Não é tão raro vermos personagens icônicos da
literatura prosseguirem com as suas aventuras, encontros e desencontros mesmo
após a morte de seus criadores. Foi assim com os Blackwells de Sidney Sheldon,
com o carismático 007 de Ian Fleming, com Scarlett O’Hara de Margaret Mitchell,
além de muitos outros (aqui). E da mesma forma que os espólios de Sheldon,
Fleming e Mitchel chamaram, respectivamente, Tilly Bagshawe, John Gardner e
Alexandra Ripley para “ressuscitar” esses personagens após a morte de seu
autores originais; os familiares de Robert Ludlum decidiram fazer o mesmo. E
assim, o conhecido agente secreto aminésico Jason Bourne acabou indo parar nas
mãos de Eric Van Lustbader. Resultado: além dos três livros originais - A Identidade Bourne (1980), A Supremacia Bourne (1986) e O Utimato Bourne (1990) – escritos por
Ludlum (veja aqui), a saga ganhou – pasmem! – mais 11 livros com o personagem!! Se somarmos
esses livros com a trilogia de Ludlum teremos 14 livros do chamado universo
Bourne!
Lustbader era um dos poucos amigos do recluso Ludlum
que não gostava de muita gente ao seu redor, além de não ser nem um pouco
sociável. Reza a lenda que Ludlum detestava pessoas tolas e de pouca cultura e
por isso optava por sair muito raramente de sua casa. Mas após um evento
promocional de sua editora ao qual foi obrigado comparecer, o lendário autor
acabou se aproximando de Lustbader. Este fato raro aconteceu porque o criador
de Jason Bourne que havia acabado de lançar A
Identidade Bourne queria conhecer o seu rival que estava dividindo com ele
as listas de livros mais vendidos. Vale ressaltar que Lustbader havia escrito
recentemente O Ninja que estava
ocupando juntamente com A Identidade
Bourne o primeiro lugar das listagens de obras mais vendidas nos Estados
Unidos.
A dupla conversou até tarde da noite. Ludlum viu muito
de Jason Bourne e dele mesmo no personagem de Lustbader, Nicholas Linnear - um
mestre das artes marciais que é envolvido em uma conspiração de assassinato - e
Lustbader viu muito de si mesmo e de Linnear em Bourne, o agente desonesto da
CIA sem memória de seu passado. E assim, ambos se tornaram grandes amigos.
Quando Ludlum morreu em março de 2001, o seu espólio
decidiu dar continuidade as aventuras de Jason Bourne. Algo natural, já que se
tratava da série de livros mais famosa do escritor e que rendeu uma fortuna
desde que foi criado. O próximo passo seria escolher um escritor que tivesse
alguma afinidade com Ludlum.
Trilogia Bourne original escrita por Robert Ludlum |
O retorno de Jason Bourne às páginas aconteceu em
2004, três anos após a morte de seu criador. Nasceu assim, O Legado Bourne. O sucesso da obra que vendeu aquém do esperado
acabou estimulando o lançamento de novos livros até chegar a sua 11ª edição.
Uma das coisas que atraiu Lustbader para a série –
além das infinitas possibilidades de enredo de um agente com amnésia – foi que
Bourne era a antítese do espião sofisticado. Ele era um homem comum,
danificado, e tendo que confiar com seus próprios recursos em vez de uma série
de dispositivos e carros velozes.
Matt Damon assumiu o papel de Bourne na adaptação
cinematográfica de A Identidade Bourne.
Aqui cabe uma curiosidade já que os produtores do primeiro filme da trilogia
queriam Brad Pitt na pele do agente da CIA e não Damon; mas no final, Damon
provou ter sido a escolha certa.
Lustbader começou a moldar o personagem de Bourne
sutilmente para sua série sem alterar o agente duplo operando sem memória, mas
com uma lasca de consciência. Ele matou a esposa de Bourne, Marie, em um
acidente de esqui entre seus livros um e dois e enviou as crianças para a
fazenda de seus avós no Canadá.
Segundo o autor, Marie se foi e os filhos se foram
porque, se Bourne fosse casado, não seria possível que ele interagisse com
nenhuma personagem feminina, e sua esposa e filhos estariam sob constante
ameaça. Para Lustbader, isso não poderia ser feito em todos os livros. Os dois
primeiros livros se mostraram tão populares que a editora perguntou ao agente
do escritor, se ele poderia criar um enredo sobre Bourne por ano. Isso, além de
sua própria produção – na série Nicholas Linnear, personagem de “O Ninja” - de
um livro, também, por ano. E tudo indica
que Jason Bourne venceu esse “embate”, já que teve fôlego para sustentar 12
enredos, enquanto Linnear só foi até o sétimo volume.
E agora vamos conhecer mais detalhes sobre os da saga
Bourne escritos por Eric Van Lutsbader. Lembrando que dos seus 11 livros apenas
três foram lançados no Brasil. Todos eles pela editora Rocco.
01
– O Legado Bourne (2004)
Na trama, o professor David Webb salva um aluno de uma
briga, fazendo eclodir a agilidade e a destreza de sua antiga vida como o
espião Jason Bourne. Webb mal imagina que este incidente é o estopim para uma
complexa intriga internacional em que, de herói, ele passará novamente a alvo.
Lustbader fez um excelente trabalho. Adorei o livro. É
claro que o leitor que acompanhou toda a trilogia original vai perceber
diferenças na escrita dos dois autores, mas não há como negar que nessa
sequência, Lutsbader foi muito feliz e conseguiu manter o nível.
O enredo tem muita ação, conspirações e surpresas.
Prestem atenção no personagem Khan que reserva uma grande reviravolta no final.
Aliás, esse personagem foi muito bem construído pelo autor, à exemplo do agente
da CIA, Martin Lindros e da misteriosa Annaka. Quer saber quando um autor
entende do assunto? No momento em que ele escreve um livro com um grande numero
de personagens e apesar disso, consegue deixá-los todos interessantes. Pois é,
Lustbader conseguiu. O Legado Bourne
tem uma ‘infinidade’ de personagens e todos eles conseguem prender a atenção do
leitor, tendo papéis preponderantes na história. (ver resenha aqui)
02
- A Traição Bourne (2007)
A
Traição Bourne foi publicado originalmente em 2007 mas
só chegou ao Brasil em 2010 através da editora Rocco. Dois meses após a morte
da segunda esposa de Jason Bourne, ele descobre que Martin Lindros, seu único
amigo na CIA, desapareceu na África, onde ele estava rastreando carregamentos
de urânio.
Apesar de seu ódio pela CI, Bourne parte para resgatar
seu amigo e terminar o trabalho: desmantelar uma rede terrorista determinada a
construir armamentos nucleares cortando sua fonte de dinheiro.
Mas Bourne não percebe que esses homens, supremacistas
islâmicos, são líderes de um grupo incrivelmente perigoso e tecnologicamente
experiente com laços da África, através do Oriente Médio e na Europa Oriental e
Rússia.
03
– A Punição Bourne (2008)
A
Punição Bourne é o sexto livro da saga Bourne e o
terceiro escrito por Eric Van Lustbader.
Desta vez, Jason Bourne, agora conhecido como o
professor David Webb, esta à procura de tranquilidade. Ele resolveu retomar o
posto de professor na Universidade de Georgetown. Em pouco tempo, porém, ele
acaba se entediando com a pacata vida no campus. Quando seu mentor acadêmico, o
professor Specter, o convida para investigar a morte de um antigo aluno,
assassinado por uma seita extremista islâmica, ele retorna ao trabalho com
entusiasmo. Quase ao mesmo tempo, do outro lado do planeta, Semion Icoupov,
líder da organização terrorista Legião Negra, e Leonid Arkadin, um matador de
aluguel, se unem para arrancar, através de tortura, preciosas informações de
Pyotr Zilver, um estudante especializado em transmissão de dados através das
consideras 'novas tecnologias'. Quando David Webb, o lado B da personalidade de
Bourne, salva o professor Specter de um ataque, dentro da universidade, o cerco
começa a se fechar. Specter, na verdade um caçador de terroristas motivado por
vingança, busca descobrir os próximos passos da Legião Negra, desde a morte de
seu aluno, Pyotr Zilber. E para isso contará com a colaboração de Jason Bourne.
Se os fãs da saga já leram a trilogia sobre o agente
da CIA publicada por Robert Ludlum não custa nada arriscar a leitura dos livros
escritos por Eric Van Lustbader. Como já disse nesse texto, tive a oportunidade
de ler o quarto livro da série e o primeiro idealizado por Lustbader e gostei.
Vamos ficar na torcida para que a editora Rocco
publique aqui no Brasil, os oito livros restantes sobre Jason Bourne escritos
por Lustbader, assim, teríamos uma saga de 14 livros! Um ‘presentaço’ para os
fãs do personagem.
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