Já escrevi várias postagens sobre como o meu irmão mais
velho ajudou a despertar em mim o gosto pela leitura e também pelo cinema. Ele,
juntamente com minha mãe, e alguns de meus professores foram os responsáveis
por ter me transformado num devorador de livros. Sou muito grato a todos eles.
Meu irmão, quando mais jovem, era um leitor voraz e
também um cinéfilo de carteirinha. Se o filme ou o livro lhe interessava, era o
primeiro a marcar presença na fila dos cinemas ou nas portas das bancas de
jornais – lembrando que naquela época, essas saudosas bancas também vendiam
livros e fascículos de enciclopédias.
Agradeço por ele não ter sido um daqueles irmãos
pentelhos e egoístas que mal olhavam em
sua cara e quando olhavam era para brigar ou reclamar para a mãe que o seu
irmão mais novo estava fazendo algo que lhe desagradava. Cara, como Deus foi
supimpa comigo! Os meus irmãos, tanto o mais velho quanto o do meio foram
verdadeiros anjos em minha infância. Só agradeço por isso. Amo eles.
A prova desse relacionamento especial é que o meu “old
brother”, todas as vezes em que ia ao cinema fazia questão de me levar. Nunca
perguntei o motivo dos convites, mas acredito que a razão principal era o meu
interesse por livros e filmes na TV desde pequeno. Como ele sempre foi muito
observador – tanto é que virou um excelente advogado – chegou à conclusão de
que eu também adoraria assistir aos filmes, mas numa telona ao invés de uma
telinha.
Dessa forma lá estava eu, junto com ele, assistindo
películas incríveis, algumas delas bem avançadinhas para a minha idade, com
enredo até mesmo complicado, mas o incrível nisso tudo era que eu adorava esses
filmes, e pode acreditar, compreendia, perfeitamente, os seus enredos.
Quanto a faixa etária para entrar no cinema, não havia
problema porque naquela época a fiscalização não era tão rígida como é hoje. É
claro que tinham as exceções como por exemplo quando passavam filmes com uma
conotação sexual muito grande; nesse caso, a entrada de menores, nem pensar.
Ainda bem, né (rs)? Mas quando os filmes eram do tipo “normais” – como diziam
naqueles tempos para diferenciá-los das produções que beiravam os pornôs – os
gerentes dos cinemas não eram tão rigorosos com relação a faixa etária; sem
contar que o responsável pelo cine de minha cidade era um grande amigo de meu
irmão.
Na postagem de hoje resolvi reviver aquele período que
não sai da minha memória, apesar de já terem passado muitas décadas. A melhor
forma que encontrei para prestar um tributo àqueles tempos foi escrever um
texto onde relembro seis filmes que assisti em minha infância e que tiveram os
seus enredos adaptados de livros. Acho que dessa forma revivo uma das melhores
fases de minha vida sem fugir muito da proposta do blog que é o de “falar”
sobre obras literárias. Então, vamos que vamos!
01
– O Grande Gatsby (Scott Fitzgerald)
Quando assisti esse filme tinha os meus treze anos de
idade e, claro, o mano estava lá do meu lado. Já tinha visto, antes, “Butch
Cassidy e Sundance Kid” por isso conhecia Robert Redford que apesar da minha
pouca idade, achava um excelente ator. E lá estava ele, agora, ‘na pele’ de um
misterioso e excêntrico milionário americano dos anos 1920 chamado Jay Gatsby.
O filme de 1974 dirigido por Jack Clayton tinha ainda
como protagonista Mia Farrow que seis anos antes havia estourado nas telonas
com o clássico do cinema de terror: “O Bebê de Rosemary”.
A produção cinematográfica é bem fiel ao livro de Scott
Fitzgerald onde a década de 1920, o jovem Nick Carraway muda-se para Long
Island e logo se encanta com as festas e o glamour de seu vizinho, o milionário
Jay Gatsby, com quem logo faz amizade. Frequentando a casa do milionário, Nick
fica sabendo da paixão secreta que Gatsby sente pela mulher de outro amigo.
Esta paixão proibida trará sérias consequências para todos os envolvidos.
O curioso é que muito tempo depois, em 2013, após ter
assistido ao remake com Leonardo DiCaprio, não senti a mesma emoção de antes.
Sei lá, acho que a magia do passado havia se quebrado no presente.
02
– Os Canhões de Navarone (Alistair MacLean)
Apesar de já ter passado muito tempo, ainda me lembro
que alguns filmes chegavam com atraso no cinema da minha cidade como foi o caso
do clássico “Os Canhões de Navarone” que só deu os ares de sua graça nas
telonas do Cine São Salvador mais de dez após o seu lançamento oficial.
E, novamente, o meninão aqui, estava ao lado do mano,
assistindo ao filme com Gregory Peck, David Niven e Anthony Quinn no frescor
(rs) dos meus 12 anos.
Esta película de guerra marcou tanto a minha infância
que anos depois acabei comprando o DVD que trago guardado até hoje.
A produção cinematográfica foi baseada no livro de
Alistair MacLean publicado em 1957 e que chegou a ganhar várias edições no
Brasil através das editoras Nova Cultural e Abril Cultural. “Os Canhões de
Navarone” foi mais um filme com roteiro muito fiel ao livro. Viram só como
naquela época os roteiristas eram mais espertos (rs).
Na narrativa, durante a II Guerra Mundial, um grupo de
homens do exército aliado arrisca-se na escalada dos íngremes penhascos de
Navarone, a fim de destruir os dois canhões alemães, que guardam o canal.
Porém, os Alemães parecem saber todos os passos que eles vão tomar, gerando
assim, a suspeita de traição por alguém.
Apesar de ter amado o filme ainda não li o livro, mas
pretendo ler.
03
– 2001: Uma Odisseia no Espaço (Arthur C. Clarke)
Livro e filme foram lançados simultaneamente em 1968.
Não me recordo bem, afinal já fazem muitos e muitos anos, mas acho que “Uma
Odisséia no Espaço” foi mais um filme que chegou com atraso no cinema da minha
cidade. Deve ter passado nas telonas logo no início da década de 70.
Parece loucura, uma criança ter assistido um filme tão
complexo como esse e ainda por cima, ter gostado!! Entonce foi o que aconteceu
com esse ‘maluco’ aqui.
Logo de cara já fui fisgado pela cena inicial do filme
quando um homem pré-histórico descobre a primeira ferramenta um (osso) e
aparece batendo em outros ossos de um animal morto, ao som da música ''Assim
falava Zarathustra'' (composta em 1891 por Richard Strauss). Putz, que cena
especial. Tão especial que foi capaz de conquistar até mesmo uma criança de 11
ou 12 anos naquela época.
Anos depois fui entender que cena antológica
representava visualmente o momento em aquele homem pré-histórico já estava
ciente do seu poder, ou seja, do ato de pensar que representava a evolução que
deu origem ao homem moderno. Isto ficou evidente no momento em que ao jogar o
osso para cima, num corte belíssimo do diretor, esse osso se transforma numa
espaçonave. Coisa do tipo: “do osso à espaçonave”. Fantástico, não acham?
Uma curiosidade que talvez alguns cinéfilos e leitores
desconhecem é que o livro de Arthur C. Clarke foi desenvolvido conjuntamente
com sua versão cinematográfica, dirigida por Stanley Kubrick, e só sendo publicado
após o filme.
04
– A Um Passo da Eternidade (James Jones)
Taí outro filme bem avançadinho para a minha idade,
mas que acabei assistindo após ter entrado no “vácuo” junto com o meu irmão.
Aquela cena do beijo do personagem de Burt Lancaster na Deborah Kerr... como dizia o Mussum dos Trapalhões: “Cacildis”!
Que cena! Marcou a minha infância de cinéfilo mirim e depois de adulto,
continuou marcando.
A exemplo de Os
Canhões de Navarone também não li o livro, mas pretende ler os dois volumes
de A Um Passo da Eternidade lançado
pela Record.
A obra de James Jones foi nomeada um dos 100 melhores
romances do século 20 pelo Modern Library Board. Dois anos depois de seu
lançamento, o enredo de Jones seria transformado no filmaço que assisti nos
anos 70; mais um dos “atrasadinhos” que passava com frequência no saudoso Cine
São Salvador.
Se o livro foi um grande sucesso, o filme não ficou
atrás e venceu o Oscar em 1953. Além de Lancaster e Kerr, “A Um Passo da
Eternidade” contou com um elenco estelar, entre os quais: Montgomery Clift,
Donna Reed , Frank Sinatra e Ernest Borgnine. O sucesso do livro foi tanto que
além do filme acabou ganhando, também, adaptações para a televisão e um musical
de palco.
05
– Aeroporto (Arthur Hailey)
Fecho essa lista com Aeroporto de Arthur Hailey. Outro filmaço que assisti no início da
década de 70; mais um presente do mano. A história tinha como palco o fictício
Aeroporto Internacional Lincoln localizado perto de Chicago, Illinois. É tido
por muitos críticos como o precursor dos filmes de catástrofe que começaram a
surgir nos anos 1970, como O “Destino de Poseidon” e “Inferno na Torre”.
Confesso para a galera que apesar de ter gostado do
filme não me recordo de muitas passagens, apenas algumas; mas a música
instrumental tema da produção... My God!! Ela não saiu nunca mais da minha
cabeça. Que música!! Amei quando criança e continuo amando agora quando me
aproximo dos braços da terceira idade. Esta música alcançou sucesso mundial desde
que foi lançada, sendo muito conhecida até hoje e ainda lembrada como música
sinônimo de aviação e aeroportos.
“Aeroporto” teve três sequências: Aeroporto 75,
lançado em 1974, Aeroporto 77, em 1977, e Aeroporto 80 - O Concorde, em 1979.
O filme de 1970 ganhou o Oscar de melhor atriz
coadjuvante para Helen Hayes por seu papel como uma passageira clandestina
idosa e foi nomeado para mais nove categorias, incluindo melhor filme, melhor
fotografia e melhor figurino.
Quanto ao livro lançado na mesma época do filme também
se transformou num grande sucesso, tanto por parte dos leitores quanto dos
críticos.
Taí galera, espero que tenham gostado. Foi muito bom
reviver essa fase de ouro da minha vida.
E, obrigado mano por esses momentos especiais.
Inté!
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