Entendo que jamais podemos comprar ou julgar um livro apenas
pela capa, mas me perdoem os leitores que pensam dessa maneira porque acredito
que uma capa bem produzida, de fato, chama muito a atenção e acaba induzindo as
pessoas a adquirir esses livros sem saber absolutamente nada sobre o seu
enredo, além de não conhecer o autor. Com certeza, pelo menos uma vez na vida,
você já comprou um livro tendo como referência apenas a sua capa. Não importa
que tenha sido apenas uma daquelas revistinhas antigas de terror, do tipo Contos da Kripta, Calafrio e por aí afora; mas que comprou; comprou. Estou certo? Pois é. Sei que é errado ter esse
impulso com relação aos livros, mas fazer o que se as “benditas” capas
conseguem nos ludibriar?
E quer saber mais? Muitas vezes, essas capas não
mentem e acabam nos presenteando com verdadeiros clássicos literários deixando,
assim, o pacote completo: capa maravilhosa e enredo também maravilhoso.
Neste post vou apresentar seis capas antológicas – que
despertaram o interesse dos leitores – de livros antigos de terror também
antológicos. Ahahahaha!! Pois é, quem comprou essas obras tendo como parâmetro
somente as suas capas, certamente, não se arrependeram. Vamos conferi-las.
01
– O Exorcista (William Peter Blatty)
Cara, que capa sinistra é aquela! Ver o “coisa ruim”
voando de cabeça para baixo com asas de morcego, um rabo que lembra uma
serpente e segurando uma lança no formato de um garfo provoca calafrios. Repito:
Que capa sinistra!
Esta arte deve ter levado muitos leitores a adquirir o
livro tão logo ele chegou às prateleiras das livrarias quando o enredo escrito
por William Peter Blatty ainda era praticamente desconhecido e a sua adaptação
cinematográfica uma realidade distante.
A capa do livro que me refiro foi publicada pela
editora Nova Fronteira e chegou ao Brasil em 1º de janeiro de 1972,
aproximadamente seis meses após a sua publicação original nos Estados Unidos. O
filme só seria lançado nos cinemas em 26 de dezembro de 1973. Entenderam porque
muita gente comprou o livro apenas pela capa? Ainda não se falava no filme que
só viria muito depois e serviria para impulsionar as vendas da obra.
O Exorcista fez um baita sucesso tanto nas páginas quanto nas
telonas. A Nova Fronteira vendeu tantos livros aqui no Brasil que os lucros
serviram para que a editora pudesse patrocinar o lançamento da primeira edição
do Dicionário Aurélio. Quanto ao filme, tornou-se um dos mais lucrativos de
todos os tempos do gênero terror, arrecadando o equivalente a U$ 441.306.145,00
em todo o mundo.
02
– A Coisa (Stephen King)
Não há como deixar um livro do mestre do terror fora
dessa lista; e o escolhido por mim foi a edição lançada pela editora Objetiva
em terras tupiniquins em 1986. Cara, que capa! Este livro eu juro que comprei
pelo seu layout assustador.
Não posso negar que a capa idealizada pela Suma em
2014 também é fantástica, como também não posso negar que a capa da Objetiva de
1986 é bem mais aterrorizante e chamativa.
A capa da editora Objetiva traz uma imagem desfocada
de Pennywise mostrando apenas alguns detalhes como o seu nariz vermelho de
palhaço, vários chifres distribuídos aleatoriamente em sua cabeça, além de uma
boca escancarada mostrando alguns dentes. Mas, confesso, que o que chamou mais
a minha atenção foram aquelas sobrancelhas e olhos horrorosos. Resumindo, uma
capa crua, sem requintes, mas assustadora. Ah! esqueci ainda de um outro
detalhe: a arte do sangue respingado na capa que parece verdadeiro.
Sei lá, se fosse comparar as duas capas, a grosso
modo, definiria o layout da Suma como bonitinho e certinho; já o da editora
Objetiva: visceral.
A Coisa narra as experiências de sete crianças, que são
aterrorizadas por uma entidade maligna que explora os medos de suas vítimas
para se disfarçar enquanto caça suas presas. Esta entidade do mal conhecida
apenas por "It" ou “A Coisa” aparece principalmente na forma de um
palhaço chamado Pennywise para atrair sua presa preferida: crianças pequenas.
03
– O Bebê de Rosemary (Ira Levin)
É comum confundir o cartaz do filme de Roman Polanski
com a capa do romance de Ira Levin, ou seja, muitos acreditam que a imagem é a
mesma. Nada a ver. Aquele layout que traz um carrinho de bebê no topo do que
parece ser uma montanha escura dividindo o espaço com o rosto da atriz Mia
Farrow com matizes em verde foi o cartaz do filme de Polanski lançado em 1969 e
que se tornou um grande clássico. A capa do livro publicado no Brasil em 1967
pela editora Nova Cultural é bem mais sinistro e acredito que causou uma onda
de calafrios nos leitores daquela época despertando o interesse pela compra da
obra.
Esta capa traz a imagem da mão de uma mulher com unhas
vermelhas segurando a mãozinha de um bebê, mas uma mãozinha macabra indicando ser
a de um “bebê monstro”. Ela é toda peluda, enrugada e com unhas compridas e
pontudas da cor verde. Feia pra chuchu!
Depois da edição lançada pela Nova Cultural na década
de 60, O Bebê de Rosemary ainda teve outras quatro publicações no Brasil –
BestSeller (1980), Círculo do Livro (1993), Amarilys (2024) e DarkSide (2022).
O cartaz do filme de Polanski só foi parar na capa dos livros da Amarilys e
DarkSide. Quanto as capas das editoras BestSeller e Círculo do Livro são
semelhantes e diga-se, nada atrativas.
Mas voltando à capa do bebê monstro da Nova Cultural,
certamente causou um grande frisson em 1967.
04
– O Colecionador (John Fowles)
A obra de John Fowles teve nove edições publicadas por
várias editoras no Brasil, mas nenhuma delas consegue superar o layout do livro
de 1980 publicado pela editora Abril Cultural como arte da coleção Grandes Sucessos. A capa agradou tanto
que foi repetida pela DarkSide numa edição comemorativa em capa dura publicada
em 2018.
A capa da Abril Cultural deixa evidente que para ser belo
não é preciso tanta maquiagem. O layout com uma borboleta de asas abertas da
cor ‘azul piscina’ num fundo todo branco se tornou antológica. O corpo da
borboleta é minúsculo, quase invisível; o que se sobressai, de fato, são as
suas asas. A ilustração é mais importante do que o título da obra e o nome do
autor que aparecem em letras pequenas. O tipo de capa que ao vermos jamais
esqueceremos, mesmo passando décadas.
O romance é sobre um jovem solitário chamado Frederick
Clegg, que trabalha como balconista em uma prefeitura e coleciona borboletas nas
horas vagas. De repente, Clegg fica obcecado por Miranda Gray, uma estudante de
arte de classe média, e decide captura-la e incluí-la na sua coleção de objetos
bonitos e preservados, na esperança de que, se ele a mantiver em cativeiro por
tempo suficiente, um dia ela passará a amá-lo.
Ah! Um detalhe; a capa com a borboleta supera até
mesmo a do livro original publicado pela Civilização Brasileira em 1969.
05
– As Duas Vidas de Audrey Rose (Frank De Felitta)
As
Duas Vidas de Audrey Rose foi lançado no Brasil pelas editoras
Círculo do Livro (1980), Francisco Alves (1980) e Abril Cultural (1984); três
layouts distintos. Novamente, a publicação da Abril Cultural, da coleção Grandes Sucessos foi o destaque. A
ilustração traz uma jovem com uma expressão de terror batendo com as mãos numa
janela que por sua vez reflete a imagem de uma menina que parece ser um
fantasma.
O livro escrito por Frank De Felitta inspirou o filme
Audrey Rose de 1977 com Anthony Hopkins e Marsha Mason.
Na narrativa de Felitta, Janice e Bill Templeton formam
um casal que vive feliz com sua filha única, a bem-comportada pré-adolescente
Ivy. Essa imagem de família feliz começa a ser decomposta com a chegada do
estranho Elliot Hoover. Depois de suspeitas de que ele pretende molestar Ivy,
Hoover tenta convencer aos pais que seu interesse (quase uma obsessão) pela
garota é apenas paternal. Para ele, a menina é a reencarnação de sua filha,
falecida em um terrível acidente, quando ela ficou presa no automóvel e morreu
entre as chamas. A partir daí, coisas estranhas começam a acontecer.
06
– A Casa Infernal (Richard Matheson)
O livro de Richard Matheson lançado em 1971 e que
inspirou o filmaço A Casa da Noite Eterna (1974) só foi ser publicado no Brasil
quase 30 anos depois. Verdade! Foi graças a Novo Século que no final de 2009
tivemos acesso a essa obra prima da literatura de terror. A editora optou por
uma capa simples mas eficiente. A ilustração de uma mansão sinistra cercada de
nuvens negras já dá aquele clima de suspense induzindo o leitor que curte o
gênero a comprar a obra sem pestanejar.
Em 2021, a editora DarkSide relançou a história de
Matheson em capa dura com um visual ‘chic nu urtimu’, mas a capa da Novo
Século, apesar de sua simplicidade, consegue transmitir um clima bem mais
tenso. No meu caso, sempre que vejo aquela ilustração lembro da terrível
“Mansão Belasco” onde se desenrola grande parte da história.
A Casa Infernal aborda os estranhos fatos
ocorridos na Mansão Belasco que por mais de vinte anos permaneceu vazia. Tida
como o Monte Everest das casas mal-assombradas, essa construção de aspecto
imponente e sinistro testemunhou cenas inconcebíveis de horror e depravação. No
passado, duas expedições com o propósito de investigar os segredos que a casa encerrava
terminaram em assassinato, suicídio e loucura para seus integrantes. Agora, uma
nova investigação tem lugar, levando quatro estranhos ao local interditado,
determinados a esquadrinhar a Mansão Belasco em busca de respostas definitivas
sobre a vida após a morte.
Taí galera, por hoje fico por aqui.
Inté!
Um comentário
Atas, Quanto tempo meu amigo! Você, como sempre com as suas dissertações precisas. Seu texto também resume o meu ponto de vista. No meu caso, também comprei como também deixei de comprar vários livros pela capa. Quanto as capas no estilo gótico que você citou, observe o layout de "A Casa Infernal" da editora Novo Século? Incrível, não acha? Tudo vem que a DarkSide fez uma capa incrível, mas aquele casarão cercado de nuvens num verdadeiro clima de terror criado pela Novo Século é imbatível. Outro exemplo são as capas das várias edições de "O Exorcista". Por mais trabalhadas que tenham sido, elas não se comparam com a edição de 1972 da Nova Fronteira. E por aí vai.
ResponderExcluirUm grande abraço para você e seus familiares. Volte sempre.