâneo
dessa editora – enfim, naquelas estantes havia toda uma história que se
sucumbia perante o forte temporal.
Única solução: isolar toda a sala de leitura até a troca de parte do telhado |
Após superar o
sentimento de impotência, cai na real e comecei a salvar o que era possível.
Como caixas de papelão não combinam com água, apelei para as bacias de alumínio
e literalmente derramei sobre elas todos os livros que podia. Cai 3, cai 5, cai
10, cai 15 e por aí foi.
Após todo esse
trabalho durante parte da madrugada parecido com uma missão de resgate, não
consegui voltar para cama e dormir. Como?!
Na mesma hora
comecei a fazer uma análise do que havia perdido e do que poderia ser
recuperado. À primeira vista, o panorama não era tão desalentador o que me
deixou mais tranqüilo. Realoquei todos os livros nas mesas da sala, cozinha e
nas camas dos quartos.
Hoje, sei o quanto
Deus é bom; apesar do susto não tive prejuízos. Os livros que foram atingidos
pela chuva – um deles de muita importância sentimental, além de raro – não
estragaram e puderam ser restaurados, já que tinham as capas duras e
plastificadas.
Costumo dizer que ‘eles’ eram os soldados da tropa de choque, do
pelotão da frente, os infantes que encararam a violência da água com seus
escudos (capas duras) protegendo as páginas de um estrago maior. Essas obras
sofreram apenas algumas pequenas manchas nas páginas das lombadas superiores,
nada grave. Um bibliotecário, amigo meu, já está cuidando de restaurá-los,
assim como os outros livros que sofreram pequenas avarias, nada de mais grave.
Em cada canto da casa, um montinho de livros |
Enquanto redijo
essas linhas, fico pensando que essas pequenas ‘marcas de guerra’ que ficaram
em algumas obras literárias entrarão para a minha história vida, pois toda vez
que eu olhá-las me lembrarei daquela fática madrugada quando quase perdi metade dos meus livros.
Depois do pânico,
vale até uma brincadeira: “hoje deixei de encarar esses livros como livros, mas
como verdadeiros soldados que resistiram bravamente ao ataque do inimigo (rs)”
Ah! Antes que me
esqueça: O motivo da invasão das águas foram telhas que se deslocaram com a
forte ventania.
Fazer o quê? Só resta
providenciar a troca de parte do telhado velho por um novo.
Inté!
4 comentários
Isso aí Guerreiro. Fico me imaginando no teu lugar na hora. Que horror!!! Mas que bom que teus "soldados" estão bem. Kkk
ResponderExcluirMarcos, não queira nem pensar amigo. A sensação de perder algo que você demorou anos para 'construir' é fodasticamente oprimente.
ExcluirAbraços e volte sempre
Minha nossa, Jam!
ResponderExcluirSó imagino o susto e a sensação de terror que vc deve ter passado! Se algo parecido acontece com meus livros também iria partir para a guerra para salvá-los.
Fico feliz que, no final das contas, tenha dado tudo certo!
Valeu Tex! Graças à Deus salvaram-se todos. Sem perdas definitivas. :)
ExcluirAbraço amigo!