Perdi as contas das vezes que assisti “Duro de Matar”
na época do VHS. Isso lá em meados dos anos 80, período em que devolver fitas
para as locadoras sem rebobinar valia multa para o usuário. Assisti os cinco
filmes da série, mas confesso que o primeiro foi aquele que mais marcou a minha
vida de cinéfilo. Tanto é verdade que ao saber que o filme havia sido baseado
em um romance de Roderick Thorp chamado Nothing
Lasts Forever, não perdi tempo e saí a caça do livro. Descobri um exemplar,
com a capa do filme, num sebo na cidade onde moro. Não pensei duas vezes, comprei
na hora.
Tudo bem, depois de algum tempo – já na época dos
DVD’s, não dos Blu-Rays , ainda – ao assistir “Dança com Lobos” do genial Kevin
Costner vem outra surpresa: a produção cinematográfica que papou o Oscar de
“Melhor Filme” em 1991 – à exemplo de
“Duro de Matar” – também foi baseado em uma obra literária.
Cara, pirei! Como um verdadeiro ‘devorador de livros’
que sou, muito mais do que filmes, a euforia bateu forte. Fiquei muito feliz em
saber que dois grandes filmes vieram, na realidade, das páginas de um livro.
Selecionei seis grandes sucessos do cinema, os quais jamais
pensava tinham tido os seus roteiros adaptados dos livros. É aquela rara
história do filme que ficou mais conhecido do que o livro, mesmo esse livro
tendo uma qualidade fantástica. Vamos a nossa lista!
01
– Dança com Lobos (Michael Blake)
Filme:
Dança com Lobos (1990)
Abro a nossa top list com esse filmaço de 1990 que papou
sete Oscars no ano seguinte. “Dança com Lobos” foi indicado em 12 categorias,
das quais levou sete: Melhor Filme, Melhor Diretor (Kevin Costner), Melhor
Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Trilha Sonora (John Barry, Melhores Efeitos
Sonoros e adivinhem... Melhor Roteiro Adaptado.
O livro foi escrito por Michael Blake em 1988 e
publicado no mesmo ano no Brasil pela editora Rocco. O romance chegou por aqui
sem muito alarde e passou quase despercebido, só despertando o interesse dos
leitores, dois anos depois graças ao tremendo sucesso do filme. Uma pena porque
aqueles que leram o livro adoraram e o acharam tão interessante quanto a
produção dos cinemas.
Hoje, a obra de Blake entrou para a relação das quase
extintas, sendo considerada raríssima, prova disso é que existem apenas dois
exemplares no portal Estante Virtual que reúne a maioria dos sebos do País.
Tanto livro quanto filme contam a história de John
Dunbar, um oficial de cavalaria que se destaca como herói na Guerra Civil
Americana e, por isto, recebe o privilégio de escolher onde quer servir. Ele
escolhe um posto longínquo e solitário, na fronteira. Ali estabelece amizade
com um grupo de índios Sioux - Lakota, sacrificando a sua carreira e os laços
com o exército estadunidense em favor da sua ligação com este povo, que o
adota.
02
– Revelação (Michael Crichton)
Filme:
Assédio Sexual (1994)
Apesar de já terem passado duas décadas e meia, ainda
me lembro do estardalhaço que esse filme dirigido por Barry Levinson provocou
nos países onde foi exibido, incluindo o Brasil.
Na época em que o filme foi lançado, dezembro de 1994,
o tema “assédio sexual” ainda era um tabu, ou seja, existia, mas muitas poucas
vítimas optavam por fazer a denúncia já que em muitos países ainda não havia
uma lei que criminalizasse essa conduta. No Brasil, vale lembrar, que a
criminalização da prática de assédio sexual só foi introduzida no Código Penal
em 2021, seis anos depois do filme. Portanto, imagine uma produção
cinematográfica e também um livro abordando um tema como já disse acima, tabu.
E mais: obras que rompessem com os paradigmas daquela época: onde a vítima sempre
era a mulher.
O autor do livro, Michael Crichton que também foi o
responsável pela adaptação do roteiro para os cinemas mandou esses padrões da
época às favas. Em sua história, a vítima é um homem e quem pratica o assédio -
e diga-se, um assédio sexual ferrenho - é uma mulher. O clima ficou mais
apimentado ainda, graças ao cartaz promocional do filme que traz os atores
Michael Douglas e Demi Moore numa cena mais do que do caliente.
Quando foi lançado nas telonas, o filme bombou
e despertou o interesse dos cinfélios. Mais do que isso, criou várias rodas de
discussões nos meios de comunicação envolvendo juristas e especialistas no
tema.
À exemplo de Dança
com Lobos, o livro Revelação
passou despercebido no Brasil por culpa do filme polêmico. A obra literária
lançada um ano antes do estouro da produção cinematográfica tem um enredo bem
mais aprofundado do que o filme. A vida dos personagens é explorada em detalhes
por Crichton o que deixa o enredo muito mais interessante, mas nem por isso, o
filme é ruim, gostei de ambos.
03
– Ben-Hur: Uma História dos Tempos de Cristo (Lew Wallace)
Filmes:
Ben-Hur (1959) e o remake (2016)
Assisti esse clássico dos cinemas “milhares” de vezes
e nessas “milhares” de vezes jamais imaginava que a história havia sido
adaptada de um livro publicado em 1880! Ben-Hur:
Uma História dos Tempos de Cristo esteve entre os best-sellers mais
vendidos de sua época, mas com o passar de décadas a sua popularidade foi se
diluindo, “culpa” do filme épico Ben-Hur lançado nos cinemas brasileiros em
1960, um ano depois de entrar em cartaz nos Estados Unidos. Desde então, a
grande maioria se lembra apenas da produção cinematográfica de quase 62 anos
atrás que, inclusive, não se compara com o remake de 2016 que teve Rodrigo
Santoro no papel de Jesus Cristo.
O filme de 1959 foi indicado para doze Oscars e venceu um recorde de onze: Melhor Filme, Melhor Diretor (William Wyler), Melhor Ator (Charlton Heston), Melhor Ator Coadjuvante (Hugh Griffith), Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia em Cor, Melhor Figurino em Cor, Melhores Efeitos Especiais, Melhor Edição, Melhor Música e Melhor Gravação de Som.
Apenas dois filmes desde então conseguiram igualar
esse feito: “Titanic” em 1998 e “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” em 2004.
A única categoria em que Ben-Hur não venceu foi Melhor Roteiro Adaptado. O
filme teve o maior orçamento e os maiores cenários construídos na história do
cinema até então.
Aproveitando o “oba-oba” envolvendo o lançamento do
remake de 2016, a editora Gutemberg relançou o livro de Wallace naquele ano
dando assim, uma oportunidade de ouro para que os leitores pudessem apreciar
uma belíssima história publicada originalmente há 140 anos.
Livro e filme contam a história de um personagem
fictício chamado Judá Ben-Hur, que é contemporâneo de Jesus Cristo. Ele é um
nobre judeu, condenado às galés. Revoltado, ele jura vingança contra os romanos
e seu ex-amigo Messala que o traiu. Mas seu encontro com um carpinteiro de
Nazaré o conduz a um caminho diferente.
04
– Jumanji (Chris Van Allsburg)
Filmes:
Jumanji (1995), Jumanji: Bem-Vindo à Selva (2017) e Jumanji: Próxima Fase ou
Jumanji 2 (2019)
Não assisti, ainda, aos dois filmes com Dwayne Johnson,
o “The Rock” exibidos em 2017 e 2019. Por outro lado, lembro e muito bem da
produção de 1995 com o saudoso Robin Williams. Cara, me diverti muito.
Aventura, suspense e humor na dose certa. Os dois filmes com “The Rock” tiveram
um desempenho melhor nas bilheterias.
Quando assisti “Jumanji”, pela primeira vez, no cinema
tinha a convicção de que não havia um livro nessa história. Na minha cabeça,
era o filme e só. Algum tempo depois quando tornei a assisti-lo em DVD
continuei com a minha convicção que só viria cair, recentemente, quando soube
que a produção cinematográfica, na realidade, era oriunda de um livro infantil,
escrito e ilustrado, publicado em 1982.
A história descreve um jogo de tabuleiro com temática
da natureza, onde animais reais e outros elementos aparecem magicamente no
mundo real assim que um jogador joga os dados.
O filme de 1995 com Robin Williams foi dirigido por
Joe Johnston e gastou em sua produção 65 milhões de dólares, com um retorno de
US$ 262 milhões em todo o mundo. Recebeu críticas mistas, alguns gostaram,
outros nem tanto.
Vinte e dois anos depois, teríamos Jumanji, novamente,
nas telonas, desta vez com Dwayne “The Rock” no papel que foi de Robin Williams
no passado e por incrível que pareça “Jumanji: Bem-Vindo à Selva” acabou
fazendo mais sucesso do que a produção original de 1995 o que lhe rendeu uma
continuação, dois anos depois, chamada no Brasil de “Jumanji: Próxima Fase” ou
“Jumanji 2”.
Fiquei sabendo posteriormente que o livro de Van
Allsburg fez muito sucesso, nos anos 80, entre as crianças e os adolescentes;
sucesso que acabou originando três filmes, além de uma série animada produzida
de 1996 a 1999.
05
– Desejo de Matar (Brian Garfield)
Filmes:
Desejo de Matar (1974), Desejo de Matar 2 (1982), Desejo de Matar 3 (1985),
Desejo de Matar 4 (1987), Desejo de Matar 5 (1994) e Desejo de Matar (remake de
2018 com Bruce Willis)
Lulu é fã do Charles Bronson. Tão fã que assistiu aos
cinco filmes da série Desejo de Matar, menos o último com o Bruce Willis.
Quando perguntei o motivo de não ter assistido ao remake, ela respondeu: “Prá
quê? A cereja do bolo já não está no bolo”. Hahahaha! Se o Charles Bronson
estive vivo, eu sentiria ciúmes (rs). À exemplo de Lulu, muitas pessoas
espalhadas por esse mundão de Deus adoraram as peripécias do icônico Charles
“Cara de Pedra” Bronson sem saber que a história que viam nas telas era oriunda
de um livro.
Brian Garfield escreveu Desejo de Matar em 1972 e para variar, a sua publicação não
despertou muito interesse dos leitores. Dois anos depois veio o filme baseado
na obra literária o que contribuiu ainda mais para que ela fosse abafada.
Foi há ‘uns’ cinco ou seis anos que descobri que os
filmes, principalmente o de 1974, haviam sido baseados num livro. Por sorte
tenho essa raridade em minha estante.
Garfield conta a história de Paul Benjamin (no filme,
o nome do personagem foi alterado para Paul Kersey), um pacato e obeso
arquiteto de Nova York que decide sair passando fogo na bandidagem depois que
sua família é violentamente atacada por um bando de marginais. A mulher de
Benjamin é espancada e morta. Quanto a filha, após sofrer nas mãos dos
criminosos, não suporta tanta brutalidade e acaba ficando em estado catatônico
para sempre, sendo internada num manicômio. Isto é demais para Benjamin que percebendo
a ineficiência da polícia que não consegue descobrir os autores do crime,
resolve fazer justiça com as próprias mãos.
Mas a sua justiça é distinta. Ele não sai em busca de
vingança contra os homens diretamente responsáveis pelo crime; pelo contrário,
Benjamin nunca os encontra. Furioso com o fato de os cidadãos honestos serem
prisioneiros numa sociedade dominada pelos marginais, o outrora pacato
arquiteto torna-se um justiceiro que mete bala em todo e qualquer bandido que
encontre pela frente, punindo o crime em geral.
Taí galera! Que tal lermos esses cinco livros e depois
encaramos uma maratona com os cinco filmes que saíram de suas páginas.
Vamos nessa!
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