O Guerreiro Pagão (Crônicas Saxônicas – Livro VII)

20 dezembro 2015
Em “O Guerreiro Pagão”, Uhtred está cada vez mais parecido com um jogador de xadrez. O cara prova para todos nós que é um baita estrategista, muito, mas muuuuito inteligente e perspicaz. O golpe de mestre que é revelado, mais ou menos, no meio da história é um verdadeiro olé nos vikings dinamarqueses comandados por Cnut - o lendário espadachim das Terras do Norte, dono da temida e mortal espada ‘cuspe de gelo’ – que dessa vez, planejam invadir a Mércia.
Com isso, os seguidores de “Crônicas Saxônicas” sacam que Uhtred não é só músculos e brutalidade , mas também neurônios – e da melhor qualidade – sempre em funcionamento.
Neste 7º volume de “Crônicas Saxônicas”, o lendário guerreiro saxão enfrenta, com certeza, o seu pior inimigo, pelo menos até aqui, superando de longe Ubba, Harald Cabelo de Sangue, Ivar ( O ‘Sem Ossos’), Sigfried, Svein do Cavalo Branco, Kjartan, entre outros. Cnut é tão esperto quanto o “Senhor da Guerra”, mais do que isso: é extremamente letal numa luta de espadas.
O leitor passa o livro inteiro imaginando como será o duelo entre as duas famosas espadas: bafo de serpente x cuspe de gelo. Afinal de contas qual delas vencerá? A cada página, a cada capitulo, o autor Bernard Cornwell vai aumentando essa expectativa até atingir o climax. Juro que temi por Uhtred, já que o infame guerreiro está velho e a sua agilidade não é mais a mesma do passado quando derrotou inimigos poderosos. Enquanto isso, Cnut está no ápice de sua forma como guerreiro. Isso só faz crescer a ansiedade pelo duelo final.
Cara, se o enredo não fosse tão bom de um modo geral, com certeza, eu teria pulado páginas e mais páginas para conferir a embate final entre as duas feras que acontece no capítulo intitulado “Cuspe de Gelo”. Caraca! Que ‘péga pra capá’ (como costumava dizer o saudoso Kid Tourão). Cornwell descreve todas as nuances de uma luta de espadas entre dois grandes guerreiros. Cada golpe, cada defesa, cada ferimento é narrado com maestria.
Mas falando escrevendo dessa maneira, a impressão que fica é que o livro se resume a essa luta. Nada á ver. Ela é apenas um dos temperos do enredo. “O Guerreiro Pagão” tem muitos outros trunfos: intrigas, traições, romance e claro, paredes de escudos.
O autor ainda introduz um novo personagem nesse volume das ‘Crônicas’: o filho caçula de Uhtred que se torna um guerreiro como pai. O Uhtred ‘filho’ é tão ‘empolgante’ quanto o seu ‘velho’. Não foge de uma escaramuça, por pior que seja, e gosta de tirar ‘onda’ na cara de seus inimigos enquanto os enfrenta em duelos de espada. – Você é gordo como um bispo; igual a um porco engordado para o Yule. É um pedaço de merda inchado. – O caçula de Uhtred disse tudo isso, rindo debochadamente, em seu primeiro duelo de espadas, enquanto enfrentava  Sigurd, um experiente guerreiro e comandante viking. Agora, responde: Não é a cara do pai?
A descrição da Batalha de Teotanheale, entre saxões e dinamarqueses, é outro presente magnífico com que Cornwell nos brinda. “Tripas e sangue, espirais brilhantes fedendo bosta, derramando-se da barriga de um homem para serem pisoteados na lama, homens gritando e escudos rachando, e só estávamos lutando havia alguns instantes. Não sabia quais se meus homens estavam morrendo, ou se o inimigo havia rompido nossa parede de escudos”... “Eu tinha uma leve consciência dos sons de batalha atrás de mim, o trovão de escudos encontrando escudos, o choque de lâminas, mas não ousava me virar porque um inimigo estava girando seu machado de cabo comprido para baixá-lo sobre minha cabeça, de modo que Uhtred passou por cima do homem morto à minha frente e acertou o sujeito com o machado em baixo do queixo”.
A descrição envolvente de Cornwell tem o poder de colocar o leitor no centro da batalha. Realmente, fantástico.
A narrativa de “O Guerreiro pagão” começa com Uhtred indo a uma igreja para deserdar o seu filho, mais velho, Uhtred (que passa a ser chamado de Judas) por este ter se tornado padre, a maior afronta que ele poderia fazer para o seu pai. Na confusão, um abade se coloca entre a ira do pai e seu filho e acaba sendo morto, por acidente. Uhtred, sem querer, fere mortalmente o religioso e acaba conquistando o ódio dos cristãos que queimam a sua propriedade e o expulsam da Mércia, juntamente com alguns poucos guerreiros que decidem segui-lo.
Dessa maneira, Uhtred, um dos últimos senhores pagãos entre os saxões, se vê hostilizado como nunca pela Igreja, cujo poder aumenta. Desprovido de suas terras, da maioria de seus guerreiros e de quase todos os seus aliados, ele se apega às antigas crenças, à habilidade na guerra e ao poder de seu nome para sobreviver em um mundo que voltou a se tornar agressivo de um dia para outro.
Sua única esperança é concretizar um plano ousado e arriscado: recuperar, contando com apenas alguns homens, Bebbanburg, a fortaleza onde cresceu, legado deixado por seu pai e usurpado por seu tio muitos anos antes; mas como ele próprio costuma dizer: “O destino é inexorável”  e, assim, acaba criando uma situação que o coloca, novamente, no meio de um novo conflito entre saxões e dinamarqueses pela conquista do território inglês. É chance da volta por cima de Uhtred, e que volta!
Novamente, valeu a leitura.

Inté

Um comentário

  1. Alguém sabe me dizer se existe alguma edição deste livro com a capa metalizada/brilhante? Apenas encontro-o com a capa fosca.

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