10 livros vencedores do Prêmio Jabuti, ao longo dos anos, que não podem faltar em sua estante

17 novembro 2024

O Jabuti pode ser considerado um dos prêmios mais importantes da literatura brasileira, para não falar “o mais importante”. Acredito que o maior diferencial do Prêmio Jabuti, em comparação com outros prêmios, é sua abrangência: além de valorizar os escritores, ele destaca a qualidade do trabalho de todos os profissionais envolvidos na criação e produção de um livro. 

O prêmio é tão cobiçado que anualmente, editoras dos mais diversos segmentos e uma infinidade de escritores independentes de todo o Brasil inscrevem suas obras na esperança de receber a almejada estatueta e o reconhecimento que ela proporciona. Receber o Prêmio Jabuti é um desejo acalentado por aqueles que veem o livro como um instrumento essencial para a disseminação da cultura.

Neste ano, os escritores, aqui da terrinha, que venceram em suas respectivas categorias estarão recebendo as estatuetas no dia 19 de novembro. Cada vencedor de categoria receberá a icônica estatueta do Jabuti e um prêmio de R$ 5 mil, com exceção da categoria Livro Brasileiro Publicado no Exterior. As editoras das obras vencedoras também serão agraciadas com a estatueta.

E como estamos vivendo esse clima de premiação, resolvi publicar essa postagem que eu acredito irá agradar aqueles leitores que assim como eu, adoram devorar um livro nacional.

Selecionei dez obras que faturaram o Jabuti ao longo dos anos, desde a implantação do prêmio em 1959. São obras que definitivamente não podem faltar em suas estantes por serem boas demais; aliás, boas não; excelentes. Vamos a elas.

01 – Por quem as panelas batem (Antônio Prata)

Vamos começar o nosso top list com o livro de Antônio Prata que foi um dos grandes vencedores do Prêmio Jabuti de 2023 na categoria “Crônicas”. Por quem as panelas batem reúne crônicas publicadas pelo autor na Folha de S. Paulo entre junho de 2013 e o final de 2021. Prata dá um mergulho na política brasileira contemporânea, abordando desde o impeachment de Dilma Rousseff até a ascensão e influência do bolsonarismo.

Utilizando-se de um formato que alterna entre a ironia e a seriedade, Prata consegue, ao mesmo tempo, entreter e provocar reflexão. Suas crônicas, por vezes humorísticas, por vezes carregadas de luto e indignação, especialmente cobrindo os anos da pandemia, refletem a dualidade do período.

Tomei conhecimento desse livro há poucos dias e as opiniões positivas tanto de críticos literários quanto de leitores me convenceram a incluir Por quem as panelas batem em minha já extensa lista de leituras.

02 – “Rota 66 – A história da polícia que mata” (Caco Barcellos)

Considero o jornalista Caco Barcellos um dos repórteres mais corajosos da televisão brasileira. O cara é fera. Os temas polêmicos abordados por ele, quase sempre passam batidos por outros profissionais por causa do perigo que envolve essas abordagens. Caco explora a fundo esses temas e procura trazer para os seus leitores a podridão que se esconde de baixo de uma camada linda e perfumada que é apresentada para sociedade. Entenda essa camada como: instituições, governo e também alguns fatos.

Rota 66 – A história da polícia que mata, livro que Barcellos escreveu em 1992 recebeu rasgados elogios dos leitores. Os críticos, então... simplesmente babaram na obra. A partir daí, passou a ser relançado com frequência.

O livro levou sete anos para ser escrito, mas a investigação por trás dele atravessa pelo menos duas décadas. Vencedor do prêmio Jabuti de 1993, Rota 66 - A história da polícia que mata é uma rigorosa investigação sobre o trabalho da Polícia Militar de São Paulo entre as décadas de 1970 e 1990. Nele, Barcellos denuncia a atuação irregular da Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar (Rota) como um verdadeiro aparelho estatal de extermínio. Um esquadrão da morte responsável pela morte de milhares de pessoas. A maioria delas inocente. O livro parte das origens da criação de um sistema mortal de extermínio, demonstra seus métodos, desvenda sua consciência. Caco denuncia seus métodos de atuação e mostra como o sistema incentiva esse tipo de ação. O livro pode, tranquilamente, ganhar o status de emblemático e assume proporções de uma grave denúncia social. O autor desmonta as engrenagens da Rota e o perfil de seus principais matadores.

03 – Corpos Secos (Marcelo Ferroni, Luísa Geisler, Samir Machado e Natália Borges Polesso)

E quem disse que brasileiro não sabe escrever romance de ficção de científica?! Quatro escritores brasileiros provaram o contrário e ainda foram mais além ao transformar a sua narrativa de ficção científica num thriller psicológico. O resultado dessa ousadia literária foi o livro Corpos Secos que conquistou o Prêmio Jabuti de 2021 na categoria “Romance”.

O livro escrito em conjunto por Marcelo Ferroni, Luísa Geisler, Samir Machado e Natália Borges Polesso é um tiro certeiro no alvo para os leitores que amam o gênero ficção científica temperada com muito suspense e pitadas de ação. Um amigo leu o livro e adorou; e olha que ele não é fã de livros nacionais. Após ver toda a sua empolgação com a obra, decidi também incluí-la em minha lista de leituras que vocês já devem ter começado a perceber está se tornando um calhamaço (rs).

Na história escrita a oito mãos, em um futuro próximo, o uso abusivo de agrotóxicos no Brasil leva ao surgimento de um vírus mutante que, além de matar os contaminados, os transforma em cadáveres ambulantes, os “corpos secos” (a palavra “zumbi” não é usada no livro), que continuam transmitindo a infecção. Alguns meses depois, há poucos sobreviventes. Um jovem aparentemente imune à doença está sendo estudado por uma equipe médica e precisa ser protegido a qualquer custo. Ainda fazem parte da narrativa, uma dona de casa que vive em uma fazenda no interior do Brasil e se encontra sozinha precisando reagir para sair de seu isolamento; uma criança quê vê a mãe tentar de tudo para salvar a família e fugir do contágio; além de uma engenheira de alimentos que percebe que seus conhecimentos técnicos talvez não sejam suficientes para explicar o terror que assola o país. Juntos, eles vão narrar suas jornadas, em busca do último refúgio ao sul do país.

04 – O Coronel e o Lobisomem (José Cândido de Carvalho)


A obra de José Cândido de Carvalho que faturou o Jabuti nos primórdios do prêmio, em 1965 se tornou ao longo de décadas uma verdadeira obra-prima da literatura brasileira.

O Coronel e o Lobisomem é um dos livros mais importantes do regionalismo fantástico da literatura brasileira. Publicado em 1964, o romance conta com uma linguagem inovadora e original, usando o regionalismo e a fantasia para abordar questões acerca do ser humano, como amizade, ambição, coragem e loucura.

A obra narra a ascensão e queda do coronel Ponciano de Azeredo Furtado, seguindo uma estrutura que lembra as aventuras de Dom Quixote, repleta de episódios divertidos, referências a lendas brasileiras e resquícios da literatura de cordel. Assim, a obra traça um retrato da sociedade brasileira e explora situações satíricas para tecer críticas sociais.

05 – O Alienista – Edição em quadrinhos (Fábio Moon e Gabriel Bá)

Tenho certeza que nunca passou pela sua cabeça que um dia o clássico O Alienista de Machado de Assis poderia ser transformado numa história em quadrinhos. Pois é, mas o surreal acabou virando realidade quando os irmãos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá tiveram essa ideia considerada tresloucada no início, mas que provou ser genial no fim, uma verdadeira sacada de mestre. A prova disso é que a nova versão de O Alienista foi a primeira história em quadrinhos a receber o prestigioso Prêmio Jabuti.

A adaptação do clássico de Machado de Assis foi lançada originalmente em 2007, pela Agir. O trabalho da dupla, fiel ao texto original, dá cores e movimentos à história do médico Simão Bacamarte — um dos personagens mais marcantes da literatura nacional - responsável por fundar o hospício Casa Verde. A narrativa é célebre por questionar, afinal, quem são realmente os “loucos” na sociedade.

06 – Uma Mulher no Escuro (Raphael Montes)

Uma Mulher no Escuro de Raphael Montes, o mesmo autor do fenômeno literário chamado Jantar Secreto, conquistou o Jabuti em 2020 na categoria “Romance de Entretenimento” que havia sido criada naquele mesmo ano.

No livro narrado em terceira pessoa, um crime brutal cometido há vinte anos tem apenas uma única sobrevivente, cuja vida se transforma num terror quando o assassino decide retornar para concluir a sua “tarefa”. Em quem essa sobrevivente poderá confiar?

De acordo com a sinopse da editora Companhia das Letras, a personagem Victoria Bravo tinha quatro anos quando um homem invadiu sua casa e matou sua família a facadas, pichando seus rostos com tinta preta. Única sobrevivente, ela agora é uma jovem solitária e tímida, com pesadelos frequentes e sérias dificuldades para se relacionar. Seu refúgio é ficar em casa e observar a vida alheia pelas janelas do apartamento onde mora, na Lapa, Rio de Janeiro; até que... leiam o livro

07 – Torto Arado (Itamar Vieira Junior)

Além de Raphael Montes, o escritor baiano Itamar Vieira Junior também foi um dos vencedores do Jabuti em 2020, mas na categoria “Romance Literário”, com o seu livro Torto Arado, que traz a resistência e ancestralidade negra como foco principal. Na época, o autor venceu outros autores renomados como Chico Buarque, Maria Valéria Rezende, Paulo Scott e Adriana Lisboa.

Apesar de não ter gostado do livro num todo, não posso negar que Torto Arado foi considerado quase numa unanimidade entre leitores e críticos que classificaram a obra de Itamar Vieira um clássico da literatura brasileira contemporânea.

O autor narra a saga de duas irmãs intrépidas – Bibiana e Belonísia – que vivem no interior árido da Bahia. Elas deparam-se com uma faca ancestral e enigmática escondida na mala sob a cama da avó. Um incidente transformador ocorre, entrelaçando irrevogavelmente seus destinos, de modo que uma se torna a voz da outra.

O romance narra uma saga de vida e morte, de lutas e redenção. A narrativa revela uma fusão épica e lírica, mesclando elementos realistas e mágicos.

08 – As Meninas (Lygia Fagundes Telles)

Cá entre nós: seria a maior sacanagem se uma das maiores escritores brasileiras fosse “rifada” da premiação do Jabuti. Graças a Deus, essa injustiça não aconteceu. Em 1974, Lygia Fagundes Telles faturou o prêmio com o livro As Meninas, um dos títulos mais aclamados da autora paulistana. 

Este seu terceiro romance é marcado por um caráter subversivo e nada morno. O livro também fica entre os selecionados como leitura obrigatória para os vestibulares em todo o território nacional nos dias atuais. Além do Jabuti, a obra ganhou o prêmio Coelho Neto da Academia Brasileira de Letras.

A crítica literária especializada considera o romance As Meninas um dos mais ousados já publicados no Brasil. Alguns vão mais além e proclamam a obra como a mais ousada de todos os tempos. O motivo é que o livro foi escrito na época da ditadura militar, período em que a censura imposta pelos militares acabou fazendo muitas vítimas. Um dos grandes exemplos que deixa evidente a coragem a autora, é a ampla descrição do episódio de uma sessão de tortura e das repressões sofridas por quem se opunha ao regime.

As Meninas acompanha a jornada de três jovens mulheres universitárias no início da década de 70. Lorena, Ana Clara e Lia são de mundos distantes, vivendo impasses muito parecidos e ao mesmo tempo diferentes, cada qual com seu próprio drama durante o período turbulento da ditadura. Elas têm seus destinos cruzados quando dividem o mesmo teto em um pensionato de freiras na cidade de São Paulo e acabam por se aproximar, tornando-se amigas e confidentes.

09 – 1822 (Laurentino Gomes)

Na minha época de ginasiano, a minha turma tinha um professor de História fantástico; tão fantástico que após mais de meio século ainda guardo o seu nome na memória. O “seo” Luiz explicava História do Brasil de uma maneira fluida, num estilo coloquial que fazia com que a nossa classe – que tinha vários alunos bagunceiros – ficasse num silencio “sepulcral”. Todos nós viajávamos nessa aula, como se estivéssemos ali, ao lado de Dr. Pedro, da Família Real, da Princesa Isabel, vivendo juntamente com eles, as suas aventuras e desventuras.

Apesar de ainda não ter lido 1822 de Laurentino Gomes, pelos comentários que vi nas redes sociais, posso comparar o escritor com o meu antigo professor, o “seo” Luiz. A grande maioria dos leitores que leram 1822 colocaram a obra no “céu”, enaltecendo, principalmente, a sua narrativa fluida e capaz de prender a atenção até mesmo dos mais absorto dos leitores.

Em 1822, Laurentino Gomes compara diferentes relatos sobre o dia 7 de Setembro e a proclamação da independência. A verdade é que esse fatídico dia foi bem menos épico do que a pintura “Independência ou Morte”, de Pedro Américo, nos mostra.

Segundo sinopse oficial da obra, mais do que desmistificar o grito às margens do Ipiranga, o escritor analisa como Dom Pedro conseguiu, apesar de todas as dificuldades, fazer do Brasil uma nação na sequência das mudanças provocadas pela fuga da família real portuguesa em 1808. O autor mostra como as Guerras Napoleônicas, a Revolução Francesa e a independência dos Estados Unidos, entre outros acontecimentos, criaram um ambiente favorável à criação de um novo país nos trópicos.

Merecidamente a obra foi vencedora do Prêmio Jabuti de “Melhor Reportagem” em 2022. O livro, de acordo com a sinopse, nos leva a compreender melhor as origens do Brasil e como problemas estruturais ainda influenciam a nossa realidade hoje numa leitura fácil, agradável e fluída.

Taí, com certeza, 1822, também entrará na minha já extensa lista de leituras.

10 – Fim (Fernanda Torres)

Depois de anos dedicados à dramaturgia, com trabalhos super reconhecidos em televisão, cinema e teatro, em 2013 Fernanda Torres lançou o seu primeiro livro de ficção.

Além de ter sido muito bem recebido pela crítica Fim ‘papou’ de cara o Prêmio Jabuti. Provando que não estava para brincadeiras, Fernanda Torres em sua primeira experiência como escritora, acabou levando para casa um dos maiores prêmios da literatura brasileira.

Fim chegou a ficar entre o oitavo livro mais vendido em 2013. Em 2023, ele voltou com toda a força após o lançamento da série, com o mesmo nome, pela Globoplay.

Fim conta a história de cinco amigos oriundos do Rio de Janeiro que revisitam momentos marcantes de suas trajetórias: festas, uniões, separações, peculiaridades, inibições e remorsos. No entorno deles, desfilam mulheres com distintos perfis — neuróticas, amargas, sedutoras, despreocupadas, descartadas e resignadas. A trama inclui um padre em crise com sua vocação e uma variedade de personagens cariocas, fruto da aguçada capacidade de observação da autora.

Bem... torço para que essa lista sirva de base para os seguidores do blog escolherem um bom livro que ajude a combater a ressaca literária pela qual, talvez, vocês estejam passando.

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