Cinco filmes famosos baseados em livros desconhecidos

26 abril 2022

Perdi as contas das vezes que assisti “Duro de Matar” na época do VHS. Isso lá em meados dos anos 80, período em que devolver fitas para as locadoras sem rebobinar valia multa para o usuário. Assisti os cinco filmes da série, mas confesso que o primeiro foi aquele que mais marcou a minha vida de cinéfilo. Tanto é verdade que ao saber que o filme havia sido baseado em um romance de Roderick Thorp chamado Nothing Lasts Forever, não perdi tempo e saí a caça do livro. Descobri um exemplar, com a capa do filme, num sebo na cidade onde moro. Não pensei duas vezes, comprei na hora.

Tudo bem, depois de algum tempo – já na época dos DVD’s, não dos Blu-Rays , ainda – ao assistir “Dança com Lobos” do genial Kevin Costner vem outra surpresa: a produção cinematográfica que papou o Oscar de “Melhor Filme”  em 1991 – à exemplo de “Duro de Matar” – também foi baseado em uma obra literária.

Cara, pirei! Como um verdadeiro ‘devorador de livros’ que sou, muito mais do que filmes, a euforia bateu forte. Fiquei muito feliz em saber que dois grandes filmes vieram, na realidade, das páginas de um livro.

Selecionei seis grandes sucessos do cinema, os quais jamais pensava tinham tido os seus roteiros adaptados dos livros. É aquela rara história do filme que ficou mais conhecido do que o livro, mesmo esse livro tendo uma qualidade fantástica. Vamos a nossa lista!

01 – Dança com Lobos (Michael Blake)

Filme: Dança com Lobos (1990)

Abro a nossa top list com esse filmaço de 1990 que papou sete Oscars no ano seguinte. “Dança com Lobos” foi indicado em 12 categorias, das quais levou sete: Melhor Filme, Melhor Diretor (Kevin Costner), Melhor Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Trilha Sonora (John Barry, Melhores Efeitos Sonoros e adivinhem... Melhor Roteiro Adaptado.

O livro foi escrito por Michael Blake em 1988 e publicado no mesmo ano no Brasil pela editora Rocco. O romance chegou por aqui sem muito alarde e passou quase despercebido, só despertando o interesse dos leitores, dois anos depois graças ao tremendo sucesso do filme. Uma pena porque aqueles que leram o livro adoraram e o acharam tão interessante quanto a produção dos cinemas.

Hoje, a obra de Blake entrou para a relação das quase extintas, sendo considerada raríssima, prova disso é que existem apenas dois exemplares no portal Estante Virtual que reúne a maioria dos sebos do País.

Tanto livro quanto filme contam a história de John Dunbar, um oficial de cavalaria que se destaca como herói na Guerra Civil Americana e, por isto, recebe o privilégio de escolher onde quer servir. Ele escolhe um posto longínquo e solitário, na fronteira. Ali estabelece amizade com um grupo de índios Sioux - Lakota, sacrificando a sua carreira e os laços com o exército estadunidense em favor da sua ligação com este povo, que o adota.

02 – Revelação (Michael Crichton)

Filme: Assédio Sexual (1994)

Apesar de já terem passado duas décadas e meia, ainda me lembro do estardalhaço que esse filme dirigido por Barry Levinson provocou nos países onde foi exibido, incluindo o Brasil. 

Na época em que o filme foi lançado, dezembro de 1994, o tema “assédio sexual” ainda era um tabu, ou seja, existia, mas muitas poucas vítimas optavam por fazer a denúncia já que em muitos países ainda não havia uma lei que criminalizasse essa conduta. No Brasil, vale lembrar, que a criminalização da prática de assédio sexual só foi introduzida no Código Penal em 2021, seis anos depois do filme. Portanto, imagine uma produção cinematográfica e também um livro abordando um tema como já disse acima, tabu. E mais: obras que rompessem com os paradigmas daquela época: onde a vítima sempre era a mulher.

O autor do livro, Michael Crichton que também foi o responsável pela adaptação do roteiro para os cinemas mandou esses padrões da época às favas. Em sua história, a vítima é um homem e quem pratica o assédio - e diga-se, um assédio sexual ferrenho - é uma mulher. O clima ficou mais apimentado ainda, graças ao cartaz promocional do filme que traz os atores Michael Douglas e Demi Moore numa cena mais do que do caliente.

Quando foi lançado nas telonas, o filme bombou e despertou o interesse dos cinfélios. Mais do que isso, criou várias rodas de discussões nos meios de comunicação envolvendo juristas e especialistas no tema.

À exemplo de Dança com Lobos, o livro Revelação passou despercebido no Brasil por culpa do filme polêmico. A obra literária lançada um ano antes do estouro da produção cinematográfica tem um enredo bem mais aprofundado do que o filme. A vida dos personagens é explorada em detalhes por Crichton o que deixa o enredo muito mais interessante, mas nem por isso, o filme é ruim, gostei de ambos.

03 – Ben-Hur: Uma História dos Tempos de Cristo (Lew Wallace)

Filmes: Ben-Hur (1959) e o remake (2016)

Assisti esse clássico dos cinemas “milhares” de vezes e nessas “milhares” de vezes jamais imaginava que a história havia sido adaptada de um livro publicado em 1880! Ben-Hur: Uma História dos Tempos de Cristo esteve entre os best-sellers mais vendidos de sua época, mas com o passar de décadas a sua popularidade foi se diluindo, “culpa” do filme épico Ben-Hur lançado nos cinemas brasileiros em 1960, um ano depois de entrar em cartaz nos Estados Unidos. Desde então, a grande maioria se lembra apenas da produção cinematográfica de quase 62 anos atrás que, inclusive, não se compara com o remake de 2016 que teve Rodrigo Santoro no papel de Jesus Cristo.  

O filme de 1959 foi indicado para doze Oscars e venceu um recorde de onze: Melhor Filme, Melhor Diretor (William Wyler), Melhor Ator (Charlton Heston), Melhor Ator Coadjuvante (Hugh Griffith), Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia em Cor, Melhor Figurino em Cor, Melhores Efeitos Especiais, Melhor Edição, Melhor Música  e Melhor Gravação de Som. 

Apenas dois filmes desde então conseguiram igualar esse feito: “Titanic” em 1998 e “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” em 2004. A única categoria em que Ben-Hur não venceu foi Melhor Roteiro Adaptado. O filme teve o maior orçamento e os maiores cenários construídos na história do cinema até então.

Aproveitando o “oba-oba” envolvendo o lançamento do remake de 2016, a editora Gutemberg relançou o livro de Wallace naquele ano dando assim, uma oportunidade de ouro para que os leitores pudessem apreciar uma belíssima história publicada originalmente há 140 anos.

Livro e filme contam a história de um personagem fictício chamado Judá Ben-Hur, que é contemporâneo de Jesus Cristo. Ele é um nobre judeu, condenado às galés. Revoltado, ele jura vingança contra os romanos e seu ex-amigo Messala que o traiu. Mas seu encontro com um carpinteiro de Nazaré o conduz a um caminho diferente.

04 – Jumanji (Chris Van Allsburg)

Filmes: Jumanji (1995), Jumanji: Bem-Vindo à Selva (2017) e Jumanji: Próxima Fase ou Jumanji 2 (2019)

Não assisti, ainda, aos dois filmes com Dwayne Johnson, o “The Rock” exibidos em 2017 e 2019. Por outro lado, lembro e muito bem da produção de 1995 com o saudoso Robin Williams. Cara, me diverti muito. Aventura, suspense e humor na dose certa. Os dois filmes com “The Rock” tiveram um desempenho melhor nas bilheterias.

Quando assisti “Jumanji”, pela primeira vez, no cinema tinha a convicção de que não havia um livro nessa história. Na minha cabeça, era o filme e só. Algum tempo depois quando tornei a assisti-lo em DVD continuei com a minha convicção que só viria cair, recentemente, quando soube que a produção cinematográfica, na realidade, era oriunda de um livro infantil, escrito e ilustrado, publicado em 1982.

A história descreve um jogo de tabuleiro com temática da natureza, onde animais reais e outros elementos aparecem magicamente no mundo real assim que um jogador joga os dados.

O filme de 1995 com Robin Williams foi dirigido por Joe Johnston e gastou em sua produção 65 milhões de dólares, com um retorno de US$ 262 milhões em todo o mundo. Recebeu críticas mistas, alguns gostaram, outros nem tanto.

Vinte e dois anos depois, teríamos Jumanji, novamente, nas telonas, desta vez com Dwayne “The Rock” no papel que foi de Robin Williams no passado e por incrível que pareça “Jumanji: Bem-Vindo à Selva” acabou fazendo mais sucesso do que a produção original de 1995 o que lhe rendeu uma continuação, dois anos depois, chamada no Brasil de “Jumanji: Próxima Fase” ou “Jumanji 2”.

Fiquei sabendo posteriormente que o livro de Van Allsburg fez muito sucesso, nos anos 80, entre as crianças e os adolescentes; sucesso que acabou originando três filmes, além de uma série animada produzida de 1996 a 1999.

05 – Desejo de Matar (Brian Garfield)

Filmes: Desejo de Matar (1974), Desejo de Matar 2 (1982), Desejo de Matar 3 (1985), Desejo de Matar 4 (1987), Desejo de Matar 5 (1994) e Desejo de Matar (remake de 2018 com Bruce Willis)

Lulu é fã do Charles Bronson. Tão fã que assistiu aos cinco filmes da série Desejo de Matar, menos o último com o Bruce Willis. Quando perguntei o motivo de não ter assistido ao remake, ela respondeu: “Prá quê? A cereja do bolo já não está no bolo”. Hahahaha! Se o Charles Bronson estive vivo, eu sentiria ciúmes (rs). À exemplo de Lulu, muitas pessoas espalhadas por esse mundão de Deus adoraram as peripécias do icônico Charles “Cara de Pedra” Bronson sem saber que a história que viam nas telas era oriunda de  um livro.

Brian Garfield escreveu Desejo de Matar em 1972 e para variar, a sua publicação não despertou muito interesse dos leitores. Dois anos depois veio o filme baseado na obra literária o que contribuiu ainda mais para que ela fosse abafada.

Foi há ‘uns’ cinco ou seis anos que descobri que os filmes, principalmente o de 1974, haviam sido baseados num livro. Por sorte tenho essa raridade em minha estante.

Garfield conta a história de Paul Benjamin (no filme, o nome do personagem foi alterado para Paul Kersey), um pacato e obeso arquiteto de Nova York que decide sair passando fogo na bandidagem depois que sua família é violentamente atacada por um bando de marginais. A mulher de Benjamin é espancada e morta. Quanto a filha, após sofrer nas mãos dos criminosos, não suporta tanta brutalidade e acaba ficando em estado catatônico para sempre, sendo internada num manicômio. Isto é demais para Benjamin que percebendo a ineficiência da polícia que não consegue descobrir os autores do crime, resolve fazer justiça com as próprias mãos.

Mas a sua justiça é distinta. Ele não sai em busca de vingança contra os homens diretamente responsáveis pelo crime; pelo contrário, Benjamin nunca os encontra. Furioso com o fato de os cidadãos honestos serem prisioneiros numa sociedade dominada pelos marginais, o outrora pacato arquiteto torna-se um justiceiro que mete bala em todo e qualquer bandido que encontre pela frente, punindo o crime em geral.

Taí galera! Que tal lermos esses cinco livros e depois encaramos uma maratona com os cinco filmes que saíram de suas páginas.

Vamos nessa!

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