Há pouco tempo, estive numa cidade vizinha para fazer
um checkup, saber como andava a minha saúde. É meu amigo... quando a gente já
está com um pé na terceira idade, temos que ficar ainda mais cuidadosos. Aliás,
o nosso corpo é como um carro que tem que passar por revisões periódicas,
principalmente quando ele vai envelhecendo, aumentando a sua quilometragem.
‘Entonce’, quando cheguei no consultório do meu
cardiologista, vi sobre a sua mesa o livro O
Físico. Como ele percebeu que eu não tirava os olhos da obra de Noah Gordon,
acabou me perguntando - já emendando uma resposta à sua própria pergunta: “Já
leu? Pode ler é fantástico, uma leitura incrível”! - Na mesma hora já começamos
uma prosa breve, mas muito gostosa, sobre livros interessantes na área da
medicina.
Depois desse papo, meio que por acaso, tive um
insight: “Puxa vida! Bem que eu poderia escrever um post sobre livros lidos e
adorados por médicos”. Pimba! Nasceu, então, a postagem que vocês estão lendo
agora.
Resolvi fazer uma lista de obras literárias que todo
médico, estudante de medicina e porque não, de pessoas que atuam em outras
áreas profissionais mas tem uma quedinha indomável por livros do gênero. Quero
frisar que o meu médico, Dr. Célio me ajudou muito na elaboração dessa lista,
mesmo sem saber que estava me ajudando (rsss).
Preparados? Então vejam aí.
01
– O Físico (Noah Gordon)
Vou abrir a nossa lista com o livro preferido do meu
médico e que estava “repousando” tranquilamente sobre a sua mesa. O Físico foi um grande sucesso nas
livrarias e nos cinemas. Ainda não li a obra do jornalista inglês Noah Gordon
publicado originalmente em 1986, mas assisti ao filme homônimo baseado na
narrativa. Aliás, o filme de 2013 com Ben Kingsley e Tom Payne é fantástico.
Gostei tanto que agora pretendo comprar o livro.
Gordon narra a epopeia de Rob J. Cole, um jovem aprendiz
de médico na Idade Média que decide lutar contra os obstáculos para estudar
Medicina durante uma época difícil, em que a Igreja não permitia a dissecação
de humanos para estudo, por exemplo.
Então, ele resolve ir até a Pérsia, no mundo árabe, com
o objetivo de estudar na gloriosa escola de medicina de Ispahan com o famoso
polímata persa, Ibn Sina. Com isso, ele dá início a uma viagem épica – recheada
de perigos e aventuras - com destino à Pérsia visando concretizar o seu sonho.
O
Físico é o primeiro livro de uma trilogia que ainda conta
com Xamã e A escolha da Dra. Cole.
02
– Médico de homens e de almas (Taylor Caldwell)
Taylor Caldwell levou 46 anos para escrever Médico de homens e de almas, mas todo
esse período valeu à pena já que o livro se transformou num fenômeno de vendas
através dos tempos, entrando para a lista das obras mais importantes dos
últimos 100 anos.
A narrativa explora a história de vida do apostolo São
Lucas que foi um médico de coração generoso, bem instruído e autor de um dos
evangelhos e também do Livro dos Atos dos Apóstolos. Lendas antigas o descrevem
como uma pessoa fora do comum, a quem são atribuídos milagres e prodígios antes
mesmo de sua conversão ao cristianismo.
Em Médico de
homens e de almas, Caldwell combina estas duas imagens de um dos mais
importantes ícones da igreja cristã primitiva, caracterizado pela constante
preocupação com o sofrimento de enfermos, oprimidos e pobres.
Lucano, ou Lucas, foi o único apóstolo que não era
judeu, nunca viu Cristo, e tudo o que está escrito em seu Evangelho foi
adquirido por meio de pesquisas e dos testemunhos da mãe de Cristo, dos
discípulos e dos apóstolos. Como já escrevi no início, Lucas foi, antes de
tudo, um grande médico, e quase todos os acontecimentos narrados neste livro
são autênticos - o cenário do início da vida de São Lucas, a idade adulta e sua
busca, bem como fatos relacionados à sua família.
03
– Sob Pressão – A rotina de guerra de um médico brasileiro (Márcio Maranhão)
Na minha humilde opinião, todos os médicos –
independentes de sua especialização – deveriam ler essa biografia do médico
Márcio Maranhão.
A obra que traz o depoimento desse cirurgião torácico
para a jornalista Karla Maranhão. Triste, comovente e corajoso, o relato expõe
a nu uma realidade que se assemelha a muitas encontradas pelos médicos no
falido sistema de saúde pública no Brasil afora.
Depois de 15 anos de trabalho em hospitais municipais
e estaduais do Rio de Janeiro, Márcio Maranhão viu seu idealismo juvenil pela
profissão escorrer pelos dedos. O Hospital Souza Aguiar, onde trabalhou por
vários anos é o maior do município do Rio para emergências e o clima reinante
por lá é do tipo “pega pra capá”. Para que os leitores tenham uma vaga ideia da
rotina estressante daquele hospital, basta dizer que ele é chamado pelo médico
de “Inferno de Dante”.
Sob
pressão é um depoimento perturbador. Neste livro, o cirurgião
também revê sua formação profissional, a fase inicial dos plantões, o caso de
amor com a medicina ainda aflorado e o vício na adrenalina do combate, quando
operou em CTIs despreparadas e até em enfermarias e corredores, desafiando a
precariedade das emergências — procurando salvar pessoas e a si mesmo.
04
– A Fabulosa história do hospital: da idade média aos dias de hoje (Jean-Noel
Fabiani)
Neste livro, Jean-Noël Fabiani – renomado cirurgião francês e um dos maiores especialistas em história da medicina – descortina um dos mais incríveis legados da humanidade: a evolução dos hospitais e da medicina, num relato repleto de humor e erudição. Em A fabulosa história do hospital: da Idade Média aos dias de hoje os leitores ficarão sabendo que as primeiras cirurgias eram realizadas por barbeiros que usavam métodos “arrepiantes”.
O livro mostra ainda como se deu a invenção do
estetoscópio; a importância da decisão da rainha Vitória de dar à luz sem dor
sob efeito do clorofórmio e, segundo alguns, contrariando a Bíblia; o
nascimento da medicina humanitária com a Cruz Vermelha e os Médicos Sem
Fronteiras; o fortuito papel do acaso na invenção do Viagra, e muito mais.
05
– A arte perdida de curar (Bernard Lown)
A medicina jamais teve a capacidade de fazer tanto
pelo homem como hoje. No entanto, as pessoas nunca estiveram tão desencantadas
com seus médicos. A questão é que a maioria desses profissnais perdeu a arte de
curar, que vai além da capacidade do diagnóstico e da mobilização dos recursos
tecnológicos.
A chave dessa arte perdida está na relação
médico-paciente. Este provocativo livro de um dos mais renomados médicos do
mundo mostra a face humana da medicina, em que a arte de curar é tão importante
quanto as mais avançadas tecnologias médicas.
O cardiologista americano, Bernard Low, que faleceu no
início de 2021, traz em seu livro a proposta de repensar a relação
médico-paciente, colocando-se no lugar do outro e tendo mais cuidado com o
tratamento que é oferecido. É importante perceber a responsabilidade não só de
administrar remédios ou fazer procedimentos, como do impacto das palavras na
vida dos pacientes.
Cara... e cá entre nós, existem muitos médicos que
tratam os seus pacientes como animais, aliás, piores do que animais. O
engraçado é que mesmo agindo dessa forma, eles ainda vivem perguntando porque
os seus consultórios estão sempre vazios.
Espero que esse livro consiga mudar a mentalidade de
muitos “médicos” que não respeitam os seus pacientes.
06
– Por um fio (Drauzio Varella)
Livro escrito pelo famoso médico brasileiro, Dr. Drauzio
Varella. Ele especializou-se em oncologia numa época em que o câncer era visto
com tanto horror que nem sequer se pronunciava essa palavra – dizia-se “aquela
doença” – e desde então convive cotidianamente com doentes graves.
Por
um fio relata algumas das experiências do autor na Oncologia
Clínica. Seu cuidado em contar as histórias acumuladas nos seus 30 anos na área
torna o livro muito leve, mas ao mesmo tempo emocionante.
Em Por um fio,
está de volta o narrador sensível e cuidadoso de Estação Carandiru – outro sucesso do autor -, que, contando
histórias reais, reflete sobre o impacto da perspectiva da morte no
comportamento de pacientes e seus familiares.
De um lado, a reação dos que se descobrem doentes, que
vai da surpresa à revolta, do desespero ao silêncio e à aceitação. Do outro, a
atitude dos parentes, que varia da dedicação incondicional à pura mesquinharia,
da solidariedade ao abandono. Varella conta ainda episódios surpreendentes de
mudança de vida, como se a visão da morte fosse quase uma libertação, um
divisor de águas que confere novo sentido ao porvir.
07
- Medicina dos horrores: a história de Joseph Lister, o homem que revolucionou o
apavorante mundo das cirurgias do século XIX (Lindsey Fizharris)
Biografia do médico cirurgião inglês do séc. XIX
Joseph Lister que desenvolveu métodos antissépticos que aplicados em cirurgias
e no tratamento de pacientes em hospitais reduziram em muito a taxa de
mortalidade.
E em meio a vívidas narrativas de hospitais cheios de
sujeira, salas de cirurgia em forma de anfiteatros sem qualquer limpeza,
instrumentos cirúrgicos usados em operações seguidamente sem qualquer limpeza e
o médico cirurgião usando roupas fedidas com sangue e pus secos tanto na sala
de cirurgia como na visita aos pacientes, surge o homem que colocou a medicina
com médicos em impecáveis jalecos brancos e o horror a germes, aumentando em
muito a expectativa de vida dos pacientes.
Em Medicina dos
horrores, a historiadora Lindsey Fitzharris narra como era o chocante mundo
da cirurgia do século XIX antes da chegada de Lister. A autora evoca os
primeiros anfiteatros de operações — lugares abafados onde os procedimentos
eram feitos diante de plateias lotadas — e cirurgiões pioneiros, cujo ofício
era saudado não pela precisão, mas pela velocidade e força bruta, uma vez que
não havia anestesia. Trabalhando sem luvas e sem qualquer cuidado com a higiene
básica, esses profissionais, alheios à existência de micro-organismos, ficavam
perplexos com as infecções pós-operatórias, o que mantinha as taxas de
mortalidade implacavelmente elevadas.
É nesse cenário, em que se considerava mais provável
um homem sobreviver à guerra do que ao hospital, que emerge a figura do jovem
médico Joseph Lister que revolucionaria a história da medicina.
08
- O Imperador de todos os males: uma biografia do câncer (Siddhartha Murkhejee)
Este livro rendeu ao cancerologista Siddhartha
Murkhejee o Prêmio Pullitzer de 2011. Em sua obra, ele traça uma “biografia”
profundamente humana do câncer. Ele narra em detalhes as etapas do processo
cheio de idas e vindas da pesquisa da doença, as promessas de vitórias e as
recaídas, as radicalizações temerárias de tratamentos como a mastectomia e a
quimioterapia, e a importância tardia dada à prevenção, que levou a avanços
como o exame de Papanicolau e o combate ao fumo.
Em linguagem acessível, Mukherjee revela os notáveis
resultados da recente pesquisa genética, que desvendam o mecanismo íntimo da
doença e vão sendo paulatinamente incorporados ao tratamento.
O livro tem passagens emocionantes, como as da
descoberta da radiação, da quimioterapia e da constatação da ineficácia das
cirurgias radicais e desfiguradoras do Dr. William Halsted. Ele também
explicita o papel do imponderável, da sorte e do andar de olhos vendados pelos
caminhos que levam a cura e remissão das várias formas da doença.
Tudo isso numa linguagem que tem a precisão do
cientista e a paixão do biógrafo que não esconde sua admiração por um mal capaz
de assumir muitas formas e que está à nossa frente na corrida pela imortalidade.
09
– O futuro da humanidade (Augusto Cury)
Neste seu primeiro romance, o psiquiatra Augusto Cury,
narra a trajetória de Marco Polo, um jovem estudante de medicina que ao entrar
na faculdade cheio de sonhos e expectativas, fica chocado ao encontrar, em sua
primeira aula de anatomia, a triste cena de corpos sem identificação,
estendidos sobre um mármore liso e branco.
Este jovem calouro de medicina se indigna a ponto de
não conseguir aceitar a frieza de coração com que os seus professores se
referiam aos corpos estendidos no meio da sala, dizendo que ali, em sala de
aula, a identidade não importava mais, e que aqueles corpos não possuíam nome,
portanto poderiam ser feito deles o que quisessem, eram apenas mendigos ou
indigentes encontrados mortos na rua sem identidade.
Irritado com a situação, Marco Polo se revolta e sai à
procura de informações sobre esses personagens aparentemente sem passado e
agora sem vida, e nessa jornada ele acaba encontrando o excêntrico Falcão, um
mendigo que apesar da aparência, conhece a fundo a mente humana. Mesmo na
difícil situação em que vive, com seus sonhos frustrados, futuro desfeito e
esperanças totalmente perdidas, Falcão recupera a sua alegria inata ao conviver
com este jovem sonhador.
A obra se propõe a provocar uma reflexão sobre a
sociedade e o rumo da vida das pessoas. Marco Polo desafia profissionais
renomados para provar que os pacientes com problemas mentais precisam de menos
remédio e mais respeito e dedicação. Ao apostar no diálogo e na Psicologia,
provoca uma grande reviravolta entre as pessoas com as quais convive.
Acredito que todos os psiquiatras deveriam ler esse
livro de Augusto Cury. Pensando bem, não só os psiquiatras, mas todos os
médicos de especialidades diferentes. Com certeza, a relação médico-paciente
melhoraria bastante.
10
– História das epidemias (Stefan Cunha Ujbvari)
Da Antiguidade até os dias de hoje, as epidemias
assombram o ser humano. Chegam sorrateiras e se instalam causando pânico e
destruição. A desinformação impera e, não raro, demora-se a descobrir como a
doença se propaga e o que fazer para dominá-la. A famosa peste negra matou
cerca de um terço da população europeia na Idade Média. De lá para cá, muita
coisa mudou. Se por um lado a Medicina evoluiu, por outro, vivemos cada vez
mais aglomerados em grandes cidades, viajando muito mais pelo planeta, o que
torna a situação mais dramática e difícil de controlar.
O infectologista Stefan Cunha Ujvari trata, neste
livro das epidemias e pandemias mais marcantes da nossa história. Como a
humanidade conviveu com essas doenças? Qual a importância das primeiras vacinas
e como elas surgiram? Partindo da Grécia Antiga e chegando até os nossos dias,
o livro aborda doenças como peste negra, sífilis, gripe, ebola. Dedica um
capítulo para a covid-19 e mostra por que, afinal, essa doença parou o mundo.
Conta ainda a história de como a espécie humana resistiu aos ataques dos
micro-organismos que habitam a Terra há quatro bilhões de anos. O autor faz um
relato das principais epidemias que nos afligiram desde que inventamos a
agricultura, criamos os primeiros aglomerados humanos e a necessidade
irresistível de visitar terras estranhas atrás de bens de consumo, conquistas
territoriais ou movidos pelo espírito aventureiro. Nesses deslocamentos
incessantes causados por interesses comerciais, para fugir da fome ou pelas
numerosas guerras que se repetiram uma seguida a outra, o homem levou com ele
germes virulentos que se disseminaram nas comunidades visitadas. Nelas, a
presença de indivíduos suscetíveis, num mundo sem saneamento básico, criou as
condições para a propagação de epidemias como a da peste, varíola, cólera,
hanseníase, tuberculose e muitas outras com altos índices de letalidade.
O autor Stefan Cunha Ujvari explica como viviam as
sociedades quando surgiam cada uma das epidemias que descreve.
Um livro muito útil para médicos epidemiologistas e
também para os leitores em geral que gostam do tema.
Taí galera, espero que tenham gostado.
Inté!
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