Em “O Guerreiro Pagão”, Uhtred está cada vez mais
parecido com um jogador de xadrez. O cara prova para todos nós que é um baita
estrategista, muito, mas muuuuito inteligente e perspicaz. O golpe de mestre que
é revelado, mais ou menos, no meio da história é um verdadeiro olé nos vikings
dinamarqueses comandados por Cnut - o lendário espadachim das Terras do Norte,
dono da temida e mortal espada ‘cuspe de gelo’ – que dessa vez, planejam
invadir a Mércia.
Com isso, os seguidores de “Crônicas Saxônicas”
sacam que Uhtred não é só músculos e brutalidade , mas também neurônios – e da
melhor qualidade – sempre em funcionamento.
Neste 7º volume de “Crônicas Saxônicas”, o lendário
guerreiro saxão enfrenta, com certeza, o seu pior inimigo, pelo menos até aqui,
superando de longe Ubba, Harald Cabelo de Sangue, Ivar ( O ‘Sem Ossos’),
Sigfried, Svein do Cavalo Branco, Kjartan, entre outros. Cnut é tão esperto
quanto o “Senhor da Guerra”, mais do que isso: é extremamente letal numa luta
de espadas.
O leitor passa o livro inteiro imaginando como será o
duelo entre as duas famosas espadas: bafo de serpente x cuspe de gelo. Afinal
de contas qual delas vencerá? A cada página, a cada capitulo, o autor Bernard
Cornwell vai aumentando essa expectativa até atingir o climax. Juro que temi
por Uhtred, já que o infame guerreiro está velho e a sua agilidade não é mais a
mesma do passado quando derrotou inimigos poderosos. Enquanto isso, Cnut está
no ápice de sua forma como guerreiro. Isso só faz crescer a ansiedade pelo
duelo final.
Cara, se o enredo não fosse tão bom de um modo geral,
com certeza, eu teria pulado páginas e mais páginas para conferir a embate
final entre as duas feras que acontece no capítulo intitulado “Cuspe de Gelo”. Caraca!
Que ‘péga pra capá’ (como costumava dizer o saudoso Kid Tourão). Cornwell
descreve todas as nuances de uma luta de espadas entre dois grandes guerreiros.
Cada golpe, cada defesa, cada ferimento é narrado com maestria.
Mas falando escrevendo dessa maneira, a
impressão que fica é que o livro se resume a essa luta. Nada á ver. Ela é
apenas um dos temperos do enredo. “O Guerreiro Pagão” tem muitos outros
trunfos: intrigas, traições, romance e claro, paredes de escudos.
O autor ainda introduz um novo personagem nesse
volume das ‘Crônicas’: o filho caçula de Uhtred que se torna um guerreiro como
pai. O Uhtred ‘filho’ é tão ‘empolgante’ quanto o seu ‘velho’. Não foge de uma
escaramuça, por pior que seja, e gosta de tirar ‘onda’ na cara de seus inimigos
enquanto os enfrenta em duelos de espada. – Você é gordo como um bispo; igual a
um porco engordado para o Yule. É um pedaço de merda inchado. – O caçula de
Uhtred disse tudo isso, rindo debochadamente, em seu primeiro duelo de espadas,
enquanto enfrentava Sigurd, um
experiente guerreiro e comandante viking. Agora, responde: Não é a cara do pai?
A descrição da Batalha de Teotanheale, entre saxões
e dinamarqueses, é outro presente magnífico com que Cornwell nos brinda.
“Tripas e sangue, espirais brilhantes fedendo bosta, derramando-se da barriga
de um homem para serem pisoteados na lama, homens gritando e escudos rachando,
e só estávamos lutando havia alguns instantes. Não sabia quais se meus homens
estavam morrendo, ou se o inimigo havia rompido nossa parede de escudos”... “Eu
tinha uma leve consciência dos sons de batalha atrás de mim, o trovão de
escudos encontrando escudos, o choque de lâminas, mas não ousava me virar
porque um inimigo estava girando seu machado de cabo comprido para baixá-lo
sobre minha cabeça, de modo que Uhtred passou por cima do homem morto à minha
frente e acertou o sujeito com o machado em baixo do queixo”.
A descrição envolvente de Cornwell tem o poder de
colocar o leitor no centro da batalha. Realmente, fantástico.
A narrativa de “O Guerreiro pagão” começa com Uhtred
indo a uma igreja para deserdar o seu filho, mais velho, Uhtred (que passa a
ser chamado de Judas) por este ter se tornado padre, a maior afronta que ele
poderia fazer para o seu pai. Na confusão, um abade se coloca entre a ira do
pai e seu filho e acaba sendo morto, por acidente. Uhtred, sem querer, fere
mortalmente o religioso e acaba conquistando o ódio dos cristãos que queimam a
sua propriedade e o expulsam da Mércia, juntamente com alguns poucos guerreiros
que decidem segui-lo.
Dessa maneira, Uhtred, um dos últimos senhores
pagãos entre os saxões, se vê hostilizado como nunca pela Igreja, cujo poder
aumenta. Desprovido de suas terras, da maioria de seus guerreiros e de quase
todos os seus aliados, ele se apega às antigas crenças, à habilidade na guerra
e ao poder de seu nome para sobreviver em um mundo que voltou a se tornar
agressivo de um dia para outro.
Sua única esperança é concretizar um plano ousado e
arriscado: recuperar, contando com apenas alguns homens, Bebbanburg, a
fortaleza onde cresceu, legado deixado por seu pai e usurpado por seu tio
muitos anos antes; mas como ele próprio costuma dizer: “O destino é
inexorável” e, assim, acaba criando uma
situação que o coloca, novamente, no meio de um novo conflito entre saxões e
dinamarqueses pela conquista do território inglês. É chance da volta por cima
de Uhtred, e que volta!
Novamente, valeu a leitura.
Inté
Um comentário
Alguém sabe me dizer se existe alguma edição deste livro com a capa metalizada/brilhante? Apenas encontro-o com a capa fosca.
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